Num contexto de crise, num mercado livreiro limitado, onde a BD sempre foi um nicho, autores e pequenos editores de banda desenhada esforçam-se para criar alternativas à edição tradicional.
E elas existem, “porque se quer editar e se acha preciso”, justifica Marcos Farrajota, da Chili com Carne, e por títulos como “Mocifão”, “Defier”, “Virgin’s Trip”, “Fato de macaco”, “Postais de Viagem”, “Gambuzine”, “Efeméride”, “Super Pig”, “A Fórmula da Felicidade”, “Noitadas, Deprês e Bubas”, “Tomorrow The Chinese Will Deliver The Pandas”, “O filme da minha vida” ou “Murmúrios das Profundezas” têm passado algumas (das mais?) interessantes propostas dos quadradinhos portugueses.
Comuns a todos são as tiragens reduzidas – raramente atingem os 500 exemplares – e o circuito de distribuição restrito: “alfarrabistas, festivais de BD”, enumera Geraldes Lino, completando Farrajota, com: “lojas especializadas em BD ou design e eventos ligados à edição independente”. E acrescenta ainda “algumas livrarias, onde (com raras excepções) existe um desdém por estas edições, que são escondidas e nunca repostas”, o que é corroborado por Pepedelrey, da El Pep, que referencia um circuito de distribuição “atribulado, com os lojistas a bloquearem constantemente as iniciativas”. E, claro, vendas on-line, cultivadas por quase todos, e trocas com editores similares de outros países.
Por isso e porque a inércia é grande, os stoks podem demorar 1, 2, 3 anos a escoar… Excepção foi “Murmúrios das Profundezas”, colectânea de BDs inspiradas em Lovercraft, cujos 200 exemplares “voaram” em “dois rápidos meses devido à expectativa que criamos junto dos potenciais leitores”, revela Rui Ramos, o mentor do projecto. Mas sem reedição prevista, uma vez que a opção foi o offset e não a impressão digital, “a alma do negócio” da El Pep, pois permite “imprimir de novo quando se esgota uma tiragem”.
Perante tudo isto, “os autores, infelizmente, são pagos só em géneros” (livros), diz Teresa Pestana, ou usam o “dinheiro dos lucros para financiar novos livros”, exemplifica Rui Ramos. A solução, para Pepedelrey, seria “criar o tão desejado mercado nacional de BD: existem autores, editores e consumidores; faltam as estruturas de distribuição e promoção correctas”.
Comum a todos, também, é a enorme vontade – concretizada – de ser e criar. Por isso, trabalha-se sempre em novos projectos: G. Lino, prepara “o nº 4 do fanzine Efeméride, dedicado ao Tintin” e o Gambuzine #2 “sai em Novembro, com colaborações de alguns poetas portugueses vivos”. A equipa dos “Murmúrios…”editará ainda este ano “Voyager”, já parcialmente disponível em, a MMMNNNRRRG “O Pénis Assassino”, e a Chili Com Carne “uma antologia internacional com o festival Crack (Roma), para Junho”. Em busca de outros mercados, a El Pep que “a partir de agora só fará edições em inglês”, a lançar “nos principais encontros internacionais e só depois em Portugal, está a produzir “A tua carne é má” e “Defier #2”.
Tantos títulos parecem contrariar a afirmação convicta de G. Lino de que “a BD portuguesa não tem futuro”, o que se deve “a uma fatal conjunção de desinteresses, descrédito e a um meio demasiado pequeno e amiguista que neutraliza à partida qualquer objectividade e evolução”, corrobora Teresa Pestana.
Na dúvida, Farrajota acredita que este será o caminho “se houver futuro”, enquanto Pepedelrey pensa que “é um caminho válido e o único que tem contribuído para o desenvolvimento desta expressão artística”. Conclui Rui Ramos: “o futuro vai depender acima de tudo da imaginação, inovação e capacidade de organização, empenho e produção dos autores nacionais e da sua capacidade de captar a atenção do público”.
[Caixa]
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Escrito Por
F. Cleto e Pina
Publicação
Jornal de Notícias