Categoria: Recortes

O risco inerente a salvar vidas

Suspense e instabilidade emocional na perseguição de um assassino em série
“Monster”, de Naoki Urosawa, é a mais recente novidade no catálogo manga da Devir

A um catálogo de manga que já reúne alguns dos maiores sucessos do género, como “Naruto” ou “One Piece”, a Devir acaba de acrescentar o há muito desejado “Monster”, de Naoki Urasawa, que pode servir para desmistificar a ideia de que o manga é para adolescentes, já que a sua temática tem tudo para seduzir outros leitores.
Ambientado na Alemanha a partir de 1986 e apanhando os tempos conturbados que se seguiram à reunificação, o que contribui para justificar a instabilidade emocional de várias personagens e algumas atitudes, a história centra-se num brilhante cirurgião, o dr. Kenzo Tenma. Natural do Japão, mas a exercer na Alemanha, é o protegido do director de um grande hospital, que se aproveita do seu talento para se auto-promover. Um dia, já afectado por uma anterior escolha que lhe foi imposta. Tenma em lugar de operar o presidente da câmara local, vítima de uma complicação cardíaca, opta por operar um adolescente que foi baleado na cabeça, durante um assalto em que os pais faleceram, sobrevivendo a sua irmã gémea. A morte do presidente, apesar de a criança ser salva, leva a que carreira do cirurgião fique hipotecada, com o director a retirar-lhe o apoio.
Com Tenma a reencontrar a motivação que o fez tornar-se médico, poder salvar vidas, a obra muda de tom, quando se sucedem várias mortes no hospital, seguidas do assassinato de diversos casais de meia-idade sem filhos. Com a polícia sem pistas para o descobrir o aparente assassino em série, Tenma, também suspeito, consegue associar os sangrentos acontecimentos ao jovem que salvou na operação e que algo transformou no “Monstro” que todos procuram, iniciando uma perseguição contra o tempo e em que os cadáveres se multiplicam.
A uma trama policial aliciante, com várias reviravoltas, uma forte carga emocional e personagens interessantes, fortes, bem definidas e com vida própria, Urosawa consegue aliar um suspense em crescendo devido à aura misteriosa que envolve o suposto assassino, à relação entre ele e a sua gémea e ao sentimento de culpa do médico.
A opção por páginas bastante preenchidas e por um desenho expressivo e pormenorizado quanto baste para situar o leitor sem se constituir um elemento de distracção, contribuem igualmente para o ritmo bastante vivo e o fascínio de “Monster”.

Monster – volume 1
Naoki Urosawa
Devir
428 p., 20,00€


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F. Cleto e Pina

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Os nomeados para os Prémios de Banda Desenhada da Amadora

O Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora BD – Amadora BD já divulgou a listagem das obras nomeadas para os Prémios de Banda Desenhada da Amadora (PBDA).
Na categoria de Melhor Obra de Banda Desenhada de Autor Português, a única que está dotada com um prémio pecuniário, no va lor de 5.000 €, um dos nomeados é Paulo J. Mendes, com “Elviro” (edição da Escoprião Azul), uma história muito divertida sobre dificuldades de relacionamento num casal, tendo por pano de fundo o sacrifício da tradição ao progresso, quando uma velha linha de carros elétricos numa zona balnear é substituída por autocarros.
Já “As Muitas Mortes de Laila Starr” (G. Floy), escrita pelo indiano Ram V e desenhada pelo português Filipe Andrade, parte de uma premissa surpreendente, o despedimento da Morte devido à descoberta da imortalidade, como mote para uma intensa celebração da vida.
Tal como a obra anterior, que inicialmente foi publicada nos Estados Unidos, também “O mangusto” (A Seita), de Joana Mosi, teve publicação original no Canadá, e é uma narrativa de tom intimista sobre as dificuldades que uma jovem tem de fazer o luto pela morte do marido, mergulhando num estado de negação que a afasta de todos.
Ainda na mesma categoria, “Companheiros da Penumbra” (Chili Com Carne), de Nunsky, está ambientada numa certa marginalidade portuense dos anos 80, centrando-se na vida noctura, nos bares e nas bandas de garagem.
Finalmente, “Kong The King 2” (Kingpin Books), de Osvaldo Medina, narra a preto e branco e sem qualquer palavra a busca desesperada feita por um selvagem (?) em busca do filho raptado por brancos ditos civilizados.
Na categoria de Melhor Obras Estrangeira editada em Portugal, surgem “Spirou – Diário de Um Ingénuo” (ASA), de Émile Bravo, um mergulho na Segunda Guerra Mundial, em tons de ternura e violência; “Sambre V-VI” (Arte de Autor), de Yslaire, um drama amoroso de contornos épicos; “Regresso ao Éden” (Levoir), de Paco Roca, um olhar sobre a História do século XX espanhol, na dupla faceta histórica e familiar; “Em Busca do Tintin Perdido” (A Seita), de Ricardo Leite, uma declaração de amor à banda desenhada e ao acto de a criar; “Les Portugais” (Ala dos Livros), de Olivier Afonso e Chico, uma história da emigração portuguesa em França.
Finalmente, no que respeita a Melhor Edição Portuguesa de BD, que distingue o livro físico em termos de tamanho, acabamento, extras incluídos, qualidade de impressão… estão nomeadas igualmente cinco obras: “Frankenstein” (A Seita), de Georges Bess, “Segmentos” (Arte de Autor), de Richard Malka e Juan Gimenez; “Menina Baudelaire” (Ala dos Livros), de Yslaire, “Em Busca do Tintin Perdido” (A Seita), de Ricardo Leite, e “Lendas Japonesas” (Polvo), de José Ruy.
O palmarés dos Prémios de Banda Desenhada da Amadora inclui ainda troféus para Autor Revelação e Melhor Fanzine ou Edição Independente.
O júri foi composto por Hugo Pinto (representante do Município da Amadora) critico literário e especialista em banda desenhada, João Ramalho Santos, investigador e especialista em BD, e Paulo Monteiro, Presidente do Clube Português de Banda Desenhada. Os vencedores serão anunciados no próximo dia 22 de Outubro, pelas 18h00, numa cerimónia a realizar no Núcleo Central do Festival.
A 34.ª edição do Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora – Amadora BD 2023, dedicada ao tema ‘Clássicos Intemporais”, terá lugar de 19 a 29 de Outubro, com o núcleo central mais uma vez situado no Ski Skate Park e exposições na Galeria Artur Bual e na Bedeteca da Amadora.


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F. Cleto e Pina

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O tamanho não tem importância

Os autores Álvaro e Dearradé são os protagonistas
Reflexão sobre a importância do humor, centrada na realidade da BD nacional

Na banda desenhada – como nos perfumes, os chocolates… – o tamanho não tem importância. Que é como quem diz, a qualidade de uma obra não se afere pelo seu número de páginas, mas sim pelo que ela conta e/ou pelo modo como o conta.
Vem este intróito a propósito de “Há quem queira que a luz se apague”, uma singela edição da Kingpin Books com apenas 16 páginas, escrita por Mário de Freitas, desenhada por Derradé e com cores de Beatriz Duarte, que reflete sobre a importância do humor, tendo por base dois autores nacionais, raros exemplos de cultores do género na BD portuguesa contemporânea.
São eles Derradé – criador de “A loja” (editada pela Polvo) ou “O fogo sagrado” (Escorpião Azul) – e Álvaro – “Conversas com os putos” ou “Porra… voltei!”, em auto-edições com a chancela Insónia – que surgem agora também como protagonistas deste opúsculo, envelhecidos e com limitações físicas.
Surgindo de alguma forma na esteira de “O fogo sagrado”, uma reflexão pós-apocalíptica sobre a imperatividade íntima do seu autor, Derradé, se dedicar à banda desenhada, “Há quem queira que a luz se apague”, que se auto-define como “uma visão apocalíptica-realista de um mundo que não se avizinha para graças”, também surge ambientada num futuro indefinido, que assustadoramente não parece muito distante, em que os praticantes do humor estão a ser detidos e reprogramados, sob a égide de um desconhecido “Supremo Líder”. O último “terrorista do humor ainda a monte” é Derradé que, uma vez capturado, vai ser confrontado com uma chocante revelação.
Embora “Há quem queira que a luz se apague” esteja de algum modo centrada na realidade da BD nacional, podendo por isso ser melhor fruída por quem a conhece e/ou frequenta, a verdade é que a reflexão que suscita sobre a possibilidade de rir e fazer rir e sobre olhar crítico que isso implica, é facilmente aplicável a qualquer outro meio ou forma de expressão, num tempo em que, infelizmente, cada vez mais o humor, o pensamento inteligente e o sentido crítico são postos em causa continuamente pelo enjoativo politicamente correcto que domina crescentemente e tenta nivelar por baixo, fazendo prevalecer a estupidez e a imbecilidade.

