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António Alfacinha chega a Portugal

Português da Turma da Mônica na capa da revista “Cebolinha #7”, agora nas bancas; A sua introdução reflecte a aproximação das criações de Maurício de Sousa à realidade do Brasil

Está já a chegar às bancas portuguesas a revista “Cebolinha” #7 (nova numeração iniciada em Janeiro de 2007, quando as revistas da Turma da Mônica passaram a ser distribuídas pela Panini), na qual faz a sua estreia António Alfacinha, o “miúdo luso” que Maurício de Sousa introduziu há pouco mais de meio ano. As revistas da Turma da Mônica, após alguns meses de ausência voltaram a ser distribuídas no nosso país em Julho último, com cerca de uma dezena de títulos mensais, para além de edições especiais como “Lostinho – perdidinhos nos quadrinhos” ou “O Imundo perdido – Horacic Park”, paródias a “Lost” e “Jurassic Park”, respectivamente, a que se juntará, em breve, a primeira compilação das tiras originais dos anos 60 onde os pequenos heróis de Maurício deram os primeiros passos.
Aparentando a mesma idade que a Mônica, Cebolinha, Cascão ou Magali, o Alfacinha, – que usa e abusa do “oh pá!” e do “ora pois!” – veste calção verde e t-shirt vermelha (numa óbvia alusão à bandeira portuguesa) e um colete preto; o cabelo é escuro e lembra um bigode aristocrático português, embora nos primeiros esboços se assemelhasse a uma alface, na forma e na cor. E tem os olhos e as bochechas salientes, típicas das personagens de Maurício, que lhe conferem um ar simpático e divertido e condizem com o carácter desinibido e mesmo provocador do Alfacinha.
A história assenta em divertidos trocadilhos e confusões causados pelas diferenças entre as línguas portuguesa (do Alfacinha) e brasileira (dos restantes intervenientes) e na paixão à primeira vista que o portuguesinho sente pela Mônica, o que provoca uma enciumada resposta do Cebolinha, embora caiba à pretendida a última palavra, dita aos dois, de forma expressiva, com o seu célebre coelhinho.
A introdução do Alfacinha – bem como de Dorinha, a menina cega, Luca, o paraplégico em cadeira de rodas, Bloguinho, um maníaco da informática, ou, em breve, uma menina com Síndroma de Down – enquadra-se na aproximação da Turma da Mónica à realidade actual e no seu espírito de renovação constante, razão pela qual, está já em preparação uma versão da Turma em estilo manga (bd japonesa). Isto a par da aposta noutros suportes: cinema de animação, um parque temático e a internet. Estas são razões que ajudam a explicar o seu sucesso crescente: os seus diversos títulos vendem dois a três milhões de exemplares mensalmente no Brasil, sendo traduzida em países tão diferentes como Espanha, Itália, EUA, Indonésia ou Coreia do Sul.

Entrevista com Maurício de Sousa

“António Alfacinha é uma homenagem aos meus amigos portugueses”

Chama-se Maurício de Sousa, nasceu em 1935, em Santa Isabel, no Brasil, e desde 1959 anima as aventuras aos quadradinhos de um grupo de miúdos que o tornaram famoso: a Turma da Mónica, cuja principal mensagem é “deixem as crianças ser crianças”. Em declarações exclusivas para o Jornal de Notícias explicou falou da génese do António Alfacinha.

Jornal de Notícias – Porquê um português na Turma da Mônica?
Maurício de Sousa – Porque a Turminha não tem fronteiras. Como as nossas personagens são exportadas para dezenas de países, achei que era uma óptima oportunidade de mostrar ao mundo que o Brasil acolhe pessoas de todas as nacionalidades com o mesmo carinho.

Como nasceu o António Alfacinha?
Eu tinha planos para um miúdo luso há muito tempo. Quando estive no Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora, em 2006, vi pela reacção dos leitores portugueses que estava mais do que na hora. Então, tratamos de estudá-lo e de moldá-lo para se encaixar no perfil da Turminha.

