Etiqueta: Mangá

O risco inerente a salvar vidas

Suspense e instabilidade emocional na perseguição de um assassino em série
“Monster”, de Naoki Urosawa, é a mais recente novidade no catálogo manga da Devir

A um catálogo de manga que já reúne alguns dos maiores sucessos do género, como “Naruto” ou “One Piece”, a Devir acaba de acrescentar o há muito desejado “Monster”, de Naoki Urasawa, que pode servir para desmistificar a ideia de que o manga é para adolescentes, já que a sua temática tem tudo para seduzir outros leitores.
Ambientado na Alemanha a partir de 1986 e apanhando os tempos conturbados que se seguiram à reunificação, o que contribui para justificar a instabilidade emocional de várias personagens e algumas atitudes, a história centra-se num brilhante cirurgião, o dr. Kenzo Tenma. Natural do Japão, mas a exercer na Alemanha, é o protegido do director de um grande hospital, que se aproveita do seu talento para se auto-promover. Um dia, já afectado por uma anterior escolha que lhe foi imposta. Tenma em lugar de operar o presidente da câmara local, vítima de uma complicação cardíaca, opta por operar um adolescente que foi baleado na cabeça, durante um assalto em que os pais faleceram, sobrevivendo a sua irmã gémea. A morte do presidente, apesar de a criança ser salva, leva a que carreira do cirurgião fique hipotecada, com o director a retirar-lhe o apoio.
Com Tenma a reencontrar a motivação que o fez tornar-se médico, poder salvar vidas, a obra muda de tom, quando se sucedem várias mortes no hospital, seguidas do assassinato de diversos casais de meia-idade sem filhos. Com a polícia sem pistas para o descobrir o aparente assassino em série, Tenma, também suspeito, consegue associar os sangrentos acontecimentos ao jovem que salvou na operação e que algo transformou no “Monstro” que todos procuram, iniciando uma perseguição contra o tempo e em que os cadáveres se multiplicam.
A uma trama policial aliciante, com várias reviravoltas, uma forte carga emocional e personagens interessantes, fortes, bem definidas e com vida própria, Urosawa consegue aliar um suspense em crescendo devido à aura misteriosa que envolve o suposto assassino, à relação entre ele e a sua gémea e ao sentimento de culpa do médico.
A opção por páginas bastante preenchidas e por um desenho expressivo e pormenorizado quanto baste para situar o leitor sem se constituir um elemento de distracção, contribuem igualmente para o ritmo bastante vivo e o fascínio de “Monster”.

Monster – volume 1
Naoki Urosawa
Devir
428 p., 20,00€


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F. Cleto e Pina

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Horror japonês no pequeno écrã

Junji Ito utiliza aspectos vulgares do dia-a-dia em histórias chocantes

É conhecida a proximidade entre o mangá e o anime, que é como quem diz entre a banda desenhada e a animação japonesas, com as obras a nascerem indistintamente num dos géneros e a migrarem para o outro devido ao sucesso obtido – ou em busca dele.
“Contos macabros de Junji Ito”, cuja primeira temporada, com 12 episódios de 25 minutos, estreou recentemente na Netflix, é um dos muitos exemplos que podem ilustrar esta comunhão, com a vantagem de há poucas semanas ter chegado às livrarias portuguesas uma recolha de contos deste autor nipónico, considerado um dos mestres do horror do seu país.
Nas suas obras, este japonês de 59 anos, parte geralmente de situações ou objectos banais, para os transformar em fontes de horror, provocando no espectador uma sensação de incómodo, medo, desconforto ou mesmo nojo, conforme as abordagens e a sensibilidade de cada um.
Uma família disfuncional, uma carrinha de gelados, um balão a pairar no ar, os ruídos produzidos pelo irmão mais novo que perturbam o estudo, mofo nas paredes ou um acidente automóvel mortal são algumas das premissas-base de Ito, que as explora de forma bizarra, surreal e/ou aterradora, com desfechos inesperados e perturbadores.
Em termos de animação, aqueles que cresceram com os desenhos animados clássicos dos Looney Tunes, Tom e Jerry ou da Disney sentirão as diferenças para a animação japonesa, mais lenta e com aplicação pontual do movimento em motivos específicos, mas estas características, neste caso, contribuem para provocar o clima de suspense que torna mais eficaz as deformações da realidade que são o seu cerne.
Comparando com a obra em mangá, é notório que o recurso à cor e o facto da animação revelar mais do que a banda desenhada, exigindo assim uma menor imaginação da parte de quem a visualiza – e por isso uma menor projecção dos medos próprios – atenua o choque que podia provocar mas, mesmo assim, é garantido que o espectador nunca mais olhará para aqueles aspectos vulgares do dia-a-dia da mesma forma e sem desconfiança.

