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A Guerra do Vietname na Mundo Fantasma

Na passagem do 50º aniversario do início da Guerra do Vietname, a galeria Mundo Fantasma, no Centro Comercial Brasília, no Porto, inaugura hoje uma mostra de originais de Wayne Vansant, da série “The Nam”.
Esta banda desenhada, escrita por Doug Murray, ex-combatente e veterano do Vietname, editada entre 1986 e 1993, mostra o conflito na óptica dos soldados que nele combateram (e em tantos casos, perderam a vida), abordando quer os factos históricos, quer o relacionamento dos soldados entre si ou com os habitantes locais.
Inicialmente desenhada por Michael Golden, seria depois entregue a Wayne Vansant, natural de Atlanta, na Geórgia, onde nasceu em 1949, cujos originais podem agora ser admirados – e adquiridos – na Mundo Fantasma até 4 de Outubro. Especialista em histórias de guerra, assentando a sua forma de trabalhar numa pesquisa profunda e rigorosa, Vansant mostrou também em BD a Guerra Civil Americana, a II Guerra Mundial ou a Guerra da Coreia, tendo actualmente em mãos “Katusha: Girl Soldier of the Great Patriotic War”.
Para assinalar o primeiro aniversário das actuais instalações, a Mundo Fantasma celebra hoje e amanhã o Free Comic Book Day, uma tradição norte-americana que consiste na oferta de uma revista de BD a todos os que visitarem a livraria.


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F. Cleto e Pina

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Super-Heróis e autores portugueses em destaque no Salão de BD de Viseu

O XVI Salão Internacional de BD de Viseu, um dos mais antigos do país, é inaugurado hoje, prolongando-se até dia 26 de Setembro.
Com uma programação que dá destaque à produção nacional e aos super-heróis, o certame, organizado pelo GICAV, tem o seu núcleo central no IPJ, onde se encontra a mostra dedicada à BD da Roménia, país convidado este ano, de onde virão Alexandru Ciubotariu, Marian Radu e Dodo Nita, mostrando ainda super-heróis, originais e em versão lusa, diversas propostas nacionais de manga, os trabalhos participantes no concurso que promoveu e uma homenagem a Vasco Granja. Lá estão também obras de Pedro Massano (distinguido com o prémio ANIMARTE 2008) e Daniel Maia, que visitarão o salão dia 19, tal como Hugo Teixeira que mostra os seus “Monótonos monólogos de um vagabundo” no Lugar do Capitão.
A Biblioteca Municipal acolhe uma mostra de objectos e figuras relacionados com super-heróis, o Museu Grão Vasco revela “D. Afonso Henriques em traços largos”, colectânea de representações do primeiro rei luso nos quadradinhos, e no Fórum Viseu/Casa das Artes está “O Cavaleiro das Trevas – Batman a preto e branco”.
O programa inclui ainda um espectáculo teatral, “Quem és tu Afonso Henriques?”, pela Companhia Teatro 3, uma Feira do Livro de BD e um ciclo de cinema para a infância e juventude.


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O Reizinho: Monarca mudo nasceu há 75 anos

