Categoria: Recortes

Primeira edição do Maia BD arranca hoje

Quase trinta autores convidados e uma dezena de lançamentos

O Fórum da Maia, acolhe a partir de hoje e até domingo, a primeira edição do Maia BD, um certame que pretende trazer a banda desenhada de novo ao Norte do país, depois do pioneirismo do Salão Internacional de BD do Porto (1985-1999).
O prato forte do evento são as cinco exposições de originais, que serão alvo de uma visita guiada hoje, às 18h30: “Frankenstein”, de Georges Bess; a retrospectiva de “As Aventuras Completas de Dog Mendonça e Pizza Boy”, de Filipe Melo e Juan Cavia; “Auto da Barca do Inferno”, de Joana Afonso; “O Mangusto”, de Joana Mosi; e ainda “Juventude”, de Marco Mendes, esta última patente até 22 de Julho, na Biblioteca Municipal Dr. José Vieira de Carvalho.
Com dois convidados estrangeiros, Georges Bess e Canizales, que ilustrou uma versão de “Os Maias” para a colecção Clássicos da Literatura em BD, o Maia BD aposta forte nos autores nacionais, com a presença de, entre outros, Filipe Melo, Joana Afonso, Luís Louro, Nuno Markl, Joana Mosi, Marco Mendes, André Lima Araújo, Filipe Andrade, João Sequeira ou Paulo J. Mendes, que participarão em sessões de autógrafos.
Para sábado e domingo estão agendados diversos lançamentos (ver caixa), para além de conversas sobre a antologia “As Aventuras Completas de Dog Mendonça e Pizzaboy”, com Filipe Melo; a reedição de “O Corvo III – Laços de Família”, com Nuno Markl e Luís Louro; “Adaptações de Clássicos da Literatura Portuguesa em BD”; o projecto “BD Palop”.
Da restante programação do Maia BD, uma iniciativa da Câmara Municipal da Maia através do Pelouro da Cultura, com organização da cooperativa editorial A Seita, destaque ainda para a retrospectiva de filmes de Filipe Melo, hoje, às 21h; uma saída para desenhar as ruas da Maia, dos Porto Urban Sketchers, no sábado de manhã; o concurso de Cosplay, domingo à tarde, e as sessões de filmes de animação para toda a família nas manhãs do fim-de-semana.

[Caixa]

Livros novos lançados no Maia BD

São 8 as novidades que as editoras nacionais vão mostrar em primeira mão no Maia BD.
Entre elas, destacam-se “Frankenstein”, de Georges Bess, que mais uma vez mergulha num preto e branco contrastado para representar as angústias e terrores inerentes ao original de Mary Shelley, e “As muitas vidas de Laila Starr”, de Ram V. e Filipe Andrade, um dos livros mais aguardados deste ano, que foi nomeado para alguns dos prémios mais relevantes nos Estados Unidos e em França.
A estes, juntam-se “O Mangusto”, o primeiro romance gráfico de Joana Mosi, “O Umbigo do Mundo #2”, de Penim Loureiro e Carlos Silva, “Ordinário”, do brasileiro Rafael Sica, “Forgoth, a cidade escondida” e “In the dust of our planet #1” assinados, respectivamente, por João Gil Soares e Daniel da Silva Lopes.
Este lote de novidades encerra com “Miracleworker” (Kingpin Books), a versão em inglês da narrativa escrita por André Oliveira e desenhada por Filipe Andrade, Nuno Plati, Ricardo Cabral, Ricardo Tércio e Ricardo Drumond, autores que trabalham com regularidade para o mercado norte-americano.


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F. Cleto e Pina

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Homem-Aranha chora morte de John Romita Sr.