Há quem queira que a luz se apague
Mário Freitas, Derradé e Beatriz Duarte
Kingpin Books
16 p., 6,50€


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F. Cleto e Pina

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Tex tem 60 anos

É o mais duradouro western dos quadradinhos; Edição a cores e reedição do único romance que protagonizou assinalam data; Jornal do Vaticano dedicou amplo espaço à criação de Bonelli e Galep; Blog português homenageia herói com conto literário de Jorge Magalhães e Augusto Trigo

1948, 30 de Setembro, um homem espreita por detrás de umas rochas. A roupa identifica-o como cowboy, nas mãos tem duas pistolas prontas a utilizar e, mais tarde, saber-se-á que se chama Tex Willer. Assim se iniciava o mais duradouro western da história da banda desenhada, então protagonizado por um fugitivo da justiça que viria a tornar-se um ranger do Texas e também chefe dos navajos, como “Águia da Noite”. A história, intitulada “Il Totem Misterioso”, da autoria de Gianluigi Bonelli (texto) e Aurelio Galleppini (desenhos), aparecia na “Collana del Tex”, uma publicação com um estranho formato alongado, com apenas uma tira por página.
Era o princípio de uma lenda, que marcaria gerações e definiria um género, os “fumetti”, a banda desenhada italiana, de características populares (preço baixo, papel de qualidade inferior, formato médio, impressão e preto e branco, histórias com duas ou três centenas de páginas), combinando relatos ficcionais com muita acção e uma sólida base histórica. E dava origem a um verdadeiro império dos quadradinhos em Itália, mais tarde alargado a criações como “Dylan Dog”, “Martin Mystère”, “Mágico Vento” ou “Júlia”, mas sempre alicerçado na imensa popularidade de Tex que, nalguns períodos chegou a vender mais de um milhão de exemplares mensais, chegando depois aos quatro cantos do mundo. A Portugal, as suas aventuras cujo protagonismo compartilha quase sempre com Kit Carson e, por vezes, com Jack Tigre e o filho Kit, chegam desde os anos 70 via Brasil, agora em edições da Mythos Editora que cativam três a quatro milhares de leitores por mês.
Agora, 60 anos depois, a revista “Tex #575” assinala a data com a história a cores “Sul sentiero dei ricordi”, escrita por Cláudio Nizzi e desenhada por Fabio Civitelli, que evoca o seu breve casamento com a índia Lylith, e oferecendo a reedição de “Il massacro di Goldena”, o único romance protagonizado pelo ranger, escrito por G. Bonelli em 1951.
Inspirado em Gary Cooper e nos míticos westerns cinematográficos, Tex é um homem duro e obstinado, típico de um Oeste duro e agreste, onde a força das armas impunha a lei, sempre ao lado dos desfavorecidos, independentemente da sua raça ou cor. Também por isso, até o “L’Observatore Romano”, o jornal oficial do Vaticano, lhe dedicou algumas páginas na sua edição de 14 de Agosto, descrevendo-o como “um justiceiro americano, capaz de distinguir ‘sem ses e sem mas’, o bem do mal”, que “agrada aos operários, aos estudantes, aos intelectuais e aos políticos”, e tem “comportamentos  irrepreensíveis  ditados  por valores não negociáveis”, embora “ao mesmo tempo  se torne protagonista de acções que por vezes desembocam na justiça sumária”, tendo matado ao longo de 60 anos “quase três mil pessoas, uma média de sete cadáveres por edição”.

