Etiqueta: Meribérica/Liber

Leonardo DiCaprio vai produzir Akira

Manga de Katsuhiro Otomo abriu portas do Ocidente à BD japonesa; Primeiro de dois filmes deverá estrear já em 2009

A Warner Bros. vai produzir uma versão em imagem real de “Akira” (1986), de Katsuhiro Otomo, numa parceria com a Appian Way, do actor Leonardo DiCaprio. A obra – uma combinação entre “Blade Runner” e “Cidade de Deus”, lê-se no anúncio oficial – será dividida em dois filmes, devendo o primeiro estrear já em 2009.
A realização foi entregue a Ruairi Robinson, um irlandês, de 29 anos, indicado para o Óscar para Melhor Curta-Metragem por “The Silent City” e o argumento adaptado será da autoria de Gary Whitta, restando saber se o filme vai estar mais próximo do manga ou da versão animé (cinema de animação japonesa), também da autoria de Otomo, pois entre as duas há diferenças significativas. De qualquer forma, uma e outra são consideradas obras-primas.
“Akira”, o manga, demorou 11 anos a ser concluído e, ao longo de quase 2000 pranchas (integralmente editadas em português, em 19 volumes, entre 1988 e 2004, pela Meribérica/Líber), é uma fantástica saga, narrada a um ritmo vertiginoso de cortar a respiração, ambientada num futuro próximo, numa Tóquio devastada por uma explosão nuclear, onde o exército, a resistência, um bando de marginais de rua e uma seita semi-espiritual lutam pelo controlo de Akira, uma criança com imensos poderes mentais provocados por experiências não autorizadas. Este foi o primeiro manga a ter sucesso no Ocidente, tendo aberto a porta à invasão que hoje se verifica, traduzida em quotas na ordem dos 40 % em mercados fortes como o norte-americano ou o francófono.
A versão animé, também disponível em português, foi feita dois anos depois – ainda a BD estava longe de ser concluída – e revolucionou o mundo da animação, graças aos progressos técnicos apresentados, destacando-se a sincronização do movimento dos lábios, a altíssima definição das imagens e a naturalidade dos movimentos.


Escrito Por

F. Cleto e Pina

Publicação

Jornal de Notícias

Futura Imagem

A morte de Manfred Sommer

Criador de Frank Cappa e actual desenhador de Tex foi um dos rostos do boom da BD espanhola nos anos 80
F. Cleto e Pina

Manfred Sommer, um dos rostos do grande boom da banda desenhada espanhola nos anos 80 (com Torres, Prado, Ortiz, Segura, Abulli ou Bernet) faleceu aos 74 anos, vítima de doença. Nascido em San Sebastian, com apenas 9 anos tornou-se aprendiz de Jesus Blasco (criador de “Cuto”), tendo assinado as suas primeiras histórias aos 14 anos. Fez BD para Espanha e para o estrangeiro, trabalhando simultaneamente em cinema de animação e publicidade, mas só em 1981 conheceria o sucesso, com a criação de Frank Cappa na revista “Cimoc”, um foto-jornalista livremente inspirado em Robert Capa, o célebre fotógrafo da agência Magnum.
Criado “por uma urgência quase visceral” de alguém cansado “de ficar impotente diante dos horrores que a televisão mostra”, Cappa, publicado em Portugal no “Mosquito” (5ª série) e no álbum “Frank Cappa no Brasil” (Meribérica/Líber), interessava-se mais pelos seres humanos protagonistas das notícias que cobria, do que pelos acontecimentos em si. Canadiano no passaporte mas cidadão do mundo, que percorreu de lés a lés, serviu a Sommer para transmitir dele a sua visão melancólica e desencantada, através de um preto e branco contrastado e ritmado, inspirado em mestres como Pratt e Caniff.
Depois de alguns anos afastado da 9ª arte, para se dedicar à pintura, Sommer voltou aos quadradinhos em 2003, para desenhar Tex, o célebre ranger da Bonelli, tendo deixado incompleta uma história.


Escrito Por

F. Cleto e Pina

Publicação

Jornal de Notícias

Futura Imagem

Clássicos da Literatura renascem aos quadradinhos

Obra integral de Agatha Christie começa a ser editada em BD no próximo mês; Editoras francesas apostam em adaptações feitas por autores conhecidos; Shakespera em manga é aposta para o leitores mais jovens; Clássicos portugueses revisitados em BD no Brasil

A obra integral de Agatha Christie vai ser integralmente editada em banda desenhada pela editora britânica Harper Collins. A “Agatha Christie Comic Strip Edition” terá um total de 83 livros que ficarão disponíveis até ao final de 2008, chegando os 12 primeiros, entre os quais os conhecidos “Crime no Expresso do Oriente” ou “Morte no Nilo”, às livrarias no próximo mês. As adaptações estão a cargo do romancista francês François Riviére que, em BD, assinou nomeadamente “O encontro em Seven Oaks”, “O Dossier Harding” e “À Procura de Sir Malcolm” (edição portuguesa da Meribérica/Líber), surgindo no desenho, entre outros, Frank Leclerq, Marc Piskic, Solidor e Laurence Suhner.

