O grande romance americano visto por um grande desenhador português
“O Grande Gatsby” retrata os loucos anos 1920 na América
Considerado hoje por muitos “o grande romance americano”, “O Grande Gatsby”, quase a completar 100 anos da primeira publicação, em 1925, não teve na altura grande sucesso, tendo vindo no entanto a ganhar relevância ao longo dos anos.
Na actual apetência da banda desenhada pela adaptação de clássicos da literatura, esta obra de F. Scott Fitzgerald não passou despercebida e uma das versões mais recentes tem a assinatura do desenhador português Jorge Coelho. Publicada originalmente há cerca de dois anos, em comic book, está agora em volume integral nas livrarias portuguesas, numa co-edição A Seita/Comic Heart, na colecção Nona Literatura, dedicada a adaptações literárias em BD.
Gatsby, o protagonista do romance, tem pontos de contacto com Fitzgerald, já que ambos nasceram em meio humilde, foram rejeitados pela mulher que amaram até alcançarem sucesso e, essa rejeição, levou-os a participar na Primeira Grande Guerra.
Ambientado nos “loucos anos 1920”, numa América que era simultaneamente a terra de todos os sonhos e o cemitério da maior parte das ilusões, “O Grande Gatsby” é um retrato duma época que um determinado estrato da sociedade norte-americana viveu de forma faustosa e ostentatória, em claro contraste com a vacuidade das suas existências vividas mais em função da forma do que do conteúdo.
História de paixões, amores ou simples caprichos sentimentais, esta adaptação escrita por Ted Adams encontrou em Jorge Coelho o artista ideal para recriar aquela obra, com o importante contributo das cores da também portuguesa Inês Amaro. O desenhador, que se lançou no mercado norte-americano a desenhar super-heróis para a Marvel, apresenta um notável retrato de época graças a um traço realista, fino e elegante, com o qual recria as enormes mansões e as grandiosas festas que nela tinham lugar, os potentes automóveis que começavam a encher as estradas e as personagens marcantes, orgulhosas e frias que Fitzgerald imaginou.
A opção por manter doses consideráveis do texto original nalgumas cenas, a par de outras que assentam apenas em balões de diálogo, torna o seu desfrutar mais pausado e obriga a um exercício de leitura mais apurado para fruir o belo desenho e reter da combinação de texto e arte a essência daquilo que Fitzgerald quis transmitir.
O Grande Gatsby
Adaptação da obra de F. Scott Fitzgerald
Ted Adams e Jorge Coelho
A Seita
176 p., 28,00 €
Escrito Por
F. Cleto e Pina
Publicação
Jornal de Notícias