Artista norte-americano desenhou o super-herói da Marvel durante décadas

Natural de Nova Iorque, nos Estados Unidos, onde nasceu a 24 de Janeiro de 1930, John V. Romita Senior faleceu na passada madrugada, durante o sono, contava 93 anos. Tem reservado um lugar no paraíso dos autores de banda desenhada, graças especialmente ao seu trabalho no Homem-Aranha, que desenhou durante mais de 30 anos.
Formado na School of Industrial Art, de Manhattan, em 1947, foi influenciado por artistas como Noel Sickles, Roy Crane, Milton Caniff ou Carmine Infantino. Cinco anos depois casou com Virginia Hopkins, com quem teve dois filhos, Victor Romita e John Romita Jr., este último também autor de BD, tendo desenhado muitos dos grandes super-heróis da Marvel, incluindo o Homem-Aranha, e também a série “Kick Ass”.
John Romita entrou na banda desenhada em 1949, através da editora Atlas, para quem desenhou histórias de terror, românticas e westerns, bem como algumas aventuras do Capitão América, a partir de 1954.
Quando a Atlas cessou a actividade, em 1957, Romita mudou-se para a DC Comics, a casa do Batman e Super-Homem, onde durante oito anos ilustrou relatos românticos.
Em 1965 entrou para a Marvel, desenhando histórias dos Vingadores e do Demolidor. A sua prestação num episódio deste último, em que o super-herói cego contracenava com o Homem-Aranha levou-o a ser convidado para se ocupar da revista deste último, começando aí um percurso notável, que se estenderia por cerca de três décadas e que levaria o aracnídeo a tornar-se na personagem mais popular da Casa das Ideias.
Foi durante o seu consulado como desenhador de “The Amazing Spider-Man” que durgiram personagens marcantes como Mary Jane Watson, o Rino ou o Rei do Crime e que nasceu e morreu Gwen Stacy, a primeira grande paixão de Peter Parker, num relato que chocou os leitores da época por descobrirem que as personagens de primeiro plano também eram humanas e podiam morrer.
Com um grafismo aparentemente simples, mas sólido e elegante, dinâmico, tecnicamente perfeito e de grande eficácia narrativa, John Romita Sr. conseguiu tornar o ‘seu’ Homem-Aranha mais conhecido e celebrado do que o do seu criador, Steve Ditko, fazendo dele o campeão de vendas da Marvel, superando o Quarteto Fantástico e transformando-a na imagem de marca da editora.
Romita foi co-criador de diversas outras personagens como Wolverine, Justiceiro ou Mercenário e, em paralelo, foi também director artístico da Marvel e responsável pela criação dos “Romita’s Raiders”, uma equipa responsável pelos retoques gráficos de última hora nas pranchas, antes delas seguirem para impressão.
Em 1996, entrou num regime de semi-aposentação, embora tenha continuado a trabalhar pontualmente com a Marvel e por vezes também com a rival DC.
Muitas das suas obras foram publicadas em português ao longo dos anos, incluindo as suas primeiras prestações nas páginas do Capitão América, Demolidor e Homem-Aranha.


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O desconhecido e o incompreensível como base do terror

Histórias curtas iniciais do piloto, publicadas em álbum pela primeira vez
Leitura comentada pode agradar a fãs do piloto e interessados por BD

Representar o terror é, desde sempre, algo difícil de concretizar,talvez porque é uma das emoções mais fortes que o ser humano pode ter e cuja origem varia de pessoa para pessoa.
“Urlo – Grito no escuro”, uma edição da Escorpião Azul que corre o risco de passar despercebida entre tantas novidades com que a BD nos tem presenteado nos últimos anos, consegue fazê-lo assente em dois vectores principais: o desconhecido e o incompreensível.
A história começa de noite, horário ideal para todos os terrores, quando um homem é parado na estrada por alguém que pede socorro.. Apanhado na armadilha, é levado para uma construção próxima, onde é mutilado para alimentar uma estranha criatura. Melhor, para lhe abrir o apetite, porque o verdadeiro pesadelo ainda está por começar.
Sem qualquer explicação, sem dados para que a razão o processe, é-lhe dito que terá de correr. Correr o mais que puder, para atravessar a floresta, cruzar a ponte e chegar ao barracão que existe do outro lado. Se atingir esse objectivo será libertado. Pormenor não displicente: a besta que já o provou, vai ser libertada no seu encalço.
Ferido, aterrorizado, não conhecendo o animal que o persegue, ignorando porque foi escolhido para aquela provação, o protagonista, sem nome o que adensa o mistério e a curiosidade, desata a correr.

