Argumento
Alan Moore
Desenho
Dave Gibbons
Editora
DC Comics
Ano
1986-1987 (mini-série original)
Notas
Nos EUA o paperback vai já na 26.ª edição e vendeu mais de um milhão de exemplares.
Alan Moore
Dave Gibbons
DC Comics
1986-1987 (mini-série original)
Nos EUA o paperback vai já na 26.ª edição e vendeu mais de um milhão de exemplares.
Têm sido recorrentes notícias sobre bandas desenhadas de autores nacionais publicadas no estrangeiro, que suplantam e abafam as que dizem respeito às edições cá. 2011 promete ser diferente: alguns desses projectos terão dimensão e visibilidade nunca atingidas.
Cronologicamente, a primeira – e, possivelmente, a mais mediática de todas as bandas desenhadas com assinatura lusa a editar em 2011 – será “Female Force: Angelina Jolie”, a biografia da actriz desenhada por Nuno Nobre. Estará disponível nas livrarias especializadas em Janeiro e é mais uma edição da norte-americana Bluewater Productions.
A 2 de Fevereiro, será lançado o primeiro número de “Onslaught Unleashed”, mini-série de quatro números que Filipe Andrade está a desenhar para a Marvel a partir de um argumento de Sean McKeever. Narra o regresso do vilão Onslaught e como isso irá afectar o professor Xavier, líder dos X-Men, e Magneto, o seu maior inimigo. As capas serão de dois “monstros” dos comics: Humberto Ramos e Rob Liefeld.
Consolidação autoral
Ainda na Marvel, igualmente em Fevereiro, Nuno Plati Alves desenha o seu primeiro comic completo, “Marvel Girl #1”, no qual Josh Fialkov narra como a mutante Jean Grey aprendeu a controlar os seus poderes, e João Lemos volta a Wolverine, desenhando uma história de Sarah Cross, inserida na colectânea “Wolverine: The Adamantium Diaries #1000”.
Quanto ao terceiro projecto citado, verá a luz em Maio e destaca-se por estar incluído na antologia que assinala os 25 anos da editora norte-americana Dark Horse, juntamente com criadores como Frank Miller, Mike Mignola ou Dave Gibbons. Trata-se de uma BD com o primeiro encontro de Dog Mendonça e Pizzaboy, os heróis fantásticos criados pelo pianista português Filipe Melo e pelo desenhador argentino Juan Canvia. Esta mesma dupla deverá regressar em Março, com “Apocalipse”, para enfrentar o fim dos tempos, como descrito na Bíblia.
Outros dois projectos que marcaram recentemente a BD feita em Português – “BRK”, um thriller urbano com contornos políticos, de Filipe Pina e do atrás citado Filipe Andrade, e “Asteroids Fighters”, uma space-opera de Rui Lacas (distinguido no Amadora BD 2010) -, verão os segundos tomos editados no próximo ano.
Ainda em Portugal, possivelmente após o Verão, a Kingpin Books lançará três novos livros. O primeiro é um policial escrito por Fernando Dordio e desenhado por Osvaldo Medina, que recupera, anos mais tarde, as personagens de “C.A.O.S.”. Quanto a “O baile”, é uma história de Nuno Duarte (das Produções Fictícias e de “A Fórmula da Felicidade”) passada em 1967 e protagonizada por um inspector da PIDE encarregado de abafar rumores de aparições sobrenaturais numa pequena aldeia piscatória e que podem ensombrar a visita do Papa Paulo VI ao país, estando o desenho a cargo de Joana Afonso. Finalmente, “O Pequeno Deus Cego” é uma narrativa alegórica de David Soares, negra, violenta e poética, desenhada por Pedro Serpa.
Desde logo pela dúzia de anos que levou a concretizar, com sucessivos avanços, recuos e suspensões, até à hipótese de não exibição, já este ano, devido a um contencioso entre a Warner, que o produziu, e a Fox, que tinha os direitos de distribuição.
Baseado numa BD de culto dos anos 80 (ver caixa), a acção de “Watchmen” decorre maioritariamente na actualidade de então (1985), num mundo que os super-heróis mudaram – vencendo no Vietname, mantendo Nixon no poder, com a guerra fria no auge e um confronto nuclear iminente – mas de onde foram banidos por uma lei de 1977, odiados pelos concidadãos que era suposto guardarem.
