Etiqueta: Pedro Cleto

BD e Música de mãos dadas

BD assinala 15 anos da morte Kurt Cobain

Cumpriram-se este mês 15 anos sobre a morte de Kurt Cobain, o carismático líder da banda rock Nirvana, mas o tempo ainda não apagou a sua memória junto dos fãs. A revista The Village Voice decidiu assinalar a data de uma forma original, através de uma banda desenhada, que está disponível no seu site.
Intitulada “In Bloom: The Alternate History of Kurt Cobain” (“In Bloom” é uma alusão a uma música que Cobain compôs em 1991 para o álbum “Nevermind”, dos Nirvana) é da autoria do cartoonista norte-americano Ward Sutton, num estilo que combina traço caricatural e fotografia, ao longo de 17 páginas de vinheta única. Num tom divertido e algo provocador, Sutton divaga sobre o que teria sido a vida de Cobain se ele não se tivesse suicidado com um tiro de espingarda em 1994. Para isso, Sutton mostra inicialmente Cobain como um ídolo desaparecido, com falta de inspiração e dificuldade em compor, recorrendo à provocação para obter algum mediatismo, mas acabando por se integrar no sistema que tanto atacou – entrega, por exemplo, um prémio MTV aos Backstret Boys! – até morrer tranquilamente de velhice, aos 84 anos. Pelo meio há contribuições involuntárias de Neil Young, Bob Dylan ou Courtney Love.
Cobain, para alguns um dos maiores nomes da cena rock dos anos 90, já tinha despertado a atenção da BD em 2003, quando a Omnibus Press lançou “GodSpeed – The Kurt Cobain Graphic”, um romance gráfico com quase uma centena de páginas, escrito por Barnaby Legg e Jim McCarthy e desenhado por Flameboy. Numa narrativa envolvente, que entrecruza dados biográficos e a ficção inspirada no imaginário popular criado em torno da figura do artista, os autores contam a sua infância tranquila, a sua ascensão meteórica ao estrelato e o sombrio declínio que se lhe seguiu, até à morte, que alguns alegam ter sido provocada a mando da sua esposa Courtney Love.

Esta não é a primeira vez, longe disso, que a 9ª arte se interessa pelos ídolos musicais, ilustrando as suas criações ou contando a(s) sua(s) histórias. Entre os exemplos mais marcantes contam-se “The Rolling Stones: Voodoo Lounge” (Marvel Music, 1995), a adaptação aos quadradinhos do álbum homónimo pelo britânico Dave McKean, que deu uma nova dimensão no papel às músicas dos Stones com o seu estilo característico, misto de fotografia, desenho e colagem, ou a trilogia “Alice Cooper: The Last Temptation” (Marvel Music, 1994), com texto de Neil Gaiman (“Sandman”, “Stardust”, “Coraline”, …), desenhos de Michael Zulli e capas de McKean.
Abordagem distinta tem o mais recente “Freddie & Me” (Bloomsburry, 2008), em que Mike Dawson, ao longo de pouco mais de duas centenas de páginas, narra em tom autobiográfico mas também documental, os episódios reais da sua relação de fã com Freddy Mercury, o vocalista da banda britânica Queen.

Diferentes são três casos em que os artistas musicais passaram para o “outro lado”, escrevendo argumentos de bandas desenhadas. Courtney Love baseou-se na sua experiência na cena musical para criar, com DJ Milky e Ai Yazawa, “Princess Ai” (Tokyopop, 2004), um manga para leitoras adolescentes que conta a história de uma inteligente, talentosa e controversa jovem artista que é, na realidade, uma princesa exilada de um planeta distante e que encontra refúgio na música. Destinatárias e estilo idênticos escolheu Avril Lavigne, que surge como inspiradora (de Joshua Dysart e Camilla d’Errico) e protagonista de “Pede 5 desejos” (dois volumes com edição nacional da Gradiva), a história de Hana, uma adolescente introvertida e solitária, que compra num site um demónio que lhe concede cinco desejos cuja concretização se revela bem diferente do esperado. E, finalmente, um dos últimos grandes êxitos dos comics norte-americanos, “The Umbrella Academy”, um grupo composto por sete crianças com poderes especiais, muito longe dos clichés habituais do género, distinguido com os prémios Eisner e Harvey para a melhor nova série de 2008, tem assinatura de Gerard Way, líder dos My Chemical Romance, ao lado do desenhador brasileiro Gabriel Bá.