Cronologicamente, “O grande desafio” (datado de 1959) é considerada a primeira aventura de Michel Vaillant, mas a verdade é que antes desse conjunto de corridas por vários continentes e em diferentes competições, o futuro campeão do mundo já tinha protagonizado pequenas narrativas.
As primeiras, estão agora reunidas em “Michel Vaillant – Histórias Curtas #1 – Origens”, que a ASA fará chegar às livrarias portuguesas já a partir de dia 13. O arranque faz-se em 1956, quando o autor, Jean Graton, decidiu trocar a revista “Spirou” pela “Tintin”, para poder escrever as suas próprias histórias, propondo as aventuras de um piloto automóvel.
De um jovem algo inconstante e imaturo às primeiras vitórias nas estradas e pistas, este álbum permite conhecer a génese do mais famoso piloto dos quadradinhos, em paralelo com o desenvolvimento do seu mundo familiar e profissional. E permite igualmente ver aparecer as famosas onomatopeias que ficaram como uma das imagens de marca das bandas desenhadas assinadas por Graton.
Se por um lado este é um livro naturalmente aconselhável para os fãs de Michel Vaillant, pois nele irão (re)encontrar histórias que embora já publicadas em diversas revistas, eram inéditas em álbum em Portugal até hoje, por outro lado, também irá satisfazer aqueles que gostam de ir mais além da simples leitura das bandas desenhadas, para saberem um pouco mais sobre a génese dos heróis e a forma de trabalhar dos autores, pois nela podemos descobrir a remontagem de pranchas para uniformização de formatos na publicação em álbum, narrativas criadas especificamente para publicidade a marcas e histórias em torno da família e da marca Vaillant.
Se gráfica e tematicamente há diferenças assinaláveis entre os primeiros relatos do álbum, em que Jean Graton ainda tacteava à procura do caminho para o seu piloto, e os que encerram a edição, nestes últimos o autor explana já a sua visão das corridas automóveis, explorando provas bem conhecidas, dos circuitos de Fórmula 1 às de resistência e passando pelos ralis, sob um olhar a um tempo realista e apaixonado, que o faz salientar um código de conduta ideal, apesar das características bem humanas das suas personagens.

Michel Vaillant – Histórias Curtas #1 – Origens
Jean Graton
ASA
64 p., 17,50 €


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Ricardo Leite em Coimbra e no Porto

Autor de BD apresenta “Em busca do Tintin perdido”

As livrarias Dr. Kartoon, em Coimbra, hoje às 18 horas, e Mundo Fantasma, no Porto, amanhã, às 16 horas, vão acolher o autor brasileiro de banda desenhada Ricardo Leite.
Estes dois encontros com os leitores, para conversa e autógrafos, encerram uma mini-tournée iniciada no Festival Internacional de BD de Beja, onde foi um dos cabeças de cartaz, e que também passou pela livraria lisboeta Kingpinbooks e pela Feira do Livro da capital.
Ricardo Leite é autor de “Em busca do Tintin perdido”, uma obra autobiográfica que é também um passeio pela banda desenhada do último meio século. Partindo de um encontro falhado com Hergé, quando ainda era adolescente, Leite convida o leitor a refelectir sobre a banda desenhada, as técnicas e o acto de criação artística, apresentando as suas influências através de encontros oníricos fictícios com nomes como Hugo Pratt, Milo Manara, Will Eisner ou tantos outros.
Natural do Rio de Janeiro, onde nasceu a 3 de Março de 1957, Ricardo Leite foi desviado da banda desenhada com que sonhava e que chegou a praticar nas décdasa de 1970 e 1980, para uma actividade profissional de ilustrador de capas de discos de música brasileira e designer na área da publicidade, pelas necessidades da vida. No início do corrente ano, finalmente viu os seus sonhos ganharem existência física através do livro “Em busca do Tintin perdido”, escrito e desenhado ao longo dos últimos anos, que teve edição simultânea no Brasil e em França.
Ilustrado num estilo realista, assente em fortes contrastes de branco e negro, “Em busca do Tintin” perdido tem mais de 200 páginas e acaba de ter edição portuguesa da cooperativa A Seita, que o autor já considerou ser a melhor das três.
Nas sessões de autógrafos que vão decorrer hoje e amanhã, Ricardo Leite, em companhia de João Miguel Lameiras, editor de A Seita, irá apresentar e autografar a sua obra.