Há 75 anos, o King Features Syndicate distribuía a primeira prancha dominical com as peripécias de The Little King, que O Primeiro de Janeiro publicou ao longo de muitos anos em Portugal sob o nome de O Reizinho.
Imaginado pelo norte-americano Otto Soglow, nascido em Nova Iorque a 23 de Setembro de 1900, a série duraria até Julho de 1975, ano da morte – a 3 de Abril – do seu criador e único autor ao longo das mais de quatro décadas em que foi publicado. Antes da página dominical que o celebrizou, o Reizinho protagonizara, desde 1930, gags de uma vinheta só no The New Yorker, tendo o seu estilo e humor chamado a atenção do magnata William Randolph Hearst que viria a contratar Soglow para os seus jornais.
De uma enorme simplicidade gráfica, fruto de um traço quase geométrico, com os cenários limitados ao indispensável e servida por cores lisas e agradáveis, esta banda desenhada narrava o quotidiano de um monarca de um país imaginário. Distinguindo-se pela sua barriga proeminente, bigode e pêra imponentes, pelo manto vermelho de gola branca e pela coroa que parecia um cone de gelado invertido, e por um comportamento muitas vezes inesperado ou até infantil, o protagonista foi um dos primeiros e mais famosos heróis mudos dos quadradinhos, não tendo pronunciado uma única palavra ao longo do seu “reinado” – apesar de tal acontecer em algumas traduções… Assim o decidiu Soglow, que limitou o texto escrito a raros cartazes e falas das personagens secundárias que serviam apenas para contextualizar a acção. O despojamento era tal, que nenhum dos protagonistas teve nome. Apesar disso, a série alcançou bastante sucesso, graças ao seu apurado sentido de humor – nem sempre imediato – desenvolvido num registo burlesco, ingénuo e desarmante, e originou inúmeros artigos de merchandising e uma versão em desenho animado.


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Revista de BD de terror lançada hoje

A revista de banda desenhada “Zona Negra” é lançada hoje, sexta-feira, às 19h15 no cinema S. Jorge, em Lisboa, com a presença de alguns dos seus colaboradores, estando a apresentação a cargo de João Maio Pinto.
Esta é a segunda edição do projecto independente Zona, que publica ilustrações e bandas desenhadas de jovens autores portugueses, com o objectivo de motivar a produção de novos trabalhos e o desenvolvimento artístico dos autores participantes.
Depois da boa aceitação do inicial “Zona Zero”, datado de Junho último, surge este número temático, dedicado ao terror aos quadradinhos, ou não esteja o seu lançamento integrado na programação do festival de cinema MOTELx 2009, que até ao próximo domingo divulga a mais recente produção internacional de cinema de terror, incluindo a estreia mundial, hoje, às 19h30, do filme “Viva la Muerte! – Autopsie du Nouveau Cinéma Fantastique Espagnol”, do francês Yves Montmayeur.
A “Zona Negra”, que ficará depois disponível em livrarias especializadas, tem meia centena de páginas a preto e branco, contando com a colaboração, entre outros, de Eduardo Monteiro (que assina a capa), Hugo Teixeira, Maria João Careto ou Roberto Macedo Alves. Para o final do ano está previsto o lançamento do terceiro número, denominado “Zona Gráfica”.


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Histórias de Portugal em Banda Desenhada

O relato da(s) História(s) de Portugal e dos portugueses, uma das poucas temáticas permitidas à BD portuguesa pela censura durante os anos da ditadura, continua a ser um nicho explorado por alguns autores face a um mercado com diversas limitações.

