Autor: Júlio Moreira

Temos coisas para dizer e desenhar – uma conversa no encerramento duma exposição

No início do segundo ano de actividade da Bedeteca e com o encerramento da exposição Tinha coisas para te dizer, mas desenhei-as, vamos realizar uma visita guiada com a própria Daniela Duarte, a que se seguirá uma conversa com a autora e uma série de convidadas.

Com o título de Temos coisas para dizer e desenhar convidamos para esta conversa, com a Daniela e connosco, quatro artistas nacionais: Isabel Carvalho ↗, Patrícia Guimarães ↗, Rita Mota ↗ e Sofia Neto ↗.

Há um olhar e um traço feminino na BD nacional? Estéticas e temáticas especificas presentes nas pranchas destas autoras? Vamos ouvir e conversar sobre a partir da obra da Daniela, mas também introduzindo outras obras e autorias.

Já este sábado – dia 11 – a partir das 17h00, na galeria e na Bedeteca. Apareçam.

dia 11 a partir das 17h00

na Galeria de BD e Ilustração Mundo Fantasma

e na Bedeteca

Carlos Pinheiro e Nuno Sousa editam no Clube de Desenho

O desenho é uma das bases fundamentais da Banda Desenhada. E é, na maior parte das vezes, a primeira porta de entrada para qualquer amante da BD. É o desenho que nos atrai para a fruição do livro. É o desenho que estimula a nossa leitura. A narrativa é gráfica e as palavras transmitem-se também com as imagens. Um bom desenho consegue transmitir muitas palavras. E uma sequência de bons desenhos consegue transmitir um mundo.

Carlos Pinheiro ↗ e Nuno Sousa ↗ (Cronologia da BD Portuguesa) são dois artistas que pertencem ao Clube do Desenho e que não são novos nas andanças da BD.

Já publicaram em fanzines e revistas e em 2012 publicaram em conjunto um livro onde cada um deles desenvolvia uma história (Sobrevida, edição Imprensa Canalha).

Agora surgem novamente juntos – mas em edições separadas -, com a publicação de dois capítulos de obras que ambos estão a desenvolver.

A publicação surge na sequência do projecto que o Clube de Desenho submeteu ao Programa Criatório (promovido pela Ágora – Cultura e Desporto do Porto, E.M., S.A.) e que compreendia a programação na sua galeria entre o fim de 2023 e meados de 2024.

O projecto apoiado previa a “edição de obras narrativas e ensaio gráficos contemporâneo” e encerra-se agora com a publicação destes dois livros.

Carlos Pinheiro (a partir de um texto de Mónica Faria) desenvolve um capítulo de uma novela que atravessa três gerações e que pretende contar a história de uma família e de um país. A narrativa irá acompanhar esta família ao longo do antigo regime, atravessa a revolução de Abril, e a passagem do milénio até encontrar a sua conclusão possível na actualidade.

Assim deste projecto – Alma Penada –, o livro apresenta o que será o terceiro capítulo de uma obra mais longa.

Nuno Sousa, por seu lado, publica o primeiro capítulo de uma narrativa que pretende desenvolver – Máquina Zero –, que assenta em pequenas histórias, autoficções e ensaios visuais.

O Apagão, assim se chama este primeiro vislumbre de uma obra, obra essa que se irá alimentar das memórias autobiográficas e familiares do autor.

A Bedeteca apoiou estas duas edições e disponibiliza agora e em ante estreia – por um curto espaço de tempo –, a fruição das duas obras em formato digital.

A Máquina Zero #1: Apagão

Alma Penada

Alma Penada
Desenhos de Carlos Pinheiro a partir de texto de Mónica Faria.
Máquina Zero #1: O Apagão
Texto e Desenho de Nuno Sousa

Editado pelo Clube de Desenho

Apoio

Bedeteca
Turbina Associação Cultural
Programa Criatório da Ágora – Cultura e Desporto do Porto, E.M., S.A.

O último Clube do Livro da BD de 2024

Nenhum projecto, que se pretenda consistente e que queira garantir prevalência e dinâmica, pode prescindir de parcerias. 

Desde a abertura da Bedeteca, estabelecemos uma parceria de trabalho com o colectivo Goteira BD, o que quer dizer a Amargo, a Bia Kosta e a Rita Mota – as suas três mentoras – que tem pensado, promovido e organizado o Clube do Livro da BD.

