Categoria: Recortes

Autores portugueses mostram pranchas em Angoulême

Começa dia 28, quinta-feira, o 27º Festival International de la Bande Dessinée d’Angoulême, a mais importante manifestação europeia dedicada aos quadradinhos. O destaque vai para as mostras dedicadas a Blutch, Grande Prémio de 2009 e presidente do Festival, e às populares séries Túnicas Azuis, Léonard e o manga One Piece. O programa, diversificado, tem também lugar para autores experimentais, como Neaud ou Fabio, e para as colectivas Desenhadores de Humor, BD Russa ou 100 por 100, que revela como uma centena de autores reproduziu ou sequenciou uma das pranchas clássicas do Museu da BD local.

Durante quatro dias, entre os mais de 200 mil visitantes esperados na pequena cidade francesa, haverá alguns portugueses, de portfólio na mão, para mostrarem aos editores o seu trabalho. É o caso de Filipe Pina e Filipe Andrade, autores de “BRK” (ASA), cuja editora “tem reuniões e contactos marcados para colocar o livro no mercado estrangeiro”. Ao JN revelaram que levam também uma BD que Pina desenhou “para a Marvel sobre o Iron Man” e projectos novos, entre os quais “Senhores do Fogo”, sobre “um bombeiro que no seu primeiro incêndio, se depara com um monstro de fogo que só ele consegue ver e lhe obedece”.

Também Rui Lacas, que em 2006 conseguiu em Angoulême o contrato para publicar na Paquet “Merci patron”, está de regresso a França, para mostrar “Asteroid Fighters” (ASA), um projecto de super-heróis bem recebido pela crítica nacional e propostas para uma novela gráfica. Acompanham-no dois outros membros do Lisbon Studios, João Tércio, que leva os originais do álbum que a El Pep vai editar no nosso pais em Maio, e Ricardo Cabral, para mostrar “Israel Sketchbook” (ASA) e tentar concluir as negociações para desenhar um álbum para uma editora francófona.


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F. Cleto e Pina

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Jornal de Notícias

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Dois diabretes octogenários

Se é normal associarmos o nome de Hergé a Tintin, a sua obra maior e uma das bandas desenhadas mais celebradas de sempre, o autor criou outros heróis, entre os quais Quick e Flupke, que há exactamente 80 anos eram vistos pela primeira vez em papel impresso.

Tratava-se de dois pequenotes de Bruxelas – revisão ficcionada da própria infância de Hergé – juntos pela amizade, pela vontade de experimentar coisas novas e pela especial queda para provocar (pequenos) desastres.

A estreia ocorreu no “Le petit Vingtiéme” de 23 de Janeiro de 1930, pouco mais de um ano depois de Tintin, e as diferenças entre as duas criações eram significativas. Enquanto o repórter era (viria a ser…) longas aventuras, viagens, exotismo, justiça e ordem, Quick e Flupke não saíam da sua Bruxelas natal e viviam um quotidiano igual ao dos outros miúdos mas suas partidas provocavam o caos e desesperavam o Guarda 15, vítima recorrente das diabruras em duas pranchas. O humor em Quick e Flupke, mais tarde decalcado em Tintin para os gags com Haddock ou Tournesol, raia muitas vezes o nonsense, pode ter conteúdos sociais ou politizados (como quando satirizam Hitler e Mussolini), representa-os como diabos (literalmente) e levava-os mesmo a chocar com os limites físicos das vinhetas ou a interagir com o desenhador. E se o traço é o mesmo de Tintin, sente-se uma maior liberdade criativa e o privilegiar da eficácia estética e narrativa.

Com cerca de 250 pranchas publicadas (de forma irregular) durante uma década, Quick e Flupke tiveram uma nova vida nos anos 80, em versão animada e em álbuns redesenhados e coloridos pelos Estúdios Hergé, a partir das histórias originais. Esta última edição foi lançada em Portugal pela Verbo, com os heróis rebaptizados como Quim e Filipe.


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F. Cleto e Pina

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Jornal de Notícias

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Mickey Mouse, 80 anos aos quadradinhos

Há 80 anos, fazia a sua estreia na banda desenhada, em tiras diárias de carácter humorístico publicadas nos jornais, aquele que possivelmente é o rato mais famoso e conhecido de todos os tempos, Mickey Mouse.

