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O rei da polícia montada nasceu há 75 anos

Se ainda fosse vivo, o circunspecto e implacável sargento King da Real Polícia Montada canadiana, que “apanhava sempre o seu homem”, completaria hoje 75 primaveras.
No entanto, a sua existência foi relativamente curta, pois terminaria vinte anos mais tarde, não às mãos de um dos muitos bandidos que enfrentou, mas devido à queda da sua popularidade.
Inicialmente uma adaptação de um romance de Zane Grey, “King of the Royal Mountain” começou a ser distribuído pelo King Features Syndicate nos jornais norte-americanos a 17 de Fevereiro de 1935, como prancha dominical desenhada por Allen Dean, que a 2 de Março de 1936 iniciaria também a tira diária, entregando a prancha dominical a Charles Flanders. A partir de 1939 Jim Gary assumiria integralmente a série.
“King of the Royal Mountain”, que teve quatro adaptações cinematográficas entre 1936 e 1942, era um western atípico, com histórias lineares, que tinham por cenário as inóspitas regiões geladas canadianas, marcadas pelo verde dos pinheiros afilados, o azul das torrentes caudalosas e o branco imaculado da neve que tudo cobria, que contrastavam com o vermelho do uniforme dos membros da polícia montada, por isso celebrizados como “casacas-vermelhas”, e que se distinguiam pelo seu código de honra particular que defendia o recurso à violência apenas em última instância. O protagonista era o sargento King – cujo apelido fez com que a tradução portuguesa o transformasse no Rei da Polícia Montada – a quem nunca se viu um sorriso ou ouviu uma piada, nas suas perseguições a ladrões e assaltantes, durante as quais conheceria Betty Blake, sua eterna noiva, e o seu irmão Kid, que muitas vezes o acompanhou.
A BD regressaria ao território canadiano e à temática dos “casacas-vermelhas” na década de 50, com Red Canyon, recorrentemente, nas aventuras que Tex Willer partilha com Jim Brandon, ou nos anos 1990, de forma mais consistente, nos álbuns da série “Trent”, de Rudolphe e Léo.


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F. Cleto e Pina

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Senhores da selva

Há 60 anos nascia em Itália Akim, herói de quadradinhos populares que, como outros, antes e depois, bebia muita da sua inspiração no Tarzan imaginado por Edgar Rice Burroughs no início do século XX.