Depois de três sessões dedicadas a livros específicos o desafio agora é sob o lema de Bring Your Own Book e numa sessão especial de fim de ano convida-se toda a gente a trazer uma BD para mostrar ao grupo presente.

Dizem elas na convocatória que : poderemos falar um pouco sobre o autor, o seu contexto, a história, os desenhos, os motivos pelos quais a deveríamos ler, ou podemos contar uma história completamente diferente. E depois poderemos propor ideias para o funcionamento do Clube em 2025,

O convite promete snacks reforçados (a sessão acabará entre as 20:30 e as 21h) e vinho! Venham venham e tragam coisas giras!

Inscrições limitadas através do instagram da @goteira ↗

 

 

11 de Dezembro de 2024

19h00

Na Bedeteca, Shopping Center Brasília.

André Lima Araújo em conversa na Bedeteca

No próximo sábado dia 30, temos um programa alargado na Bedeteca e na livraria e Galeria Mundo Fantasma: o Free Comic Book  Day, o terceiro Mercado do Contra e a inauguração da exposição Tinha coisas para te dizer, mas desenhei-asa BD de Daniela Duarte (16h00). Mas também a apresentação da colectânea onde se publica uma das últimas BD da autora: QEQTPQE?? (17h00)

E, depois de em Junho termos convidado o Jorge Coelho para uma conversa com os seus leitores, é agora a vez de convidarmos o André Lima Araújo.

Tal como o Jorge, o André tem desenvolvido uma já significativa carreira de trabalho no mercado norte americano e tem também algumas obras publicadas no mercado nacional (Man:Plus pela Kingpin Books e colaborações na colectânea Zona).

Actualmente o autor continua a trabalhar com o argumentista Rick Remender, e depois de A Righteous Thirst For Vengeance, desenha agora a serie The Sacrificers.

A conversa será pelas 18h00 no dia 30 de Novembro no espaço da Bedeteca e a lotação é limitada. E antes disso (entre as 15h30 e as 17h30) o autor estará disponível para autografar os seus livros.

Para conhecer mais sobre o autor: André Lima Araújo na Cronologia da Banda Desenhada Portuguesa ↗

Progama Geral
30 de Novembro de 2024

10h00 às 19h00

Mercado do Contra
Com Gil Soares, Abutre Creative Studio, Zez Zaz, Miguel Gonçalves / Nightmare Ink, Bedeteca, Gorila Sentado, Pedro Branco, Sama, Associação Tentáculo, André Caetano.

10h00 às 20h00

Free Comic Book Day
Livraria Mundo Fantasma

16h00

Inauguração da Exposição Tinha coisas para te dizer, mas desenhei-as, a BD de Daniela Duarte
Galeria de BD e Ilustração Mundo Fantasma

17h00

Apresentação da colectânea: QEQTPQE?? – Quem é que tu pensas que és pelo Colectivo Goteira BD
Bedeteca

18h00

Conversa com André Lima Araujo
Bedeteca

Tinha coisas para te dizer, mas desenhei-as — A BD de Daniela Duarte

Depois das vinte e cinco variações a partir da Alma de Penim Loureiro e Carlos Silva, encerramos o ciclo expositivo deste ano, na Galeria de BD e Ilustração Mundo Fantasma, com uma exposição da autora Daniela Duarte:

Tinha coisas para te dizer, mas desenhei-as.

A inauguração é às 16h00 do próximo dia 30 de Novembro, dia em que a Mundo Fantasma celebra mais um Free Comic Book Day e em que se realiza a terceira edição de O Mercado do Contra ↗ (Instagram).

A mais recente história da autora pode ser encontrada na antologia QEQTPQE?? (Quem é que tu pensas que és?) projecto e publicação do colectivo Goteira BD que vai também ter apresentação na Bedeteca pelas 17h00.

Daniela Duarte ↗ e Quem é que tu pensas que és? ↗ na Cronologia da Banda Desenhada Portuguesa.

30 de Novembro de 2024

16h00

Inauguração da Exposição na Galeria Mundo Fantasma

17h00

Apresentação de QEQTPQE?? na Bedeteca

Laboratórios Bibliotecários na Corunha

A Bedeteca participou na iniciativa Laboratórios Bibliotecários promovida pelo Ministério da Cultura do país vizinho, que decorreu na Corunha, entre os passados dias 6 e 8 de Novembro.

