Categoria: Recortes

Morreu Frank Frazetta, o pai da ilustração fantástica

Frank Frazetta, o homem que revolucionou a ilustração fantástica e de ficção-científica faleceu ontem, aos 82 anos, num hospital da Florida, na sequência de um derrame cerebral.
Norte-americano, nascido a 9 de Fevereiro de 1928, Frazetta começou a sua carreira aos 16 anos, como desenhador de quadradinhos, destacando-se as colaborações nas tiras diárias de imprensa de L’il Abner e nas aventuras de Litle Anne Fanny para a revista Playboy, bem como diversas bandas desenhadas humorísticas, que levaram Walt Disney a convidá-lo para o seu estúdio, oferta que ele declinou.
O desenho do cartaz para o filme “What’s New Pussycat” (1965) levou-o a descobrir um novo (e mais rentável) mundo, passando a dedicar-se especialmente à ilustração de capas de livros e discos, posters, cartazes cinematográficos e quadros, nos quais revelou um grande sentido estético e de composição, um traço dinâmico e vigoroso, servidos por uma paleta de cores diversificadas, com os quais deu nova vida a personagens como Conan, Vampirella ou Tarzan. Os seus trabalhos, maioritariamente de temática fantástica, de terror ou de ficção-científica, distinguem-se pelos homens fortes e vigorosos e pelas belas e sensuais mulheres, na maior parte das vezes em cenas de combate, em ambientes hostis, perante monstros ameaçadores.


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F. Cleto e Pina

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Autores portugueses desenham clone de Wolverine para a Marvel

Nos próximos dias deve chegar às lojas especializadas portuguesas mais uma edição da Marvel com assinatura portuguesa. Trata-se de “X-23”, uma história completa em 36 páginas, escrita por Marjorie Liu, cujo desenho a lápis foi feito por Filipe Andrade e Nuno Plati Alves, que foi também responsável pela arte-final e a cor das pranchas em que participou. A passagem a tinta das restantes esteve a cargo de Jay Jensen e Sandu Flórea, tendo este último ainda há pouco tempo desenhado a saga “Batman: R.I.P.”, na qual o Homem-Morcego perdeu a vida.
Ao JN, Filipe Andrade, desenhador de “BRK” (ASA), revelou que foi convidado para a ilustrar durante o Festival de BD de Angoulême, em Janeiro último, devido ao atraso da autora inicialmente escolhida mas também face à boa aceitação que teve o seu primeiro trabalho para a Marvel, uma BD do Homem de Ferro, ainda inédita.
Com prazos muito apertados – teve que desenhar 24 pranchas em 20 dias, com layouts e estudos incluídos – Andrade teve ainda que suprir o desconhecimento que tinha da personagem principal, X-23, aliás Laura Kinney, uma clone de Wolverine, que possui garras retrácteis nas mãos e também nos pés, que apareceu pela primeira vez na série animada “X-Men Evolution”, tendo depois passado para os quadradinhos onde é actualmente um dos membros da X-Force.
Esta história, conta a sua partida da ilha de Utopia, refúgio dos X-Men, na baía de S. Francisco, e o seu regresso provisório às ruas sombrias e degradas de Nova Iorque, um ambiente com o qual o desenhador se afirma à vontade, numa tentativa de encontrar o seu próprio caminho e começar a lutar por si própria, depois de uma vida em que sempre se sentiu usada por aqueles que a rodeavam.
Com uma segunda BD do Homem de Ferro já terminada, Filipe Andrade está agora a trabalhar numa mini-série de 4 ou 5 números, com uma personagem chamada Nomad.


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F. Cleto e Pina

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Manga e super-heróis no Anicomics Lisboa