Quais as maiores dificuldades que houve na sua criação?
Ah, sem dúvida, foi mostrar que o António Alfacinha é uma homenagem aos meus queridos amigos portugueses. Tomamos todo o cuidado para que ele não soasse como uma paródia. A ideia de brincar com as diferenças dos nossos idiomas ajudou muito para esse fim.

Quais têm sido as reacções dos leitores ao António?
Os leitores adoraram a sua primeira aparição. E como desde então ele não tornou a aparecer (logo, logo, ele retorna), têm-nos pedido novas histórias.

Com que frequência vamos encontrá-lo nas revistas da Turma da Mônica?
Não estabelecemos qualquer tipo de frequência. As personagens adquirem vida própria quando passam a chamar mais e mais a atenção dos leitores. Eu diria que o Alfacinha está no bom caminho.


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F. Cleto e Pina

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Mônica escolhida pela UNICEF como a sua nova embaixadora no Brasil

Estúdios de Maurício de Sousa em negociações com a Marvel para criarem aventuras brasileiras do Homem-Aranha

O Fundo das Nações Unidas para a Infância anunciou a escolha da Mônica como sua nova embaixadora no Brasil. O título, concedido há dias, vem reforçar a importância das criações de Maurício de Sousa e justificar a forma como ele as tem usada nas mais diversas campanhas (alfabetização, vacinação, etc.) em prol da sociedade e dos mais necessitados.
Criada em 1963, depois de Franjinha, Bidu, Cebolinha ou Cascão, Mónica em breve se tornou a personagem central da Turma a que acabou por dar o nome, sendo facilmente reconhecível pelo seu vestido vermelho curto, pelos dentes grandes e por andar sempre acompanhada pelo seu coelho azul de peluche, que lhe serve de arma de arremesso quando os outros meninos da Turma a aborrecem.
Entretanto, mostrando um invulgar dinamismo, entre outros projectos, como uma versão em estilo manga (BD japonesa) da Turma ou a sua transposição para mais desenhos animados, Maurício de Sousa acaba de anunciar que está em negociações com a Marvel Comics para criar uma versão brasileira das aventuras do Homem-Aranha. Segundo o autor, a ideia é recuperar o espírito original do herói, mas “com o nosso estilo, traço, cuidado, jeito e grafismo. Não uma história infantil” como a Mônica, mas algo que combine a dinâmica daquele super-herói com a alegria das suas criações, direccionada para um segmento juvenil. E com as aventuras, “logicamente, se passando no Brasil”.
A concretizar-se este projecto, será a terceira versão não-americana do famoso aracnídeo, depois das produzidas no Japão e na Índia, com o intuito de conquistar novos leitores, ao aproximar o conceito original da realidade local bem específica de cada um daqueles países. Neste último, por exemplo, o protagonista é um jovem indiano chamado Pavitr Prabhakar, que sobrevoa ruas congestionadas com carrinhos puxados por homens e lambretas ou trepa a monumentos como o Taj Mahal, tendo como maior inimigo, nesta versão, não o Duende Verde, mas sim Rakshasa, um demónio indiano mitológico.


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F. Cleto e Pina

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Perdidos

Entre as revistas brasileiras (Marvel, DC Comics, Turma da Mônica), que desde há três meses chegam às bancas portuguesas, há, este mês, uma edição especial: “Lostinho – Perdidinhos nos Quadrinhos”, uma paródia à série televisiva “Lost” (“Perdidos”, na versão da RTP1).
Por isso, encontramos numa ilha (aparentemente) deserta, Mônica, Cebolinha, Magali ou Cascão, assumindo, respectivamente, os papéis de Kate, Jack, Claire ou Charlie, numa bem conseguida amálgama dos dois universos. Por um lado, as personagens de Maurício mantêm as suas características próprias (o horror de Cascão à água, as tentativas de Cebolinha roubar o coelho à Mônica, os choques constantes entre Bugu (Locke) e Bidu), mas, por outro lado, vivem as situações de “Lost” (a gravidez de Magali/Claire, a descoberta da escotilha, o aparecimento dos Outros, os números azarados de Quinzinho/Hurley, etc.).
E, sobre “Lost”, “Lostinho” tem duas vantagens de peso: por um lado, o humor, que surge constantemente, quer aproveitando situações recorrentes nas histórias da Turma, quer satirizando os acontecimentos da série (os flashbacks, o mistério constante, a incongruência de alguns episódios), por outro, a forma divertida, equilibrada e razoável como os Estúdios de Maurício de Sousa resolveram o imbróglio em que se meteram os argumentistas televisivos, com destaque para a identidade dos Outros e para a conclusão da aventura.