O tema geral deste encontro — que reuniu diversos bibliotecários do território espanhol – foi “Pensar as Bedetecas – Projectos para a sua criação e desenvolvimento”.

O formato escolhido foi o de realização de Laboratórios onde, a partir de um projecto elaborado e proposto aos participantes, se desenvolvia um trabalho de grupo que procurava melhorar a proposta e definir um modelo de organização para a implementação futura.

Após a abertura com uma conferência a cargo de Manuel Cranéo, actual director do festival Vinhetas sobre o Atlântico, seguiram-se três dias de trabalho intenso.

Os temas propostos e seleccionados pela organização foram os seguintes:

  • Fanzinetecas e criação de fanzine: oficina prática para criação de fanzine sobre genealogia
  • Bedeteca Universitária: plataforma para a dinamização e o uso educativo da Banda Desenhada
  • A BD dos nossos avós
  • Criação de um Artefacto (uma forma divertida e didáctica de visualizar o trabalho realizado por diferentes profissionais da BD)
  • Lendo BD nos currículos escolares
  • Aliança estratégica para um ecossistema da BD.

A Subdireção Geral de Coordenação Bibliotecária (do Ministério da Cultura) coordenou esta iniciativa em conjunto com as Bibliotecas Municipais da Corunha e mobilizou ainda oito mentores, especialistas em diversas áreas que acompanharam os trabalhos e foram dando pistas e desafios para a sua condução.

Mercado do Contra: A Terceira Edição

É nos corredores do Shopping Brasília que vamos encontrar pela 3ª. vez o Mercado do Contra no próximo dia 30 de Novembro.

Dizem os dicionários que os corredores são “passagens interiores por onde comunicam diversos aposentos de uma casa”.

Estamos, portanto, a convidar para a nossa casa. Para verem os nossos espaços, a Bedeteca, a livraria Mundo Fantasma e a Galeria associada.

E estamos a preparar um programa para receber bem: a começar por esta terceira edição de um mercado onde damos espaço aos autores, editores e outros cultores da BD. A open call já aí está ↗.

Mas o programa não se ficará por aqui: a Mundo Fantasma organiza o Free Comic Book Day, a Galeria terá nova exposição, haverá conversa e apresentações, encontro com autores e sessões de autógrafos.

Uma casa comum.

Tudo num programa que divulgaremos brevemente.

Mercado do Contra – Fanzines e BD

Dia 30 de Novembro das 10h00 às 19h00

A Open Call está aberta até dia 20 de Novembro. As vagas são limitadas.

Organização: Gorila Sentado / Bedeteca

Exposição: À Procura da BD de Abril

No ano em o 25 de Abril faz 50 anos a Assembleia da República aprova um dia de celebração da BD nacional.

O que é justo, porque a Banda Desenhada foi, ao longo destes 50 anos de democracia, uma linguagem artística longamente utilizada e empenhada na celebração dessa mesma democracia e dessa data libertadora. Amor com amor se paga.

Fomos, portanto, “À Procura da BD de Abril”, criando uma exposição que nos mostra uma série de publicações onde o 25 de Abril é celebrado ou onde os ventos libertários de Abril de algum modo contaminaram estética e tematicamente obras e autores.

Completa-se a exposição com a mostra de originais de um dos mais reputados autores nacionais, José Carlos Fernandes, e da sua obra “A Revolução Interior” com argumento da dupla João Ramalho Santos e João Miguel Lameiras, produzido por ocasião dos 25 anos do 25 de Abril mas ainda actual e recentemente reeditada (A Seita).

Inauguração dia 18 de Outubro pelas 21h30, assinalando o Dia Nacional da Banda Desenhada Portuguesa com intervenções de Eduardo Paz Barroso e Marco Mendes

Encerramento dia 9 de Novembro, pelas 16h00, com uma conversa conduzida por Pedro Cleto com os dois argumentistas da obra A Revolução Interior – À Procura do 25 de Abril: João Ramalho Santos (argumentista e critico de BD) e João Miguel Lameiras (editor e argumentista de BD).

