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Exposição — Variantes: Uma Homenagem à BD Portuguesa

Variantes

Ilustração de Pedro Morais.

Variantes

Começa desde logo com a descoberta de Bordallo Pinheiro como precursor de uma aventura com muitos nomes a destacar a partir daí. Mesmo enfrentando a difícil penetração num mercado que teima em não se abrir, apesar do reconhecimento internacional e prémios.

«Não nos interessa aqui elaborar uma análise crítica ou uma contextualização histórica profunda, mas não resistimos a fazer uma breve passagem pela sequência temporal do que tem vindo a luz em Portugal nesta arte, desde a célebre e inicial obra de Bordalo (…), e aquela que é seguramente uma das mais brilhantes obras nacionais na banda desenhada: Tu és a Mulher dos Meus Sonhos, Ela a Mulher da Minha Vida», explica-se no texto introdutório.

Mais do que um repositório histórico, esta proposta de homenagem é ela própria uma re-leitura, através de um percurso pelos autores e obras emblemáticas do passado, cujas pranchas escolhidas são recriadas por alguns dos desenhadores mais representativos das gerações actuais.

Autores homenageados

Ana Cortesão, André, António Jorge Gonçalves, António José Simões, António Resende Dias, Arlindo Fagundes, Augusto Mota, Carlos Botelho, Eduardo Teixeira Coelho, Fernando Bento, Fernando Relvas, Isabel Lobinho, Janus, João Fazenda, Jorge Magalhães, José Carlos Fernandes, José Luís Duarte, José Paulo Simões, José Ruy, Júlio Pinto, Júlio Resende, Luís Louro, Miguel Rocha, Nelson Dias, Nuno Artur Silva, Nuno Saraiva, Pedro Brito, Raphael Bordalo Pinheiro, Raul Correia, Roussado Pinto (Edgar Caygill), Sérgio Luiz, Stuart de Carvalhais, Tito, Victor Mesquita e Vítor Péon.

Autores das homenagens

André Caetano, André Pereira, Daniela Duarte, Fábio Veras, Francisco Nunes, Gonçalo Varanda, Jorge Coelho, José Smith Vargas, Madalena Abreu aka Hada, Marco Mendes, Marta Teives, Paula Cabral, Ricardo Baptista, Rita Alfaiate e Sofia Neto.

Textos

André Azevedo, André Oliveira, Isabel Carvalho, João Miguel Lameiras, João Paulo Paiva Boléo, João Ramalho Santos, José Hartvig de Freitas, Júlio Eme, Marco Mendes, Margarida Mesquita, Miguel Coelho, Pedro Cleto e Rui Cartaxo.

Edição integrada num projecto de A Seita no âmbito do programa Garantir Cultura.

Apoio à Exposição da Direcção Regional de Cultura do Norte/Ministério da Cultura.

Local

Galeria Mundo Fantasma

Inauguração

Sábado, 25 de Novembro de 2023, pelas 17h00

Autores

A confirmar

Por detrás das vinhetas desenhadas

Colectânea de entrevistas com autores portugueses actuais
Conhecer melhor as pessoas possibilita uma nova abordagem às obras que criam

A conhecida expressão “espaço branco [ou vazio] entre as vinhetas” define de forma extremamente feliz a magia desta arte narrativa que, na sua essência, vive da forma como o leitor preenche mentalmente esse espaço para sequenciar a narrativa, ‘adivinhando’ o que que decorre entre cada duas vinhetas.
Tentando fazer uma transposição do conceito, posso escrever que o livro “Conversas de Banda Desenhada” tenta preencher o que existe por detrás das vinhetas, ou seja, dar a conhecer um pouco de quem são os criadores de histórias aos quadradinhos.
Não sendo caso único nem original – são famosas, por exemplo, as longas conversas de Numa Sadoul com Hergé ou Franquin – é uma das primeiras vezes que tal é feito de forma continuada com autores portugueses, não em conversas muito extensas, como no caso dos livros de Sadoul, mas transcrevendo em duas ou três dezenas de páginas encontros relativamente breves, mas ricos na abordagem ao quotidiano e ao processo criativo de alguns dos mais marcantes autores nacionais de banda desenhada da actualidade.
A iniciativa partiu de João Miguel Lameiras e Carina Correia, que conversaram com Filipe Melo/Juan Cavia, Joana Afonso, Jorge Coelho, Luís Louro, Marco Mendes, Nuno Saraiva, Osvaldo Medina e Paulo Monteiro.
O que os atraiu para a banda desenhada, o seu posicionamento em relação a esta arte e à realidade portuguesa, o local, horário e forma de trabalhar, as suas influências, a génese das obras mais significativas, os projectos em mão e diversas curiosidades, têm agora resposta, nalguns casos permitindo até uma nova abordagem ou visão das obras já lidas e tornando mais reais e humanos os nomes que nos habituámos a ver impressos nos livros, mas que soavam impessoais e distantes pelo total desconhecimento que temos das pessoas.
Esta edição de A Seita, co-financiada pelos programas Compete 2020, Portugal 2020 e o Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional, inclui igualmente reproduções de pranchas dos diversos entrevistados e ilustrações, nalguns casos inéditas, como é o caso dos desenhos feitos por cada autor, representando-se a si próprio e aos entrevistadores, de alguma forma, passando-os e também a si próprios para ‘o lado de cá’ das vinhetas.