Tudo começara cerca de um ano antes, com o filme animado “Steamboat Willie”, estreado a 28 de Novembro de 1928. Desde então, Mickey já protagonizara uma quinzena de desenhos animados, cujo sucesso comercial levaram a King Features Syndicate a sondar Walt Disney quanto à possibilidade de o transpor para tiras diárias.

Uma vez o acordo alcançado, Ub Iwerks, que participara na criação gráfica do rato e animara a curta-metragem inicial, foi encarregado de desenhar os quadradinhos, passados a tinta por Win Smith, a partir de argumentos do próprio Walt Disney. A primeira tira, publicada a 13 de Janeiro de 1930, intitulada “He’s going to learn to fly like Lindy.”, mostrava Mickey deitado num monte de feno a sonhar com viagens de avião, numa alusão a Charles Lindbergh, que fizera o primeiro voo transatlântico sem escalas três anos antes. Era a primeira de uma série de tiras que adaptavam livremente “Plane Crazy”, um filme da “pré-história” de Mickey.

De início auto-conclusivas, embora com sequência, e de carácter puramente humorístico, as histórias aos quadradinhos bebiam na animação muito do seu dinamismo e do seu espírito.

Mas poucas semanas decorridas, Iwerks, não sentindo reconhecimento por uma colaboração com mais de uma década, abandonaria os estúdios Disney. Floyd Gottfredson assumiria a BD em Abril desse ano e ficaria na história como “o desenhador” de Mickey por excelência, após desenhar mais de 15 mil tiras e pranchas dominicais, até se reformar, em 1975. Nelas, dotou Mickey com um espírito mais decidido, empreendedor e aventureiro e introduziu muitos dos heróis secundários que com ele geralmente contracenam , criando outros como Morty e Ferdie (Chiquinho e Francisquinho) ou Phantom Blot (Mancha Negra).

Mantendo algum paralelo em relação à animação, em que manteve o tom mais divertido, na BD Mickey evoluiu graficamente aproximando-se mais da figura humana, cresceu e desenvolveu-se, em histórias policiais, de mistério, aventura e ficção-científica, participou no esforço de guerra contra os nazis, encarnou personagens clássicas e históricas, reviveu filmes célebres, experimentou um sem-número de profissões, prolongando o sucesso dos anos 1930, considerados a sua idade de ouro nos comics. Para isso contribuiriam, entre muitos outros, grandes artistas como Al Taliaferro, Ted Osborne, Paul Murry, Romano Scarpa ou Giorgio Cavazzano.

Hoje, 80 anos depois, a banda desenhada Disney, cancelada em diversos países, há muito que deixou os seus tempos áureos, surgindo como raras excepções a Itália ou os países nórdicos (Finlândia, Dinamarca, Suécia). Talvez por isso, em Dezembro de 2008, a companhia anunciou a sua entrada na BD digital, com meia centena de histórias produzidas em Itália, para iPhone, iPod e PSP. Possivelmente a melhor forma de transmitir o humor, a aventura e a magia que Mickey levou a tantos leitores, a uma nova geração com hábitos diferentes mas a mesma necessidade de sonhar.

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Histórias Memoráveis

Entre as quase 30 mil histórias de Mickey escritas e desenhadas ao longo de oito décadas, em especial nos EUA, Itália, Dinamarca e França (mas também no Brasil), muitas há que ficaram na memória dos que as leram. Eis três exemplos provenientes das tiras diárias, da revista mensal e da escola italiana.

Mickey Mouse in the Death Valley

Floyd Gottfredson, Walt Disney, Win Smith

1930

A primeira BD com a marca de Gottfredson, marcada pela entrada de Clarabelle Cow (Clarabela), Horace Horsecollar (Horácio),  HYPERLINK “http://en.wikipedia.org/wiki/Black_Pete” o “Black Pete” Black Pete (João Bafo-de-Onça) e o pérfido advogado Sylvester Shyster (Zé Ratão) e pela temática aventurosa que leva Mickey até ao deserto em busca de um tesouro.

