Categoria: Recortes

Nas bancas (I)

Após longa ausência, esta semana voltaram às bancas portuguesas revistas da Turma da Mónica, reanimando o sector juntamente com edições brasileiras da Marvel e da DC. A par da estreia em revista própria de Ronaldinho Gaúcho, nas suas traquinices de miúdo, há ainda uma dúzia de títulos, com o nome dos principais heróis (Mónica, Cebolinha, Cascão, Magali, Chico Bento), entre revistas novas (com a numeração a recomeçar do #1) e almanaques antológicos, edições especiais e de jogos.

Lê-las, é como reencontrar velhos amigos que conhecemos bem, o que é, aliás, uma das razões do seu sucesso: crianças normais, bem caracterizadas, constantes e coerentes, que brincam num mundo como o nosso, expurgado de tudo aquilo que é prejudicial, transmitindo de forma bem divertida mensagens positivas (amizade, responsabilidade, segurança, consciência ecológica, etc.), sem cair em moralismos excessivos.

Nós sabemos como cada um vai agir: antecipamos os planos do Cebolinha, as respostas arrasadoras da Mónica, a fuga à água do Cascão ou a fome da Magali, mas não conseguimos, mesmo assim, deixar de sorrir com as peripécias e desfecho de cada história. O que não impede que não possa haver surpresas, como uma sátira ao Big Brother Brasil, em “Cebolinha #1”, ou a história inicial de “Cascão #1”, em que ele assume a identidade de diversos membros da Turma, para no final assumir o lugar do desenhador.


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F. Cleto e Pina

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Banda Desenhada galega em retrospectiva no Porto

É inaugurada hoje, sexta-feira, dia 22, às 18h30, na Galeria Sargadelos, na Rua Mouzinho da Silveira, no Porto, a exposição “Banda Desenhada Galega: uma retrospectiva – dos anos 70 à actualidade”, estando previstas as presenças do Dr. Luís Bará, Director Geral de Criação e Promoção Cultural, da Xunta da Galicia (pelouro da Cultura) e dos comissários da exposição, Fausto Isorna (que também é autor de BD) e Gemma Sesar.

Para quem está por dentro do mundo da BD, quando se fala de autores galegos, vem logo à memória o nome de Miguelanxo Prado, mas esta exposição itinerante, que começou o seu percurso em 2006 na Fundação Feima, em Madrid, e passou já por Barcelona e pela Bedeteca de Lisboa, mostra que a 9ª arte galega vai muito além da obra do seu mais mediático criador.

A exposição, que apresenta originais e reproduções de mais de duas dezenas de autores galegos, está dividida cronologicamente em quatro períodos que remetem para as etapas mais salientes da afirmação da “historieta” (termo espanhol para BD) galega: Pioneiros, Underground, Indústria e Presente.

No tempo dos Pioneiros destaca-se a influência da pintura na banda desenhada e o seu marcado vínculo de intervenção política, salientando-se os nomes do Grupo do Castro, e de Reimundo Patiño e Xaquin Marin, autores de “2 Viaxes”, considerada a primeira BD galega.

Os anos 80, marcados pela “movida” madrilena e pelo boom da banda desenhada espanhola, em revistas como “Zona 84”, “Cimoc” ou “Cairo”, ficam assinalados na Galiza pela multiplicação de quadradinhos underground em revistas e fanzines como o “Frente Comixário”. A década seguinte assiste à industrialização da BD galega, com destaque para publicações como “Golfiño”, “BD Banda” e “Barsowia”, e à sua internacionalização através de autores como Emma Rios, Kiko da Silva e Das Pastoras. O Presente mostra uma historieta galega cheia de vitalidade, numa história sem fim à vista, antes com um emblemático “continua” bem visível e prometedor.