Dia 9 de Novembro, pelas 16h00, realiza-se uma conversa conduzida por Pedro Cleto com os dois argumentistas da obra A Revolução Interior – À Procura do 25 de Abril: João Ramalho Santos (argumentista e critico de BD) e João Miguel Lameiras (editor e argumentista de BD) na sede da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto, Rua Rodrigues Sampaio, 140, 4000-424 Porto.

A exposição é visitável até esse dia.

Organização Bedeteca / Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto

Apoio A Seita CRL

Doações — Um Breve Relance

A Bedeteca Comicarte, promovida pela Comissão de Jovens de Ramalde nos anos 90, constituiu um acervo de livros graças aos apoios que, na altura, foram conseguindo com a doação de editoras como a Asa, a Edinter, a Meribérica /Liber, a Editorial Futura, a Verbo etc.

O acervo que a Bedeteca hoje já disponibiliza — herdado do trabalho desenvolvido nessa altura — não estaria disponível se não tivesse existido essa colaboração e boa vontade, e o relançamento do projeto passa, portanto, também por reativar essa solidariedade e interesse por parte das editoras nacionais.

Estamos seguros de que, como nós, também estas estarão convictas que a leitura pública é sempre a base do crescimento dos hábitos de leitura. E que o crescimento dos hábitos de leitura leva ao crescimento de um público interessado, que desenvolve o seu gosto e as suas preferências e contribui para o crescimento do mercado e do consumo. Em nosso entender, a disponibilização de títulos de banda desenhada não será excepção.

Algumas destas editoras são já nossas parceiras neste objectivo.
Já aderiram, portanto, a este desafio.
E porque consideramos que nada melhor do que a visão do editor, pedimos aos seus responsáveis que escolhessem uma peça — um livro — de entre aqueles que doaram e que desenvolvessem num curto texto aquilo que lhes parece de realçar nessa publicação.

Deixamos aqui alguns dos testemunhos já produzidos:

Para uma “bedeteca” é fundamental existir algum conteúdo que seja meta-conteúdo de BD, reflexão sobre a BD ou mesmo, reflexão sobre as reflexões sobre a BD. E quando esse conteúdo vem sob forma ele próprio de BD, melhor ainda! “Em Busca do Tintin Perdido”, do brasileiro Ricardo Leite”, que editámos no nosso país, é exactamente isso, uma viagem semi-autobiográfica pela vida, pelas experiências, pela imaginação do autor, reflecte sobre uma vida a reflectir sobre BD, as suas personagens, autores e obras. E para mais, magnificamente desenhado, um livro que faz surgir o panorama da BD das últimas décadas de uma maneira tremendamente viva.

—José Hartvig de Freitas, A Seita


Livro: L’Orso Borotalco e la Bambola nuda italiana.
Este livro obedece a um ritmo sequencial de 4, 3 e 1 imagem, pontuado por diálogos entre um jarro e um copo ao longo do arco de um dia, segundo uma linguagem entre a banda desenhada e o cartoon.

—Diniz Conefrey, Quarto de Jade


Escolho o “Cantiga d’Erasmo”.
Este fanzine foi elaborado no outono de 2018, por ocasião de ter sido artista convidada na YCON Paris desse mesmo ano. Não querendo aparecer sem algo inédito, elaborei uma história curta sobre dois estudantes de erasmus em viagem de fim-de-semana que se perdiam do seu grupo. Os dois rapazes têm agora de voltar sozinhos para a cidade onde se encontram a estudar, descobrindo coisas que têm em comum e partilhando algumas dores pelo caminho. Foi auto-publicada por mim em inglês e português. O fanzine recebeu posteriormente uma menção de bronze no 13th Japan International Manga Award em 2020.

—Daniela Viçoso


Pedem-me que escreva um parágrafo sobre um dos livros por mim doados, sobre o que nele gosto. Pois bem, não vou escrever sobre um livro mas antes sobre uma colecção: “Príncipe Valiente”, que tive de publicar em espanhol – sim, porque mais do que doador, sou o editor dela – por não ter mercado em português. São 17 volumes com mais de 1700 pranchas da melhor banda desenhada de sempre. A melhor, nem mais nem menos! É a edição com que sonhei durante mais de vinte anos, a edição que, não importava em que língua fosse, ansiava que algum editor fizesse; uma edição que reproduzisse os desenhos do seu autor com nitidez cristalina. Quando descobri que ninguém a fazia porque os detentores dos direitos de autor não tinham em boas condições o material que o permitisse, compreendi que teria de ser eu a fazê-la, restaurando o material existente. E, numa aventura que aqui não há espaço para contar, consegui iniciá-la! Depois, demorei 15 anos a completá-la, tive de lutar contra ventos, marés e ogres, mas consegui! Saiba o leitor, portanto, que entrar na obra imortal de Hal Foster pela primeira vez através da minha edição é quase pisar terreno sagrado.