Os 60 anos em Portugal
O 19º Festival de BD da Amadora, de 24 de Outubro a 9 de Novembro, tem prevista uma exposição, o BDJornal #24 vai publicar um dossier sobre o ranger, que inclui uma BD curta, e o “Blog do Tex” (www.texwiller.blog.com), tem on-line “Tex e os Coyoteros”, uma homenagem “não oficial” de Jorge Magalhães e Augusto Trigo, que mostra um Tex diferente, na sua estreia em conto literário, introspectivo e a questionar acções do seu passado, e a ter até um relacionamento romântico, tema tabu nos quadradinhos.


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F. Cleto e Pina

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Revista “Tintin” belga nasceu há 77 anos

Versão portuguesa foi publicada entre 1968 e 1982

A 26 de Setembro de 1946, chegava aos quiosques belgas o primeiro número de uma nova publicação para os jovens. Tinha por título “Tintin” e seria um dos marcos da banda desenhada franco-belga.
No número de estreia, apenas 4 das 12 páginas apresentavam BD: Hergé retomava “Tintin e o Templo do Sol”, Jacobs estreava “Blake e Mortimer em O Segredo do Espadão”, Cuvelier começava a narrar “As aventuras de Corentin” e Laudy introduzia “La légende des quatre fils Aymon”.
Surgida no difícil período pós-guerra, assente no sucesso de Tintin e com Hergé a definir a linha editorial, a nova publicação teve um enorme sucesso e os 60 mil exemplares esgotaram rapidamente.
Pela revista dos “jovens dos 7 aos 77 anos”, slogan consagrado na capa a partir de 1950, iriam passar outros heróis que marcaram gerações: Alix, Michel Vaillant, Lefranc, Ric Hochet, Chlorophille… a que se juntariam, a partir de 1965, numa renovação levada a cabo por Greg, então chefe de redacção, Comanche, Bruno Brazul, Bernard Prince, Oliver Rameau, Robin Dubois e, mais tarde propostas mais adultas como Spirit, Corto Maltese, Jonathan ou Simon du Fleuve.
O sucesso da “Tintin” belga fez nascer títulos homónimos noutros países, a começar pela França, logo em 1948, seguindo-se edições na Holanda, Congo, Canadá, Cambodja e… Portugal. Esta última estreou-se a 1 de Junho de 1968 e apresentava uma enorme mais-valia: os heróis oriundos da publicação original tinham a companhia dos que então faziam furor na “Pilote”: Astériz, Lucky Luke, Blueberry… E se alguns deles tinham passado pelas páginas do “Diabrete”, “Foguetão” ou“Cavaleiro Andante”, a verdade é que foi na “Tintim” que encontraram a casa ideal, graças ao conjunto de heróis reunidos e à qualidade do papel e da impressão. A versão portuguesa acabou em 1982 e a sua ‘mãe’ belga, ‘órfã’ de Tintin desde 1976, chegaria ao fim a 29 de Novembro de 1988.
Agora, esta data simbólica é assinalada pela Le Lombard com duas edições: “Tintin – Numéro Spécial 77 Ans”, ressuscita em 400 páginas muitos dos heróis originais, revisitados por autores contemporâneos, enquanto que “La Grande Aventure du Journal Tintin 2 – Escale em France” reúne nas suas 777 (!) páginas bandas desenhadas publicadas na versão francesa e inéditas na Bélgica.


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Lado a lado com Hercule Poirot

O detective belga protagoniza investigação com trama original
Colecção dedicada a adptações em BD de romances de Agatha Christie ultrapassa a dezena de títulos