Em Portugal, no final do ano passado a Tugaland lançou os primeiros volumes da colecção BD Pop Rock Português, coordenada por João Paulo Cotrim, que combina uma BD (com a história do músico/banda), desenhada por jovens autores portugueses, e um CD com alguns temas musicais. Depois dos Xutos & Pontapés (com desenhos de Alex Gozblau), Trovante (Maria João Worm), José Cid (Pedro Zamith) e Jorge Palma (Susa Monteiro), entre final de Abril e início de Maio serão distribuídos os tomos dedicados aos Pop Dell’Arte (Fernando Martins), UHF (Pedro Brito), Rui Veloso (Luís Henriques), Sérgio Godinho (Miguel Rocha), António Variações (Daniel Lima) e Sétima Legião (Rui Lacas). A Tugaland tem também previstas duas outras colecções dedicadas à História do Fado (desenhada por Nuno Saraiva) e à Musica Clássica.


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F. Cleto e Pina

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Obama, herói de todas os quadradinhos

Aproveitando o estado de graça que Obama ainda goza e o sucesso da sua aparição no “Amazing Spider-Man #583”, que se tornou o comic mais vendido dos últimos 15 anos, com cinco reimpressões, os editores norte-americanos de quadradinhos continuam a apostar nesse filão.
A IDW, que antes das eleições presidenciais, lançara dois comics biográficos de Obama e do seu adversário John McCain, acaba de anunciar uma série mensal para acompanhar o mandato do presidente eleito. “Brack Obama #1”, chegará às lojas dos EUA em Junho e contará o que aconteceu desde a sua eleição como candidato democrata até à sua posse, a 20 de Janeiro último. O segundo número do comic, narrará os primeiros 100 dias à frente da nação mais poderosa do mundo. O argumentista continuará a ser Jeff Mariotte, estando o desenho entregue a Tom Morgan e J. Scott Campbell responsável pelas capas.
Ao mesmo tempo, a Devil’s Due anunciou, também para Junho, duas edições especiais aos quadradinhos protagonizadas pelo presidente. Em “Drafted – One hundred days”, uma das séries de maior sucesso da editora, Obama defenderá a Terra de uma invasão extraterrestre, numa aventura de ficção-científica futurista. No entanto, maior impacto promete ter “Barack the Barbarian – Quest for the treasure of Stimuli”, inspirado em “Conan, o bárbaro” de que Obama se confessou fã, uma sátira pós-apocalíptica que também contará com participações involuntárias da feiticeira Hillary e do semi-deus trapaceiro Bill, bem como da bela nativa do reino do Elefante, Sarah Palin, já retratada em trajes sumários…
Com tantas participações nos quadradinhos (a que se podem juntar aparições em “Savage Dragon” e “Youngblood” (da Image) ou mesmo num manga erótico, no Japão), já há quem escreva que enquanto tenta relançar a economia mundial, Obama é já o principal impulsionador da indústria de comics norte-americana!


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F. Cleto e Pina

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A BD portuguesa à procura do futuro

Num contexto de crise, num mercado livreiro limitado, onde a BD sempre foi um nicho, autores e pequenos editores de banda desenhada esforçam-se para criar alternativas à edição tradicional.