O nascimento da banda desenhada realista, com a publicação nos EUA de “Tarzan” e “Buck Rogers”, em Janeiro de 1929, teve reflexos nos autores portugueses que a experimentaram, seguindo alguns dos modelos ingleses e norte-americanos vistos em revistas como “O Papagaio”, “O Mosquito” ou “O Diabrete”. No entanto, progressivamente, as limitações que a censura impunha, obrigaram-nos a optar quase sempre pelas temáticas que exaltavam o amor à Pátria e os feitos dos heróis portugueses. Por esse motivo, muitos heróis seriam “nacionalizados”: entre outros, Michel Vaillant foi rebaptizado Miguel Gusmão, Rip Kirby virou Rúben Quirino e Flash Gordon passou a Capitão Relâmpago. Por isso, nos anos 40 e 50, os criadores lusos adaptaram clássicos da literatura, narraram episódios históricos ou fizeram deles (re)leituras ficcionadas (mas fiéis), em títulos como “O Caminho do Oriente” (a viagem de Vasco da Gama à Índia, vista pelos olhos de um miúdo, de E. T. Coelho e Raul Correia), “O Falcão” (a resistência à invasão napoleónica, de José Garcês), “Serpa Pinto” (de Fernando Bento) ou “A peregrinação de Fernão Mendes Pinto” de (José Ruy).
Curiosamente, terminada a ditadura, alguns autores nacionais optaram por manter esse registo, por ser uma área em que se tinham especializado e na qual não tinham a concorrência estrangeira – cujos quadradinhos ficcionais sempre chegaram ao nosso mercado a custos (bem) mais convidativos para os editores. Entre eles, contam-se José Ruy (cujos 25 anos da sua adaptação dos “Lusíadas em BD” foram recentemente assinalados com uma edição integral, pela Âncora Editora) e José Garcês (autor da “História de Portugal em BD”), ambos há mais de seis décadas ligados aos quadradinhos.
Nos últimos anos, explorando uma outra vertente, têm-se multiplicado histórias em banda desenhada de vilas e cidades – Guarda, Gouveia, Fornos de Algodres, Pinhel, Faro, Ourém, Penamacor, Oliveira de Hospital, Penamacor, Amadora, Paredes, Penafiel, Sabugal… – quase sempre com o apoio (ou mesmo edição) dessas autarquias, que distribuem os livros pelas escolas e bibliotecas locais – mas raramente nas livrarias, o que os torna inacessíveis ao leitor habitual.
Neles, a par dos veteranos citados, encontram-se João Amaral, José Pires ou Baptista Mendes, todos ligados a um registo realista clássico, mas também autores da nova geração, como Manuel Morgado ou Ricardo Cabrita, o que parece provar que este é um caminho que vale a pena trilhar, quanto mais não seja porque lhes permite trabalhar na arte que escolheram como sua.

[Caixa]

Portugal aos quadradinhos

Este ano houve já diversas edições evocativas dos acontecimentos que fizeram das localidades o que elas são. A sul, a “História de Olhão”, de José Garcês, narra os momentos mais marcantes da localidade, a propósito dos 200 anos da sua elevação a vila e da revolta contra as tropas napoleónicas.
Subindo no mapa, do Alentejo, chegam “Salúquia – A Lenda de Moura em Banda Desenhada”, que tem a particularidade de reunir dezena e meia de versões do mesmo conto, em registos que vão do realismo mais tradicional ao humor ou à sua transposição para outras épocas, e o recente “O Crime de Arronches”, a adaptação por Eugénio Silva da obra literária homónima de 1924 de Henrique Mendes de Mendonça. Em Tomar, foi lançado “Fernando Lopes-Graça – Andamentos de uma vida”, de Ricardo Cabrita, que conta de forma sóbria (um)a biografia do maestro, compositor e musicólogo, a propósito dos 100 anos do seu nascimento.
Com um salto para Norte, encontramos “História de uma Língua e de um Povo”, uma abordagem histórico-ficcional da origem da língua mirandesa, feita por José Ruy e Amadeu Ferreira, editado em português e… mirandês. Mais perto do litoral, nasceu um projecto diferente, pequenos livros de apenas oito páginas, criados por Sara Coelho, Rui Alves e Teresa Cardia, sobre figuras históricas/lendárias do Alto Minho, que, no final, serão reunidos num único álbum; o primeiro, dos dez previstos, editado pela edilidade de Monção, foi dedicado a Deu-La-Deu Martins.


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“A BD é mais poderosa do que qualquer outra forma de expressão”

