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Uma fábula sobre tempos incertos

E se a felicidade pudesse ser concedida por uma fórmula matemática?
Obra publicada em dois volumes há década e meia, surge agora em edição integral

Devido à pequena dimensão do mercado editorial português de BD e às consequentes tiragens curtas, há obras nacionais que se tornaram quase lendárias. Uma delas é “A Fórmula da Felicidade”, publicada originalmente em dois tomos há cerca de década e meia que desapareceram há muito do mercado e eram procuradas por colecionadores ou leitores interessados.
Agora, ressurge numa edição integral, com todas as vantagens das técnicas de produção e impressão modernas, e com um posfácio extra de 16 páginas, que na verdade é um prólogo e acrescenta um elemento importante ao relato.
Escrito por Nuno Duarte, também guionista das Produções Fictícias que tantos projectos levaram ao pequeno ecrã, tem como ponto de partida uma curiosa pergunta: e se a felicidade estivesse dependente de uma fórmula matemática? A resposta, forte e bem estruturada, tem por protagonista Victor, um génio matemático, filho de uma prostituta e de pai incógnito, por isso marginalizado e humilhado por todos, que busca nos números o refúgio e o consolo que os humanos não lhe dão.
Quando descobre a tal fórmula que, quando lida por ele, produz a felicidade instantânea, Victor, transformado em guru da moda e milagreiro de trazer por casa, passa de desprezado a adulado mas, apesar da aparente realização pessoal e da fama recebida, devidamente exploradas por uma sociedade com fins lucrativos, mergulha numa espiral descendente de auto-destruição, cada vez mais sozinho apesar das multidões que o procuram.
Crítica premente, com ramificações familiares, sociais, políticas e religiosas, “A Fórmula da Felicidade” graficamente é mais um belo trabalho de Osvaldo Medina, bem servido por um colorido de tons suaves da responsabilidade de Ana Freitas. O desenhador revela uma grande legibilidade na planificação e na disposição dos elementos nas vinhetas e uma conseguida opção de dotar as personagens com cabeças de animais, escolhidas de acordo com as características de cada um (animal e humano), que contribuem para acentuar os pontos fortes da narrativa e permitem ao leitor um ilusório distanciamento. Ilusório, porque, apesar dos anos passados sobre a sua criação, esta fábula sobre tempos incertos, em que tantos falsos profetas facilmente encontram seguidores, continua actual e incómoda.

A Fórmula da Felicidade – Edição integral
Nuno Duarte e Osvaldo Medina
Kingpin Books
112 p., 21,50 €


Escrito Por

F. Cleto e Pina

Publicação

Jornal de Notícias

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Português Desenha Biografia de Angelina Jolie

Têm sido recorrentes notícias sobre bandas desenhadas de autores nacionais publicadas no estrangeiro, que suplantam e abafam as que dizem respeito às edições cá. 2011 promete ser diferente: alguns desses projectos terão dimensão e visibilidade nunca atingidas.

Cronologicamente, a primeira – e, possivelmente, a mais mediática de todas as bandas desenhadas com assinatura lusa a editar em 2011 – será “Female Force: Angelina Jolie”, a biografia da actriz desenhada por Nuno Nobre. Estará disponível nas livrarias especializadas em Janeiro e é mais uma edição da norte-americana Bluewater Productions.

A 2 de Fevereiro, será lançado o primeiro número de “Onslaught Unleashed”, mini-série de quatro números que Filipe Andrade está a desenhar para a Marvel a partir de um argumento de Sean McKeever. Narra o regresso do vilão Onslaught e como isso irá afectar o professor Xavier, líder dos X-Men, e Magneto, o seu maior inimigo. As capas serão de dois “monstros” dos comics: Humberto Ramos e Rob Liefeld.

Consolidação autoral

Ainda na Marvel, igualmente em Fevereiro, Nuno Plati Alves desenha o seu primeiro comic completo, “Marvel Girl #1”, no qual Josh Fialkov narra como a mutante Jean Grey aprendeu a controlar os seus poderes, e João Lemos volta a Wolverine, desenhando uma história de Sarah Cross, inserida na colectânea “Wolverine: The Adamantium Diaries #1000”.

Quanto ao terceiro projecto citado, verá a luz em Maio e destaca-se por estar incluído na antologia que assinala os 25 anos da editora norte-americana Dark Horse, juntamente com criadores como Frank Miller, Mike Mignola ou Dave Gibbons. Trata-se de uma BD com o primeiro encontro de Dog Mendonça e Pizzaboy, os heróis fantásticos criados pelo pianista português Filipe Melo e pelo desenhador argentino Juan Canvia. Esta mesma dupla deverá regressar em Março, com “Apocalipse”, para enfrentar o fim dos tempos, como descrito na Bíblia.