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F. Cleto e Pina

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Super Pig

Cumprindo a periodicidade (não prometida), cerca de seis meses após os números iniciais, a Kingpin Comics lança agora os nºs 2 de “Super Pig” e “C.A.O.S.”. Este é um thriller político e de acção, passado em Portugal e na Rússia nos anos 80 e ficcionando o envolvimento das FP-25 de Abril numa conspiração política de grandes contornos que agora se começa a definir.

Quanto a Super Pig, no seu primeiro número destacou-se pelo traço fino e (quase sempre) limpo, pelo arrojo e diversidade da planificação, que conferia grande dinamismo à leitura, pelo ritmo vivo, pelos diálogos certeiros e credíveis, pelo bom humor e por alguns apontamentos autobiográficos, sendo o todo protagonizado por um porco rico e bem relacionado, para dar um retrato (não tão) distorcido (assim) de uma certa realidade nacional.

Embora de ritmo mais lento e com um argumento mais fechado em torno de uma conspiração contra o herói, o que de alguma forma torna o texto mais pesado e condiciona o ritmo de leitura, este volume mantém as restantes características já apontadas, lamentando-se que, mais uma vez, devido às dificuldades de distribuição e aos custos dos stocks, a tiragem seja de novo (quase) residual, limitada a uns escassos 200 exemplares, vendidos exclusivamente na loja Kingpin Comics (www.kingpin-of-comics.net). Fica como compensação a disponibilização integral on-line dos números iniciais de ambas as séries.


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F. Cleto e Pina

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Surfista Prateado, arauto de um deus maior

Originalmente chamava-se Norrin Radd e vivia num planeta perfeito: sem guerras, doenças, pobreza… Quando Galactus, o destruidor de mundos, ameaçou o seu planeta, para o salvar, aceitou tornar-se arauto desse deus impiedoso e procurar mundos não habitados para ele consumir. Foi assim que chegou à Terra, onde, fascinado pela beleza da sua vida, se atreveu a afrontar o seu senhor, que o castigou exilando-o para sempre neste planeta, onde se esforça por proteger os seus habitantes, embora nem sempre seja compreendido. Mais tarde contornou a proibição, voltando às suas viagens cósmicas, sobre a prancha que controla com a mente.

Este é o Surfista Prateado um dos mais invulgares super-heróis do universo Marvel, marcado pelo destino trágico, o lado místico, a prevalência da defesa da vida acima de tudo e o tom quase religioso das suas aventuras.

Curiosamente, o Surfista foi primeiro imaginado por Jack Kirby , em 1966, quando desenhava aquela que viria a ser conhecida pela “Trilogia de Galactus”, introduzindo-o nas pranchas por achar que um deus tão poderoso precisava de quem o anunciasse. Surpreendeu assim Stan Lee, que o descobriu quando ia escrever os textos definitivos na história, que de imediato se deixou seduzir e lhe proporcionaria uma revista própria dois anos depois, onde brilharia o traço barroco do veterano John Buscema.

Na sua bibliografia há ainda uma improvável BD criada em parceria por Lee e Moebius, nos anos 80.

Na trilogia referida, o Surfista Prateado encontrou pela primeira vez o Quarteto Fantástico – um homem com corpo elástico, uma mulher que se torna invisível, um adolescente que transforma o corpo em chamas e um “homem-monstro” de pele de pedra e enorme força. Criados em 1961 foram a primeira “super-família” da BD e também os primeiros super-seres com problemas reais, conceito que revolucionou os comics da Marvel, transformando-a na principal editora do género. A vivência conjunta das suas diferenças – e a forma de encará-las – está na base de muitos dos seus problemas, mas é também nesta vivência “familiar” que encontram a força e a união com que vencem os adversários que vão surgindo.


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Criador do Homem-Aranha e dos X-Men vai desenvolver super-heróis para a Disney

Acordo assinado ontem dá à Disney prioridade nos projectos de Stan Lee, que também criou os X-Men e o Hulk

Dois dos maiores nomes da indústria cinematográfica e dos quadradinhos norte-americanos anunciaram a assinatura de um contrato para desenvolvimento de novos projectos: Stan Lee, o criador do Homem-Aranha, Hulk, X-Men ou Demolidor, através da sua empresa POW! Entertainement, e a Walt Disney Company.