E de forma paulatina, a colecção que a editora Arte de Autor dedica às adaptações em BD dos romances policiais de Agatha Christie, acaba de ultrapassar a dezena de volumes.
Se dela constam já o célebre “No início, eram dez…” e obras protagonizadas por Miss Marple ou por Tommy e Tuppence, também conhecidos como os Beresford, a verdade é que, como seria expectável, é o detective belga Hercule Poirot que protagoniza a maior parte delas, sete no total, incluindo já este “Jogo Macabro”, o décimo-primeiro tomo da colecção, recém-editado.
Como era apanágio da escritora britânica, também neste caso a trama está longe de seguir os cânones do género ou situações triviais, tomando como ponto de partida original um assassinato fictício a ser resolvido pelos visitantes de uma quermesse, enigma esse que, no entanto, rapidamente dará origem a um cadáver, transformando-se a situação hipotética num verdadeiro crime.
Presente para de alguma forma servir de júri ao inusitado desafio, a convite da organizadora, uma velha amiga sua, e assumindo depois as despesas da investigação, o detective de pequena estatura e cabeça em forma de ovo vai ter de interpretar o que lhe vai sendo dito, distinguindo entre verdades, meias-verdades e mentiras, estudando posturas corporais e atitudes e gestos que à maioria passam despercebidos, para descobrir o(s) culpado(s) num ambiente senhorial que evoca tempos passados e exibe uma aristocracia em plena decadência.
Como é inevitável nos relatos do género, nem tudo o que parece é e nem todos se apresentam como realmente são, podendo o leitor acompanhar o detective nas suas deduções e, quem sabe, chegar à solução antes dele a expor.
A adaptação do original, o desenho e a cor são da responsabilidade de Marek que já tinha assinado a ilustração de outro volume desta colecção, “Hercule Poirot: Encontro com a morte”. Com um traço semi-caricatural, mais à-vontade na representação dos cenários do que do corpo humano bem proporcionado, e com uma paleta de tons suaves, Marek consegue concretizar o que nestes casos é fundamental: fazer com que a trama original funcione de forma autónoma no suporte escolhido, a banda desenhada.

Hercule Poirot – Jogo Macabro
Marek, segundo Agatha Christie
Arte de Autor
64 p., 18,95€


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F. Cleto e Pina

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Amadora BD 2023 revela programação e convidados

Super-Homem, Tex, Garfield e Mônica para revisitar de 19 a 29 de Outubro

A 34.ª edição do Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora – Amadora BD 2023, dedicada ao tema ‘Clássicos Intemporais”, terá lugar de 19 a 29 de Outubro, com o núcleo central mais uma vez situado no Ski Skate Park e exposições na Galeria Artur Bual e na Bedeteca da Amadora.
O evento, com um total de 14 exposições, vai celebrar os aniversários do Super-Homem (85 anos), Tex (75), Mônica (60) e Garfield (45), com alguns dos seus criadores. À cabeça, naturalmente surge Maurício de Sousa, pai da Mônica, Cebolinha, Cascão, Magali e muitos outros, estando previstas igualmente as presenças de Jon Bogdanove, Bob McLeod, Mick Gray e do português Miguel Mendonça, todos eles desenhadores do Super-Homem, e de Marco Ghion, desenhador do western há mais tempo em publicação ininterrupta. A galeria de autores convidados inclui igualmente Miguelanxo Prado, a quem o Amadora BD vai consagrar uma mostra retrospectiva da sua carreira.
Como é habitual, o evento dedica igualmente muita atenção aos criadores portugueses, este ano consubstanciada em mostras de originais de Jorge Coelho (“O Grande Gatsby” a editar por A Seita durante o festival), Filipe Andrade (“As Muitas Mortes de Laila Starr”), Bernardo Majer (“Estes dias”, obra vencedora do prémio de Melhor Obra de BD de Autor Português na edição de 2022 dos Prémios de Banda Desenhada da Amadora), Derradé (retrospectiva da carreira), José Smith Vargas (“Vale dos Vencidos”), André Letria (“Causa provável”) e Marta Teives (“O Traço e a Têmpera”).
“Agatha Christie em BD” e “This is not America | Letreiros Comerciais – Século XX” encerram o lote de propostas da edição deste ano que, no seu núcleo central, acolhe uma área expositiva de 950 m2, uma zona comercial da mesma dimensão, que contará com a presença de 13 editoras e lojas, que será palco de lançamentos, sessões de autógrafos, apresentações e palestras, e de uma área de 250 m2 dedicada ao gaming, onde serão promovidas iniciativas relacionadas com o universo da banda-desenhada: cosplay, jogos arcade, realidade virtual, videojogos, consolas e apresentações.
A ilustração do cartaz desta edição é da autoria de Bernardo Majer. O primeiro domingo do festival, 21 de Outubro, acolhe a habitual cerimónia de entrega dos Prémios de Banda Desenhada da Amadora (PBDA).