Contos macabros de Junji Ito
Com Riho Sugiyama, Daisuke Kishio, Rie Suegara
Netflix, 2023


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F. Cleto e Pina

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Jap Xpress leva cultura japonesa à baixa do Porto

Decorre de hoje até domingo o Jap Xpress, em diversas lojas das ruas do Bonjardim e do Bolhão, na baixa portuense, entre as quais a Central Comics (especializada em BD) e a Press Play (jogos), que organizam o evento.

A cultura nipónica estará em destaque através da comida, música, oficinas de Iniciação aos Kanji (escrita japonesa) ou a projecção do filme “Evangelion 1.01”. Haverá concursos de ilustração e dança Shin Chan e um torneio de videojogos.

No sábado, com a presença de Gothic Lolitas e Maid e Butler Caffé e da banda rock Trabalhadores do Comércio, será lançado o fanzine “All Girlz’ Banzai” (16h), com mangas de Joana Lafuente e Selma Pimentel, e terá lugar o concurso de Cosplay (16h30), em que os participantes se vestem e imitam as suas personagens de manga ou anime preferidas.

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Gandhi, Einstein e Marie Curie em manga educativo

Colecção da Bertrand divulga personalidades notáveis da História junto dos mais novos; ASA apresenta novas colecções de manga hoje em festa no Porto

Após algumas tentativas para impor os manga (BD japonesa) no mercado português, cujos resultados ficaram sempre aquém do esperado – nos mercados francês, espanhol, alemão ou norte-americano, a sua implantação ronda os 40 % -, estão neste momento nas livrarias seis títulos neste estilo, preferido pelas novas gerações que cresceram com os desenhos animados japoneses (anime), os videojogos e a Internet e que lêem manga em inglês.
A Bertrand centra a sua aposta nas crianças, propondo três volumes coloridos da colecção Grandes Figuras da História, uma produção do estúdio Ykids, da YoungJin Singapore. Dedicados a Albert Einstein, Ghandi e Marie Curie, destacam não só os factos fundamentais da biografia de cada um, mas também episódios curiosos, menos conhecidos, das suas carreiras, equilibrando o tom informativo com as características próprias da ficção, constituindo uma abordagem divertida e visualmente estimulante à descoberta das vidas inspiradoras de algumas personalidades da História. Cada volume destes manga educativos, com cerca de centena e meia de páginas, é complementado com notas de leitura para pais e professores, e com uma cronologia da época em que os biografados viveram, havendo um guia mais completo para download no site da Ykids.
Nele estão também referenciadas outras obras no mesmo estilo, nomeadamente as biografias de Nelson Mandela, Madre Teresa de Calcutá e Leonardo Da Vinci, adaptações de lendas greco-romanas e de clássicos da literatura como “Mulherzinhas”, “A Ilha do Tesouro” ou “As Viagens de Gulliver”, bem como livros de introdução à Matemática, à História e à Leitura.

Festa Manga no Porto

Entretanto, hoje, no Porto, na Livraria Central Comics (R. do Bonjardim, 594), as Edições ASA promovem uma festa de apresentação dos seus títulos manga, oriundos do catálogo da norte-americana Tokyopop, com a presença de Maria José Pereira, responsável editorial do departamento de BD. Trata-se das trilogias “Warcraft”, baseada no jogo com o mesmo título, “Dramacon”, uma comédia romântica que decorre numa convenção de manga e anime, e “A princesa Pêssego”, a história de uma menina e do seu animal de estimação, um furão. Estes dois últimos têm a particularidade de se destinarem ao público feminino, adolescente, quase sempre esquecido pela banda desenhada ocidental, mas sempre contemplado pela produção nipónica de BD. O primeiro volume de cada série, devendo os restantes chegar às livrarias em Outubro próximo e em Fevereiro de 2009.