Mas este não é caso único no que toca à apetência da BD pela literatura. Em França, por exemplo, a Delcourt criou há poucos meses a colecção “Ex-libris”, dirigida por Jean David Morvan, argumentista de Spirou e Sillage, onde já foram editados em BD “Oliver Twist”, de Dickens, “Frankenstein”, de Mary Shelley, “Os três Mosqueteiros”, de Dumas ou “Robinson Crusoé”, de Daniel Defoe. Como premissas, a colecção apresenta “um profundo respeito pelas obras”, a sua recriação “por autores que pretendam revisitar um dos seus livros de cabeceira” e “adaptações fiéis mas personalizadas”. Longe vão as versões maçudas e maçadoras de tempos idos que, mais do que adaptações em BD eram obras (mal) ilustradas, o que permite, num segundo passo obras como “Cidade de vidro” (Edições ASA), em que Paul Karasik e David Mazzucchelli recriaram graficamente de forma magistral um texto quase hermético de Paul Auster, “Fagin, o judeu” (Gradiva), em que Will Eisner desmonta a visão estereotipada dada dos judeus na versão original de “Oliver Twist”, recontando-o sob o ponto de vista de Fagin, o vilão, ou “Long John Silver” (Glénat/Futuropolis), de Dorison e Lauffray, que, numa variação curiosa, exploram as (prováveis) aventuras do pirata de “A Ilha do Tesouro”, de Stevenson.

Ainda em França, onde a Casterman e a Soleil avançam também neste campo, é incontornável o exemplo de Jacques Tardi, com uma ligação de longa data a ligação aos policiais de Léo Mallet, que lhe permitem desenhar a sua Paris natal por quem nutre uma verdadeira paixão.

Entretanto, do outro lado do oceano, a 9ª arte é igualmente utilizada para fazer a (re)descoberta da literatura. E uma das editoras que nisso aposta é a Marvel, conhecida pelos seus super-heróis, para quem Roy Thomas, um veterano dos comics, adaptou “O último dos moicanos”, de Fenimore Cooper, “A Ilha do tesouro”, de Stevenson e “O Homem da Máscara de Ferro”, entregando os desenhos a Hugo Petrus, Mario Gully e Steve Kurth.

Neste país, e também em Inglaterra, em finais do ano passado, duas editoras, respectivamente a John Wiley and Sons, especializada em livros técnicos, e a Self Made Hero, divulgaram, quase em simultâneo, a aposta em obras de Shakespeare (“Hamlet”, “Romeu e Julieta”, “Macbeth”, etc.) aos quadradinhos, mas em estilo… manga (bd japonesa), tentando ir ao encontro das preferências actuais das camadas jovens e do público feminino.

Em Portugal, esta prática foi corrente entre os anos 30 e 60 do século passado, quando a censura a isso obrigava os autores, podendo-se citar as adaptações que Fernando Bento fez de romances de Júlio Verne, a “Peregrinação de Fernão Mendes Pinto”, revisitada por José Ruy ou “O Caminho do Oriente”, em que Raúl Correia e E. T. Coelho recontam a viagem de Vasco da Gama vista pelos olhos de um miúdo. Em tempos mais recentes Filipe Abranches e Diniz Conefrey, beberam nas obras de Raúl Brandão e Herberto Hélder (ver caixa). E no ano passado, no Brasil, os clássicos da literatura lusa – Camões e Eça – inspiraram os “quadrinhos” de Lailson Cavalcanti de Holanda (ver caixa) e a Marcatti (ver texto à parte).

[Caixa]

Saber Mais

Arquipélagos
Diniz Conefrey
ÍmanEdições, 2001

A partir de dois textos de Herberto Hélder, (“Os Passos em Volta”, de 1963, e “Photomaton &icom”, de 1979), Diniz Conefrey constrói uma obra cromaticamente diversificada e forte, dando visibilidade à intensa carga poética do original.

O diário de K.
Filipe Abranches
Polvo, 2001

Partindo de “A morte do palhaço”, de Raúl Brandão”, Abranches, numa das suas obras mais conseguidas, brilhante no seu preto e branco esquemático, pejado de imagens invulgarmente fortes, recria graficamente a angústia, o medo e a solidão do protagonista perante a morte.

Lusíadas 2500
Lailson Cavalcanti de Holanda
Companhia Editora Nacional/IBEP (Brasil), 2006

Utilização do texto integral de “Os Lusíadas,” de Luís de Camões, “numa encenação futurista, transposta para um outro meio – a Arte Sequencial – onde a narrativa gráfica complementa a narrativa literária”.