The Mystery of the Double-Cross Ranch

Paul Murry

1951

Mickey e Pateta fazem uma visita ao rancho de Uncle Mortimer, um tio da Minnie, para investigarem quem anda a roubar-lhe as vacas, numa aventura ritmada, que combina um registo western e policial, com humor e drama.

Topolino e la collana Chirikawa

Romano Scarpa, Rodolfo Cimino

1960

A procura de um valioso colar indígena, com estranhos poderes, é o mote de uma das primeiras e mais famosas histórias escritas e desenhadas pelo mestre italiano Romano Scarpa, servida pelo seu traço moderno e dinâmico.

Curiosidades

Em 2008, a tira de 29 de Janeiro, autografada por Walt Disney, foi leiloada por quase 55 mil dólares (38 000 €).

Outros nomes de Mickey

Esteve para se chamar Mortimer, mas por sugestão da mulher de Disney seria baptizado como Mickey Mouse. Mas se este é o nome porque é conhecido na maior parte dos países, outras há que o conhecem de forma diferente:

Topolino (Itália)
Miki Maus (Croácia)
Miki-Hiir (Finlândia, Estónia)
Micky Maus (Alemanha)
Miki Tikus (Indonésia)
Peliukas Mikis (Lituânia)
Myszka Miki (Polónia)
Miki (Sérvia, Eslovénia)
Musse Pigg (Turquia)
Miki Fare (Ucrânia)
Chuột Mickey (Vietname)

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Lançamentos ASA 2010

A ASA prevê lançar no nosso país durante 2010 os primeiros tomos de “Dragon Ball”, de Akira Toryiama (ainda no primeiro semestre), “Yu-Gi-Oh”, de Kazuki , e “AstroBoy” e “A Princesa e o Cavaleiro”, ambos criações de Osamu Tezuka, o “pai” do manga (BD japonesa) moderno. Até agora a editora apenas lançara manga de origem norte-americana, dada a grande dificuldade em negociar com as editoras nipónicas tiragens tão pequenas como são as portuguesas. Conforme revelou ao Jornal de Notícias a Drª Maria José Pereira, responsável pelo departamento de BD da ASA, estas edições seguirão o formato original “Tankobon”, a preto e branco, com cerca de 200 páginas por volume e sentido de leitura japonês, ou seja, do fim para o princípio e da direita para a esquerda, e permitirão finalmente descobrir em português títulos relevantes de um género que chegou ao Ocidente há cerca de 20 anos e que detém quotas de mercado na ordem dos 40 % na França, Espanha, Alemanha ou Estados Unidos.

Mas não só de manga viverá o catálogo de BD da editora, que já este mês, com “Mú”, acolherá uma nova colecção de Corto Maltese, a grande criação de Hugo Pratt, a cores, com novas introduções e num formato ligeiramente inferior ao habitual. Ainda sem data definida continua o início da edição integral das aventuras de Tintin, de Hergé, com nova tradução.

Contrariando uma das principais críticas desde sempre feitas à edição de BD em Portugal, a ASA propõe-se concluir este ano pelo menos quatro das séries que tem em curso: “Passageiros do Vento”, de Bourgeon (com a chegada às livrarias, ainda em Janeiro, do sétimo volume “A menina de Bois-Caiman #2”), “Bórgia”, de Jodorowsky e Manara (com dois tomos em 2010), “A Teoria do Grão de Areia – vol. 2”, de Schuiten e Peeters, e “Murena”, de Dufaux e Delaby, e continuar com algumas séries do seu catálogo como Lucky Luke ou Dilbert.

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Jap Xpress leva cultura japonesa à baixa do Porto

Decorre de hoje até domingo o Jap Xpress, em diversas lojas das ruas do Bonjardim e do Bolhão, na baixa portuense, entre as quais a Central Comics (especializada em BD) e a Press Play (jogos), que organizam o evento.

A cultura nipónica estará em destaque através da comida, música, oficinas de Iniciação aos Kanji (escrita japonesa) ou a projecção do filme “Evangelion 1.01”. Haverá concursos de ilustração e dança Shin Chan e um torneio de videojogos.