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F. Cleto e Pina

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BD alternativa perde Joe Matt

Criador norte-americano passou pelo Salão Internacional de BD do Porto

Joe Matt, autor norte-americano de banda desenhada faleceu dia 18, contava 60 anos.
Nascido a 3 de Setembro de 1963, em Landsdale, na Pensilvânia, no seio de uma família de classe média dos subúrbios, com mãe doméstica, três filhos e um pai com emprego incerto, origens que reflectiu de forma hiperbolizada na sua obra.
Com talento natural para o desenho, sempre incentivado pela mãe, após frequentar uma escola católica, entrou para o Philadelphia College of Art, mas teve de abandonar os estudos para ajudar a família. Mais tarde completou a sua formação artística e mudou-se para Nova Iorque, procurando emprego nas revistas locais, sem sucesso. Em 1987, enquanto trabalhava numa loja de livros de banda desenhada, tornou-se assistente de Matt Wagner criador de “Mage” e, principalmente, “Grendel”, fazendo assim a sua entrada no mundo da criação de BD.
Nesse mesmo ano começou “Peepshow”, uma série autobiográfica, traçada a preto e branco com um traço grosso caricatural, em que se expôs abertamente, falando das suas dificuldades em socializar, do seu vício em pornografia, das dificuldades de relacionamento com a namorada e dos traumas permanentes da sua educação católica. E que, 30 anos depois, continua a ser uma das obras mais marcantes e influentes do género .
A Kitchen Sink Press publicou-a a partir de 1992 sob o título “Peepshow: The Cartoon Diary of Joe Matt”, tendo a mesma passado mais tarde para o catálogo da editora canadiana Drawn & Quarterly. Foi como representante desta última e da banda desenhada de tendência auto-biográfica que Joe Matt esteve em Portugal, em 1995, como convidado do VIII Salão Internacional de Banda Desenhada do Porto, juntamente com Chester Brown, Julie Doucet, Seth ou Adrian Tomine.
Sobre ele, o crítico João Ramalho Santos escreveu na época na revista “Quadrado”: “Muitíssimo marcado pelo trabalho de Robert Crumb, (…) Joe Matt encara “Peepshow” como um veículo para contar histórias enquanto expõe as suas neuroses pessoais. Que, como seria de esperar (caso contrário a série não teria grande interesse…), são inúmeras. Assim, Joe Matt, de acordo com a representação que faz de si próprio, é mesquinho, tímido, inseguro, desadaptado, reprimido, extremamente forreta, tem um ego gigantesco, uma cultura geral débil, aproveita-se indecentemente dos amigos, tem uma fixação quase patológica com a pornografia e a masturbação e terríveis dificuldades de relacionamento com os outros (nomeadamente com mulheres)”. E em jeito de conclusão: “a essência de “Peepshow” (…) é a interrogação constante de uma personagem chamada Joe Matt, por um autor de BD que, por acaso, tem o mesmo nome”.
Várias vezes nomeado para os Eisner Awards, um dos principais galardões norte-americanos para a BD, Joe Matt continuaria a trabalhar na série, que teve uma adaptação televisiva de pouco sucesso (2004), até 2006, tendo igualmente desenvolvido trabalho como colorista em séries de super-heróis, género que ele desprezava, como “Batman/Grendel”, “Fish Police” ou “Johnny Quest”.
A notícia da sua morte foi divulgada nas redes sociais pelo seu amigo Matt Wagner, que não adiantou qualquer explicação para o sucedido, mas segundo outras fontes, Matt terá falecido vítima de um ataque cardíaco enquanto desenhava.


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Dono do seu próprio destino

Hernán Cortés, conquistador ambicioso e estratega refinado
O contraste entre duas civilizações em mais um volume da colecção “Descobridores”