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F. Cleto e Pina

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Banda desenhada de regresso às bancas

Edições brasileiras da Turma da Mónica, Batman, Homem-Aranha e X-Men animam segmento moribundo; Haverá também edições feitas especialmente para Portugal

Nascida nos jornais – em 1896, com “The Yellow Kid”, de Richard F. Outcault, decidiram especialistas em Luccana, com óbvias intenções mediáticas proporcionadas pelo então próximo centenário – a banda desenhada fez nas revistas grande parte do seu percurso e foi nelas que nasceram, por exemplo, Super-Homem, Batman, Homem-Aranha ou X- Men e também Spirou, Astérix ou Blueberry.

Em Portugal, este segmento de mercado, que ao longo de décadas contou títulos como “O Papagaio”, “O Mosquito”, “Cavaleiro Andante” ou “Mundo de Aventuras”, acompanhando o que acontece no resto da Europa, está em franco declínio e, no último ano e meio, devido ao aumento de títulos da chamada imprensa cor-de-rosa nas bancas e quiosques, que retiraram visibilidade às outras edições, e à crise financeira que fez com que as vendas das revistas de BD baixassem drasticamente, foram sucessivamente canceladas mais de duas dezenas de publicações de histórias aos quadradinhos da Disney, Marvel ou Bonelli, restando, praticamente, apenas os vários títulos de Tex, que a brasileira Mythos distribui em Portugal, e de Witch, as simpáticas bruxinhas da linha Disney para raparigas.

Mas esta situação pode vir a mudar pois, nos últimos dias chegaram aos quiosques portugueses cerca de uma dúzia de títulos da Turma da Mónica, bem como revistas dos heróis da Marvel e da DC Comics (ver caixa). Motivos de regozijo para os fãs do género, que têm inundado os fóruns da especialidade com perguntas, desde que a notícia começou a circular há quase um ano, e que desesperaram perante a passagem das sucessivas datas adiantadas. Para José Carlos Francisco, representante da Mythos em Portugal, esta invasão é benéfica pois “essas revistas vão injectar um novo fôlego no mercado de BD, o que será benéfico para as outras editoras e levará os proprietários dos pontos de venda a olhar para a BD com outros olhos”. Pedro Silva, da loja especializada BDMania e da editora homónima, acreditando “que a procura do material importado não sofrerá grandes alterações”, reconhece que “uma maior oferta e exposição poderão converter ou recuperar leitores”, mas não alimenta “grandes expectativas porque o desconhecimento do mercado português pode levar a que, tão rápida como a invasão, também a fuga se possa dar”.

Como principais vantagens desta “importação”, estão desde logo o preço, cerca de 50 % inferior ao que era praticado nas edições lusas, devido ao papel inferior e aos custos menores no Brasil e ao facto de se tratar de sobras da distribuição no mercado brasileiro, e também a variedade, caso o mercado português corresponda, isto porque todas as edições brasileiras da Panini deste mês (cerca de 20) – que poderão estar em Portugal daqui a 6 meses – vêm marcadas em reais e em euros. A par da questão da língua (ver caixa) o facto de se tratar de sobras aponta as principais desvantagens: estado dos exemplares e oscilação nas quantidades que chegam ao nosso mercado, dependentes que estão das vendas no Brasil.

[Caixa 1]

O que está nas bancas

Turma da Mônica

Revistas novas e almanaques de republicação dos principais heróis (Mônica, Cebolinha, Magali, Cascão, Chico Bento), bem como edições especiais e de jogos. A grande novidade é “Ronaldinho Gaúcho”, com histórias protagonizadas pelo craque do Barcelona em miúdo.

Marvel

As séries regulares de Homem-Aranha e X-Men (cuja distribuição em Portugal começa no #60 da edição brasileira) e dos Novos Vingadores (#35). “Civil War” chegará em Dezembro.