O despoletar da acção é o assassínio do Comediante (Jeffrey Dean Morgan) e atentados contra outros “Watchmen”, o Dr. Manhattan (Billy Crudup), Ozymandias (Matthew Goode) e Rorschach (num excelente desempenho de Jackie Earle Haley), o que leva este último, o Coruja Nocturna II (Patrick Wilson) e a Espectro de Seda II (Malin Ackerman), a investigarem quem persegue os antigos heróis mascarados. Apesar de muitos nomes sonantes terem sido anunciados para o elenco, a escolha de actores de segunda linha (em muito bom nível no filme) terá sido um trunfo, já que não obrigou a destaques especiais e permitiu maior fidelidade ao original.
Essa foi a opção do realizador Zack Snyder (responsável pela menos interessante adaptação da BD “300”, de Frank Miller), e dos argumentistas David Hayter e Alex Tse, que seguiram de muito perto os diálogos e a encenação da BD, concretizando a adaptação que muitos julgavam impossível. O próprio Alan Moore, que mais uma vez vetou a inclusão do seu nome nos créditos do filme, elogiou-a, considerando-a “a coisa mais próxima de um filme de Watchmen possível”. Isto apesar de cortes inevitáveis (entre os quais a história paralela “Tales of the Black Freighter”, que sairá sob a forma de animação, como extra, no DVD do filme) e algumas modificações, a principal das quais o final, diferente do da história aos quadradinhos, mas que não tem decepcionado a maioria dos fãs que já visionaram a película, perfeitamente rendidos à forma como Snyder (re)construiu “Watchmen”, ao longo de pouco mais de duas horas e meia. Excepções, são aqueles que queriam uma revolução (hoje impossível) igual à que o livro provocou há 20 anos.
Fiel à BD, o filme abre com a sensacional cena do assassinato do Comediante, seguindo-se uma (re)montagem da historia do século XX, à luz da actuação dos primeiros justiceiros mascarados e ao som de Bob Dylan, progredindo depois com múltiplos flashbacks que revelam cada um dos protagonistas e o seu relacionamento, numa dissertação sobre como obter e manter o poder, em que os fins justificam os meios.
A fidelidade ao original agrega-lhe a mesma fraqueza da BD: vai desiludir quem procura um filme comum de super-heróis, com muita acção e movimento (apesar de algumas cenas espectaculares), pois esta é uma película de (bons) diálogos, com um ritmo e uma estrutura pouco convencionais para cinema, que exige atenção e interpretação do espectador.
[Caixa]
Em 1986, “Watchmen”, juntamente com “The Dark Night Returns”, de Frank Miller, demonstrou que as histórias de super-heróis também podiam cativar leitores adultos e exigentes e, depois delas, nada ficou igual.
Esta é uma BD “sobre” super-heróis que Alan Moore (“V de Vingança”, “Liga dos Cavalheiros Extraordinários”, …) mostra envelhecidos, barrigudos e com problemas profundos de seres profundamente humanos: neuróticos, conflituosos, alcoólicos, pervertidos, racistas; em suma, desajustados que ultrapassavam (esqueciam?) as suas fraquezas saindo “de casa mascarados às 3 da manhã para fazer coisas estúpidas”, desapontados “com aquilo em que se tornou o sonho americano” e acreditando que contribuíam para um país melhor.
Esta desconstrução politizada dos estereótipos de super-heróis, aclamada dentro e fora do meio da BD – a “Time” considerou-a uma das 100 obras mais importantes desde 1923; recebeu um prémio “Hugo” –, onde se multiplicam referências (escritas, visuais ou conceptuais) literárias, históricas ou científicas, para além da trama em si, é também notável pela forma como Moore explora de forma superior a relação imagem/texto, com narrativas simultâneas na mesma prancha/vinheta, pela sequenciação “animada” de momentos marcantes ou incluindo pormenores cuja importância vai crescendo e obrigam a várias leituras. Ou ainda pela subversão do conceito de tempo no tomo #4 ou pela “aterradora simetria” das vinhetas no #5. E, claro, pelo exemplar trabalho gráfico de Dave Gibbons, com um traço limpo, contido e expressivo, adaptado às diferentes épocas em que a acção decorre.
F. Cleto e Pina
Jornal de Notícias