No sábado, com a presença de Gothic Lolitas e Maid e Butler Caffé e da banda rock Trabalhadores do Comércio, será lançado o fanzine “All Girlz’ Banzai” (16h), com mangas de Joana Lafuente e Selma Pimentel, e terá lugar o concurso de Cosplay (16h30), em que os participantes se vestem e imitam as suas personagens de manga ou anime preferidas.

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BD portuguesa no feminino

Nas duas últimas décadas, a banda desenhada viu despontar muitos talentos femininos. O JN apresenta-lhe algumas das portuguesas que optaram pela BD como forma de expressão e que poderão marcar os próximos anos.

Na verdade, durante décadas a 9ª arte foi considerada tarefa de homens, possivelmente devido à prevalência dos géneros cómico e aventura, destinadas a um público – masculino – juvenil e à especificidade do labor quase eremítico.

Nos anos 60 do século passado, o movimento undeground nos Estados Unidos – e depois o Maio de 68 na Europa – modificaram um pouco esta situação, tendo o surgimento de temáticas mais intimistas e de romances desenhados provocado uma (quase) revolução a partir dos anos 1990, ao nível autoral e (da adesão) das leitoras. Isto no Ocidente, pois no Japão, a profusão de temáticas e públicos-alvo já tinha dado lugar relevante às mulheres na produção de manga.

Em Portugal, em que houve algumas percursoras (ver caixa), os anos 90 também fizeram despontar diversas autoras, muitas delas com ligações ao design ou à arquitectura, visível no tratamento gráfico dado a temáticas em voga como a autobiografia ou a crónica quotidiana, que publicavam em edições independentes ou, pontualmente, em álbuns a solo, que são a memória palpável do talento de Ana Cortesão, Vera Tavares, Ângela Gouveia, Maria João Worm ou Alice Geirinhas.

Em anos recentes, muitas daquelas que se expressam (também) em BD, têm como principal referência gráfica (e temática…) os manga japoneses, como Catarina Sarmento (com o webcomic “Children of the night”), Ana Freitas (que desenhou o “primeiro manga português”…) ou Catarina Guerreiro, Sara Martins, Telma e Tânia Guita (editoras do “Luminus Box”), elegem a Internet para divulgarem a sua arte, participam (e muitas vezes ganham) concursos de BD, nacionais e estrangeiros. A exemplo da geração que as precedeu, estão confinadas à auto-edição ou à publicação em fanzines ou (mini-)álbuns independentes, geralmente colectivos, nem sempre (só) em Portugal.

Outros nomes (recorrentes) são Andreia Rechena (que se auto-edita em “Reject”) e que com Sónia Oliveira, Inês Casais, Ana Biscaia, Selma Pimentel ou Joana Lafuente, tem marcado presença no “All-Girlz” (publicação só com autoras, cujo tomo Banzai, será lançada no próximo dia 9, na Central Comics, no Porto). As duas últimas estão já noutro patamar, pois Joana Lafuente aplica as cores na versão em BD dos mediáticos “Transformers” para a editora norte-americana IDW, e Selma Pimentel tem em curso diversos projectos para o estrangeiro.

No atelier Toupeira, origem do Festival de BD de Beja e do fanzine “Venham +5”, despontaram Maria João Careto e Susa Monteiro, autora do recente “A Carga” e um dos mais promissores talentos da 9ª arte nacional. Teresa Câmara Pestana, com mais anos de militância nos quadradinhos e influências underground, divulga a sua arte – e a daqueles que com ela comungam ideais e preferências estéticas – no “Gambuzine”, tendo também editado a solo, “Postais de Viagem”.

Quantas destas criadoras conseguirão afirmar-se, num mercado limitado como o nosso ou no (grande) mercado global que as novas tecnologias aproximam, só o tempo permitirá dizer. Para já, cabe-nos desfrutar o seu talento e criatividade.

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As percursoras

É ponto pacífico apontar Amélia Pae da Vida (1900-1997) como a primeira desenhadora portuguesa de BD, nos anos 20 do século passado. Depois dela, sucederam-se entre diversas outras, Raquel Roque Gameiro, Guida Ottolini, Bixa (Maria Antónia Cabral) ou Maria Alice Andrade Santos, em especial em títulos como “Lusitas”, “Menina e Moça” ou “Fagulha”, lançadas a partir de 1943 pela Mocidade Portuguesa Feminina.