DC Comics

“Batman Ano 100”, uma história de Paul Pope em dois volumes, passada 100 anos após o nascimento do herói, e “Crise Infinita”, mini-série em 7 números, que revolucionou e transformou para sempre o universo onde actuam Batman e Super-Homem, cujas edições regulares estarão cá no final do ano.

[Caixa 2]

Português ou brasileiro?

Num tempo em que o mais importante são “as ideias” e não os erros ortográficos ou a construção frásica, o facto destas revistas virem em “brasileiro” não deverá levantar grande celeuma, mas a verdade é que não deixa de ser um retrocesso em relação ao passado recente, no que diz respeito às edições de super-heróis que a Devir publicou em português durante quase 7 anos, devendo agora “soar” estranho o Homem-Aranha, Wolverine ou Batman a falarem com sotaque de novela brasileira.

Relativamente à Turma da Mônica, o sotaque aceita-se com naturalidade, por ser a língua original das criações de Maurício de Sousa, que chegou a essa mesma conclusão através de uma mini-sondagem que fez aos seus leitores durante a sua passagem pelo Festival de BD da Amadora, em 2006.

No entanto, a chegada da Panini a Portugal, no que à BD diz respeito, ficará também marcada por algumas edições feitas especialmente para o nosso país. Traduzida e balonada aqui e impressa em Itália, a colecção “Marvel 100%” destina-se a livrarias, terá 144 páginas e custará 12,00 €. “Quarteto Fantástico: O Fim”, já no próximo mês, “Marvel Knights Homem-Aranha: No Reino dos Mortos” e “Eternals”, serão os primeiros volumes.


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F. Cleto e Pina

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Nas bancas (III)

O regresso da BD às bancas, com edições brasileiras da Turma da Mónica, Marvel e DC Comics, possibilita a reaproximação ao universo desta última, algo esquecido entre nós nos últimos anos, para já através de dois títulos, devendo as revistas “Batman” e “Superman” chegar no final do ano.

“Batman Ano 100 (1 de 2)”, escrito e desenhado por Paul Pope, com cores de José Villarrubia, situa o Homem-Morcego em 2039, 100 anos após a sua criação por Bob Kane, perturbando a ordem estabelecida (leia-se imposta), num thriller violento e dinâmico, baseado numa conspiração de contornos ainda indefinidos.

Quanto a “Crise Infinita”, de Geoff Johns (argumento), Phil Jimenez e Andy Lanning (desenhos) é uma mini-série em 7 volumes, surgida na sequência de “Crise nas Infinitas Terras” que, em 1985, tentou reorganizar o Universo DC, então dividido por diversas Terras alternativas ou paralelas, nas quais um mesmo herói podia ter diferentes idades e origens, com a agravante de poder circular entre elas. No final ficou uma única Terra, mescla de todas as outras, à custa de um bom número de heróis, vilões e eventos. As pontas então deixadas soltas são agora unidas, numa obra de leitura complexa, mas fundamental para perceber o universo onde evoluem Batman, Superman, Mulher Maravilha e muitos outros, e que congrega o pior (uma certa confusão) e o melhor (a capacidade inventiva) das BDs de super-heróis.


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F. Cleto e Pina

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Nas bancas (II)

O regresso da BD às bancas, com edições brasileiras da Turma da Mónica, Marvel e DC Comics, possibilita a reaproximação ao universo desta última, algo esquecido entre nós nos últimos anos, para já através de dois títulos, devendo as revistas “Batman” e “Superman” chegar no final do ano.

“Batman Ano 100 (1 de 2)”, escrito e desenhado por Paul Pope, com cores de José Villarrubia, situa o Homem-Morcego em 2039, 100 anos após a sua criação por Bob Kane, perturbando a ordem estabelecida (leia-se imposta), num thriller violento e dinâmico, baseado numa conspiração de contornos ainda indefinidos.