E elas existem, “porque se quer editar e se acha preciso”, justifica Marcos Farrajota, da Chili com Carne, e por títulos como “Mocifão”, “Defier”, “Virgin’s Trip”, “Fato de macaco”, “Postais de Viagem”, “Gambuzine”, “Efeméride”, “Super Pig”, “A Fórmula da Felicidade”, “Noitadas, Deprês e Bubas”, “Tomorrow The Chinese Will Deliver The Pandas”, “O filme da minha vida” ou “Murmúrios das Profundezas” têm passado algumas (das mais?) interessantes propostas dos quadradinhos portugueses.
Comuns a todos são as tiragens reduzidas – raramente atingem os 500 exemplares – e o circuito de distribuição restrito: “alfarrabistas, festivais de BD”, enumera Geraldes Lino, completando Farrajota, com: “lojas especializadas em BD ou design e eventos ligados à edição independente”. E acrescenta ainda “algumas livrarias, onde (com raras excepções) existe um desdém por estas edições, que são escondidas e nunca repostas”, o que é corroborado por Pepedelrey, da El Pep, que referencia um circuito de distribuição “atribulado, com os lojistas a bloquearem constantemente as iniciativas”. E, claro, vendas on-line, cultivadas por quase todos, e trocas com editores similares de outros países.
Por isso e porque a inércia é grande, os stoks podem demorar 1, 2, 3 anos a escoar… Excepção foi “Murmúrios das Profundezas”, colectânea de BDs inspiradas em Lovercraft, cujos 200 exemplares “voaram” em “dois rápidos meses devido à expectativa que criamos junto dos potenciais leitores”, revela Rui Ramos, o mentor do projecto. Mas sem reedição prevista, uma vez que a opção foi o offset e não a impressão digital, “a alma do negócio” da El Pep, pois permite “imprimir de novo quando se esgota uma tiragem”.
Perante tudo isto, “os autores, infelizmente, são pagos só em géneros” (livros), diz Teresa Pestana, ou usam o “dinheiro dos lucros para financiar novos livros”, exemplifica Rui Ramos. A solução, para Pepedelrey, seria “criar o tão desejado mercado nacional de BD: existem autores, editores e consumidores; faltam as estruturas de distribuição e promoção correctas”.
Comum a todos, também, é a enorme vontade – concretizada – de ser e criar. Por isso, trabalha-se sempre em novos projectos: G. Lino, prepara “o nº 4 do fanzine Efeméride, dedicado ao Tintin” e o Gambuzine #2 “sai em Novembro, com colaborações de alguns poetas portugueses vivos”. A equipa dos “Murmúrios…”editará ainda este ano “Voyager”, já parcialmente disponível em, a MMMNNNRRRG “O Pénis Assassino”, e a Chili Com Carne “uma antologia internacional com o festival Crack (Roma), para Junho”. Em busca de outros mercados, a El Pep que “a partir de agora só fará edições em inglês”, a lançar “nos principais encontros internacionais e só depois em Portugal, está a produzir “A tua carne é má” e “Defier #2”.
Tantos títulos parecem contrariar a afirmação convicta de G. Lino de que “a BD portuguesa não tem futuro”, o que se deve “a uma fatal conjunção de desinteresses, descrédito e a um meio demasiado pequeno e amiguista que neutraliza à partida qualquer objectividade e evolução”, corrobora Teresa Pestana.
Na dúvida, Farrajota acredita que este será o caminho “se houver futuro”, enquanto Pepedelrey pensa que “é um caminho válido e o único que tem contribuído para o desenvolvimento desta expressão artística”. Conclui Rui Ramos: “o futuro vai depender acima de tudo da imaginação, inovação e capacidade de organização, empenho e produção dos autores nacionais e da sua capacidade de captar a atenção do público”.

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Sugestões de leitura

SuperHomem no século XXI
Colectivo
Depois de Little Nemo e Príncipe Valente, o fanzine “Efeméride” (em A3, a cores), revisita o mito do Super-Homem nos seus 70 anos, enquanto tal ou adequando-o aos universos pessoais dos autores, em tom de paródia e/ou homenagem.

Mocifão
Nuno Duarte, Untxura, Nuno Silva
Em tom caricatural e jogando com as regras narrativas e gráficas da BD, o dia a dia atribulado de um desajustado social, insatisfeito consigo e com o mundo, em cores quase sempre sombrias como o (anti-)herói, e um toque de non-sense.

Gambuzine
Colectivo
Cultora e herdeira da BD underground, Teresa Pestana continua a desenvolver a dupla faceta de autora/editora neste cocktail europeu de divagações, sonhos, poemas e contos, num preto e branco com (quase) todos os tons, em off-set sedoso (sic).


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F. Cleto e Pina

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Romancistas consagrados escrevem novo Lucky Luke

Os romancistas Daniel Pennac e Tonino Benacquista aceitaram um convite da editora Dargaud para escreverem o argumento para um novo álbum de Lucky Luke, o “cowboy que dispara mais rápido que a própria sombra”, criado por Morris em 1946.
Uma vez que ambos ganharam notoriedade especialmente como autores de livros policiais, resta saber até que ponto serão capazes de transmitir ao seu relato o habitual tom humorístico de Lucky Luke. De qualquer forma, trabalhar em BD não é uma experiência nova para nenhum deles: Pennac co-assinou com Tardi “A Sacanice” (que tem edição portuguesa da Terramar), enquanto Benacquista desenvolveu já parcerias com Ferrandez, Bertrand ou Barral.
A nova equipa, de que se desconhece ainda o desenhador, trabalhará em paralelo com Laurent Gerra e Achdé que já assinaram três histórias de “As Aventuras de Lucky Luke segundo Morris” (publicadas pela ASA), permitindo assim intervalos mais curtos entre os novos títulos do herói, num esquema semelhante ao que existe actualmente para a edição de Blake e Mortimer.