A abertura proporcionada pelo 25 de Abril, possibilitou novas abordagens também nos quadradinhos, destacando-se então Isabel Lobinho, hoje pintora, adaptando Mário Henrique Leiria ou em produção própria de cariz erótico, e também Catherine Labey (de origem francesa mas há muito radicada em Portugal), que criou quadradinhos de ficção e adaptou temas infantis, populares ou históricos, ainda no activo nas áreas da tradução, legendagem ou aplicação da cor.

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Boule e Bill, 50 anos duma amizade indestrutível

A história da amizade de um rapazinho e o seu cão é a base dos gags de Boule e Bill, criados por Jean Roba há 50 anos na revista Spirou, e que hoje em dia continuam pelo traço de Laurent Verron.

Foi na véspera de Natal, no número 1132 da revista belga Spirou, que fizeram a sua primeira aparição Boule, o rapazinho ruivo de 6 anos, e Bill, o seu cocker spaniel, numa data perfeitamente ajustada para uma banda desenhada humorística, terna e ingénua, baseada na infância e na amizade. A história curta, intitulada “Boule et les Mini-Requins”, mostrava os dois com os traços menos arredondados do que aqueles que lhes conhecemos hoje, característicos da escola de Marcinelle.

A sua publicação regular só começaria em Setembro de 1960, ao ritmo de uma prancha semanal, com a acção a decorrer quase sempre em casa, no bairro ou na escola e a galeria de personagens composta essencialmente pelos pais de Boule, os seus amigos, alguns vizinhos, os cães companheiros de Bill e, mais tarde, a tartaruga Caroline. Com eles, com um humor, ternura e ironia mas sem maldade, Roba, que começou na BD como assistente de Franquin, demonstrou um enorme sentido de observação e uma invulgar capacidade de transportar para o papel as mil e uma (pequenas) peripécias do quotidiano, o que rapidamente fez da série uma das mais apreciadas pelos leitores da Spirou e permitiu que perdurasse ao longo de cinco décadas.

Nem a morte do seu criador, em 2006, impediu a sua continuação, uma vez que em 2003 ele já a tinha entregue a Laurent Verron, seu antigo assistente, que desde então tem assegurado o desenho, em colaboração com diversos argumentistas.

Com passagem discreta por Portugal, nas revistas Jacaré, Spirou, Jornal da BD e Mundo de Aventuras, Boule e Bill venderam já cerca de 30 milhões de álbuns, foram homenageados pelos correios belgas (1999) e franceses (2002), ilustram uma das paredes de Bruxelas, têm uma estátua em Jette e tiveram várias versões animadas, a mais recente das quais, fiel ao original, foi exibida há pouco tempo na RTP2, rebaptizada Bruno e Bill.

Os 50 anos de Boule e Bill ficam marcados pela edição do 32º álbum das suas aventuras, “Mon meilleur ami”, e de “Roba Illustrateur” (Dargaud), que aborda outras facetas do talento do seu criador.

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Regina Pessoa: “O Douro é o País das Maravilhas!”

Autora da premiada animação História Trágica com Final Feliz, Regina Pessoa acaba de fazer uma incursão pela BD em que associa a origem do Vinho do Porto à história de Alice no país das Maravilhas.