No caso de Akim, escrito por Roberto Renzi e desenhado por Augusto Pedrazza para a revista “Albo Gioello”, com o formato dos actuais cheques, a colagem ao homem-macaco, era feita quase ao pormenor: os pais naufragaram na costa africana e foram mortos por feras; o bebé foi adoptado por uma gorila, cresceu entre eles, aprendeu a sua linguagem, desenvolveu uma assinalável musculatura e fez amizade com os animais e vestia uma tanga de pele de leopardo. Tornou-se um justiceiro da floresta, temido por nativos e traficantes e, na senda da literatura popular, também combateu sábios loucos e explorou civilizações perdidas. Nas muitas aventuras, partilhadas com um babuíno (Zig), um gorila (Kar), um elefante (Baroi) e um leão (Rag), descobriu ser herdeiro de uma grande fortuna, conheceu a bela Rita – com quem viveu “escandalosamente” durante anos sem se casar (!) – e adoptou o pequeno Jim.
Isto garantiu-lhe grande popularidade, uma revista com mais de 750 números e uma vida longa de 41 anos. Divulgado em Portugal em revistas brasileiras, Akim teve edição nacional de curta duração, da Palirex, nos anos 70.
Na senda do seu sucesso, num tom mais paródico, em França, em 1963, nas páginas da “Special Kiwi”, nasceria Zembla, criado por Marcel Navarro e desenhado por diversos artistas italianos, entre os quais Pedrazza, o mesmo de Akim. Como traços distintivos, fora criado por leões, tinha o cabelo longo e uma tira de pele que lhe cruzava o tronco, e era acompanhado por um leão, um gato-selvagem, um canguru, um pigmeu e um mágico! O sucesso bateu-lhe à porta e Zembla sobreviveu até 1994. Teve revista nacional que durou 53 números e foi também publicado na colecção Tigre.
Mas as imitações do mito do selvagem branco, popularizado no cinema por Johnny Weissmuller, e na BD por Foster, Hogarth e Manning, entre as quais se conta “Korak”, o filho de Tarzan, criação de Burroughs desenvolvida nos quadradinhos a partir dos anos 1960, publicados em português, inclusive em revista própria, não se ficariam por aqui e teriam as mais díspares origens e desenvolvimentos.
Em Fishboy, Denizen of the Deep, um comic britânico escrito por Scott Goodall e publicado entre 1968 e 1975, o protagonista comunicava com tubarões e conseguia respirar debaixo de água. Yataca, criação francófona do mesmo período mas de maior longevidade, no início narrava as aventuras de uma criança selvagem na Amazónia; ao fim de uma vintena de números, sem qualquer explicação, tornou-se adulto e mudou-se para África. Entre os seus desenhadores contou-se o português Vítor Péon, cujos episódios foram publicados pela Portugal Press, numa revista com o nome do herói. No mesmo registo, Péon criaria Zama. Também com a edição nacional, com capas do pintor Carlos Alberto Santos, após o 25 de Abril, existiu Karzan, uma versão pornográfica francófona do senhor da selva.
A Marvel, casa de super-heróis, tem também o seu selvagem, Ka-Zar, “clone” de Tarzan criado em 1936 por Bob Byrd; três décadas mais tarde, foi remodelado por Stan Lee e Jack Kirby, que o transportaram para a Terra Selvagem, uma zona de clima tropical em plena Antártida onde existem dinossauros, dando-lhe por companhia Zabu, um tigre dentes-de-sabre, o que não o impede de interagir com o Homem-Aranha ou o Demolidor.
Entre as variantes mais curiosas de Tarzan conta-se “Jungle no Ouja Ta-chan”, um manga criado por Tokuhiro Masaya que originaria uma versão humorístico animada na qual o “herói”, trapalhão e casado com uma obesa e mandona Jane, podia ser visto a lavar e estender roupa. E nos anos 90, na febre dos “crossovers”, Tarzan, o próprio, viveria nos quadradinhos incongruentes parcerias com Batman ou Superman e defrontaria o cinematográfico Predator.

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Rainhas da selva

As versões femininas de Tarzan são também muitas mas Rima, a primeira “mulher selvagem”, é anterior à criação de Burroughs, uma vez que protagonizou “Green Mansions: A Romance of the tropical forest”, datado de 1904, ou seja oito anos antes de “Tarzan of the Apes”. Nos anos 1970 chegaria à BD, por onde entretanto já tinham passado Shanna the she devil (da Marvel), Tygra, Jann, Tiger Girl, Rulah ou Kara, todas elas “senhoras da selva”, que associavam ao exotismo natural do tema uma sensualidade inevitável face à sua reduzida indumentária.
A mais famosa, no entanto, é sem dúvida Sheena, queen of the jungle, criada em 1937 por Will Eisner (o mesmo de Spirit) e Jerry Iger, que foi a primeira heroína anglo-saxónica de BD a protagonizar uma revista, logo no ano da sua criação. Regularmente reeditada, Sheena tem tido também novas versões, entre as quais se destacam as de Dave Stevens e Frank Cho.


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Batman e Robin em filme pornográfico?

Segundo o site de banda desenhada Bleeding Cool, a Vivid Entertainment Group, especializada em filmes pornográficos, pretende fazer uma adaptação de Batman e Robin nesse estilo, tendo por base a série televisiva de sucesso dos anos 60 interpretada por Adam West, da qual manterá o visual retro e a utilização de onomatopeias combinadas com imagem real.
A película, intitulada “Batman XXX: A Porn Parody”, deverá contar com um orçamento considerável, será realizada por Axel Braun e contará entre os protagonistas com Nick Manning (como Batman), Kris Slater (Robin), Tori Black (Cat Woman) e Nicole Ray (Batgirl). Os responsáveis pelo guarda-roupas poderão ser os mesmos da série original, sendo que o símbolo do morcego no fato do protagonista será substituído por um triplo X a vermelho.
Um vídeo anúncio com cerca de um minuto foi divulgado no Youtube, onde pode ser visto pelo menos enquanto a DC Comics e a Warner Bros, detentoras dos direitos do Homem-Morcego, não tomarem uma posição.