O acordo agora firmado, nascido por iniciativa de Bob Chapek, presidente da divisão de entretenimento doméstico da Disney, dá a esta empresa prioridade sobre todos os projectos desenvolvidos por Lee para diferentes suportes: filmes com actores reais, desenhos animados, livros, banda desenhada, projectos para televisão, etc.

Dick Cook, Presidente da Disney Studios afirmou que Stan Lee “é uma das mais criativas e inventivas forças da indústria actualmente”. Como que a corroborá-lo, Lee, que, com 84 anos, parece indestrutível como os seus heróis, afirmou ter “milhões de projectos; tenho gavetas repletas de ideias para filmes, programas de televisão e muitas outras coisas” com novos heróis como El Lobo, Chameleon, Thunder Rider, Whirlwind, Doubleman, Nightbird ou Blaze que, “com sorte, se poderão tornar grandes sucessos”.

Nascido a 28 de Dezembro de 1922, em Nova Iorque, Stanley Martin Lieber entrou para a Timely Comics (hoje em dia Marvel Comics) com apenas 17 anos e sem funções precisas. Durante os anos 40 tornou-se um dos argumentistas das “Casa das Ideias” e, no início dos anos 60, com a percepção das mudanças introduzidas pela guerra e pelo período que se lhe seguiu, inovou dentro do género, criando os chamados “super-heróis com problemas reais”, com quem os leitores se podiam identificar, como o Quarteto Fantástico, o Homem-Aranha ou os X-Men, que fizeram da Marvel a principal editora de comics e hoje fazem milhões nas bilheteiras. Com uma aparição fugaz, ao jeito de Hitchcock, em todos os filmes protagonizados pelos seus heróis, – dia 14 estreia “Quarteto Fantástico e Surfista Prateado”, e em diferentes fases de produção estão “Hulk 2”, “Thor”, “Nick Fury”, “Homem-de-Ferro” ou “Wolverine” – Lee já se transformara a próprio em herói de BD, partilhando com algumas das suas criações a série “Stan Lee meets…”, que assinalou os seus 65 anos na Marvel, devendo aparecer proximamente nos EUA na forma de action figure.

Stripperella fora do acordo

“Stripperella”, que a Disney já anunciou não querer retomar, foi uma série de animação para adultos estreada nos EUA em 2003. O corpo de Pamela Anderson (que deu voz à protagonista) serviu de modelo aos desenhadores para a stripper Erotica Jones, uma loura sensual que usa como armas contra criminosos como o Dr. Cesarean, um cirurgião plástico que faz implantes de seios explosivos, um piercing vibratório, um detector de mentiras nos seios ou um scanner sob a língua.

Sem grande sucesso, “Stripperella” valeu a Lee um processo por parte de uma verdadeira stripper, sob a acusação de se ter inspirado numa ideia que ela lhe teria contado.


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F. Cleto e Pina

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Um homem sem memória

Um livro por dia
Título: XIII – El Cascador
Autores: Jean Van Hamme (argumento) e William Vance (desenho)
Editora: ASA
Preço sem desconto: 12,00 €

“XIII” é uma das mais (justamente) aclamadas séries de aventuras da BD franco-belga, marcada pelo traço realista e expressivo de Vance, e pelas múltiplas inflexões e o suspense constante do argumento de Van Hamme. Narra a saga de um homem, com o número XIII tatuado num ombro, amnésico devido a um ferimento de bala, perseguido por autoridades e criminosos.

Neste álbum, continuando em busca do seu passado e da sua identidade, após um envolvimento com uma qualquer guerrilha centro-americana, encontra-se preso numa impenetrável fortaleza, de onde só um golpe audacioso, quase suicida, o poderá libertar. Alvo de duas paixões, uma actual e uma pertença (?) do seu passado, XIII vai encontrar, finalmente, uma pista credível sobre o seu passado.