No passado sábado, esteve na Galeria Mundo Fantasma, no Shopping Brasília, para inaugurar uma mostra (patente até 24 de Janeiro) de originais do livro “RubyDum e TawnyDee in NiePOoRTland”, que nasceu “na sequência dum convite da Niepoort”, para contar em banda desenhada “o processo do Vinho do Porto e a diferença entre os vinhos Ruby e o Tawny, que quase ninguém conhece”.
Após visitas “às caves, ao Douro e às vinhas, associei o que me contaram à Alice no País das Maravilhas, de que sou fã” e claro que “o Douro é o País das Maravilhas!” Daí resultou uma história muda, fantástica e onírica, vendida num estojo com duas garrafas com as personagens que criou, pois a companhia “em cada país convida um desenhador para ilustrar o rótulo do vinho de mesa; nos EUA, por exemplo, foi Bill Plympton”, mestre da animação.
Embora goste bastante de BD, especialmente alternativa, como Mattotti, Stefano Ricci ou Eric Lambert ou “a editada pela Frémok, a minha editora de eleição”, nunca tinha experimentado esta arte. Por isso os originais expostos surpreendem pela pequena dimensão e por as vinhetas serem todas independentes, uma vez que trabalhou “como nos filmes”.
Virada a página, está de regresso às imagens animadas com “Kali, o pequeno vampiro”, que “com os dois filmes anteriores irá formar uma trilogia dedicada à infância, aos medos, ao escuro”. Novamente uma co-produção entre Portugal, Canadá e França, deverá “estar pronta no final de 2010”.


Escrito Por

F. Cleto e Pina

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Jornal de Notícias

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Portugal aos quadradinhos

Tal como as celebridades da música ou do cinema, também os heróis de papel por vezes escolhem Portugal como destino, no caso para viverem emocionantes histórias aos quadradinhos. Shania Rivkas, aliás Lady S., é o caso mais recente.

Foi em “Salade Portugaise” (Dupuis), lançado há mês e meio, que a jovem estoniana, que trabalha como intérprete no Parlamento Europeu, e às ordens da CIA, sob o nome de código Lady S., chegou a Lisboa para seguir uma pista que a podia levar a reencontrar o pai, que julgava morto, ao mesmo tempo que contribuía para desmantelar um atentado terrorista da Al Qaeda. Escrito por Jean Van Hamme e desenhado por Philippe Aymond, tem na capa a protagonista em trajos menores, tendo por fundo uma boa perspectiva da cidade e do castelo de S. Jorge, e no interior uma atribulada refeição à sombra da ponte 25 de Abril, uma animada perseguição pelas ruas lisboetas com um eléctrico envolvido e um aparatoso acidente automóvel nos arredores de Sesimbra.
Pelas mesmas (?) ruas do Bairro Alto pass(e)ou também Michel Vaillant, em 1984, em “O Homem de Lisboa”, que combina espionagem industrial com a participação de Steve Warson e Julie Wood no Rali de Portugal, a que as estradas nacionais – e os pouco cívicos espectadores – servem de pano de fundo. As primeiras pranchas mostram o par enamorado em passeio turístico pela Praça do Comércio, o Elevador de Santa Justa ou a Torre de Belém. E, mais uma vez, os típicos eléctricos lisboetas. E tal como em Lady S., os protagonistas utilizam um avião da TAP. Clichés turísticos que se nalguns casos não passam disso, noutros são parte integrante destas histórias de autores estrangeiros.
Treze anos antes em “5 filles dans la course”, traduzido como “Rali em Portugal”, Michel e Steve já tinham corrido nas estradas portuguesas, com este último a fazer equipa com a lusa Cândida Maria de Jesus.
Também Monsieur Jean, o trintão celibatário imaginado por Dupuy e Berbérian, esteve na capital em “Le voyage à Lisbonne” (1992), em busca de inspiração para escrever um romance. Foi igualmente a Portugal, mais concretamente aos Açores, que Jacobs enviou Blake e Mortimer em “O Enigma da Atlântida” (1957), para os dois aventureiros descobrirem no subsolo da ilha de São Miguel os descendentes dos habitantes daquele continente mítico. E em “O segredo de Coimbra” (1991), a cidade dos estudantes do século XVIII foi escolhida pelo belga Étienne Schréder como local de acção para uma narrativa sobre um príncipe prisioneiro e a construção de uma ponte sobre o rio Mondego, tendo por base o uso de anamorfoses.
Mas se podemos considerar de certa forma normal que heróis europeus nos visitem, será mais surpreendente saber que Hellboy, o demónio saído dos infernos que combate nazis, fantasmas e monstros, esteve em território nacional em 1992, como conta “In The Chapel of Moloch” (2008), que tem início nas ruas estreitas de Tavira e utilizou como inspiração a capela de S. Sebastião. E no mesmo registo de terror, registo habitual nos fumetti (BD italiana) populares da Sergio Bonelli Editore, Dampyr, um caçador de vampiros, em “Lo Sposo della Vampira” (2006), esteve em Trás-os-Montes, “na localidade de Riba Preta” inspirada em diversas aldeias reais visitadas pelo argumentista Mauro Boselli. Desenhada por Alessandro Bocci, aborda a lenda do Castelo de Monforte da Estrela, supostamente assombrado por uma vampira, e no final o protagonista é salvo in extremis por um pastor luso, Vitorino Rocha.
Mais natural, é o aparecimento de pormenores da cidade do Porto nas páginas do diário ilustrado do norte-americano James Kochalka, cultor da autobiografia em BD, a propósito da sua passagem pelo Salão de BD portuense, em 1999.