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Preferir não fazer nada

O direito à individualidade em oposição à ditadura da(s) maioria(s)
José-Luís Munuera adapta conto clássico de Herman Melville

Todos fazemos opções no dia-a-dia, mesmo que a opção seja não optar. Obriga-nos a isso a nossa vida, a nossa sobrevivência, a nossa família, as nossas obrigações profissionais… em suma, a nossa responsabilidade social.
Bartleby, um simples escriturário de Wall Street, é o protagonista de um conto com a assinatura de Herman Melville, publicado pela primeira vez em 1853. Contratado para copiar documentos, distingue-se pela forma metódica e diligente como trabalha. Demais, dirão alguns pois, consagrado à sua responsabilidade, passando os dias – e depois as noites – sentado à sua secretária, em frente a uma janela que dá para a parede de tijolos do edifício contíguo, quando lhe é proposto realizar outras actividades, sejam elas tarefas profissionais básicas como ir aos correios ou comparar cópias em conjunto ou até convites para ir beber um copo com o patrão, reusa liminarmente. Ou melhor, nega-se dizendo: “Preferiria não o fazer”. E responde de forma tão liminar quanto educada, desarmando qualquer reacção do seu patrão, dividido entre a vontade de o despedir e a inação devido à incompreensão pelo sucedido.
A versão em banda desenhada, que assume o título original, “Bartleby, o escriturário – Uma história de Wall Street”, chega por estes dias às livrarias nacionais numa edição da Arte de Autor e tem a assinatura do espanhol José-Luís Munuera, que alguns, muito bem, associarão a uma fase não muito antiga de “Spirou”. Trata-se da sua segunda investida na adaptação de um clássico da literatura, depois da sua visão provocadora de “Um conto de Natal”, de Dickens, em que entrega, de forma bastante conseguida, o protagonismo a uma mulher.
Em “Bartleby”, Munuera utiliza o mesmo traço semi-caricatural, que acentua o ridículo e o inesperado da situação, recorrendo a uma traço mais realista, esbatido, para recriar os fundos e os cenários em que a acção decorre, realçando, assim, duplamente, os protagonistas e os respectivos diálogos.
História mordaz sobre o direito à individualidade em oposição à ditadura da(s) maioria(s), mesmo que esta seja a sociedade em que vivemos e para com a qual temos obrigações e responsabilidades, “Bartleby” apenas não se transforma num total absurdo devido ao seu final trágico que leva o leitor a questionar quem realmente sai vencedor no final…

Bartleby, o escriturário
José-Luís Munuera
Arte de Autor
72 p., 18,50 €


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Beja: a cidade de toda a banda desenhada

Festival Internacional de BD abre amanhã, com 17 exposições e 40 autores convidados

