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Casa-Museu de Corto Maltese Inaugurada em Veneza

A personagem de banda desenhada Corto Maltese, o capitão maltês aventureiro, criado pelo autor italiano Hugo Pratt, já tem direito a uma casa-museu, que inaugurou esta semana em Veneza.

Tal como Tintin está associado a Hergé e Astérix a Uderzo e Goscinny, Corto Maltese é tão ou mais conhecido que o seu próprio autor, e merece agora um espaço naquela cidade italiana, onde Hugo Pratt passou a infância.

La Casa di Corto tem um espaço dedicado a Hugo Pratt, com um conjunto de fotografias a preto e branco, incluindo retratos do artista no estúdio e em casa, e acolherá em breve a biblioteca pessoal do artista italiano. Estão ainda expostas aguarelas, esboços, desenhos e alguns objectos associados às histórias que Hugo Pratt criou e ligados ao universo pessoal do autor e às viagens que fez pelo mundo.

Mais do que um museu, a Casa de Corto Maltese pretende ser um laboratório, um espaço para dar a conhecer quem gosta de fazer banda desenhada e gosta de aventura, tal como o capitão de mar criado por Hugo Pratt.

Foi por isso que a direcção da casa-museu incluiu a presença e a participação de Guido Fuga e Lele Vianello nas actividades do espaço, dois colaboradores de longa data de Hugo Pratt.

Hugo Pratt nasceu em Rimini, passou a infância em Veneza e mudou-se em finais dos anos 1940 para Buenos Aires, na Argentina, onde trabalhou com Héctor Oesterheld, um dos maiores nomes da banda desenhada mundial. Nas décadas seguintes, Pratt viajou várias vezes entre os dois lados do Atlântico, até que no final da década de 1960, já em Itália, cria uma publicação – Sgt. Kirk – onde apresentou em 1967 o capitão Corto Maltese, de longa jaqueta militar preta e brinco de ouro na orelha esquerda, em “Balada do Mar Salgado”. Depois dessa novela gráfica, Hugo Pratt desenvolveu histórias poéticas, literárias, utópicas que serviram de inspiração para as gerações seguintes e colocaram a banda desenhada num patamar artístico acima da cultura popular. Hugo Pratt ainda viveu em França, viajou e morreu na Suíça, em 1995, aos 68 anos vítima de cancro. “Os escorpiões do deserto”, “As Célticas”, “Corto Maltese na Sibéria” e “Mu – A cidade perdida”, são algumas novelas gráficas protagonizadas por Corto Maltese.

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Jornalistas nos Quadradinhos

Profissão de repórter vale aos heróis de papel acesso a informação e liberdade de movimento.

No passado dia 2, foi publicada a derradeira tira diária de Brenda Starr. Estreada nos jornais norte-americanos a 30 de Junho de 1940, a heroína criada por Dale Messick foi uma das primeiras da extensa linhagem de jornalistas dos quadradinhos.

Curiosamente – ou talvez não – os heróis de papel raramente são reconhecidos pelo que fazem na sua profissão. Tintin, o mais antigo (?) e o mais famoso jornalista europeu da BD, é conhecido como “o repórter que nunca escreveu uma linha”, o que não deixa de ser falso, pois o herói criado por Hergé em 1929, produziu uma única mas volumosa reportagem na sua primeira aventura “No país dos Sovietes”. Do outro lado do oceano, o repórter Clark Kent e o fotógrafo Peter Parker, usam-na apenas como fachada para esconderem a sua identidade de super-herói, respectivamente, Super-Homem e Homem-Aranha.
A constatação atrás expressa só vem reforçar que a escolha da profissão de jornalista pelos autores serve, antes de tudo, como fácil mas credível justificação às constantes deslocações dos protagonistas para os locais onde tudo acontece e também para acederem à informação com maior facilidade. É o que se passa com outra personagem de topo da escola franco-belga, o jornalista-detective Ric Hochet, criado em 1955 por Duchateu e Tibet, que entre perseguições emotivas, a descoberta de intrincados mistérios e o espatifar do seu Porsche amarelo tem ainda tempo para escrever no jornal La Rafale. Igualmente membro de uma redacção, Fantásio, alterna o seu quotidiano entre as grandes reportagens e a vida na redacção da revista Spirou, onde sofre e se exaspera com as partidas e disparates de Gaston Lagaffe, a incontornável criação de Franquin.
Entre aqueles cuja relação com a profissão é mais forte, conta-se Ernie Pike, correspondente de guerra da autoria de Oesterheld e Hugo Pratt, em 1957, que percorreu as principais frentes da II Guerra Mundial, testemunhando de forma crua e realista os seus dramas, horrores e feitos heróicos. Muito importante, embora não seja o protagonista, é o papel do jornalista Willy Richards (vulgo Poe dada à sua semelhança física com o célebre escritor), no western Bonelli “Mágico Vento” (presente nos quiosques nacionais), pela forma como se move nos meios oficiais onde obtém informações cruciais para as narrativas e para a contextualização histórica que o seu criador, Manfredi, lhes imprime.
Steve Roper, Jeff Cobb, Frank Cappa, Guy Lefranc ou Jill Bioskop são outros heróis jornalistas, capazes de evocar recordações nos que estão mais familiarizados com os quadradinhos, mas a geração que leu a BD Disney nos anos 70 e 80, com certeza recorda, divertida, as grandes confusões geradas pelos repórteres Donald e Peninha do jornal A Patada. Quanto à geração jovem actual, vibra com as reportagens e peripécias de Geronimo Stilton, director do Diário dos Roedores, principal quotidiano da Ilha dos Ratos, que embora nascido em romances juvenis, também já protagoniza aventuras aos quadradinhos.
E se muitos deles têm evoluído da imprensa escrita para a web – como é o caso de Peter Parker ou Ric Hochet, em histórias mais recentes – a perda de audiência dos jornais impressos poderá ser uma das explicações para o fim da carreira de Brenda Starr, quase 70 anos após o seu primeiro quadradinho, numa altura em que se destacava por ser mulher, tal como a sua criadora, num mundo em que imperavam os homens. Aliás, foram sempre mulheres que estiveram aos comandos do destino desta jornalista de investigação, elegante, inteligente e sensual, como o seu modelo, a actriz Rita Hayworth, em casos policiais com muita acção e romance.

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Maria Jornalista
Se a banda desenhada portuguesa nunca foi pródiga em personagens recorrentes, não surpreende que seja difícil encontrar nela protagonistas ligados à imprensa.
Um dos casos mais curiosos é o de Maria Jornalista, heroína de uma dezena de histórias de duas pranchas que os leitores da Notícias Magazine descobriram em 1994, mas que nunca foram compiladas em livro.
Passadas em diversos locais de Portugal (Viana, Porto, Aveiro, Sintra, Lisboa, …), nalguns casos com referência a personagens reais (Rosa Mota, Jorge Sampaio, Manuela Moura Guedes), cada narrativa teve um autor diferente (José Abrantes, Crisóstomo Alberto, Fernando Bento, Luís Diferr, José Garcês, Catherine Labey/Jorge Magalhães, Luís Louro, Baptista Mendes, José Ruy e Ana Costa/Augusto Trigo), que lhe imprimiu o seu próprio estilo gráfico e temático, do humor ao policial, do turístico ao onírico, da denúncia social ao fantástico.

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