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“A BD é uma combinação de design e poesia”

“Fazer BD é uma necessidade pessoal”

Chama-se James Sturm, tem 44 anos e fazer comics “é uma necessidade pessoal, em que ponho toda a energia e experiências”, sendo a sua faceta de professor, “apenas uma importante ocupação diária”. Ontem, na ESAD – Escola Superior de Artes e Design de Matosinhos, numa sala bem composta, na conferência ”A Life in Comics” afirmou que “a BD é uma combinação de design e poesia”.
Do Vermont, Canadá, a Gaia vista do Porto, foi um passeio (muito) ilustrado pela sua relação com a BD, iniciada com um livro infantil de ensino de desenho a partir de formas simples, método que ainda utiliza enquanto professor. Depois vieram os Peanuts, “personagens com personalidade, com alma, que pareciam existir para lá da BD”, os super-heróis da Marvel como o Quarteto Fantástico, “com super-poderes mas também problemas quotidianos”, e, claro, Robert Crumb e os comics underground, sem “limitações temáticas, que não necessitavam de um belo desenho, apenas dum sentimento de urgência em transmitir uma mensagem”.
Com “James Sturm’s América”, de que uma vintena de originais estão expostos até 12 de Abril na Galeria Mundo Fantasma, no C. C. Brasília conquistou em 2008 o segundo Eisner da sua carreira. Colectânea de várias novelas, começa com uma “narrativa sobre os fanáticos religiosos que chegaram à América no século XIX, perpetuando-se e ocupando a Casa Branca, com George W. Bush”, passando pela corrida ao ouro ou a vida do jogador de basebol Leroy “Satchel” Paige, “um atleta de eleição, que não podia jogar por ser negro”, com as quais apresenta a sua “interpretação, muito subjectiva, da História americana”.


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Estreia de Superman pode valer 400 mil dólares

Um exemplar da revista “Action Comics” #1, na qual se estreou Superman, o primeiro super-herói da banda desenhada, criado por Jerry Siegel e Joe Schuster, está em leilão no site especializado Comics Connect ( HYPERLINK “http://www.comicconnect.com” www.comicconnect.com) no qual é possível seguir em directo a evolução das ofertas.
No momento de escrita destas linhas, após 44 lances, a revista já valia 277 300 dólares (cerca de 220 mil euros), mas alguns especialistas estimam que possa chegar aos 400 mil dólares até à próxima sexta-feira, dia 13, data em que o leilão encerra. E refira-se que se trata de um exemplar classificado apenas como 6.0 pelo Certified Guaranty Company (CGC), uma tabela que varia de 0 a 10 segundo a raridade e o estado de conservação da peça, utilizado também para moedas e notas. Em 2003, um empresário norte-americano ofereceu um milhão de dólares por um exemplar classificado como 9.4.
A revista “Action Comics #1”, com 64 páginas a cores e um preço de capa de 10 cêntimos, data de Junho de 1938, estando referenciados actualmente menos de 100 exemplares.


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Animação pioneira estreia hoje na Sic Notícias

Sócrates a afogar-se no lamaçal do Freeport, Obama a fazer equilibrismo com a Casa Branca ou Manuela Ferreira Leite a braços com “parasitas” laranja, são alguns dos motes de pequenas animações disponíveis há alguns meses em HYPERLINK “http://www.spamcartoon.com” www.spamcartoon.com e que ilustram o que será possível ver na Sic Notícias diariamente, às 19h e às 22h, a partir de hoje.
O projecto, pioneiro a nível mundial “na produção de raiz de filmes com esta finalidade”, intitula-se SPAMCARTOON e consta de micro-filmes de 30 segundos que comentam temas da actualidade à maneira de um cartoon editorial. A ideia surgiu “há uns dois anos numa conversa com André Carrilho em torno da evolução do humor gráfico e da resposta a dar aos desafios da internet e das televisões”, contou ao JN João Paulo Cotrim, o seu argumentista. E acrescenta: “trabalhamos o conceito, desenvolvemos um grafismo feito de simplicidade e formou-se uma equipa (realizadores, sonoplasta, animadora, etc.)”, que hoje inclui os dois e, entre outros, Cristina Sampaio e João Fazenda (desenho) e José Condeixa (sonoplastia), que demora “uns bons 4 a 5 dias, da ideia à montagem final, para produzir um cartoon, apesar de termos uma lógica de guerrilha”.
A estreia ficará marcada por “um filme inédito em torno de Guantanamo”, que depois ficará disponível on-line. A passagem da net para a TV “não impôs qualquer limitação temática”, para além das já existentes: “o próprio olhar da equipa, os seus pressupostos ideológicos, as raivas e os prazeres de cada um”.