Afirma David Rubin, autor galego de banda desenhada

Chama-se David Rubin, nasceu em Ourense em 1977, e, de passagem pelo Porto, para inaugurar exposições de originais na Biblioteca Municipal de Gaia (até 31 de Agosto) e na livraria/galeria Mundo Fantasma (C.C. Brasília, até 13 de Setembro), conversou com o JN sobre a BD galega. Ou melhor, sobre a “BD feita na Galiza, onde há autores a trabalhar para lá, para Espanha, França, Estados Unidos, mas não em histórias com vacas ou castros.” A existir uma “BD galega”, ela distinguir-se-á pela maneira “de escrever, de sentir, como se expressam as personagens, que é o que torna as obras autênticas e perduráveis no tempo”. Co-fundador do colectivo Polaquia, que edita a revista “Barsowia”, afirma que a 9ª arte na Galiza “está no seu melhor momento porque nunca houve tantos autores no activo, tantas propostas editoriais, tantos não galegos publicados em galego”. Apesar disso, não “há que lançar foguetes, pois ainda há muito para avançar”.
Conversador agradável, finalista do Prémio Nacional de Comic espanhol em 2007, por “La teteria del oso malayo” (Astiberri), define-se “antes de tudo como um autor de BD que também faz cinema e ilustração” e considera os quadradinhos “mais complexos e poderosos que qualquer outra forma de expressão, seja a literatura, o cinema, o teatro…”, pois “um autor de BD é escritor, desenhador, pintor, encenador, iluminador, monta, marca o ritmo, planifica, define a velocidade de leitura…”
Apesar de ter feito “o primeiro comic aos 7 anos”, acredita que com “cada livro aprende e dá um pouco mais do que no anterior”. E se a sua ambição é viver da banda desenhada, mesmo que pudesse “não deixaria a animação ou a ilustração”, pois não quer “confinar-se a um único meio e ficar limitado”.
Nas suas histórias, Rubin fala do que o “inquieta, preocupa ou diverte”, sem ter que agradar a editores, leitores ou modas. O que não impede que tenha aceite o desafio de adaptar em apenas 30 pranchas “Romeu e Julieta”, de Shakespeare, ou “O Monte das Almas”, de Gustavo Bécquer, com os quais aprendeu “a usar a sombra e a cor como elementos narrativos e a dar a primazia ao relato em relação ao desenho”. O que é fundamental, pois “os comics são sobretudo um meio narrativo”.
Define-se como “um criador visceral, que trabalha com as tripas e o coração, deixando que a arte flua sem controle”, pelo que por vezes o resultado o surpreende. Gosta de reler o trabalho impresso, para verificar “se tudo saiu bem” e folheia-o “de vez em quando para ver a evolução, pois ela não se planeia; conforme se avança na vida, experimentam-se coisas diferentes que afectam o desenho e as formas de contar histórias”.
Tendo estado nos festivais de BD de Beja e da Amadora, acredita no potencial destes encontros em que se “vão formando pontes que beneficiam todos” e lhe permitiram descobrir e apreciar autores portugueses (que nomeia sem dificuldade) como Paulo e Susa Monteiro – que já publicou na “Barsowia” – Miguel Rocha, Filipe Abranches, José Carlos Fernandes, Pedro Brito ou Pedro Nora. E defende maiores intercâmbios entre festivais portugueses e galegos e até edições conjuntas.


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Portugal e Galiza (re)encontram-se na BD

Exposições do galego David Rubin e dos portugueses Miguel Rocha/João Paulo Cotrim, dão corpo ao 1º Encontro Luso-Galaico de BD, que é inaugurado amanhã, na Biblioteca Municipal de Vila Nova de Gaia.

