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Prancha de Tintin no Centro Pompidou

Fanny Rodwell, a viúva de Hergé (1908-1983), o criador de Tintin, vai oferecer uma prancha das aventuras do famoso repórter dos quadradinhos ao Museu Nacional de Arte Moderna do Centro Pompidou, em Paris. A oferta terá lugar no próximo dia 21 de Maio, funcionando como que um encerramento das comemorações do centenário do nascimento de Hergé, pois ele nasceu a 22 de Maio de 1907, em Etterbeek, na Bélgica.
A prancha em questão é a décima-segunda do álbum “L’affaire Tournesol” (“O Caso Girassol”, na versão portuguesa da Verbo) e foi publicada inicialmente a 16 de Março de 1955, no décimo fascículo desse ano da revista Tintin. No ano seguinte integrou a edição da Casterman da primeira versão em álbum desta história, típica do período da guerra fria, que narra a busca empreendida por Tintin e o capitão Haddock do professor Girassol, raptado por uma potência estrangeira interessada em apossar-se dos seus conhecimentos na área dos ultra-sons.
Em comunicado, o Centro Pompidou, que dedicou uma grande exposição ao criador de Tintin entre Dezembro de 2006 e Fevereiro de 2007, declarou que “esta doação excepcional permite abrir as colecções conservadas pelo Museu a um novo campo de criação, a banda desenhada”. E acrescenta: “Completamente desenhada à mão por Hergé, testemunha o controlo total que ele detinha, na plenitude do seu talento, de todos os elementos que constituem a linha clara”, o estilo gráfico que ele criou e desenvolveu e de que é considerado o expoente máximo.


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F. Cleto e Pina

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25 anos sem Hergé

Mais de 30 anos depois da sua última aventura, Tintin continua a marcar a actualidade; Original de “Tintin na América” vai a leilão por 300 000 euros; Abertura do Museu Hergé e filme com actores de carne e osso assinalarão os 80 anos do repórter em 2009

Na capa do jornal “Libération” de 4 de Março de 1983, inspirada na capa de “Coke en stock” (“Carvão no Porão”, na tradução portuguesa) era anunciada “A última aventura de Tintin”, e, na metade inferior, a vinheta circular, aberta no fundo negro, mostrava Tintin caído na neve do Tibete e Milu a uivar, anunciando: “Tintin morreu”. No interior, todas as notícias eram ilustradas com vinhetas da obra máxima de Hergé – aparecida pela primeira vez a 10 de Janeiro de 1929, nas páginas do “Le Petit Vingtième” -, mas era o seu falecimento, na véspera, que dominava a actualidade. A leucemia, na época apontada como sua causa, encobriu o vírus da SIDA, contraído numa das muitas transfusões sanguíneas que fez, a crer na explicação adiantada por Philippe Goddin, um dos maiores especialistas no autor, na biografia que lançou no final de 2007, ano em que se comemorou o centenário do seu nascimento.
Agora, 25 anos após a sua morte e mais de três décadas depois da última aventura do seu herói – “Tintin e os Pícaros” (1976) – Hergé e a sua obra continuam a marcar regularmente a actualidade, mostrando a importância assumida por uma das obras-primas do século XX. Uma das manchetes recentes, anunciava o leilão, a 5 de Abril, da pintura a gouache utilizada na capa original de “Tintin na América” (1931), com o incrível preço base de 300 000 euros!
Os 25 anos da morte do autor ficam indirectamente marcados pelo lançamento de “Tintin à la découverte des grandes civilisations” (edição “Fígaro” e “Beaux-Arts Magazine”), e também de “Tintin transports”, uma nova colecção de modelos à escala, na senda do êxito de “Os Carros de Tintin” (lançada em Portugal, pela Planeta DeAgostini), que reproduz momentos dos álbuns, como Tintin na lancha, rumo à “Ilha Negra” ou na jangada de “Carvão no porão”, com tiragem de apenas 10 000 exemplares, a preços (módicos…) entre os 40 e os 50 euros.
Para 2008, quando Tintin fará 80 anos, há já dois momentos marcantes: a inauguração do Museu Hergé, em Louvain-la-Neuve, e a estreia do primeiro de três filmes com actores de carne e osso sobre o herói de poupa, produzidos pela dupla Steven Spielberg/Peter Jackson. As filmagens começaram dia 27, mas pouco se sabe dele, para além de ser dirigido por James Cameron, basear-se no díptico “O Segredo do Licorne”/”O Tesouro de Rackham o terrível” e contar com Andy Serkis no papel de Capitão Haddock. Alguns sites especializados apontam o nome de Kirsten Myburgh para intérprete de Tintin.