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F. Cleto e Pina

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Extrapolação

Devido à coexistência (nos mercados ocidentais) de comics, BD franco-belga e mangas, e às múltiplas influências que daí resultam, alguns acreditam que no futuro (não tão distante) toda a produção de BD convergirá para um mesmo padrão. Tenho dúvidas, porque continuo a acreditar na capacidade criativa dos autores.

Não sendo exemplo disto, até porque tal ainda não se concretizou, “Fantôme” (Casterman), de Suk Jung-hyun, ilustra, de alguma forma, como tal se poderá traduzir: o traço, hiper-realista, e as cores estão mais próximos do conceito europeu de BD do que daquilo que costumamos associar (do que conhecemos?) à produção asiática; o desenvolvimento dos diálogos e as várias cenas de acção têm indiscutivelmente a marca manga (ou caso manhwa – BD coreana); a teoria de conspiração subjacente ao argumento, apela a uma temática bem americana.

Servida por uma planificação cinematográfica e dinâmica, a história, passada num futuro próximo, em que um cataclismo natural reduziu drasticamente a população, agora reunida num único estado, trazendo a vantagem do fim das guerras – mas também a necessidade de criar tensões para justificar a única força policial existente e a sua relação com um canal de TV -, lê-se bem e permite arriscar a extrapolação de que a massificação referida terá aspectos positivos quando significar o aproveitamento do que cada um daqueles géneros tem de melhor.


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Viagem ao universo de Hergé

Um livro por dia
Tintim, o Sonho e a Realidade: a Historia da Criação das Aventuras de Tintim
Michael Farr
Verbo
Preço 39,99 €

No ano do centenário do nascimento de Hergé, este livro é uma excelente oportunidade para um longo mergulho no universo que desenvolveu e no seu processo criativo. Nele, o inglês Michael Farr, mostra como cada história de Tintim esteve relacionada com o momento que o seu criador vivia e ilustra profusamente como Hergé se documentou para cada álbum, desde “Tintim no País dos Sovietes” até “Tintim e os Pícaros”, criando para o efeito um imenso arquivo de veículos, trajes, paisagens, posições, acessórios, etc., para conseguir obter o profundo rigor que é uma das imagens de marca de cada aventura do mais célebre repórter dos quadradinhos e que fez de cada uma delas um retrato fiel da época em que foi elaborada.


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F. Cleto e Pina

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Tex Willer em Moura

Principal herói Bonelli é destaque da 16ª edição daquele festival de BD alentejano; Fabio Civitelli presente no próximo fim-de-semana; Evento homenageia os gatos da BD e também José Abrantes, Catherine Labey e Susa Monteiro

Tex Willer, o famoso ranger dos quadradinhos italianos, chega hoje a Moura, no Alentejo. Não em busca de um qualquer malfeitor, como é habitual, mas como convidado especial de um festival já na 16ª edição. Em sua companhia, em lugar de Kit Carson, Kit ou Jack Tigre, estarão Fabio Civitelli, um dos seus mais destacados desenhadores da actualidade (ver entrevista) e os seus originais, e José Carlos Pereira Francisco, responsável pelo blog português de Tex (http://texwiller.blog.com), representante em Portugal da Mythos Editora e um dos seus maiores coleccionadores mundiais, que mostrará em Moura dois milhares de itens da sua colecção. E é oportunidade também para conhecer a vaga de novos desenhadores responsáveis pelo cow-boy, entre os quais Corrado Mastantuono, Pasquale Del Vecchio ou Frisenda.