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O país na BD moderna portuguesa

Para além das óbvias utilizações de Portugal como cenário, em bandas desenhadas de temática histórica ou sobre cidades e vilas nacionais, estas geralmente com atrocínio autárquico, são várias as criações da moderna BD portuguesa que têm (re)visitado, de forma inspirada, o nosso país.

BRK, tomo 1
Filipe Andrade e Filipe Pina
ASA
História urbana, protagonizada por David, um adolescente que acaba envolvido com uma organização terrorista, decorre maioritariamente em Almada e fica marcada pelos atentados contra o McDonalds da Praça da Liberdade, no Porto, e o Cristo-Rei.

As aventuras de Filipe Seems
Nuno Artur Silva e António Jorge Gonçalves
ASA
Recentemente reeditadas numa caixa com os três álbuns, as aventuras de Filipe Seems, investigador privado num futuro indefinido, decorrem numa Lisboa retro-futurista, semi-submersa e percorrida por gôndolas, que evoca múltiplos imaginários.

O Menino Triste – A Essência
João Mascarenhas
Qual Albatroz
Embora maioritariamente ambientada na “sereníssima” Veneza, é na sua Coimbra (natal?) que o Menino Triste começa este percurso iniciático que cruza amizades, sociedades secretas, dúvidas existenciais e… muita(s) Arte(s).


Obrigada, Patrão
Rui Lacas
ASA
Com a paisagem serena da Zambujeira como fundo, esta é a história opressiva de um drama rural, que versa sobre as prepotências dos senhores das terras e a destruição dos sonhos de infância.


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F. Cleto e Pina

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BD para Ver – Regina Pessoa na Mundo Fantasma

“Mistério e Alquimia” é o título da exposição de originais de Regina Pessoa que é inaugurada hoje na Galeria Mundo Fantasma, situada na loja com o mesmo nome, no Shopping Brasília, no Porto.
Nascida em Coimbra, em 1969, Regina Pessoa tem uma licenciatura em Pintura nas Belas Artes do Porto e é conhecida principalmente pela sua actividade no cinema de animação, iniciada no estúdio Filmógrafo, com participações em diversos filmes de Abi Feijó como “Os Salteadores”, “Clandestino” ou “Fado Lusitano”.
Em 1999 realizou o seu primeiro filme a solo, “A Noite”, em gravura sobre placas de gesso, tendo seis anos depois dirigido o muito premiado “História Trágica com Final Feliz”, que deu origem a um livro homónimo, publicado pela Afrontamento em 2007.
Este ano, voltou à banda desenhada, tendo criado, a convite da Niepoort, o álbum “RubyDum e TawnyDee in NiePOoRTland”, em que explica porque razão no Vinho do Porto existem categorias diferentes, Ruby e Tawny, usando como inspiração personagens e situações do clássico “Alice no País das Maravilhas”, em especial nos gémeos TweedleDum e TweedleDee. A partir delas criou uma história bela, dinâmica e onírica, narrada num álbum em formato italiano (deitado), que é vendido num estojo, acompanhado por duas garrafas cujos rótulos são também da sua autoria.
A exposição, que estará patente na Mundo Fantasma até 24 de Janeiro de 2010, é baseada nestas duas obras, estando à venda desenhos originais da autora, bem como dois giclées (impressões de alta qualidade, de tiragem limitada), numerados e assinados por Regina Pessoa.


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F. Cleto e Pina

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