—Manuel Caldas, Libri Impressi


Para Além dos Olivais – Um livro que reúne 12 autores que abordam o bairro dos Olivais na altura da comemoração dos 600 anos de Santa Maria dos Olivais. São 12 visões sobre 12 espaços como o aeroporto, os “perdidos e achados da PSP, o Shopping Center… em que destaco os trabalhos de Ana Cortesão e Luís Lázaro, sem querer desvalorizar as outras belas peças. Este livro tem um significado pessoal, saiu em 2000, ano em que entrei para a Bedeteca de Lisboa e uma das primeiras tarefas era chatear o Designer que estava atrasado na entrega do livro. Atrasado!? Leiam a BD do Nuno Saraiva, coordenador da antologia, a relatar os seus míticos atrasos deste trabalho, é hilariante, se for verdade, que ele tenha conseguido percorrer a construção, a celebração e a ressaca da Expo 98. Na BD, a auto-depreciação de Saraiva é balançada com a generosidade de João Paulo Cotrim. Ouve-se perfeitamente a voz de Cotrim… Mas… espera lá… é possível ouvir vozes em  BDs? Nesta sim, tal como na página 141 de “Alguns dias com um mentiroso” de Davodeau mas isso já é outra história…

—Marcos Farrajota, Bedeteca de Lisboa


Sabe-se lá porquê mas há uma década, Tiago da Bernarda, um estagiário jornalismo (e sem formação em desenho) fartou-se de ser explorado pelo sistema falido da imprensa social e começou a fazer tiras de crítica a discos de música portuguesa, criando um alter-ego felino, o Gato Mariano, e publicando em plataformas digitais ou em fanzines auto-editados. A Chili Com Carne juntou toda essa produção num “luxuoso” livro que se tornou num compêndio para quem gosta de música. Do Punk ao Hip Hop, dos GNR aos 10 000 Russos, os discos são arranhados ou acariciados pelo Gato. Depois do livro ter saído, o bichano começou a miar para outras bandas mais “fashion”, políticas e sociais, para além de ter arranjado um sobrinho pós-irónico, o Bruninho, para expor as contradições geracionais. Alguém se digne a comemorar os 10 anos de existência deste gato desbocado!

—Chili Com Carne


Quando este livro saiu um suposto crítico de BD não entendia porque havia publicado esta obra em capa dura, ao que parece ela não era digna de tal. Ó feliz ironia, o que diria esse senhor dos dias de hoje, em que se edita os maiores horrores estéticos em desastres ecológicos de capa dura, a cores e papeis grossos? Que diria essa pessoa se soubesse que o Garth Ennis, em Helsínquia, disse-me que não só estava admirado pela edição como lembrava-se da qualidade do trabalho? Christopher Webster auto-publicou o “Malus” em quatro números num fanzine. Ele, Janus e Mike Diana foram a razão que me fizeram criar a MMMNNNRRRG. Sabia que as suas obras únicas iriam desaparecer por serem publicações marginais. Webster que participou em projectos comerciais – há pouco tempo descobri que ele tinha sido publicado em Portugal “Astrologia para principiantes” (Bertrand; 1997) – incluindo uma BD para a grande Kodansha, fartou-se dos formatos pré-estabelecidos das indústrias e realizou este “Malus”, que é uma terra-de-ninguém. Demasiado comercial para o “underground”, demasiado bizarro para o “mainstream”, é um conto de fadas que come pedaços de sci fi, que digere Mangá e regurgita super-heróis para voltar a comer uma “sucessão de factos biológicos”. Merece uma capa dura, claro que sim! E o verniz localizado, by the way!

—Marcos Farrajota, editor da MMMNNNRRRG (2000-20)