As mostras, integradas nas manifestações de Vila Nova de Gaia – Capital da Cultura do Eixo Atlântico 2009, que decorrem até final do mês, serão inauguradas às 16h30, na presença dos autores.
Apesar da denominação escolhida, esta não é a primeira vez que a BD portuguesa e da Galiza se encontram (ver caixa) o que também não significa que os contactos já havidos tenham sido especialmente frutíferos. As explicações poderiam ser várias, desde a forma independente como trabalham a maior parte dos criadores à enorme diferença entre a realidade dos quadradinhos aqui e na Galiza, com vantagem para esta última, onde a 9ª arte atravessa há uma década um momento especialmente dinâmico e estimulante. E que é visível, por exemplo, na multiplicação de eventos dedicados à “banda deseñada”, desde as históricas Xornadas de Ourense ou o Salón de Cangas ao já incontornável Viñetas desde o Atlântico, dirigido pelo mais prestigiado autor de BD galego, Miguelanxo Prado, ou na proliferação de publicações, independentes e colectivas, como “BD Banda”, “Golfiño” (distribuída com o jornal “La Voz de Galícia”), ou “Barsowia”.
Por cá, face a um mercado em contracção (ao contrário do espanhol, que recebe anualmente mais de 2000 títulos) e com os jornais de portas fechadas, os novos quadradinhos portugueses têm passado por edições independentes, de pequena tiragem e circulação limitada, como “Mocifão”, “Gambuzine”, “Efeméride”, “Super Pig”, “A Fórmula da Felicidade”, “Noitadas, Deprês e Bubas”, “Venham +5”, “Tomorrow The Chinese Will Deliver The Pandas”, “O filme da minha vida”, “Murmúrios das Profundezas” ou “Zona Zero”.
David Rubin, nascido em Ourense em 1977, é a principal atracção do encontro de Gaia. Dividido entre o desenho e a animação, é um dos rostos mais visíveis da nova BD galega, como co-fundador do colectivo Polaqia e pela obra que tem espalhado por inúmeras publicações e dois álbuns – “El circo del desaliento” e “La tetería del Oso Malayo” (ambos da Astiberri) – em que dá largas ao seu traço realista distorcido, expressivo e muito legível, com que liberta narrativas curtas, mas fortes e bem estruturadas. Originais seus estarão igualmente na livraria/galeria Mundo Fantasma (C.C. Brasília), até 13 de Setembro, que a propósito editou um giclée numerado e assinado por Rubin.
Miguel Rocha e João Paulo Cotrim mostram em Gaia “As Lições de Salazar”, um dos capítulos do premiado romance gráfico “Salazar – Agora, na hora da sua morte” (Parceria A. M. Pereira), uma visão desassombrada que desconstrói o mito do ditador, mostrando o seu lado humano, com muitas fragilidades e limitações. Cotrim, nascido na capital, em 1965, primeiro director da Bedeteca de Lisboa, é membro do projecto Gulbenkian/Casa da Leitura e assessor do Centro Cultural de Belém, e tem uma vasta obra, aos quadradinhos e não só. Miguel Rocha, também natural de Lisboa (1968), tem desenvolvido um estilo original e personalizado em títulos como ”A vida numa colher – Beterraba” e “MALITSKA” (ambos da Polvo).
São duas das (muitas) formas diferentes de abordar a BD que podem ser descobertas até final do mês, como aperitivo para depois as desfrutar no papel.

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Primeiro encontro foi há 19 anos, no Rivoli

O primeiro “Encontro Luso-Galaico de Banda Desenhada” teve lugar no Porto, no Teatro Rivoli, de 23 a 30 de Dezembro de 1990, e foi organizado pelo projecto Comicarte, no ano em que, após cinco anos consecutivos, não realizou o Salão Internacional de BD do Porto, devido à criação, na sede da Comissão de Jovens de Ramalde, da primeira bedeteca portuguesa, entretanto desactivada.
Como base teve as exposições: “Más Criações”, que mostrava a nova banda desenhada nacional, e “Debuxantes en Banda”, da Casa da Xuventude de Ourense, que ilustrava a realidade galega. Convívio de autores e fãs, o encontro teve também quatro painéis de debates, sobre “BD contemporânea: Sangue e sexo à discrição”, “Crítica e críticos: Função e utilidade”, “O uso da BD no ensino” e “BD infantil, de origem a parente pobre”, e um café-concerto com poesia de Mário de Sá-Carneiro e de Rosalia de Castro, dita por Isabel Aragão, e uma actuação do grupo Jig.