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ASA aposta em manga

“Warcraft”, “Dramacon” e “Princesa Pêssego” serão lançados em Setembro; Obras direccionadas para jovens de ambos os sexos

As Edições ASA acabam de anunciar a sua aposta em títulos de manga, termo que na sua origem designava a banda desenhada japonesa e hoje em dia é utilizado para classificar obras aos quadradinhos que seguem as suas características. Geralmente são a preto e branco, prolongam-se por muitos volumes, totalizando centenas ou milhares de pranchas, são protagonizadas por personagens de olhos grandes, a acção tem predominância sobre os diálogos e as linhas indicadoras de movimento e as onomatopeias são muito utilizadas. Esta é mais uma tentativa de impor este género em Portugal, que continua a ser uma excepção no mundo ocidental, pois em países como os Estados Unidos, França, Espanha ou Alemanha as vendas de manga representam valores da ordem dos 40 %.
Os primeiros três títulos, oriundos do catálogo da norte-americana Tokyopop, com volumes que rondam as duas centenas de páginas, serão lançados a 8 de Setembro, estando prevista a edição de um novo tomo todos os meses. “Warcraft – A Trilogia do Poço do Sol”, do norte-americano Richard A. Knaak e do coreano Kim Jae-Hwan, relata as aventuras de Kalec, um dragão azul que assumiu a forma humana para investigar um poder misterioso, e de Anveena, uma bela rapariga que guarda um segredo de encantamento. “Dramacon”, da russa Svetlana Chmakova, dá uma perspectiva pitoresca e romântica dos bastidores de um festival de manga. Finalmente, “A Princesa Pêssego”, dos norte-americanos Lindsay Libos e Jared Hodges, conta a história de uma solitária menina de nove anos que recebe como animal de estimação um furão, cuja mordedura tem consequências surpreendentes.
“Warcraft”, uma BD de acção, inaugura a colecção “Shounen” (manga destinado aos leitores juvenis masculinos), enquanto que os outros dois títulos apresentam a particularidade de serem “shoujo” (BD para adolescentes femininas), um segmento de mercado tradicionalmente esquecido pela banda desenhada ocidental, mas que os manga há muito trabalham, bem como todos os outros porque no seu país de origem, o Japão, há mangas para crianças, adolescentes, jovens e adultos de ambos os sexos, com todas as temáticas possíveis e imaginárias: acção, humor, aventura, policial, fantástico, terror, romance, desporto, economia ou pornografia.


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Disney aposta no manga

Adaptação do jogo Kingdom Hearts é a obra lançada neste estilo

A Disney Itália vai lançar este mês o primeiro volume de uma aventura protagonizada por Mickey Mouse aos quadradinhos em estilo manga (banda desenhada japonesa, caracterizada pelos olhos grandes e expressivos das personagens, predomínio da acção sobre o texto e utilização em grande escala de linhas indicadoras de movimento). É a primeira vez que um herói da Disney terá esta experiência, mas esta é uma iniciativa que está longe de ser original, o que mostra a cada vez maior importância deste género de BD no mundo ocidental. Na verdade, grandes editoras de quadradainhos já deram o mesmo passo: a DC Comics, editora de Super-Homem, Mulher Maravilha e Batman, anunciou o lançamento, em Abril próximo, de uma aventura estilo manga deste último, desenhada pelo japonês Yoshinori Natsume, e a Marvel concedeu uma licença à Del Rey Manga para o lançamento de séries autónomas dos X-Men e de Wolverine, assinadas por autores norte-americanos, no início de 2009.
A colecção Disney Manga terá periodicidade mensal e vai recontar histórias marcantes do universo Disney, pelas mãos de artistas japoneses formadas na sua própria Academia.
A primeira obra, lançada já este mês, é a adaptação do jogo “Kingdom Hearts” cuja história narra o desapareciemnto do rei Mickey e a sua busca pelo mago Donald e o capitão Pateta, acompanhados de Sora, um menino de 14 anos que encontram pelo caminho. Na origem, este é um jogo de acção, de 2002, já com diversas sequelas, que cruza personagens da série Final Fantasy, da produtora de jogos Square, com alguns dos mundos Disney e os seus protagonistas (o País das Maravilhas e Alice, a Terra do Nunca e Peter Pan, a selva de Tarzan, etc.). A actual versão manga tem a assinatura de Shiro Amano, mas nela os heróis Disney mantêm praticamente o seu aspecto tradicional.
Depois dos quatro volumes de “Kingdom Hearts”, a colecção Disney Manga acolherá nos próximos meses adaptações de “Witch”, “Procurando Nemo”, “Monstros e Companhia” e “Lilo e Stitch”.