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F. Cleto e Pina

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Originais de BD rendem milhares

Longe vai o tempo em que a banda desenhada era olhada como uma coisa para crianças e em que os desenhos se perdiam ou ficavam esquecidos nas redacções das revistas e jornais que os publicavam. Hoje a BD tem o estatuto de arte – a 9ª – e os seus originais podem valer milhares de euros.
No passado fim-de-semana, no leilão Vintage Comic and Comic Art, organizado pela famosa Heritage, foi estabelecido um novo recorde para um original dos Peanuts. A prancha dominical de 10 de Abril de 1955, assinada por Charles Schulz, mostrando Charlie Brown sozinho no campo de basebol, debaixo de um dilúvio, foi arrematada por 113.525 dólares (cerca de 76.500 €). Esta foi a primeira vez que um desenho de Schulz ultrapassou a barreira dos 100 mil dólares.
Alguns dias antes, em Paris, numa outra venda pública de originais de banda desenhada, foi apurado um total de um milhão e trezentos mil euros, sendo Tintin a estrela do leilão. No ano em que se comemora o centenário do nascimento do seu autor, uma prancha com uma única vinheta da versão de 1941 do “Caranguejo das Tenazes de Ouro”, dedicada e assinada por Hergé, atingiu os 70.000 €, um exemplar de “Tintin au Pays des Soviétes”, de 1930, autografado e numerado (3 de uma tiragem de 1000 exemplares) foi vendido por 42 mil euros, e um esboço da capa do álbum “As jóias da Castafiore” (1963), anotado por Hergé no verso, chegou aos 48.000 €.
Na mesma altura foram também vendidos originais de Moebius (51.000 € para a primeira prancha de “Arzach”), Bilal (a capa de “Le vaisseau de pierre” por 44.000 euros) ou Franquin (30.000 euros por um desenho a tinta de “Le fou du Bus”).
A um outro nível, no final de Outubro, um exemplar (dos sete conhecidos) da revista “Amazing Fantasy #15”, com a primeira aventura do Homem-Aranha foi vendido por 227 mil dólares (153 mil euros), tornando-se a mais cara revista de BD de sempre da década de 1960.


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F. Cleto e Pina

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Infantil

Fundamental como (praticamente único) meio de criação de leitores habituados desde infância à leitura de banda desenhada (algo que não é tão linear quanto pode parecer….), a BD infantil tem sido descurada no nosso país, talvez porque muitos, mesmo com responsabilidades na área, acreditem que os leitores se criam só com (os excelentes) Tintin ou Astérix.
Por isso se saúda a aposta da Gailivro no sector, ainda para mais com dois autores portugueses, de traço limpo e agradável. Do veterano José Abrantes, já há 30 anos a produzir quadradinhos, é “A Tia Névoa”, nova aventura do pré-histórico Homodonte que, para além dos muitos e gigantescos perigos da época, narrados com bom humor e ritmo, tem de suportar a tirania de uma tia vegetariana, numa sátira leve aos exageros que provoca a obsessão pelo politicamente correcto nos nossos dias.
De “A Praia da Rocha Amarela”, terceira aventura de Zé Leitão e Maria Cavalinho, da autoria de Pedro Leitão, destaca-se à cabeça a forma encadeada como os heróis passam de cena para cena, como só nos sonhos (e na BD…) é possível, num animado e fantástico passeio em registo familiar.
Sendo os “belos livros” a mais pesada herança da BD franco-belga, ainda com peso significativo no nosso mercado, acredito que ambas as edições (pela redução do desenho, aperfeiçoando-o) e os leitores (no preço final) beneficiariam de um formato menor.


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F. Cleto e Pina

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Congolês apresenta queixa contra “Tintin no Congo” por racismo

Álbum sofreu recentemente acusações semelhantes em Inglaterra e na África do Sul

“Tintin no Congo”, segunda aventura de Tintin, “velha” de 77 anos, volta a ser alvo de acusações de racismo, desta vez por parte de um congolês, residente na Bélgica, que avançou com um processo no Tribunal de Primeira Instância de Bruxelas contra a sociedade Moulinsart, que gere os direitos da obra de Hergé. O autor da queixa, Mbutu Mondondo Bienvenu, considera o álbum “racista e xenófobo”, acrescentando que “foram estas teses racistas que serviram de suporte às descriminações sociais, às segregações étnicas e a actos de violência como os genocídios”. E acrescenta que Hergé reconheceu que o álbum podia ter essa leitura quando disse “que, na sua época, não podia deixar de considerar os negros como crianças grandes”, afirmando “não ser mais racista que os seus contemporâneos”, reclamando, por isso, uma indemnização de 1 €. Esqueceu-se no entanto que Hergé também afirmou “não gostar dos colonialistas”, fez diversas alterações quando remodelou o álbum para a versão colorida, em 1946, e que condenou claramente o tráfico de escravos negros em “Carvão no Porão”.