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Astérix e os Bretões no cinema

“Astérix entre os Bretões”, o oitavo álbum da série, publicado na revista Pilote em 1965 e um ano depois em álbum, foi escolhido como base para o quarto filme com actores reais inspirado nas aventuras do pequeno gaulês.

O projecto será produzido pela Fidélité Productions e terá como realizador Laurent Tirard, a mesma equipa responsável por uma outra adaptação de um herói criado por René Goscinny, “Le Petit Nicolas” (“O menino Nicolau” em português), um dos grandes êxitos do cinema francês em 2009, visto por mais de 5 milhões de espectadores.

A responsável por esta escolha foi a Hachette Livre, sócia maioritária das Éditions Albert-René, que assim preteriu a equipa de Thomas Langmann, responsável pelos três filmes anteriores: “Astérix e Obélix contra César” (1999), “Missão Cleópatra” (2002) e “Astérix nos Jogos Olímpicos” (2008).

Tirard escreverá o argumento em parceria com Grégoire Vigneron, desconhecendo-se para já a composição do elenco. No entanto, parece certa a mudança de protagonistas, uma vez que Clovis Cornillac e Gérard Depardieu, intérpretes de Astérix e Obélix na película anterior, tinham assinado um contrato de exclusividade com Langman.

“Astérix e os Bretões”, adaptado em desenho animado em 1986, leva os heróis gauleses até uma pequena aldeia da Bretanha a convite de um primo de Astérix, para os ajudarem resistir ao invasor romano. Descobrem assim um país onde a chuva e o nevoeiro são permanentes e onde os habitantes têm estranhos hábitos: diariamente, às cinco da tarde, bebem uma chávena de água quente, gostam de cerveja morna e praticam um jogo violento com uma bola oval…


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Jorge Coelho, mais um português a desenhar comics

Chega esta semana ao mercado norte-americano e às lojas especializadas nacionais o segundo tomo de “Forgetless”, uma mini-série em 5 números editada pela Image, que conta entre os seus desenhadores o português Jorge Coelho.

“Forgetless é o nome de um clube nocturno exclusivo, que irá encerrar com uma última festa”, explicou o desenhador ao Jornal de Notícias, e “toda a trama gira em torno dos acontecimentos dessa noite, contada por um rol de personagens adolescentes, parte de uma bizarra fauna urbana”. E sublinha o cariz actual da história “que utiliza adereços contemporâneos como vídeos do YouTube, Tweets e SMS, via iPhone, para veicular a narrativa”.

Como ela “é contada por flashbacks, saltando entre o presente e o passado, o argumentista, Nick Spencer experimentou artistas diferentes para os diferentes ambientes e histórias dentro da trama geral”. Por isso, Jorge Coelho desenhou 16 pranchas para o segundo número agora disponível, outras tantas para o #4 e mais 8 para o volume final. Como usufruiu “de liberdade criativa, a nível visual”, trabalhou com uma “técnica particular” que tem vindo a usar: “desenho a lápis, arte-final tradicional, digitalização e modelação de luz/sombras por computador”, aplicando depois Eric Skillman as cores.

Entretanto, também esta semana fica disponível “Marvel Fairy Tales, que compila as revistas “Avengers Fairy Tales” #1-4, “Spider-Man Fairy Tales” #1 e “X-Men Fairy Tales” #2, algumas das quais desenhadas pelos portugueses Ricardo Tércio, João Lemos e Nuno Plati Alves. Nelas, o argumentista C. B. Cebulski revisitou contos tradicionais infantis como “O Capuchinho Vermelho”, “Pinóquio” ou “Peter Pan”, substituindo os protagonistas pelo Homem-Aranha, Capitão América, Thor ou Iron-Man.


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A arte de Pedro Brito e João Fazenda, a três tempos no Porto

Após quatro dias intensos, o 37º Festival Internacional de BD de Angoulême encerrou ontem com uma boa notícia para os amantes da 9ª arte: Hervé Baruléa, conhecido como Baru, foi distinguido com o Grande Prémio de Angoulême, pelo que irá presidir à edição de 2011, que se antevê desde já como popular e com uma banda sonora de rock and roll.

Autor militante, à margem de correntes e estéticas, mas também consagrado, popular e original, Baru, distinguido duas vezes com o prémio para melhor álbum por “Le Chemin de l’Amérique” (1991) e “L’Autoroute du Soleil” (1996), possui um traço não muito atraente mas extremamente eficaz e dinâmico, com que conta histórias de gente simples, muitas vezes marginal, com os (sub)mundos do boxe e da música como fundo recorrente.