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O primeiro

Era inevitável.
Em Espanha, França, Alemanha, EUA, a quota de mercado de manga (BD japonesa) não pára de crescer; nalguns casos ronda os 50 %. Nas lojas de importação vende-se cada vez mais. Concursos, fanzines, a internet, reflectem a sua influência crescente nos jovens autores. As editoras – timidamente – fazem experiências, sondam o mercado. Por isso, era inevitável que mais cedo ou (pouco) mais tarde, fosse editado o primeiro manga (enquanto tipo de BD com características próprias) português. A honra (?) coube a “Bang Bang” (PedranoCharco), um western futurista pós-apocalíptico, que retoma a temática dos caçadores de prémios.
Foi cedo demais? O traço de Hugo Teixeira responde que sim. Precisava de mais trabalho, tem problemas de proporções, regista grandes desequilíbrios, mostra que busca ainda o seu estilo pessoal. Defeitos que contrabalança com um bom domínio da planificação e do ritmo, de que resultam algumas pranchas visualmente fortes. Da história, pouco foi adiantado neste tomo #1 (faltaram-lhe mais páginas) e há ainda que definir as personagens, bem como os caminhos narrativos que o autor quer trilhar.
Para que resulte, e seja bem mais que apenas “o primeiro”, precisa de muito trabalho. Para superar as limitações e para produzir num ritmo que permita a sucessão dos capítulos num prazo razoável para “agarrar” os leitores, em mais um caminho possível para a BD em Portugal.


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Sinais?

Na sequência da boa recepção dos leitores à revista “Shogun Mag”, já com 9 números, os Humanoïdes Associés acabam de lançar “Shogun Seinen”. Mantendo o princípio da publicação de mangas originais de autores europeus, definindo “manga” não como “BD japonesa” mas “como um género que pode ser criado por qualquer autor, em qualquer país”, a “Shogun Seinen” aposta em temáticas mais adultas, ficando a “Shogun Mag” para um público mais jovem. Por isso, algumas séries transitaram para a nova revista, como “Sanctuaire Reminded”, de Stéphane Betbeder e Ricardo Crosa, um thriller de suspense num submarino, que combina delírios, pesadelos e fantástico, ou “Lolita HR”, de Delphine Rieu e Javier Rodriguez, sobre o mundo da música e a forma como as estrelas são usadas. Entre contos cibernéticos, histórias de espada e feitiçaria, thrillers actuais ou futuristas, das novas propostas destaque para o traço negro e expressivo e a planificação dinâmica de “Alter”, de Michael Nau, Esteban Mathieu e Irons D., um policial ambientado num futuro próximo. Tudo em 272 páginas, formato 15×21 cm, por apenas 3,90 €.
Entretanto, em Espanha, a Planeta DeAgostini vai lançar em breve “B”s Log” (240 pp., 2,95 €), uma revista de periodicidade quinzenal, para publicação, em continuação, de mangas (traduzidas), e também entrevistas com autores e artigos sobre jogos, animé e cultura japonesa.
Sinais de novos tempos…?


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França violenta

A violência urbana em França, notícia em todo o mundo em 2001, 2005 e, recentemente, na sequência da eleição de Nicolas Sarkozy, é o ponto de partida de “Anarky T.01 – Riot” (Humanoides Associés”), mais um dos mangas europeus pré-publicados na revista mensal “ShonenMag”.