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O honesto Li’l Abner nasceu há 75 anos

Improvável neste tempo “globalizado”, uma tira diária de banda desenhada ambientada no coração da América profunda era também algo original há 75 anos, quando a 13 de Agosto de 1934 se estreou “Li’l Abner”. Mas que se entendia, numa América que começava a sair da crise em que a tinha mergulhado a Grande Depressão económica de 1929 e em que muitos defendiam o retorno às origens.
A sua acção desenrolava-se maioritariamente em Dagpotch, um espelho dos EUA, e o seu protagonista era Li’l Abner Yokum, um provinciano pouco inteligente e infantil que vivia uma existência simples com o pai e a mãe, apenas perturbada pelas aparições tempestuosas de Daisy Mae, uma loura de formas generosas com quem viria a casar.
A série era regida por um princípio simples: os Abner eram pobres mas honestos; o resto da humanidade não, que originava histórias divertidas, cujo tom ia do poético ao cínico, mas sempre com uma forte componente de crítica social e política, encabeçada por personagens imbecis e preguiçosas.
O seu criador foi Al Capp (pseudónimo de Alfred Gerald Caplin) que tinha sido assistente de Ham Fisher, em “Joe Palooka”, antes de encontrar o sucesso com “Li’l Abner” que, depois de uma estreia modesta numa quinzena de jornais, teve um sucesso retumbante que o levou a quase um milhar de periódicos nos anos 40 e ser adaptado em folhetins televisivos e radiofónicos, numa comédia musical da Brodway (interpretada por Jerry Lewis) e numa longa-metragem (em 1959). A par do registo burlesco e satírico, Capp, que foi indicado para o Nobel da Literatura por John Steinbeck, evidenciou um virtuosismo gráfico, assente num traço expressivo e dinâmico, numa boa utilização de sombras e numa legendagem original.
A partir de 24 de Fevereiro de 1935, “Li’l Abner”, que foi publicado em Portugal pontualmente, passou também a ter uma prancha dominical, igualmente assinada por Capp que animou a sua criação até ao fim, a 13 de Novembro de 1977, dois anos antes da sua própria morte.


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Vida da princesa Diana em Banda Desenhada

Acaba de ser lançada nos Estados Unidos a biografia de Diana de Gales em banda desenhada. Intitulada simplesmente “Princess Diana”, narra a sua vida desde pequena até à sua morte trágica, num acidente de viação, em Agosto de 1997, passando pelo seu casamento com o Príncipe Carlos e os posteriores desentendimentos que levaram à sua separação, não esquecendo a influência e popularidade que teve e que continuou mesmo após a sua morte.
Em formato comic, com 32 páginas a cores, é da autoria de Chris Arrant, Ryan Howe e Vinnie Tartamella, e é a primeira biografia de uma não-americana incluída na colecção “Female Force”, da Bluewater Productions, dedicada a “mulheres notáveis que estão a moldar a história moderna”, e por onde já passaram Hillary Clinton, Sarah Palin, Michelle Obama ou Caroline Kennedy. Condoleezza Rice, Oprah Winfrey e Stephenie Meyer, a autora do best-seller “Crepúsculo”, são outros dos títulos já anunciados.
Esta colecção nasceu após o sucesso das biografias desenhadas de Barak Obama e John McCain, lançadas antes das últimas eleições presidenciais norte-americanas. As duas obras deram origem à colecção “Political Power”, que também já dedicou volumes a Joe Biden, Colin Powell e Ronald Reagan.
Entretanto, na Alemanha, as Editions Eichborn, acabam de editar “Miss Tchormanie” (que é como quem diz “Miss Alemanha” com um forte acento germânico), um livro de cartoons dedicado a Ângela Merkel. Escrito por Miriam Hollstein e desenhado por Heiko Sakurai dá uma imagem agradável da primeira mulher a governar aquele país, facto a que poderão não ser alheias as eleições federais em Setembro próximo.


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De Profundis, um belo poema animado

“De Profundis” é a história de uma relação intensa e apaixonada de um pintor pelo mar, contada na forma de filme animado por Miguelanxo Prado, que o Bosque Secreto estreia em Portugal na próxima quinta-feira.