Tem início hoje às 21h30, com a cerimónia de abertura (entrada por convite) o Anicomics Lisboa 2010, um evento organizado pela livraria (e editora) Kingpin Books, dedicado à banda desenhada, que terá lugar na Biblioteca Municipal Orlando Ribeiro, em Telheiras, que estará aberta entre as 10h e as 23h (no sábado) e das 10h e às 19h (no domingo)
Como cabeças de cartaz, surgem três autores europeus que desenham para a Marvel: os italianos Giuseppe Camuncoli (que tem trabalhado nas revistas “Dark Wolverine” e “Hellblazer”) e Stefano Caselli (“Avengers: The Initiaive”, “Secret Warriors”), e o espanhol David Lafuente (“Ultimate Spider-Man”). Este último orientará um workshop subordinado ao tema “O desenho e o processo criativo”.
Os autores portugueses têm também um lugar de destaque, estando anunciadas, entre outras, as presenças de Filipe Melo (Aventuras de Dog Mendonça e Pizza Boy), Filipe Andrade e Nuno Plati Alves (que desenharam o one-shot “X-23”, recém-editado pela Marvel), Nuno Duarte e Osvaldo Medina (de quem a Kingpin lançou no início do mês o segundo tomo de “A Fórmula da Felicidade”), Joana Lafuente, João Lemos ou Jorge Coelho (desenhadores que têm trabalhado para o mercado norte-americano).
Preferência actual dos mais jovens, o manga e o anime marcarão igualmente presença através de concursos de Cosplay, demonstrações de Hairstyling & Make-up e degustação de Sushi, constando ainda do programa debates e sessões de autógrafos com os autores, a projecção de filmes de animação e sessões de desenhos ao vivo.


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Morreu Peter O’Donnell, criador de Modesty Blaise

O britânico Peter O’Donnell, criador de Modesty Blaise, a aventureira protagonista da tira diária de imprensa que começou a ser publicada no The Evening Standard, há 47 anos, faleceu ontem.
Inspirada na literatura de espionagem, Modesty era uma jovem amnésica, fugitiva de um campo de refugiados grego após o final da II Guerra Mundial, que vivia de expedientes pouco lícitos. Viria mesmo a dirigir a organização criminal Network, antes de se tornar uma agente secreta ao serviço do governo inglês. Bela, sensual e sedutora, apesar dessa nova faceta não ganhou muitos escrúpulos nem deixou de frequentar o submundo, tendo como único amigo William Garvin, um antigo mercenário.
Jim Holdaway desenhou a tira até a sua morte, em 1970, sendo depois substituído por Enrique Romero, John Burns, Patrick Wright e Neville Colvin. Até ao final da série, a 11 de Abril de 2001, foram publicadas 10183 tiras diárias, tendo algumas delas aparecido nas páginas do Diário Popular, em meados dos anos 1980, época em que a Gradiva editou um tomo intitulado “Aventuras completas de Modesty Blaise”.
Para além da BD, O’Donnell escreveu três dezenas de livros com as suas aventuras, bem como diversos romances históricos sob o pseudónimo de Madeleine Brent.


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F. Cleto e Pina

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Ana Madureira expõe na Mundo Fantasma

A galeria Mundo Fantasma, situada na livraria especializada em BD com o mesmo nome, no Centro Comercial Brasília, na Rotunda da Boavista, no Porto, inaugura hoje, às 17h, uma exposição de Ana Madureira, com a presença da autora.
Intitulada “A Alma do negócio”, a mostra é composta por 20 ilustrações originais que retratam, através de um desenho sensível e espontâneo, feito de traço frágil e fino, lugares, situações e personagens que nos parecem ao mesmo tempo próximas e estranhas, e evocam histórias que nos soam familiares.
Natural de Espinho, onde nasceu em 1980, Ana Madureira estudou Direito em Coimbra, antes de viver na Holanda e na Índia. Actualmente divide o seu tempo pelo teatro e pela música, enquanto intérprete e cenógrafa na companhia Circolando e com o colectivo musical Gudubik, a dança, campo onde faz investigação na CEM, e a ilustração, tendo auto-editado as colectâneas colecções “Cosido à mão” (2003) e “Coração nas mãos” (2009), e sido seleccionada para as Mostras Nacionais de Jovens Criadores de 2003, 2005, 2006, 2007 e 2009, e para a XIII Bienal de Jovens Artistas da Europa e Mediterrâneo, realizada em Itália, em 2008.


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F. Cleto e Pina

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Peanuts vendidos por 175 milhões de dólares

A família de Charles Schulz (1922-2000) e a Iconix Brand Group Inc. anunciaram ontem a compra dos direitos da série Peanuts por 175 milhões de dólares (cerca de 131,5 milhões de euros).