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Quem nos guarda dos Guardiões?

Estreia hoje em Portugal “Os Guardiões”, uma conseguida adaptação de “Watchmen”, uma das bandas desenhadas mais marcantes dos anos 80, e um dos filmes cuja concretização mais polémica provocou.

Desde logo pela dúzia de anos que levou a concretizar, com sucessivos avanços, recuos e suspensões, até à hipótese de não exibição, já este ano, devido a um contencioso entre a Warner, que o produziu, e a Fox, que tinha os direitos de distribuição.
Baseado numa BD de culto dos anos 80 (ver caixa), a acção de “Watchmen” decorre maioritariamente na actualidade de então (1985), num mundo que os super-heróis mudaram – vencendo no Vietname, mantendo Nixon no poder, com a guerra fria no auge e um confronto nuclear iminente – mas de onde foram banidos por uma lei de 1977, odiados pelos concidadãos que era suposto guardarem.
O despoletar da acção é o assassínio do Comediante (Jeffrey Dean Morgan) e atentados contra outros “Watchmen”, o Dr. Manhattan (Billy Crudup), Ozymandias (Matthew Goode) e Rorschach (num excelente desempenho de Jackie Earle Haley), o que leva este último, o Coruja Nocturna II (Patrick Wilson) e a Espectro de Seda II (Malin Ackerman), a investigarem quem persegue os antigos heróis mascarados. Apesar de muitos nomes sonantes terem sido anunciados para o elenco, a escolha de actores de segunda linha (em muito bom nível no filme) terá sido um trunfo, já que não obrigou a destaques especiais e permitiu maior fidelidade ao original.
Essa foi a opção do realizador Zack Snyder (responsável pela menos interessante adaptação da BD “300”, de Frank Miller), e dos argumentistas David Hayter e Alex Tse, que seguiram de muito perto os diálogos e a encenação da BD, concretizando a adaptação que muitos julgavam impossível. O próprio Alan Moore, que mais uma vez vetou a inclusão do seu nome nos créditos do filme, elogiou-a, considerando-a “a coisa mais próxima de um filme de Watchmen possível”. Isto apesar de cortes inevitáveis (entre os quais a história paralela “Tales of the Black Freighter”, que sairá sob a forma de animação, como extra, no DVD do filme) e algumas modificações, a principal das quais o final, diferente do da história aos quadradinhos, mas que não tem decepcionado a maioria dos fãs que já visionaram a película, perfeitamente rendidos à forma como Snyder (re)construiu “Watchmen”, ao longo de pouco mais de duas horas e meia. Excepções, são aqueles que queriam uma revolução (hoje impossível) igual à que o livro provocou há 20 anos.
Fiel à BD, o filme abre com a sensacional cena do assassinato do Comediante, seguindo-se uma (re)montagem da historia do século XX, à luz da actuação dos primeiros justiceiros mascarados e ao som de Bob Dylan, progredindo depois com múltiplos flashbacks que revelam cada um dos protagonistas e o seu relacionamento, numa dissertação sobre como obter e manter o poder, em que os fins justificam os meios.
A fidelidade ao original agrega-lhe a mesma fraqueza da BD: vai desiludir quem procura um filme comum de super-heróis, com muita acção e movimento (apesar de algumas cenas espectaculares), pois esta é uma película de (bons) diálogos, com um ritmo e uma estrutura pouco convencionais para cinema, que exige atenção e interpretação do espectador.