Nascido em 1947, iniciou-se como autor de BD na revista “Pilote” em 1982, foi convidado de honra do XI Salão Internacional de BD do Porto em 2001 e três dos quatro tomos de “Les années Spoutnik”, uma BD autobiográfica sobre a sua infância, foram editados no nosso país pela Polvo.

Entretanto, entre os 3599 novos álbuns lançados em França em 2009, o festival, entre outros, distinguiu: Álbum do Ano “Pascal Brutal – T3 : Plus Fort Que les Plus Forts” (Fluide Glacial), de Riad Sattoufd, uma série que poderá vir a ser editada pela ASA; Prémio Especial do Júri: “Dungeon Quest” (L’Association), de Joe Daly; Prémio da Série: “Jérome K. Jérome Bloche” (Dupuis), de Alain Dodier; Revelação: “Rosalie Blum – T3, Au Hasard Balthazar!” (Actes Sud), de Camille Jourdy; Património: “Paracuellos – Intégrale” (Fluide Glacial), de Carlos Giménez.


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A arte de Pedro Brito e João Fazenda, a três tempos no Porto

Pedro Brito e João Fazenda estão hoje no Porto para darem a conhecer diversas facetas da sua criatividade em banda desenhada, cinema de animação e ilustração.

O dia começa às 17horas, na Galeria Mundo Fantasma, no Centro Comercial Brasília, para autógrafos e a inauguração da exposição “Mosaicos suburbanos”, composta por pranchas dos livros “Pano Cru”, que tem texto e desenho de Brito, “Loverboy”, três tomos desenhados por Fazenda a partir de argumentos de Marte, e “Tu és a mulher da minha vida, ela a mulher dos meus sonhos”, com texto de Brito e desenho de Fazenda. Este último, considerado o Melhor Álbum Português de BD no Festival da Amadora, em 2001, foi recentemente editado em França e na Polónia.

Depois, às 22 horas, estarão na Casa da Animação, onde serão projectados diversos filmes animados de sua autoria, entre os quais “A Estrela de Gaspar” e “Sem dúvida, amanhã” (de Brito) ou “Algo Importante” (de Fazenda e João Paulo Cotrim), seguindo-se uma conversa com os dois.

Finalmente, às 23h30, na Gesto Cooperativa Cultural, será inaugurada a mostra “Construção Civil”, uma selecção ilustrações de João Fazenda.

Pedro Brito nasceu no Barreiro em 1975, licenciou-se em Design Visual pelo IADE em 1998 e faz formação na área da animação, a que dedicou os últimos anos. Recentemente regressou à BD, com uma biografia dos UHF, a editar pela Tugaland, e tem em mãos a curta-metragem, “Fado do homem crescido”, com argumento de J. P. Cotrim.

João Fazenda, quatro anos mais novo, licenciado em Pintura pela Faculdade de Belas Artes de Lisboa, dedica-se especialmente à ilustração para jornais e revistas, livros infantis, cartazes de cinema e capas de discos (Mariza, Carlos Paredes, Deolinda). Entre diversas distinções recebidas, conta-se o Grande Prémio Stuart de Desenho de Imprensa, em 2007.


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Autores portugueses mostram pranchas em Angoulême

Começa dia 28, quinta-feira, o 27º Festival International de la Bande Dessinée d’Angoulême, a mais importante manifestação europeia dedicada aos quadradinhos. O destaque vai para as mostras dedicadas a Blutch, Grande Prémio de 2009 e presidente do Festival, e às populares séries Túnicas Azuis, Léonard e o manga One Piece. O programa, diversificado, tem também lugar para autores experimentais, como Neaud ou Fabio, e para as colectivas Desenhadores de Humor, BD Russa ou 100 por 100, que revela como uma centena de autores reproduziu ou sequenciou uma das pranchas clássicas do Museu da BD local.

Durante quatro dias, entre os mais de 200 mil visitantes esperados na pequena cidade francesa, haverá alguns portugueses, de portfólio na mão, para mostrarem aos editores o seu trabalho. É o caso de Filipe Pina e Filipe Andrade, autores de “BRK” (ASA), cuja editora “tem reuniões e contactos marcados para colocar o livro no mercado estrangeiro”. Ao JN revelaram que levam também uma BD que Pina desenhou “para a Marvel sobre o Iron Man” e projectos novos, entre os quais “Senhores do Fogo”, sobre “um bombeiro que no seu primeiro incêndio, se depara com um monstro de fogo que só ele consegue ver e lhe obedece”.

