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Banda desenhada perde F’Murr

Nascido Richard Peyzaret, a 31 de Março de 1946, o autor francês F’Murr faleceu aos 72 anos. Após estudar artes aplicadas, trabalhou no estúdio de Raymond Poïvet, onde viria a conhecer Mandryka e René Goscinny, que lhe abriram as portas da revista “Pilote”, a partir de 1971.

Convidado do Salão de BD do Porto em 1991, F’Murr, que publicou igualmente na “Circus”, ”Fluide Glacial”, “(À Suivre)” ou “Métal Hurlant”, desenvolveu uma obra misto de humor, sarcasmo, poesia e absurdo, em que se destaca a série “Le Génie des alpages”, com 14 álbuns publicados entre 1973 e 2007, entre eles “Barre-toi de mon herbe” (1977), distinguido como melhor álbum do ano pelo Festival de BD de Angoulême.


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F. Cleto e Pina

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Jornal de Notícias

O Regresso de Eternus 9

Mais de 30 anos depois da publicação de “Um Filho do Cosmos”, Eternus 9, a mítica criação de Victor Mesquita, regressa com “A Cidade dos Espelhos”, segundo volume de uma anunciada trilogia de ficção científica, género de que Mesquita é um dos raros cultores em Portugal.

Definido pelo próprio Mesquita, como “um portal caleidoscópico para um mundo cujo coração é Lisboa, após a guerra nuclear que transfigurou a face do Planeta e fragmentou a Lisboa de hoje até quase não se poder reconhecê-la, mas onde continuam as referências que a distinguem”, a “Cidade dos Espelhos”, mais do que o regresso de Eternus 9, é o regresso de Victor Mesquita, aqui na dupla função de autor e personagem da sua própria história.

O primeiro álbum, cuja publicação se iniciou em 1975 na revista “Visão” (a de BD, não a de informação que ainda hoje se publica) de que Mesquita foi fundador e director, tendo sido publicado em álbum em 1979, com direito a edição em França pela Lombard, no ano seguinte, é filho do seu tempo, estando na linha do que melhor se fazia em revistas como a Pilote e Métal Hurlant, com Victor Mesquita a emprestar um fôlego épico ao seu traço, só com paralelo nos delírios cósmicos e arquitecturais de Philippe Druillet, autor com quem a crítica francesa (e não só…) não deixou de o comparar. Mas além do desenho espectacular e da arrojada planificação, sem equivalente em termos da BD nacional, “Eternus 9” era uma história plena de simbolismo e perfeitamente circular, e que, por isso mesmo, não precisava de continuação.

Essa continuação, tantas vezes anunciada pelo próprio, mas que já poucos esperavam, surgiu finalmente em finais de 2010, lançada de forma (demasiado) discreta, no último Festival da Amadora. E se a sombra de Eternus 9 se mantém imutável, apesar da sua presença ser bastante mais simbólica do que efectiva, a verdade é que a meio da história o leitor é levado para o outro lado do espelho, em que Eternus 9 dá lugar a Victor Mesquita, numa narrativa com claros contornos autobiográficos sobre o processo de criação do livro que estamos a ler. E nesta segunda parte, que é mais uma continuação de “O Sindroma de Babel” (veja-se a cidade de Olissipólis, ou os cães bicéfalos), uma história curta publicada em álbum em 1996, pelo Festival da Amadora, a presença de Eternus 9 está quase reduzida às maquetes que enchem o estirador de Vick Meskal/Victor Mesquita, cedendo lugar ao autor cheio de dúvidas e inquietações, em luta com uma história que ganhou vida própria que, como bem lembrou João Ramalho Santos, remete para o filme “8 ½” de Federico Fellini, paradigma máximo do filme sobre o autor em crise de inspiração.

Embora respeitando vagamente os cânones da ficção científica, sobretudo em termos estéticos, “A Cidade dos espelhos” é uma obra inclassificável, cujo principal fascínio vem precisamente da forma como o autor explora criativamente as suas dúvidas e complexidades, num complexo jogo de espelhos, mais próximo da Banda Desenhada autobiográfica.