Até agora, eram pertença do United Feature Syndicate, que distribuiu esta popular tira de banda desenhada desde o seu início, a 2 de Outubro de 1950, e da E. W. Scripps. Segundo Jane Schulz, a viúva do criador de Charlie Brown e Snoopy, que exprimiu a sua satisfação pela óptima relação profissional mantida com a United ao longo de quase 60 anos, o negócio, que foi feito de forma amigável, permitirá trabalhar com uma empresa “que tem um grande respeito pelas personagens e pelo espírito com têm sido tratadas pela família”.
A Iconix Brand Group Inc., uma empresa vocacionada para o licenciamento de grandes marcas para revendedores e fabricantes, especialmente nas áreas de calçado e vestuário, ficará com 80 % da joint-venture agora estabelecida, ficando os herdeiros de Schulz com os restantes 20 %.
Apesar de a tira ter terminado há uma década, devido ao falecimento do seu criador, os dissabores quotidianos de Charlie Brown, Lucy ou Linus são ainda publicados diariamente em cerca de 2000 jornais de todo o mundo. A Iconix estima que a marca Peanuts, licenciada em mais de 40 países, gera receitas anuais na ordem dos 2 mil milhões de dólares, e espera que os respectivos direitos permitam um encaixe de 75 milhões de dólares por ano.
Algumas vozes aventam já a hipótese de a família de Schulz, que durante meio século escreveu e desenhou a série sozinho, sem recurso a qualquer colaborador, vir a autorizar a continuação dos Peanuts por outro autor.
Jacquelen Cohen, da editora Fantagraphics Books, declarou ao site Newsarama esperar que o negócio não afecte em nada a edição integral dos Peanuts, de que já foram publicados 13 dos 25 tomos previstos, uma colecção multi-premiada que em Portugal é seguida pelas Edições Afrontamento que prevêem lançar o sexto volume já em Maio.


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F. Cleto e Pina

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Centenário de Fernando Bento assinalado em Moura

Hoje, sábado, às 18h, é inaugurada em Moura uma Exposição Comemorativa do Centenário de Fernando Bento, um dos maiores nomes dos quadradinhos portugueses. A mostra, patente até 2 de Maio no Cine-Teatro Caridade, está integrada na XXX Feira do Livro da cidade e é organizada pela Câmara local, pelo GBS – Grupo Bedéfilo Sobredense e pelo GICAV – Grupo de Intervenção e Criatividade Artística de Viseu, devendo, por isso, ser apresentada depois no Solar dos Zagallos, na Sobreda, de 25 a 27 de Junho, e em Viseu, na Casa das Artes, na primeira quinzena de Outubro.
Na ocasião será apresentado um número especial dos Cadernos de Moura, com a reedição de “Moby Dick”, na versão aos quadradinhos que Fernando Bento fez do clássico de Herman Melville, originalmente publicada no Cavaleiro Andante, em 1960.
Fernando Bento, que nasceu a 26 de Outubro de 1910, começou a sua carreira na banda desenhada em 1938, na secção infantil do jornal República, tendo depois passado por inúmeras publicações, com destaque para as revistas Diabrete e Cavaleiro Andante, de que foi um dos pilares. Com um traço personalizado, ágil e dinâmico, ficaram famosas as adaptações que fez, a solo ou a partir de argumentos de Adolfo Simões Müller, de episódios da História nacional ou de clássicos da literatura, destacando-se obras como “A Ilha do Tesouro”, “As Mil e Uma Noites”, “As Minas de Salomão”, “Serpa Pinto”, “Beau Geste” ou “Quintino Durward”.


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Quadradinhos valem milhares

Revistas de banda desenhada que fizeram as delícias de gerações são procuradas pelos coleccionadores

Se em Portugal não há edições que atinjam o milhão e meio de dólares pagos há dias pela Action Comics #1 onde nasceu o Super-Homem, colecções de títulos marcantes como o Papagaio, o Mosquito, ou o Cavaleiro Andante podem render alguns milhares de euros.




Para fazer uma estimativa desses valores, o JN contactou alguns dos principais livreiros do sector, que desde logo salvaguardam as devidas (e enormes) distâncias existentes entre o meio nacional e o norte-americano, a todos os níveis. O que não quer dizer que alguns títulos não façam alguns perder a cabeça em negócios que podem chegar às dezenas de milhares de euros. Por isso um coleccionador, para além de ter sempre disponíveis “uns trocos no bolso”, o que é complicado em tempos de crise, tem de ser dotado de grande paciência num negócio em que não há cotações fixas, pois estão dependentes do estado de conservação das peças, da oferta e da procura.