Mas a verdade é que o tema do MouraBD 2007, que decorre no castelo local, é “O Gato”, sendo dada uma panorâmica geral destes felinos na BD e no Cartoon, a par de retrospectivas da obra de José Abrantes, Catherine Labey e Susa Monteiro, que, juntamente com Civitelli, estarão presentes no dia 2 de Junho, véspera de encerramento do evento de cujo programa constam ainda um ciclo de “Cinema e BD” e uma feira do Livro.

Quem é Tex Willer?

F. Cleto e Pina

Tex, que nasceu na revista “Collana del Tex”, a 30 de Setembro de 1948, e é, sem dúvida, o símbolo por excelência do império de quadradinhos populares Bonelli. Os seus criadores foram Giovanni Luigi Bonelli (texto) e Aurélio Galleppini “Galep” (desenho). De seu nome completo Tex Willer, membro dos célebres rangers do Texas, assume, simultaneamente o papel de investigador, justiceiro e até chefe índio, sob o nome de Águia da Noite. Ao seu lado tem quase sempre o seu velho amigo Kit Carson, o índio Jack Tigre e Kit Willer, seu filho. Pondo a justiça e a legalidade – a par da amizade – antes e acima de tudo, não hesita em assumir o papel de juiz e carrasco, quando tal é necessário. Apesar de beber parte da sua inspiração nos grandes westerns cinematográficos, Tex não é um western tradicional, pois muitas vezes são os índios que têm o papel de “bons” e um certo misticismo é presença recorrente nas histórias, entre as habilidades dos feiticeiros índios ou os estranhos poderes de Mefisto, o seu maior inimigo.

Com uma legião de fãs indefectíveis, um pouco por todo o mundo – acaba de chegar à Rússia – Tex é recordista de vendas em Itália, com 230 000 exemplares mensais (só da série regular), e no Brasil (40 000 ex.), onde é publicado pela Mythos Editora, que edita uma dezena de títulos de Tex, entre novas histórias, reedições e edições especiais, que chegam depois a Portugal onde vendem uns invejáveis 3 a 4 mil exemplares por mês.

“Tex é uma personagem que eu sempre amei”, afirma Fabio Civitelli, o desenhador responsável pela edição comemorativa dos 60 anos do herói

F. Cleto e Pina

Chama-se Fabio Civitelli, nasceu a 9 de Abril de 1955, e aos “sete, oito anos apaixonei-me pela BD. Quem mais me prendia era Tex, que continuo a ler até hoje”. Sem formação artística, cultivou “diariamente a paixão pelo desenho e sempre sonhei tornar-me um desenhador profissional”. Nasceria assim o seu traço luminoso, de linhas seguras, limpo de pormenores desnecessários, quase sempre sem tons intermédios entre o preto e o branco, que contrasta equilibradamente.

Mais tarde, “nos anos 70, li com avidez revistas de BD de autor, para tentar assimilar as novas tendências. Graças a Graziano Origa, o meu primeiro mestre, que dirigia um conhecido estúdio de Milão, aos 19 anos comecei a trabalhar em quadradinhos de bolso, eróticos e de terror. Cinco anos depois, em 1979, entrei para a Sergio Bonelli Editore, começando uma belíssima colaboração que prossegue até hoje”. O que não deixa de ser curioso já que acompanhou “muito a BD de autor”, mas o facto de “sempre me ter considerado um autor “popular” condicionou a minha escolha”. E lembra que “o meu ingresso na equipa de Tex foi decidido pelo Sergio Bonelli em pessoa. Senti-me um receoso, porque nunca tinha desenhado um western. Mas Tex é uma personagem que eu sempre amei como leitor e, ao ganhar aos poucos segurança e conhecimento do Velho Oeste, apaixonei-me tanto que não tenho vontade de fazer outro trabalho”.