Quanto à excelente edição da Gradiva, padece do mesmo problema da reedição de “Um Filho do Cosmos”, o preço demasiado elevado para a bolsa dos portugueses que, aliado à escassa divulgação, impedirá mais leitores de descobrirem este (tão feliz quanto inesperado) regresso de Victor Mesquita.

(“Eternus 9: A Cidade dos Espelhos”, de Victor Mesquita, Gradiva, 98 páginas, 25 euros)

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Maio de 68 revisitado em BD

Revista Pilote regressa para assinalar a data; História da revolução contada aos quadradinhos; Cartoons da época de Cabu, Reiser, Siné e Wolinski compilados em livro

Como em muitas outras áreas, também na banda desenhada os acontecimentos de Maio de 1968 deixaram uma marca profunda e incontornável, pela forma como mostraram novos caminhos para tornar a 9ª arte mais adulta, descobrindo-se capaz de abordar temáticas até aí vedadas ou ignoradas. Por isso não surpreende que os 40 anos da revolução que começou por abalar Paris seja agora evocada, das mais diversas formas, pelos quadradinhos francófonos.
Desde logo numa edição especial da revista “Pilote” Dargaud), nascida em 1959 como “o jornal de Astérix”, agora subintitulada “le journal qui s’amuse a lancer un pavé”, e que foi das primeiras onde se sentiram os ventos de mudança. Com tiragem de 220 000 exemplares, reúne em 160 páginas a visão do Maio de 1968 de autores que o viveram, como Giraud, Gotlib ou Fred, a par de criadores mais jovens como Sattouf, Larcenet ou Blain.
A revista “Lanfeust Mag” também tem um número especial, oferecido com o álbum colectivo “Mai 68, le pavé de la bande dessinée” (Soleil´). Por outro lado, a colecção “A verdade sobre…”, de que as edições ASA lançaram alguns títulos, também aborda o tema com humor em “La vérité sur Mai 68” (Vent des Savanes), da autoria de Monsieur B e Sophie Dumas.
Se nos casos citados, é sobretudo a visão de hoje sobre a efeméride que impera, “Mai 68” (Michel Lafon) reúne mais de 500 cartoons da época, “contestatários e revolucionários”, assinados por Wolinski, Cabu, Siné, Gébé e Reiser, comentados por Daniel Cohn Bendit ou Cavanna.
Espírito diferente tem “Mai 68, histoire d’un printemps” (Edições Berg), em que Alexandre Franc e Arnaud Bureau traçam em banda desenhada a história dos dias que fizeram a revolução. Curioso é “1968-2008…N’effacez pas nos traces!” (Casterman), uma edição composta por um CD de Dominique Grange, que compila temas da época e alguns inéditos, transformados em imagens num álbum com o traço característico de Jacques Tardi.


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F. Cleto e Pina

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Com D grande

Está nas livrarias o segundo álbum de Astérix em mirandês, “L Galaton” (“O Grande Fosso”), a história de uma aldeia dividida ao meio por uma querela. Se a notícia para a maior parte dos leitores de BD, vale só pela curiosidade, merecerá mais atenção se acrescentar que a edição inclui um segundo caderno que reproduz a mesma história (em francês, vá-se lá compreender porquê…), a preto e branco, no formato italiano, a meia prancha por página, 35% maior que a versão colorida, o que permite admirar pormenorizadamente o excelente trabalho de Uderzo.

Se em “Astérix, o gaulês”, estreado em Outubro de 1959 na “Pilote”, o traço era algo agreste, de contornos rígidos e, por vezes, mostrava algumas dificuldades em representar movimento, uma análise mais cuidada revelava, ainda “em bruto”, alguns dos principais méritos do desenhador que tanto contribuíram para o êxito da série: bom domínio da planificação, do ritmo e do sentido de leitura. E se ao longo do álbum era notória já uma evolução assinalável, seria preciso esperar até “Astérix e os Normandos” (1967) para que as suas potencialidades se revelassem em todo o esplendor, confirmando Uderzo como um grande desenhador, muitas vezes imitado mas nunca igualado, no seu traço suave, vivo e dinâmico, nos seus heróis de formas arredondadas e grandes narizes e pela sublimação das outras qualidades já referidas.


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F. Cleto e Pina

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Jornal de Notícias