Assim, por exemplo, uma colecção completa do Papagaio (722 números), bastante difícil de se encontrar, pode valer uns 5 mil euros, revelou José Manuel Vilela, da Livraria do Duque, em Lisboa. No entanto, como esta revista, dirigida por Adolfo Simões Müller, foi a primeira a publicar em todo o mundo as aventuras de Tintin a cores, os números em que o repórter aparece na capa, muitas vezes desenhado por autores nacionais, ou com o colorido criado em Portugal e nunca mais utilizado, têm grande procura por parte de belgas e franceses, podendo ser transaccionados por 20 ou 30 euros cada um, acrescenta Alberto Gonçalves da Timtimportimtim, no Porto. Nos últimos anos, são também bastante valorizados, por pessoas que vêm de fora da BD, de áreas como o design ou a pintura, as revistas que incluem histórias aos quadradinhos criadas por artistas agora conceituados como Júlio Resende, Stuart Carvalhais ou Júlio Gil. Aliás, vendem-se mais números soltos para completar colecções ou substituir edições em pior estado, do que colecções completas, cada vez mais difíceis de aparecer, refere a livraria Chaminé da Mota, no Porto, onde há muitas listas de espera.



Outras revistas das décadas de 30, 40 e 50 do século passado, a Época de Ouro das publicações infanto-juvenis em Portugal, atingem também valores considerados interessantes: é o caso do Diabrete (887 números) e do Cavaleiro Andante (556), transaccionados por cerca de 3000 euros, ou do Camarada (194) por metade daquele valor. O Mundo de Aventuras, espalhado por quase quatro décadas, cinco séries e mais de 2 mil números é, por isso, difícil de cotar. Mais valorizada, é a mítica revista Mosquito (1412 edições), que fez as delícias dos miúdos nas décadas de 30 e 40, cujas cerca de 50 colecções existentes no país, na estimativa de José Vilela, podem valer até 7500 euros. Mas, segundo José Oliveira, do site BDPortugal, que lista metade dos 60 mil títulos de BD editados desde sempre no nosso país, estas colecções têm vindo a perder valor, porque muitos coleccionadores procuram os títulos que leram na infância e juventude e a geração do Mosquito, por exemplo, tem hoje para cima de 70 anos.



Por isso, compreende-se que na livraria portuense Paraíso dos Livros as colecções mais procuradas actualmente sejam as do Tintin (728 números, cujo valor pode chegar aos 1500 euros) e do Jornal do Cuto (174 números, 500 euros), pois são datadas dos anos 70, tendo sido lidas pela geração que conta hoje 40 anos.



Valores semelhantes aos citados encontram-se com alguma facilidade na Internet, em sites especializados, ou então algo inflacionados em sites de leilões, onde com regularidade surgem números soltos destas e de outras publicações.

E numa época em que as revistas praticamente desapareceram, substituídas pelos álbuns, os valores atingidos por estes estão longe de ser tão atractivos. Mesmo assim, há títulos da Meribérica/Líber (das séries Blueberry ou Valérian), dos anos 80, que já ultrapassam os 100 euros, e as poucas edições dos Álbuns do Camarada, dos anos 60, estão cotadas próximas dos 300 euros, pertencendo a uma delas – Clorofila e os Quebra Ossos – o recorde de venda: 575 euros.

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Raridades fazem disparar preços

Tratando-se de colecções que duraram por vezes mais de uma década e atingiram centenas de números, há alguns mais raros, normalmente os primeiros, mais antigos, e os últimos, correspondentes à fase de declínio, de tiragem menor.



Mas há excepções como o número de Natal de 1938 do Papagaio, devido à separata com uma BD completa de Júlio Resende, o Mundo de Aventuras (1º série) #1 a #44, devido ao seu formato tablóide em papel de jornal, de difícil conservação, ou o quinto volume da Colecção Audácia (apenas 32 números) que triplica os 500 euros dos quatro tomos iniciais.