[Caixa]

Uma BD notável

Em 1986, “Watchmen”, juntamente com “The Dark Night Returns”, de Frank Miller, demonstrou que as histórias de super-heróis também podiam cativar leitores adultos e exigentes e, depois delas, nada ficou igual.
Esta é uma BD “sobre” super-heróis que Alan Moore (“V de Vingança”, “Liga dos Cavalheiros Extraordinários”, …) mostra envelhecidos, barrigudos e com problemas profundos de seres profundamente humanos: neuróticos, conflituosos, alcoólicos, pervertidos, racistas; em suma, desajustados que ultrapassavam (esqueciam?) as suas fraquezas saindo “de casa mascarados às 3 da manhã para fazer coisas estúpidas”, desapontados “com aquilo em que se tornou o sonho americano” e acreditando que contribuíam para um país melhor.
Esta desconstrução politizada dos estereótipos de super-heróis, aclamada dentro e fora do meio da BD – a “Time” considerou-a uma das 100 obras mais importantes desde 1923; recebeu um prémio “Hugo” –, onde se multiplicam referências (escritas, visuais ou conceptuais) literárias, históricas ou científicas, para além da trama em si, é também notável pela forma como Moore explora de forma superior a relação imagem/texto, com narrativas simultâneas na mesma prancha/vinheta, pela sequenciação “animada” de momentos marcantes ou incluindo pormenores cuja importância vai crescendo e obrigam a várias leituras. Ou ainda pela subversão do conceito de tempo no tomo #4 ou pela “aterradora simetria” das vinhetas no #5. E, claro, pelo exemplar trabalho gráfico de Dave Gibbons, com um traço limpo, contido e expressivo, adaptado às diferentes épocas em que a acção decorre.


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F. Cleto e Pina

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O Sétimo Selo em Banda Desenhada

O terceiro livro da colecção de banda desenhada “O Filme da Minha Vida”, foi apresentado no passado dia 27, em Viana do Castelo. Intitulado ”O Sétimo Selo” e inspirado pelo filme homónimo de Ingmar Bergman, de 1972, é da autoria de Jorge Nesbitt, que esteve presente para falar da obra e inaugurar uma exposição dos seus originais, que estará patente até 30 de Abril no Espaço Ao Norte, naquela cidade.
Nesbitt, artista plástico e ilustrador, com formação de Artes Plásticas pelo Ar.Co, Centro de Arte e Comunicação Visual, onde é também professor, inspirou-se na célebre cena do jogo de xadrez entre a Morte e Block, o cruzado cansado, mantendo a disputa “mas sem peças ou tabuleiro, sem acção, apenas diálogo”, escreve na introdução da obra o crítico e especialista de BD João Paulo Cotrim.
Lançada em Maio do ano passado, esta colecção, dirigida pelo artista plástico Tiago Manuel, com design gráfico de Luís Mendonça, é uma iniciativa da associação Ao Norte – Audiovisuais que desafiou dez desenhadores portugueses a inspirarem-se num filme que os tenha marcado para criarem uma obra autónoma em 32 páginas de BD, em formato A5, a preto e branco, criando assim mais laços entre duas artes já com tanto em comum. Os dois primeiros volumes foram “O Percutor Harmónico” (inspirado em “Aconteceu no Oeste, de Sérgio Leone), e “Epifanias do Inimigo Invisível” (O Deserto dos Tártaros, de Valério Zurlini), assinados respectivamente por André Lemos e Daniel Lima. No próximo volume, João Fazenda revisitará “Vertigo”, de Alfred Hitchcock.


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Criador de Alix trabalha com desenhador português

O desenhador português Luís Filipe Diferr está a ilustrar o segundo tomo da série “Les Voyages de Lois”, escrito por Jacques Martin, o criador de Alix, um dos grandes clássicos da banda desenhada franco-belga. Inicialmente anunciado pela Casterman para finais de Março o álbum só deverá chegar ao mercado francófono próximo do Verão, pois Diferr, que já concluiu o desenho a preto e branco, revelou ao JN que ainda está a trabalhar na aplicação da cor.
Nesta colecção, Martin explora os ambientes mágicos e faustosos das mais poderosas nações do mundo nos séculos XVII e XVIII, sendo este volume, subintitulado “Le Portugal”, sobre a vida na capital lusa naquele período. A par do cuidado posto na reconstituição de época, ao nível do vestuário, veículos e utensílios, é dado especial ênfase a monumentos como o Mosteiro dos Jerónimos, a Torre de Belém ou o Convento de Mafra.
Diferr, nascido em Angola em 1956, é diplomado em arquitectura, professor de desenho e autor de bandas desenhadas como “As aventuras de Herb Krox” ou “Dakar o Minotauro”. De momento não está prevista a edição portuguesa desta obra.


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