“A Relíquia” de Marcatti

Lançada em Julho no Brasil, “A Relíquia” (Conrad) é exemplo de uma adaptação bem conseguida. O que à partida podia ser posto em causa, dado o tom escatológico das obras anteriores de Marcatti, autor underground brasileiro, nascido em 1962, que fez o que deve ser feito numa adaptação: interiorizou o espírito do romance de Eça e o seu peculiar sentido de humor, na sua crítica exacerbada à Igreja Católica e aos seus fiéis fanáticos, transpondo-os depois para a nova linguagem. A opção de manter “a estrutura da história original” contribui para a consistência do livro, bem como a utilização, nos textos, de “uma mistura de coloquialidade e erudição para facilitar a leitura sem perder o tom clássico da obra”.

Com eles, e apesar do seu traço caricatural, recria em “quadrinhos” o clima tenso e opressivo que Eça deu à sua narrativa, e transmite o estado de prostração e impotência que Raposão, o boémio sobrinho da beata Titi, sente face à rédea curtíssima com que ela o mantém. Paradoxalmente, é o seu traço caricatural, caracterizado por personagens de olhos vivos e grandes narizes e corpos de inusitada mobilidade, o outro trunfo do livro, pois a sua vivacidade e dinamismo contrabalançam o tom mais pausado do texto, marcando o ritmo da obra e expressando à saciedade os diversos estados de espírito, mostrando sentir-se como peixe na água na representação das cenas mais ousadas, divertidas caricaturas que surgem como oásis na vida de Raposão e como aliviadoras da tensão na leitura do livro, bem recebida pela crítica brasileira, e que Marcatti faz questão de apresentar como “a sua Relíquia”.


Escrito Por

F. Cleto e Pina

Publicação

Jornal de Notícias

Futura Imagem

Corto Maltese apareceu há 40 anos

Foi há 40 anos. Na imensidão do Oceano Pacífico, amarrado a uns quantos troncos que formavam uma jangada tosca, aparecia pela primeira vez Corto Maltese. Era a vinheta final da quinta prancha de “Una Ballata del Mare Salato”, uma BD publicada no primeiro número da revista italiana “Sgt. Kirk”, estreada em Portugal na revista “Tintin” e lançada em álbum pela Bertrand (1982) e pela Meribérica/Líber (2003, na edição revista e colorida). O seu autor era Hugo Pratt que iniciava, assim, sem o saber – até a barba hirsuta de Corto dura apenas duas pranchas – uma das mais importantes e marcantes histórias aos quadradinhos, onde imperavam já o espírito de liberdade, o valor da amizade e um imenso sabor a aventura que marcariam a sua obra.

De Corto, fomos conhecendo aos poucos, ao longo de mais de duas dezenas de álbuns, o seu carácter errante, anarquista, libertário e de anti-herói romântico e pormenores de uma vida aventurosa – retrato colorido da vida e das experiências do próprio Pratt de quem se tornou alter-ego – na qual “contando a verdade como se fosse mentira, ao contrário de Borges que contava mentiras como se fossem verdades”, cruzou oceanos, visitou lugares místicos e reais e conheceu algumas das mais belas e interessantes mulheres da BD. Que sempre deixou, porque o apelo da aventura e do mar sempre foram mais fortes, possibilitando-nos assim conhecer, sem nunca ter vivido, boa parte da História do primeiro terço do século XX, e compartilhar ideias e ideais, filosofias de vida e o mais profundo da natureza humana, que Pratt foi desfiando pelos seus romances desenhados.

Estes 40 anos – ou os 120, se atentarmos na data que alguns biógrafos apontam para o seu nascimento – ficam marcados, em França, após a edição cronológica em formato de bolso, por duas reedições da Casterman: “La Ballade de la mer salée”, em edição de luxo, formato gigante (32 x 41 cm) e tiragem limitada (10 000 ex.), prefaciada por Gianni Brunoro, e “Fable de Vénise”, que inaugura a colecção “Autour de Corto Maltese” que se destaca por incluir comentários, referências, notas históricas, geopolíticas, bibliográficas, imagens e análises, ao lado de cada prancha. Isto, enquanto os muitos fãs de Corto continuam a aguardar pela nova aventura do marinheiro errante, anunciada em Janeiro deste ano em Angoulême, no cumprimento do desejo de Pratt que sempre quis que a sua criação lhe sobrevivesse. Mantida no maior segredo – nem o nome dos dois autores é conhecido – sabe-se apenas que deverá ser lançada entre meados de 2008 e início de 2009 e que a sua acção se passará entre os álbuns “A juventude de Corto Maltese 1904-1905” e “A Balada do Mar Salgado”.

[Caixa]

Corto Maltese – perfil

Nascimento

10 de Julho de 1887, em Malta

Filiação

Mãe: cigana espanhola de Sevilha

Pai: marinheiro britânico, da Cornualha

Nacionalidade

Britânica

Profissão

Marinheiro e aventureiro

Sinais particulares

Brinco em forma de argola na orelha esquerda; longa cicatriz na palma da mão direita, feita por ele próprio insatisfeito com o comprimento da sua linha da vida.

Morte

No mar, em Cantão, assassinado por uma tríade, na Austrália, numa briga ou na Guerra Civil de Espanha, como Hugo Pratt afirmou?


Escrito Por

F. Cleto e Pina

Publicação

Jornal de Notícias

Futura Imagem