E há também dois casos paradigmáticos citados por todos os livreiros contactados. As edições #73 e #74 do Gafanhoto, dos anos 1940, foram impressas mas não distribuídas, por terem sido alvo de um auto de apreensão (cuja razão é desconhecida) executado pela Polícia Judiciária, e de que se conhecem pouquíssimos exemplares que, por esse motivo, não têm cotação. O outro é a Fagulha #391, que deveria ter chegado aos quiosques logo após o dia 25 de Abril de 1974; como era uma publicação da Mocidade Portuguesa foi destruída, juntamente com muitas outras edições, existindo apenas os exemplares que já tinham seguido por correio para os assinantes. Desta forma, se os números #1 a 390# são cotados em cerca de 1000 euros, é conhecido o caso de uma colecção com o #391 que foi vendida por 1500 euros.


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F. Cleto e Pina

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BD e religião

Criada à imagem e semelhança dos autores que nela trabalham e do meio em que estão inseridos, a banda desenhada, naturalmente, tem abordado de forma recorrente questões religiosas.

E fá-lo sob os mais variados prismas, da pura ficção à narrativa de episódios históricos, de biografias desenhadas à ilustração da própria Bíblia. Neste último caso está The Book of Genesis Illustrated, de Crumb, pai da BD underground, que prometia polémica mas se revelou uma leitura fiel do primeiro livro da Bíblia, ilustrado com muita mestria. Também no final de 2009, surgiu “Yeshuah – Assim em cima, assim embaixo”, dos brasileiros Laudo e Omar Viñole, primeiro de uma trilogia sobre um Cristo muito humano.
São dois exemplos recentes de uma linhagem já com algumas décadas, a que, como sinal dos tempos, se podem juntar “The Manga Bible”, criada pelo britânico Siku, ou “The Manga Bible Story-japanese: Comic Book Style Bible”, do japonês Masakazu Higuchi.
A outro nível, Charles Schulz, um luterano convicto, muitas vezes pôs os Peanuts a citar versículos bíblicos (o que originou o livro “The Gospel According to Peanuts”), e Maurício de Sousa ilustrou “Passagens Bíblicas com a Turma da Mônica”.
Num contexto histórico, encontra-se a biografia de “Don Bosco”, feita em 1949 por Jijé, desenhador de Spirou e Jerry Spring, “A aparição de Fátima”, do mestre português Eduardo Teixeira Coelho, ou “Avec Jean-Paul II”, de Bar, Koch e Lehideux. “El Increible HomoPater”, uma BD, polémica, do artista plástico colombiano Rodolfo Leon, dava também o protagonismo a João Paulo II, mas como um super-herói regressado dos mortos para combater o mal, treinado por Batman e Super-Homem…
Outros papas inspiraram autores de BD, em registos (mais ou menos) ficcionados. É o caso de “Bórgia”, um retrato virulento e licencioso do papado de Alexandre VI, a série “Escorpião”, que conta as aventuras de um caçador de relíquias sagradas, em busca da verdadeira cruz onde o apóstolo Pedro foi crucificado, para desmascarar intrigas papais, ou o mais clássico “Vasco”, de Chaillet, sobre as lutas pelo poder – secular e religioso – na Itália do século XIV.
As teorias da conspiração, na sequência do êxito do “Código Da Vinci”, têm inspirado muitas obras, mas antes do livro de Dan Brown já havia histórias aos quadradinhos com esta temática, como “Le Triangle Secret”, escrito por Didier Convard, baseado no pressuposto que Jesus teria um gémeo que ocupou o seu lugar após a crucificação. Já “O Decálogo”, escrito por Frank Giroud, versa sobre uns eventuais 10 mandamentos deixados por Maomé, cuja divulgação poderia mudar a história das religiões muçulmana, cristã e judaica. “Revelações”, de Paul Jenkins e Humberto Ramos, é um policial que decorre em pleno Vaticano, num confronto entre fé e razão, e no mesmo registo, surge “O terceiro Testamento”, de Dorison e Alice, que narra uma longa investigação de um inquisidor caído em desgraça.
Com um outro nível de leitura, surgem “Dieu en personne”, um ensaio em BD sobre a divindade, da autoria de Mathieu, que começa com o regresso de Deus à Terra que criou, para ver o seu estado, terminando num mega-processo contra Ele, e “Pourquoi j’ai tué Pierre”, em que Oliver Ka, com o desenhador Alfred, aborda de forma pudica e sensível, num registo autobiográfico, um tema que infelizmente faz a actualidade: a pedofilia na Igreja Católica.
A existência de tantas abordagens – ou de parte delas, pelo menos – justifica uma exposição todos os anos na catedral de Angoulême, durante o mais importante festival europeu de BD, durante o qual um Júri Ecuménico, composto por especialistas católicos, protestantes e agnósticos, com “um olhar espiritual e artístico sobre a BD”, distingue um álbum, este ano “L’encre du passé”, de Mael e Bauza, um road-movie sobre amizade no Japão medieval.