Há semanas, uma acusação semelhante por parte da Comission for Racial Equality da Inglaterra levou “Tintin no Congo” (publicado pela primeira vez em Portugal sob o título “Tim-tim em Angola”, a ser mudado, nas livrarias da cadeia Borders, da secção infantil para a de adultos, tendo as vendas disparado.

Há alguns dias, foi a vez do editor sul-africano de Tintin, a Human & Rousseau, renunciar à sua publicação em africânder, “por se ter apercebido que a publicação na língua dos opressores brancos podia ser mal interpretada”, e o grande editor Penguin informava que a difusão naquele país, da versão em inglês de “Tintin no Congo”, conteria um aviso informando os leitores do “carácter racista” de algumas das suas cenas.


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F. Cleto e Pina

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Tintin e o ecrã: uma relação atribulada

A relação de Tintin com o cinema é bem anterior ao desejo de Spielberg de levar o herói de Hergé ao cinema. Logo nos anos 30 do século passado, pequenos filmes foram difundidos, tendo por base imagens fixas retiradas dos álbuns, comentadas no momento pelo projectista, e, em 1947, Claude Misonne e João Michiels realizaram uma versão de “O caranguejo das tenazes de ouro”, com marionetas animadas.

Em 1957, a Belvision, de Raymond Leblanc, editor da revista “Tintin”, produziu para televisão algumas dezenas curtas-metragens de animação com Tintin. O relativo êxito alcançado, devido mais à popularidade do herói do que à qualidade da animação, permitiu-lhe avançar, em 1969, para a longa-metragem “Le temple du Soleil” (que contou com um original de Jacques Brel na banda sonora), (fraca) adaptação do díptico “As 7 bolas de Cristal”/”O Templo do Sol”, e, em 1972, para “Le lac aux requins”, a partir de um (desinteressante) argumento original de Greg. Esta história foi adaptada em BD, com base nos fotogramas do filme, existindo igualmente pelo menos duas versões piratas desenhadas.

Mas antes disso, em 1960 e 1964, foram levadas ao grande ecrã duas histórias originais – “Le mystère de la Toison d’Or” e “Tintin et les oranges blues” – com actores de carne e osso: Jean-Pierre Talbot como protagonista e George Wilson como Capitão Haddock.

Os anos 90 viram uma nova série animada, mais cuidada e competente, mas menos fiel aos álbuns do que o desejado, que teve, pelo menos, o mérito de apresentar um herói sexagenário a uma nova geração mais próxima da tv do que da BD.

Para além do facto de “Tintin não ter no ecrã a mesma voz que nos álbuns”, como disse um miúdo à saída de um dos filmes, um ponto é comum a todas estas adaptações: a ausência do ritmo desenfreado e do verdadeiro espírito das aventuras de Tintin. Por isso, muitos consideram que Spielberg já concretizou este seu sonho há muito: nas aventuras de Indiana Jones.


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Mais clássicos

Integrada nas comemorações dos 60 anos das Éditions du Lombard – nascidas a 16 de Setembro de 1946 com o nº1 da revista “Tintin” – a colecção “Milésimes” recuperou alguns dos heróis que fizeram a história da editora ou, melhor, com os quais ela fez história no seio da banda desenhada franco-belga.

Foram doze volumes, em edição fac-simile, nos quais (re)encontramos Blake e Mortimer (de Jacobs), Corentin (Cuvelier), Chick Bill (Tibet), Chlorophylle (Macherot), Pom & Teddy (Craenhals), Le Chevalier Blanc (L. e F. Funcken), Monsieur Barelli (De Moor), Dan Cooper (Weinberg), Modeste e Pompon (Franquin), Michel Vaillant (Graton), Clifton (Macherot) e Bruno Brazil (Greg e Vance).

Raymond Macherot, o único autor “repetido”, para além de “Chlorophylle”, a sua grande criação, uma BD animalista que reflecte sobre os comportamentos humanos, assina também “Clifton”. Este último é um fleumático detective britânico, “o mais dotado e perspicaz desde Sherlock Holmes” (!) que apoia as suas descobertas na sua capacidade dedutiva, mas não se esquivando a uma luta, uma movimentada perseguição ou até a utilizar o seu guarda-chuva/carabina. Histórias policiais em registo de humor, ligeiro e descontraído, de que emana o melhor da BD enquanto divertimento puro, os inquéritos do Coronel Clifton são mais um exemplo do talento multifacetado de Macherot, um autor injustamente pouco lembrado.


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F. Cleto e Pina

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