Também Rui Lacas, que em 2006 conseguiu em Angoulême o contrato para publicar na Paquet “Merci patron”, está de regresso a França, para mostrar “Asteroid Fighters” (ASA), um projecto de super-heróis bem recebido pela crítica nacional e propostas para uma novela gráfica. Acompanham-no dois outros membros do Lisbon Studios, João Tércio, que leva os originais do álbum que a El Pep vai editar no nosso pais em Maio, e Ricardo Cabral, para mostrar “Israel Sketchbook” (ASA) e tentar concluir as negociações para desenhar um álbum para uma editora francófona.


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Dois diabretes octogenários

Se é normal associarmos o nome de Hergé a Tintin, a sua obra maior e uma das bandas desenhadas mais celebradas de sempre, o autor criou outros heróis, entre os quais Quick e Flupke, que há exactamente 80 anos eram vistos pela primeira vez em papel impresso.

Tratava-se de dois pequenotes de Bruxelas – revisão ficcionada da própria infância de Hergé – juntos pela amizade, pela vontade de experimentar coisas novas e pela especial queda para provocar (pequenos) desastres.

A estreia ocorreu no “Le petit Vingtiéme” de 23 de Janeiro de 1930, pouco mais de um ano depois de Tintin, e as diferenças entre as duas criações eram significativas. Enquanto o repórter era (viria a ser…) longas aventuras, viagens, exotismo, justiça e ordem, Quick e Flupke não saíam da sua Bruxelas natal e viviam um quotidiano igual ao dos outros miúdos mas suas partidas provocavam o caos e desesperavam o Guarda 15, vítima recorrente das diabruras em duas pranchas. O humor em Quick e Flupke, mais tarde decalcado em Tintin para os gags com Haddock ou Tournesol, raia muitas vezes o nonsense, pode ter conteúdos sociais ou politizados (como quando satirizam Hitler e Mussolini), representa-os como diabos (literalmente) e levava-os mesmo a chocar com os limites físicos das vinhetas ou a interagir com o desenhador. E se o traço é o mesmo de Tintin, sente-se uma maior liberdade criativa e o privilegiar da eficácia estética e narrativa.

Com cerca de 250 pranchas publicadas (de forma irregular) durante uma década, Quick e Flupke tiveram uma nova vida nos anos 80, em versão animada e em álbuns redesenhados e coloridos pelos Estúdios Hergé, a partir das histórias originais. Esta última edição foi lançada em Portugal pela Verbo, com os heróis rebaptizados como Quim e Filipe.


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F. Cleto e Pina

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Mickey Mouse, 80 anos aos quadradinhos

Há 80 anos, fazia a sua estreia na banda desenhada, em tiras diárias de carácter humorístico publicadas nos jornais, aquele que possivelmente é o rato mais famoso e conhecido de todos os tempos, Mickey Mouse.

Tudo começara cerca de um ano antes, com o filme animado “Steamboat Willie”, estreado a 28 de Novembro de 1928. Desde então, Mickey já protagonizara uma quinzena de desenhos animados, cujo sucesso comercial levaram a King Features Syndicate a sondar Walt Disney quanto à possibilidade de o transpor para tiras diárias.

Uma vez o acordo alcançado, Ub Iwerks, que participara na criação gráfica do rato e animara a curta-metragem inicial, foi encarregado de desenhar os quadradinhos, passados a tinta por Win Smith, a partir de argumentos do próprio Walt Disney. A primeira tira, publicada a 13 de Janeiro de 1930, intitulada “He’s going to learn to fly like Lindy.”, mostrava Mickey deitado num monte de feno a sonhar com viagens de avião, numa alusão a Charles Lindbergh, que fizera o primeiro voo transatlântico sem escalas três anos antes. Era a primeira de uma série de tiras que adaptavam livremente “Plane Crazy”, um filme da “pré-história” de Mickey.

De início auto-conclusivas, embora com sequência, e de carácter puramente humorístico, as histórias aos quadradinhos bebiam na animação muito do seu dinamismo e do seu espírito.