É já amanhã que arranca o XVIII Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja, com a inauguração agendada para as 21 horas, na Casa da Cultura local, seguindo-se, até às 2h30 deste sábado, os primeiros concertos desenhados, com Selecta Gungunhana e Nuno Thrasher.
Anual desde a sua criação, com exceção dos anos da pandemia, no ano em que atinge a maioridade cronológica, uma vez que a maturidade criativa há muito existe, o FIBDB anuncia-se mais uma vez como plural e diversificado e aberto a todas as bandas desenhadas.
Por isso, entre as 17 exposições propostas, podemos encontrar “Os 60 anos da Mônica”, “Duke”, um western do veterano Hermann, as “Lendas Japonesas” de José Ruy, falecido no ano passado, o “Corto Maltese” de Rúben Pellejero, “Em busca do Tintin perdido” de Ricardo Leite ou “Pele de Homem” de Zanzim, a par de propostas mais independentes, experimentais ou formativas como as dedicadas a Anabel Colazo ou aos colectivos Tentáculo e Toupeira.
E, depois, como sempre, o festival organizado pela edilidade local e encabeçado por Paulo Monteiro, mantém a grande aposta nos criadores portugueses, numa saudável mescla de novos, consagrados e veteranos: André Pereira, Carlos Páscoa, Joana Estrela, Patrícia Costa, Pedro Massano, Pedro Moura e João Sequeira ou Ricardo Baptista.
Com Ricardo Leite, Zanzim e Ruben Pellejero como cabeças de cartaz e incluindo quase todos os autores citados – Hermann e Maurício de Sousa são as excepções devido à idade avançada – para além de outros mais que os visitantes poderão descobrir, o Festival de Beja anuncia a presença de quatro dezenas de criadores, que estarão disponíveis para conversas, lançamentos, apresentações de projectos, sessões de autógrafos e, acima de tudo, para um grande convívio entre autores e leitores, outra das características distintivas do festival alentejano.
Entretanto, este sábado, às 21h30, Ricardo Baptista vai receber o Prémio Geraldes Lino que, desde 2013, distingue um jovem autor. O prémio é multifacetado e inclui uma exposição individual no Festival de Beja, a publicação de uma obra pela Bedeteca local, uma estatueta e uma quantia em dinheiro.
Embora decorra até 18 de Junho, os convidados estão todos concentrados neste primeiro fim-de-semana, bem como a vasta programação que também inclui revisão de portefólios, oficinas, concertos desenhados e um grande Mercado do Livro, com mais de 70 editoras e lojas representadas, onde é possível comprar livros, serigrafias e até originais. A exceção é Maratona – 12 Horas a desenhar, que terá lugar dia 10 de Junho.
Durante os 15 dias de duração, o festival estará aberto diariamente para visitas guiadas, individuais ou de escolas, mediante marcação.


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Autor de BD Baptista Mendes homenageado em Moura

Exposição e lançamento na Feira do Livro local

Dando seguimento a uma tradição já com alguns anos, a Câmara Municiapl de Moura vai homenagear mais um autor português de banda desenhada, durante a Feira do Livro local, cuja 42.ª edição decorre de 31 de Maio a 11 de Junho.
Este ano será distinguido Carlos Baptista Mendes, com uma exposição intitulada “A História em Quadrinhos”, que estará patente no Castelo de Moura. Esta mostra revisita alguns dos trabalhos que o autor publicou, durante mais de duas décadas, no “Jornal do Exército”, geralmente histórias de duas páginas sobre acontecimentos ou biografias de personagens famosos da História de Portugal.
Baptista Mendes, natural de Luanda, em Angola, onde nasceu em 1937, veio para Portugal com apenas 11 anos, tendo estudado no Liceu Gil Vicente, onde publicou no jornal estudantil. Depois de anedotas ilustradas na “Flama”, em 1959, na 2.ª série do “Camarada” publicava a sua primeira banda desenhada, “Fernão Magalhães”, m que unia as suas duas paixões: a História e a narrativa gráfica. Era o início de uma longa carreira em que publicou, entre outros, no “Cavaleiro Andante”, “Jornal do Exército”, “O Falcão”, “Revista da Armada”, “O Século”, “Diário de Notícias” ou “Mundo de Aventuras”.
Em álbum, para além da compilação de algumas destas publicações em “Por mares nunca dantes navegados…” (Futura, 1983) destacam-se ainda “Infante D. Henrique” (ASA, 1989), com argumento de Margarida Brandão, obra distinguida com o Prémio de BD do Centro Nacional de Cultura, “História de Penamacor” (Âncora, 2001), “História de Trancoso” (Âncora, 2006) ou “Portugueses na Grande Guerra (1914-1918)” (Arcádia, 2014).
No dia 10 de Junho, às 17h30, com a presença do autor, será lançado o 12.º número dos “Cadernos Moura BD”, com a história “A Vida de Luís Vaz de Camões”. Anteriormente publicada, em continuação e a preto e branco, no “Jornal do Exército”, foi agora totalmente remontada e colorida por Baptista Mendes e legendada por Catherine Labey.
A exposição apresentada em Moura, é uma produção conjunta entre a câmara local, o Grupo de Intervenção e Criatividade Artística de Viseu (GICAV) e o Clube Português de Banda Desenhada (CPBD), e poderá ser vista posteriormente na Amadora (na sede do CPBD) e em Viseu (na Feira de São Mateus), estando prevista igualmente a sua digressão por diversas escolas e bibliotecas do país.