Em Itália, os fumetti Bonelli vendem-se em quiosques, a preço baixo, graças ao pequeno formato, ao preto e branco e papel simples, o que, a par “das maiores exigências de produtividade e pontualidade nas entregas” faz com que muitos ainda os considerem uma forma menor de BD. Civitelli, que sempre tentou “experimentar e inovar”, considera que essa distinção “decaiu com os anos”, sublinhando que “é por opção editorial que a Bonelli se preocupa em oferecer o seu produto a um público o mais vasto possível, o que só é possível nos quiosques. A BD “de autor” vive nas lojas especializadas, com poucos milhares de leitores. As edições Bonelli contam nos seus quadros com muitos talentos criativos que produzem BD de elevada qualidade, de géneros variados, capazes de contentar todos os leitores, com um custo muito competitivo”.

Relativamente a Tex destaca “o carácter forte, decidido e pouco disposto a acordos, embora menos hoje que em tempos idos”, e tem como objectivo “trabalhar sempre no limite para contentar primeiro o editor e depois as centenas de milhares de leitores exigentes”. 

E confessa-se honrado “por ter sido escolhido para desenhar a história comemorativa dos 60 anos de Tex, como reconhecimento pelos 23 anos que já lhe dediquei, por isso estou a empenhar-me ao máximo”.

Em Moura, Civitelli conta “encontrar muitos leitores aficionados e atentos, aos quais mostrarei com prazer inéditos, incluídas as primeiras 35 pranchas daquela história, e dos quais espero críticas, conselhos e sugestões”.


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F. Cleto e Pina

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BD em festa no Microfestival de Aveiro

Fernando Alvim apadrinha o evento

Decorre entre hoje e amanhã o Microfestival BD de Aveiro, que se auto-define micro por “ter um conteúdo considerável numa janela de tempo relativamente pequena”. Fugindo ao que é tradicional nos Festivais de BD (cujos modelos têm sido postos em causa nos últimos tempos) assume uma “forte componente cultural e simultaneamente festiva”, a que não será estranho o decorrer maioritariamente em discotecas.

Começa hoje, às 21h15 no Espaço d’Orfeu, em Águeda, com a “Oficina de escrita de guião para BD”, dirigida por Teixeira Moita e prossegue amanhã, às 16h00, com um passeio de barco pela Ria de Aveiro, ao som do Special BD Set de Fernando Alvim (que apadrinha o festival), com os participantes vestidos como personagens de BD.

As horas finais decorrerão no Quest Bar Disco, em Oiã, onde estão patentes as exposições: “Concurso de painéis Dr. Kartoon”, “Telas com temas Manga”, de Carlos Gomes e trabalhos de alunos da A.R.C.A. no âmbito do espectáculo de Marcantónio Del Carlo, “Quem Matou Romeu e Julieta?”, e o Mercado do Livro organizado pela Livraria Dr. Kartoon. A partir das 21h30, haverá um colóquio sobre “Cinema e BD” por João Miguel Lameiras e José Carlos Fernandes e a apresentação de diversos projectos editoriais: “Lupin III”, de Kazuhiko Kato (edição Mangaline Portugal/Naraneko), “O ABZ do sexo”, de António Nobre e Manuel Cruz (Arteplural), “Evereste”, de Ricardo Cabral (J. F. Stª Mª Olivais/C. M. Lisboa), “C.A.O.S. Livro Dois”. de Fernando Dórdio, Filipe Teixeira e Carlos Geraldes e “Super Pig # 2”. de Mário Freitas, Carlos Pedro e Gevan (ambos da Kingpin Comics), “Um Passeio ao Outro Lado da Noite”, de J.C. Fernandes (Fundação Calouste Gulbenkian), “O Corvo III – Laços de Família”, de Luís Louro e Nuno Markl (Edições ASA) e “Aeternu”, de Hugo Jesus e Manuel Morgado.

Por entre música e copos, o Microfestival prosseguirá noite dentro com sessões de autógrafos, um concerto pelos Tempura, uma banda de covers de músicas de Anime (desenho animado japonês), a realização de um painel de BD gigante ao vivo, em plena pista de dança, por Carlos Gomes, e, uma performance de Fernando Alvim.


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F. Cleto e Pina

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