Mas poucas semanas decorridas, Iwerks, não sentindo reconhecimento por uma colaboração com mais de uma década, abandonaria os estúdios Disney. Floyd Gottfredson assumiria a BD em Abril desse ano e ficaria na história como “o desenhador” de Mickey por excelência, após desenhar mais de 15 mil tiras e pranchas dominicais, até se reformar, em 1975. Nelas, dotou Mickey com um espírito mais decidido, empreendedor e aventureiro e introduziu muitos dos heróis secundários que com ele geralmente contracenam , criando outros como Morty e Ferdie (Chiquinho e Francisquinho) ou Phantom Blot (Mancha Negra).

Mantendo algum paralelo em relação à animação, em que manteve o tom mais divertido, na BD Mickey evoluiu graficamente aproximando-se mais da figura humana, cresceu e desenvolveu-se, em histórias policiais, de mistério, aventura e ficção-científica, participou no esforço de guerra contra os nazis, encarnou personagens clássicas e históricas, reviveu filmes célebres, experimentou um sem-número de profissões, prolongando o sucesso dos anos 1930, considerados a sua idade de ouro nos comics. Para isso contribuiriam, entre muitos outros, grandes artistas como Al Taliaferro, Ted Osborne, Paul Murry, Romano Scarpa ou Giorgio Cavazzano.

Hoje, 80 anos depois, a banda desenhada Disney, cancelada em diversos países, há muito que deixou os seus tempos áureos, surgindo como raras excepções a Itália ou os países nórdicos (Finlândia, Dinamarca, Suécia). Talvez por isso, em Dezembro de 2008, a companhia anunciou a sua entrada na BD digital, com meia centena de histórias produzidas em Itália, para iPhone, iPod e PSP. Possivelmente a melhor forma de transmitir o humor, a aventura e a magia que Mickey levou a tantos leitores, a uma nova geração com hábitos diferentes mas a mesma necessidade de sonhar.

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Histórias Memoráveis

Entre as quase 30 mil histórias de Mickey escritas e desenhadas ao longo de oito décadas, em especial nos EUA, Itália, Dinamarca e França (mas também no Brasil), muitas há que ficaram na memória dos que as leram. Eis três exemplos provenientes das tiras diárias, da revista mensal e da escola italiana.

Mickey Mouse in the Death Valley

Floyd Gottfredson, Walt Disney, Win Smith

1930

A primeira BD com a marca de Gottfredson, marcada pela entrada de Clarabelle Cow (Clarabela), Horace Horsecollar (Horácio),  HYPERLINK “http://en.wikipedia.org/wiki/Black_Pete” o “Black Pete” Black Pete (João Bafo-de-Onça) e o pérfido advogado Sylvester Shyster (Zé Ratão) e pela temática aventurosa que leva Mickey até ao deserto em busca de um tesouro.

The Mystery of the Double-Cross Ranch

Paul Murry

1951

Mickey e Pateta fazem uma visita ao rancho de Uncle Mortimer, um tio da Minnie, para investigarem quem anda a roubar-lhe as vacas, numa aventura ritmada, que combina um registo western e policial, com humor e drama.

Topolino e la collana Chirikawa

Romano Scarpa, Rodolfo Cimino

1960

A procura de um valioso colar indígena, com estranhos poderes, é o mote de uma das primeiras e mais famosas histórias escritas e desenhadas pelo mestre italiano Romano Scarpa, servida pelo seu traço moderno e dinâmico.

Curiosidades

Em 2008, a tira de 29 de Janeiro, autografada por Walt Disney, foi leiloada por quase 55 mil dólares (38 000 €).

Outros nomes de Mickey

Esteve para se chamar Mortimer, mas por sugestão da mulher de Disney seria baptizado como Mickey Mouse. Mas se este é o nome porque é conhecido na maior parte dos países, outras há que o conhecem de forma diferente:

Topolino (Itália)
Miki Maus (Croácia)
Miki-Hiir (Finlândia, Estónia)
Micky Maus (Alemanha)
Miki Tikus (Indonésia)
Peliukas Mikis (Lituânia)
Myszka Miki (Polónia)
Miki (Sérvia, Eslovénia)
Musse Pigg (Turquia)
Miki Fare (Ucrânia)
Chuột Mickey (Vietname)

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