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Para lá do cristianismo

Mas não só do cristianismo se alimenta a BD. “Mágico Vento”, um western Bonelli, criado por Manfredi, mensalmente nos nossos quiosques na edição brasileira da Mythos, é protagonizado por um xamã sioux, abordando temas sobrenaturais e as crenças dos índios norte-americanos. Sobrenatural, também, é o “Hellboy” de Mike Mignola, um demónio evocado pelos nazis mas que se torna no seu maior adversário, combatendo também seres fantásticos e demoníacos.
“Adéle Blanc-Sec”, a heroína de Tardi, cuja adaptação cinematográfica de Luc Besson chegará em breve aos cinemas, combate uma seita de adoradores do demónio assírio Pazuzu, que exige sacrifícios humanos, tal como o culto de Moloch-Baal em “O Túmulo Etrusco”, com que se viu a braços Alix, o jovem herói da antiguidade clássica a que Martin deu vida.
E foi sobre crendices e superstições, cuja fronteira com a religião é muitas vezes ténue, que Goscinny e Uderzo se debruçaram no irresistível “Astérix e o Adivinho”, que põe a nu as reacções do ser humano face ao (aparentemente) inexplicável.


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F. Cleto e Pina

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Revista de estreia do Super-Homem vendida por 1,5 milhões

Um exemplar da revista Action Comics #1, com a estreia do Super-Homem, foi vendida nos Estados Unidos por um milhão e meio de dólares, pulverizando o anterior recorde que assim durou pouco mais de um mês.

A venda foi efectuada pelo site de leilões ComicConnect, que em meados de Fevereiro vendera já um outro exemplar da mesma revista por um milhão de dólares, o que constituía na altura recorde absoluto para este tipo de publicações em banda desenhada. Dias depois, a Detective Comics #27, com a estreia de Batman, suplantava aquele valor em 75 mil dólares. A diferença é que o exemplar agora leiloado está classificado com nota 8,5 (mais 0,5 do que o exemplar anterior) pelo Certified Guaranty Company (CGC), uma tabela utilizada igualmente para moedas e notas, cuja escala varia de 0 a 10 segundo a raridade e o estado de conservação da peça.
O montante agora despendido por um coleccionador anónimo – exagerado para muitos – é justificado pelo facto de ela assinalar a estreia absoluta do Super-Homem e de estarem referenciados menos de 100 exemplares desta publicação, a maior parte deles em fraco estado de conservação – ao contrário do agora vendido, que tem a capa impecável e cujas páginas mantêm praticamente intacta a cor branca original, não tendo amarelecido com o tempo, devido a ter estado “perdido” no meio de uma pilha de revistas durante quase 50 anos, até ao final da década de 1980. Depois disso foi vendida por diversas vezes, sempre por valores crescentes, tendo estado na posse de um coleccionador durante os últimos 17 anos.
Datada de Junho de 1938 (o que na prática significa que começou a circular nos EUA dois meses antes), a publicação ostenta na capa o preço de 10 cêntimos de dólar, e tem 64 páginas, parte delas a cores, das quais as 13 primeiras com a história de estreia do Super-Homem, uma criação de Jerry Siegel e Joe Shuster.
Esta nova venda atesta o interesse crescente dos coleccionadores pelas revistas da chamada Era de Ouro dos Comics, que abarca o período que vai desde 1938 até meados da década de 1950, que por isso se têm valorizado imenso. Aliás, ainda na semana passada um exemplar da Flash Comics #1, classificado como 9,6 pelo CGC, encontrou comprador por 450 mil dólares.


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F. Cleto e Pina

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