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Clássicos intemporais em destaque no Amadora BD

34.ª edição do festival decorre de 19 a 29 de Outubro

A cerca de cinco meses da sua realização, de 19 a 29 de Outubro, o Amadora BD apresentou as linhas gerais da sua programação.
Com o núcleo central mais uma vez situado no antigo Ski Skate Amadora Park, a 34.ª edição do evento terá como tema central os “Clássicos Intemporais”, que servirão de inspiração à cenografia geral do evento, que irá reunir mais de uma dezena de ícones da banda desenhada nacional e internacional. Ao apostar de novo em conteúdos generalistas que vão ao encontro de um público mais vasto e alargado, o festival pretende voltar a ser para todos, promovendo desta forma a sua missão de criar e educar novos leitores de banda desenhada.
O núcleo central ocupará uma área total de 2100 m2, dos quais 950 m2 ocupados por 10 exposições e outros tantos pela zona comercial, que contará com a presença de 13 editoras. A área restante, coberta, será dedicada ao gaming e nela terão lugar iniciativas interligadas com o universo da banda-desenhada: cosplay, jogos “arcade”, realidade virtual, videojogos, consolas, campeonatos e apresentações, entre outros.
Como é habitual, o Amadora BD ocupará outros espaços da cidade, nomeadamente a Galeria Municipal Artur Bual, que vai receber duas exposições individuais, e a Bedeteca da Amadora – Biblioteca Fernando Piteira Santos, que acolherá uma mostra dedicada a uma das mais emblemáticas personagens dos westerns aos quadradinhos.
Sobre as exposições, para já apenas se sabe que haverá uma dedicada a Bernardo Majer, vencedor do prémio para Melhor Obra de BD de Autor Português em 2022, por “Estes Dias” (edição da Polvo), sendo ele o autor da ilustração original da 34.ª edição do Festival.
A par dos habituais lançamentos, sessões de autógrafos, apresentações e palestras, o evento, criado em 1990 pela Câmara Municipal da Amadora, com o objetivo de promover a BD, culminará com a habitual cerimónia de entrega dos Prémios de Banda Desenhada da Amadora (PBDA), que mais uma vez atribuirá um prémio pecuniário no valor de 5000 €, Melhor Obra de Banda Desenhada de Autor Português.
À margem do festival, os nomes de Émile Bravo (autor de “Spirou: Diário de um ingénuo”, editado pela ASA) e Mayte Alvarado (“”A Ilha”, a lançar na altura pela Levoir) já foram adiantados pelas respectivas editoras nacionais, como presenças confirmadas no Amadora BD.


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Longa se tornou a espera

Adolescente, com o irmão raptado e a mãe deprimida
Quinto volume de “O Árabe do Futuro”, a auto-biografia de Riad Sattouf, já editado em português