A existência de um verdadeiro mercado editorial e, por consequência, de uma verdadeira indústria de banda desenhada (no melhor sentido do termo), para lá da diversificação permite também a especialização em segmentos específicos.
É o caso, por exemplo, das biografias históricas que, tendo por base numa sólida pesquisa que garante a veracidade da informação disponibilizada, proporcionam bandas desenhadas na completa acepção do termo.
No catálogo da francesa Glénat existe um bom número dessas propostas e a Gradiva tem ‘pescado’ nele de forma regular e assertiva títulos mais adequados ao mercado português, dividindo-os por duas coleções: “Eles fizeram História”, onde já pudemos ler sobre Mao, Churchill ou Estaline; e esta “Descobridores”, por onde já passaram Marco Polo, Darwin ou Fernão de Magalhães e onde surge agora “Cortés 1/2: A guerra de duas faces”, dedicado a um dos conquistadores espanhóis que desbravaram o então chamado Novo Mundo para a coroa do país vizinho – e para si próprio – movendo-se com habilidade junto dos seus concidadãos e aproveitando com mestria as guerras internas que grassavam no território.
A a história arranca, em 1492 – ao mesmo tempo que Colombo chegava à América! – quando um muito jovem Cortés, em perigo de vida, desafiando ostensivamente os santos cristãos, se compromete a uma peregrinação depois de… cumprir o seu destino!
Esse destino e o percurso que o levará até lá, vai ser-nos contado em paralelo com o do imperador asteca Montezuma, o que permite uma convincente reconstituição histórica de ambas as civilizações, num relato assente num traço semi-caricatural pouco comum neste registo, tal como a ousadia de algumas cenas mais sensuais ou a violência explícita de alguns confrontos. Numa trama assente em intrigas, guerras – pelo poder e pelas riquezas – e pontuada por uma componente mística e pela forte relação de Cortés com a cativa e amante Leonor, vamos descobrindo o retrato de um homem que foi um conquistador ambicioso e um estratega refinado e que merece ser conhecido hoje, pelo modo como se destacou dos seus congéneres e no seu tempo, contra os poderes instituídos por princípio, mas usando-os quando lhe eram proveitosos, e que via como suprema façanha ser dono do seu próprio destino.

Cortês 1/2: A guerra de duas faces
Christian Chavassieux e Cédric Férnandez
Gradiva
64 p., 20,99€


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Novo álbum de Astérix já tem capa

Intitula-se “O íris branco” e será o 40.º álbum das aventuras de Astérix e Obélix. Está agendado para 26 de Outubro e a capa oficial acaba de ser divulgada.
Sem grandes artifícios gráficos nem muita originalidade, coloca no centro, num tapete verde, Astérix e um romano que terá um papel preponderante no desenrolar da história. No fundo, pintados em tons monocromáticos, vêem-se dois grupos de gauleses, sendo de salientar que o chefe Matasétix e a sua esposa Boapinta estão separados. Este facto ganha relevo pois durante o verão, jornais francófonos publicaram um pequeno conto em seis tiras, “Le combat du Chef” (“O combate do Chefe”), que concluía a prancha-teaser divulgada em Março, em que Astérix e Obélix aconselham o líder gaulês sobre a melhor forma de retomar uma boa relação com a esposa, subentendendo-se que o casal também terá um papel importante na aventura.
Com uma novidade a cada dois anos desde que Uderzo entregou a série aos seus continuadores, os álbuns de Astérix têm seguido um calendário quase imutável: primeiras informações em Março, divulgação da capa no início de Outubro e lançamento mundial por volta de 26 de Outubro. Este ano, a capa é conhecida mais cedo, sem informações adicionais, aparentemente devido a uma inesperada fuga, pois um exemplar do álbum esteve à venda no Vinted, um site francês de artigos em segunda mão, pela módica quantia de nove euros.
Deste quinto álbum sem os criadores dos gauleses, René Goscinny (1926-1977) e Albert Uderzo (1927-2020), sabia-se já que a grande novidade era a substituição do argumentista Jean-Yves Ferry por Fabrice Caro, mantendo-se Didier Conrad como responsável pelo desenho.
Aventura caseira depois da ida às estepes russas em “Astérix e o Grifo”, “O Íris Branco” tem por base o aparecimento de uma nova escola de pensamento positivo, vinda de Roma, que irá influenciar os habitantes da aldeia, provocando dissensões e perturbando o seu equilíbrio.
O álbum terá uma tiragem global de 5 milhões de exemplares, nos quais está contabilizada a edição portuguesa das Edições ASA, que chegará às livrarias nacionais no mesmo dia em que a francófona será posta à venda.


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F. Cleto e Pina

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