Outros dois projectos que marcaram recentemente a BD feita em Português – “BRK”, um thriller urbano com contornos políticos, de Filipe Pina e do atrás citado Filipe Andrade, e “Asteroids Fighters”, uma space-opera de Rui Lacas (distinguido no Amadora BD 2010) -, verão os segundos tomos editados no próximo ano.

Ainda em Portugal, possivelmente após o Verão, a Kingpin Books lançará três novos livros. O primeiro é um policial escrito por Fernando Dordio e desenhado por Osvaldo Medina, que recupera, anos mais tarde, as personagens de “C.A.O.S.”. Quanto a “O baile”, é uma história de Nuno Duarte (das Produções Fictícias e de “A Fórmula da Felicidade”) passada em 1967 e protagonizada por um inspector da PIDE encarregado de abafar rumores de aparições sobrenaturais numa pequena aldeia piscatória e que podem ensombrar a visita do Papa Paulo VI ao país, estando o desenho a cargo de Joana Afonso. Finalmente, “O Pequeno Deus Cego” é uma narrativa alegórica de David Soares, negra, violenta e poética, desenhada por Pedro Serpa.

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Exposição a quatro mãos na Mundo Fantasma

“Sinfonia Quadripolar” é o título da exposição de ilustração e banda desenhada que é inaugurada hoje, às 17 horas, na Galeria Mundo Fantasma, junto à loja especializada em BD com o mesmo nome, no Centro Comercial Brasília, no Porto.
Patente até 2 de Janeiro de 2011, esta é uma mostra a quatro mãos pois reúne originais de Pepedelrey, Nuno Duarte, Ricardo Venâncio e João Tércio, que estarão presentes para conversar com os visitantes e autografarem algumas das suas obras, entre as quais “The Lisbon Studio Mag”, uma revista semestral que serve de cartão de apresentação e portfolio ao colectivo com o mesmo nome, que todos integram.
À frente do projecto está Pepedelrey, editor e responsável pela El Pep, uma pequena editora independente, que tem publicado os projectos destes quatro autores. Para além disso, Pepedelrey é também desenhador e argumentista de livros como “Virgin’s trip” ou “Paris Morreu”. Este último, um policial negro, tem a assinatura gráfica de Nuno Duarte, também responsável, num registo completamente diferente, pelo pouco sociável “Mocifão”, personagem nascida online (http://mocifao.blogspot.com/), mas cujo segundo livro já está quase pronto.
Quanto a Ricardo Venâncio, publicou no ano passado o primeiro tomo de “Defier”, uma narrativa pós-apocalíptica, tendo chegado a trabalhar com C. B. Cebulski, um “caça-talentos da Marvel, numa BD de ficção-científica intitulada “No Quarter”, projecto entretanto suspenso
Finalmente, João Tércio lançou este ano o seu primeiro livro, “Março Anormal”, uma reflexão crítica e sarcástica sobre o tempo actual e os seus ícones.
Os quatro autores possuem estilos e temáticas diferentes, traduzidas em discursos gráficos díspares mas não inconciliáveis, agora mostrados num mesmo local, o que permite distinguir afinidades e divergências nas suas visões diferenciadas de uma mesma realidade.


Escrito Por

F. Cleto e Pina

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Jornal de Notícias

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Moscas e Fórmulas Matemáticas na Mundo Fantasma

A galeria Mundo Fantasma inaugura amanhã, sábado, dia 14, às 17h, a exposição “Moscas e Formulas”, composta por originais dos livros “A Fórmula da Felicidade” e “Mucha”, ambos editados pela Kingpin Books e desenhados por Osvaldo Medina, natural de Angola mas de nacionalidade cabo-verdiana, um dos valores (seguros) da nova banda desenhada portuguesa.
“Mucha”, lançado no recente Amadora BD 2009, marca o regresso de David Soares à BD, com um conto de terror de atmosfera intimista, no qual as moscas têm um assustador protagonismo que provoca um incómodo sentimento de repulsa. Nele Medina, que contou com a arte-final do seu editor Mário Fretas, apostou num registo a preto e branco expressivo e no qual abundam imagens fortes.
Em “A Fórmula da felicidade”, um dos grandes lançamentos nacionais de 2008, a opção foi por cores lisas e suaves e pela utilização (bem conseguida) de personagens com corpo humano e cabeça de animal, para dar mais consistência ao argumento forte e bem estruturada de Nuno Duarte sobre um marginalizado génio(zinho) matemático, filho de uma prostituta, que descobre uma fórmula cuja leitura proporciona felicidade imediata, passando por isso a ser procurado e adulado, mas não se tornando mais feliz…
Os quatro autores referidos estarão presentes para uma conversa e sessão de autógrafos na galeria Mundo Fantasma, que fica no Centro Comercial Brasília (na Boavista), na loja especializada em BD com o mesmo nome, onde os mais de duas dezenas de originais poderão ser vistos até 11 de Dezembro.


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F. Cleto e Pina

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Jornal de Notícias

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