Conversas de Banda Desenhada
Carina Correia e João Miguel Lameiras
A Seita
184 p., 17,90 €


Escrito Por

F. Cleto e Pina

Publicação

Jornal de Notícias

Futura Imagem

Meio século aos quadradinhos

Editores e autores portugueses tentam mostrar-se em Angoulême

Como todos os anos desde há meio século, com excepção dos anos da pandemia, o último fim-de-semana de Janeiro acolhe mais uma edição do Festival de BD de Angoulême, o mais mediático e representativo do velho continente.
Durante quatro dias, a pequena cidade do sudoeste de França é invadida por dezenas de milhares de fãs dos quadradinhos que na sua peregrinação anual duplicam a população local em busca de livros, autógrafos e autores ou simplesmente para participarem da grande festa da BD, mesmo que, progressivamente o festival se tenha afastado das propostas mais comerciais e das preferências do grande público.
Isso reflecte-se nas listagens de nomeados para os vários prémios e nas exposições propostas. Este ano, o maior destaque vai para a retrospectiva dedicada à canadiana Julie Doucet, distinguida em 2022 com o Grande Prémio da cidade pelo conjunto da sua obra, uma autora subversiva e provocadora, que fez o seu percurso nos fanzines e em publicações underground, questionando a identidade feminina em obras auto-biográficas, com um toque surreal.
Os mundos fantásticos de Philippe Druillet e as histórias realistas da costa-marfinense Marguerit Abouet, marcam um absoluto contraste temático em mais duas mostras da edição deste ano que também propõe uma exposição imersiva sobre a cor, evocando uma das exposições do primeiro festival, em 1974, “A estética do preto e branco na BD”.
Atento ao crescimento exponencial do mangá, um segmento de mercado que triplicou entre 2019 e 2021 e é já o mais importante em França, Angoulême preparou três exposições subordinadas a esta temática, as monográficas consagradas a Rioichi Ikegami, o veterano criador de “Crying Freeman”, e a Junji Ito, mestre do mangá de horror, e uma terceira sobre a série “Ataque dos Titãs”.
Para além das exposições oficiais, conferências, apresentações e sessões de autógrafos e dos enormes pavilhões insufláveis onde funciona a Feira do Livro, ao virar de cada esquina, em lojas, restaurantes e até na catedral, é possível descobrir outras mostras e apreciar belos originais.
Mas o festival continua a ser um local de encontro de editores para compra e venda de direitos. É verdade que com as novas tecnologias, “a maior parte dos negócios já estão fechados”, revelou ao Jornal de Notícias João Miguel Lameiras, um dos sócios da cooperativa editorial A Seita, que mesmo assim leva marcadas “4 ou 5 reuniões, para negociar títulos para 2024, pois o programa de 2023 já está carregadíssimo”. Com muitos autores portugueses no catálogo, a intenção “é mostrar a produção nacional, mas não está nada apalavrado”, conclui.
Joana Afonso, actualmente a desenhar uma versão de “O Auto da Barca do Inferno”, a publicar este ano, confessa que devido ao muito trabalho que tem tido, vai “numa de turista”, mas “com trabalhos na mala para mostrar, se se proporcionar”.
O mesmo propósito leva também a Angoulême Filipe Abranches, autor e editor da antologia “UMBRA”, integrado “numa comitiva informal de portugueses encabeçada pelo Paulo Monteiro [director do Festival de Beja]”. Recorda Angoulême como “um espaço de reencontro de velhos amigos da BD”, onde pretende ter “reuniões informais”, uma vez que a “UMBRA” tem que se mostrar, procurar a sua internacionalização e angariar novos autores estrangeiros”. Revela ainda ter a sua “novela gráfica “Jungle!!!” à venda no stand da Breakdown Press” e que dará autógrafos “na edição polaca – “Selwa!!!” – no stand da Timof Comics, o editor que mais tem editado BD portuguesa no mundo”.
Finalmente, Ricardo Magalhães, da Ala dos Livros, pensa que “apesar das novas tecnologias é importante visitar anualmente um ou dois certames internacionais ligados ao livro.” Por isso, “a ida a Angoulême vai ser uma oportunidade para falar com colegas internacionais e aferir o que pensam dos desafios que se colocam à edição, nomeadamente com o aumento generalizados dos custos”. Revela que recebeu “nas últimas semanas diversos pedidos de reunião de novos contactos editoriais” e que leva “as obras dos autores nacionais que publicamos para divulgar e tentar que sejam publicados noutras línguas”. E termina com uma mágoa: “enquanto em Portugal são os editores e/ou os autores a mostrar os seus trabalhos, há países cujos autores são representados em Angoulême por instituições oficiais que têm mecanismos de apoio e divulgação à edição no estrangeiro”.


Escrito Por

F. Cleto e Pina

Publicação

Jornal de Notícias

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