Conhecido (e aclamado) como autor de BD, o autor galego, aquando da sua passagem pelo Fantasporto, em 2007, definiu-o ao JN como “uma pesquisa artística para relacionar a pintura, a música e as novas tecnologias da imagem, um projecto extremamente pessoal” no qual se empenhou “durante quatro anos: os dois primeiros na pré-produção, e os dois seguintes de dedicação total e exclusiva”, porque fez “todos os desenhos – em pintura a óleo – necessários para a animação”.
Mas desengane-se quem pensa ir assistir a uma película animada por computador, em 3D, com ritmo frenético e (algum) humor; Prado optou pela animação tradicional e um ritmo contemplativo, “para quem é capaz de estar 15 minutos a ver um pôr-do-sol no mar”. O que não impede que neste filme, talvez como nunca, o desenho virtuoso de Prado brilhe, reluza, cative e atraia, realçado pela forma pausada como a acção decorre, qual mergulho extasiado no mar que o protagoniza, ao som da música original (indissociável da animação) de Nani Garcia “um amigo, músico de Jazz, com larga experiência de escrita de música para cinema e televisão”, cujas composições, interpretadas pela Orquestra Sinfónica da Galiza, marcam o ritmo, acentuam a narrativa, exprimem emoções e sensações e são o único som dos 75 minutos deste filme sem diálogos, produzido pela Continental Producciones, em co-produção com a Desembarco Produccións e a Zeppelin Filmes, e que pode ser visto a partir de quinta-feira nos cinemas UCI El Corte Inglês e Cinema City Classic Alvalade.
A história, lê-se na versão em banda desenhada, editada pela ASA, começa numa “casa no meio do mar, que tinha uma torre voltada a Poente, uma escadaria que se estendia pela água adentro e, a Levante, uma árvore que floria entre Março e Abril”. Nesta minúscula e estranha ilhota, um lugar de todo improvável, que desde logo marca o tom do filme, fantástico e maravilhoso, mais próximo do sonho do que da (nossa) realidade cinzenta, “viviam, apaixonados, uma mulher que tocava violoncelo e um pintor fascinado pelo mar e pelas suas criaturas…”. Pintor que, após um naufrágio, enceta uma viagem maravilhosa pelo mar profundo, onde (re)descobre tudo o que projectou nas suas telas.
Prado acredita que os portugueses “que vivem com o mesmo Atlântico que me inspirou” e que têm “uma cultura marítima e uma relação próxima com o mar, terão uma sensibilidade especial para entender a história, o seu lado onírico, a mitologia de sereias e monstros marinhos, os sonhos e terrores que o mar inspira”.
E, se a gestação de “De Profundis” coincidiu com a catástrofe do petroleiro “Prestige”, Prado nega “a ideia de denúncia”; o filme tem “uma clara vocação de redenção, uma espécie de ritual propiciatório, um pedido de perdão. Pretende recuperar o oceano na sua concepção mais limpa, mais brilhante, mais tradicional. É um conto, com muita poesia”.

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Saramago em animação

Antecedendo “De Profundis”, é projectada “A Maior Flor do Mundo”, uma curta-metragem (10 minutos) dirigida por Juan Pablo Etcheverry, baseada no conto homónimo de José Saramago, que, para além de (breve) narrador, surge como co-protagonista desta película, feita da animação mista de plasticina e desenhos, que tem coleccionado distinções.
Nela, Etcheverry aceita a proposta do Nobel de “reinventar a sua história” e consegue ultrapassar o obstáculo que Saramago a si próprio aponta – narrar a sua história às crianças com palavras simples – ao substituí-las por (belas) imagens animadas envoltas na música agradável de Emílio Aragón, que narram a aventura de um menino que percorre uma enorme distância para levar água a uma flor. Um conto simples e poético, aberto a muitas interpretações – tantas quantos aqueles que o lerem/ouvirem/verem – da mensagem de respeito pelo ambiente à concretização dos sonhos, passando pelo prazer das descobertas, a procura do nosso lugar neste mundo ou o valor das pequenas acções.


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