Cerca de três anos depois do lançamento do volume #4, numa espera que se tornou longa, finalmente a Teorema fez chegar às livrarias nacionais “O Árabe do Futuro #5 – Ser Jovem no Médio-Oriente (1992-1994)”, penúltimo tomo da auto-biografia de Riad Sattouf, filho de mãe francesa e pai líbio.
O livro arranca onde o anterior terminou, logo após o rapto de Fadi, irmão mais novo de Riad, levado pelo pai para a Síria, na sequência dos desentendimentos crescentes entre os progenitores. Este acontecimento marca toda a narrativa com um tom depressivo e um sentimento de perda, com a mãe completamente siderada por ele, a viver apenas em função das recordações e das tentativas desesperadas para reaver o filho.
Evidentemente, este não é o melhor clima para se viver quando se tem 14 anos, a idade de Sattouf no início deste volume. Mais a mais, quando sempre se sentiu deslocado na Síria e em França, olhado de soslaio em ambos os países como estrangeiro, o que o levou a criar uma série de anti-corpos interiores, com o seu lado líbio a condenar as liberdades ocidentais e o seu lado francês a não perceber as limitações da vida dos muçulmanos, com Sattouf a representar muito bem graficamente esta duplicidade. Com as pulsões próprias da adolescência, a situação vai agravar-se com os primeiros amores e paixões platónicos, as descobertas revolucionárias na música e na banda desenhada e o surgimento de bandos de skinheads, com o consequente agravar do racismo, numa combinação explosiva na mente e no corpo de um adolescente tímido e introvertido.
O resultado, é um relato servido por um humor ingénuo e desarmante, a um tempo terno e sincero que o tornam cativante, mesmo que resultante do olhar retrospectivo sobre a sua vida adolescente, já condicionado pelas vivências que enquanto adulto experienciou.
Ao mesmo tempo, “O Árabe do Futuro” proporciona também uma visão desencantada, mesmo que parcial e subjectiva, sobre os problemas inerentes a uma sociedade francesa multi-cultural onde convivem – ou pelo menos co-existem – os nascidos no continente, os naturais das ex-colónias ou as segundas e terceiras gerações oriundas delas, numa mescla que nem sempre se revela saudável de religiões, crenças, hábitos, costumes e culturas.

O árabe do Futuro #5
Riad Sattouf
Teorema
176 p., 22,90 €


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F. Cleto e Pina

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Trair o original para o recriar melhor

Protagonismo no feminino acentua o tom trágico do original de Shakespeare
Obra autoral faz brilhar tanto o original quanto a sua versão aos quadradinhos

Com a adaptação de romances em banda desenhada de novo em alta, assiste-se a dois tipos de abordagem: a aposta numa leitura mais simplificada e linear para tentar seduzir os mais jovens ou aproveitar a oportunidade para fazer brilhar tanto o original quanto a sua versão aos quadradinhos.
“Macbeth, Rei da Escócia”, que A Seita acaba de disponibilizar, segue a segunda via. Tendo como ponto de partida uma obra de William Shakespeare que muitos poderiam citar como tal mas menos seriam capazes de resumir e situar, assume uma traição ao dramaturgo inglês, pois o argumentista, Thomas Day, declara ter tomado como ponto de partida a tradução de François-Victor Hugo, que data de 1866. Ou seja, mais de 200 anos depois da obra original e numa outra língua, embora “tendo sempre como fonte… o texto na língua original” nas citações, numa versão que define como de “alta traição”.
“Macbeth” é uma narrativa de tom trágico, baseada num regicídio e nas respectivas consequências, ambientada numa Escócia rude e feudal. Nela, acompanhamos um general apreciado por todos que, empurrado por uma profecia de três bruxas que o apontam como futuro Rei da Escócia, mata o seu senhor e ocupa o seu lugar, desposando ainda a sua esposa.
Em nova traição, Day faz desta a (verdadeira) protagonista: ambiciosa, implacável e impiedosa, disposta a tudo em nome do sonho de ser rainha, mesmo que isso se torne um pesadelo para os demais.
A obsessão, a violência e a submissão implícita que exalam da obra são enfatizadas pelo grafismo de Sorel, num misto de realismo, rudeza e traço agreste que sublinha o lado demoníaco de Lady Macbeth e o sofrimento e divisão interiores do novo monarca, acentuando o peso dos seus remorsos, em consequência das acções funestas de que foi cúmplice ou perpetrador em nome da pulsão sexual, do desejo e do fascínio que sobre ele exerce a futura co-soberana. Em simultâneo, Sorel confere ao relato a dimensão épica que era exigida, adicionando a uma planificação aparentemente caótica, vinhetas de comprimento duplo em paginas contiguas para criar cenas sobredimensionadas que retratam planos de conjunto, a desolação dos cenários escoceses, o tom sangrento e sanguinário de determinados momentos ou tão só a força visceral das personagens.

Macbeth, Rei da Escócia
Thomas Day e Guillaume Sorel
A Seita
124 p., 25,00 €


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F. Cleto e Pina

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