Decorrendo num futuro próximo (2011), mostra a sociedade francesa (em vésperas de uma eleição presidencial…), refém dessa violência, contrariada pela repressão policial e pela suspensão de muitos direitos civis, situando-se a acção entre as guerras aos gangs, o tráfico desenvolvido por estes últimos e os jogos políticos de bastidores pelo controle do poder que ameaçam criar um clima de verdadeira guerra civil.

Mostrando as vantagens do modelo manga, o argumentista Karos aproveita a não-limitação de páginas para aprofundar e desenvolver diálogos que se mostram cruciais para o desenvolvimento e compreensão da trama e que servem de contraponto às cenas de maior acção e violência, onde o desenho com algumas limitações, ainda em busca de um estilo próprio, de Pazo e Hobé se mostra mais eficaz.

O volume tem como bónus o making-off deste primeiro tomo no qual Karos esmiúça as várias fases da construção do argumento e, depois, da BD, que é também um interessante guia de leitura de uma obra que, descontando alguns exageros (?), mostra como a ficção pode andar a par (ou ligeira e assustadoramente à frente?) da realidade.


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F. Cleto e Pina

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A Bíblia em versão manga

Edição com o Novo Testamento lançada na Inglaterra; Versão integral deverá sair em Julho

A editora inglesa Hodder and Stoughton acaba de lançar no mercado britânico uma nova adaptação da Bíblia em banda desenhada, que tem, no entanto, a particularidade de ser em estilo manga (BD japonesa).

A obra está disponível em duas versões, “The Manga Bible: New Testament – Raw” e “The Manga Bible: New Testament – Extreme”. Em ambos os casos trata-se apenas da adaptação condensada do Novo Testamento, incluindo ambas as edições uma entrevista com o autor e esboços das diversas fases preparatórias da obra. A diferença entre ambas é que “The Manga Bible: New Testament – Extreme” é mais luxuosa, tem formato maior e inclui o texto integral do Novo Testamento, na sua nova versão internacional.

O autor de “The Manga Bible” assina Siku, é natural de Leicester, Inglaterra, estudou arte conceptual, pintura e escultura na Nigéria, e desenhou BD para as editoras 2000AD e Marvel, para além de ter sido director visual de uma empresa de vídeo-jogos, tendo já anteriormente feito uma versão aos quadradinhos do drama bíblico de Caim e Abel. Cristão praticante, finalista da London School of Theology, esta é a sua primeira experiência em manga, tendo a opção por este estilo surgido naturalmente pois o público-alvo da edição “são os adolescentes e os adultos jovens”.

Para esta adaptação trabalhou com o seu irmão Akin, responsável pelo argumento, tendo sido “muito, muito difícil seleccionar o que devia ou não ser incluído. Isto forçou-nos a sermos disciplinados, a perguntarmos o que era realmente importante. Para mim houve uma coisa em particular – mostrar a humanidade de Cristo”.

A necessidade de extrema condensação dos episódios seleccionados, obrigou a uma planificação extremamente dinâmica – “montei as cenas como se estivesse a ver um filme” – acentuada pelo uso de linhas cinéticas indicadoras de movimento e grandes planos sucessivos, explorando as muitas potencialidades do estilo manga, bem reveladas nas páginas disponíveis na Internet que ilustram a tentação de Cristo, a sua crucificação ou o Livro do Apocalipse.

Em Julho deverão sair novas edições, contendo toda a Bíblia em manga.

Esta não é a primeira vez que o livro sagrado é adaptado em manga, pois o japonês Masakazu Higuchi já tinha feito uma “Manga Bible Story-japanese: Comic Book Style Bible”, sendo esta uma das muitas versões aos quadradinhos da Bíblia, destacando-se o trabalho de Siku por ser mais um exemplo da penetração crescente do estilo manga no Ocidente.

A outro nível, a Bíblia serviu de inspiração a autores famosos de BD como Charles Schulz o criador dos “Peanuts”, um luterano convicto, que muitas vezes utilizou versículos citados por Charlie Brown ou Snoopy (o que esteve na origem do livro “The Gospel According to Peanuts” (1965) do pastor presbiteriano Robert L. Short), ou Maurício de Sousa, que ilustrou mesmo um álbum intitulado “Passagens Bíblicas com a Turma da Mônica”.


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F. Cleto e Pina

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