Quanto a “Crise Infinita”, de Geoff Johns (argumento), Phil Jimenez e Andy Lanning (desenhos) é uma mini-série em 7 volumes, surgida na sequência de “Crise nas Infinitas Terras” que, em 1985, tentou reorganizar o Universo DC, então dividido por diversas Terras alternativas ou paralelas, nas quais um mesmo herói podia ter diferentes idades e origens, com a agravante de poder circular entre elas. No final ficou uma única Terra, mescla de todas as outras, à custa de um bom número de heróis, vilões e eventos. As pontas então deixadas soltas são agora unidas, numa obra de leitura complexa, mas fundamental para perceber o universo onde evoluem Batman, Superman, Mulher Maravilha e muitos outros, e que congrega o pior (uma certa confusão) e o melhor (a capacidade inventiva) das BDs de super-heróis.


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F. Cleto e Pina

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António Alfacinha, um português na Turma da Mônica

Novo herói de Maurício de Sousa estreia-se em Julho no Brasil; Revistas com as primeiras histórias deverão chegar a Portugal em Dezembro; diferenças de linguagem em Portugal e no Brasil são a base das suas histórias

A notícia avançada por Maurício de Sousa em Novembro do ano passado, tem agora data e local oficiais: António Alfacinha, lisboeta de gema, o “miúdo luso” da Turma da Mônica vai fazer a sua estreia no nº 7 da revista “Cebolinha”, que será lançada no Brasil na próxima semana. E como após longos meses de ausência, as revistas da Mônica, Cebolinha, Cascão e companhia voltaram às bancas portuguesas a semana passada, com seis meses de atraso em relação à distribuição no Brasil, Portugal terá de esperar até Dezembro para o conhecer.

Esta nova personagem não é caso único na história recente da Turma da Mônica. “Para que ela espelhe a realidade brasileira”, declarou Maurício de Sousa ao Jornal de Notícias, em Novembro último, no Festival de BD da Amadora, “criámos Dorinha, a menina cega, Luca, o paraplégico em cadeira de rodas… vem aí uma menininha com Síndroma de Down e uma família negra porque nós temos poucas personagens negros e estamos a sentir falta deles” ou Bloguinho, um maníaco da informática. António Alfacinha é “uma ideia antiga” de Maurício que agora se concretiza.

O seu processo de criação, como habitualmente, “envolveu muita pesquisa, conversámos com pessoas, vimos a parte positiva, a parte negativa, até me sentir pronto para fazer a personagem”. E passa por coisas (aparentemente) tão simples como definir o seu aspecto – Alfacinha nos primeiros esboços tinha um cabelo verde-alface assemelhado mesmo a uma alface e acabou com cabelo preto e risca ao meio, a lembrar um bigode aristocrático – ou as suas roupas, – cuja combinação de cores andou sempre em torno das da bandeira portuguesa, e que acabaram por se fixar em calções verdes, t-shirt vermelha, colete preto e sapatos castanhos. E os olhos e as bochechas salientes típicas das personagens de Maurício, que lhes conferem um ar simpático e divertido e condizem com o carácter desinibido e mesmo provocador do Alfacinha. O passo seguinte foi “testá-lo, com as mulheres do estúdio: são mais sensíveis, dão ideias e respostas mais honestas”.

Como principal característica, o Alfacinha “fala o português original de Portugal, com diferenças fonéticas, palavras diferentes, para que as crianças no Brasil também as conheçam e até comecem a utilizá-las. Assim haverá uma aproximação de crianças do Brasil e de Portugal que acho extremamente positiva”.

E é nessas diferenças da língua (visível logo no nome: António, com “o” aberto, e não “Antônio” à brasileiro) que se baseiam as três primeiras histórias que Alfacinha co-protagoniza. Nelas, sucedem-se os trocadilhos e as confusões verbais, com bem conseguidos efeitos cómicos, possivelmente mais acessíveis a nós portugueses, mais habituados à língua brasileira, pela influência das telenovelas e da música, do que o inverso. Depois de travar conhecimento com o Cebolinha logo na primeira história – “Alfacinha, o miúdo luso” – António – que usa e abusa do “oh pá!” e do “ora pois!” – conhece outros membros da Turma, como o Cascão e o Xaveco, com quem joga futebol. O encontro com a Mônica, resulta em paixão à primeira vista para o pobre portuguezinho, que é enganado pelos outros miúdos, quanto às melhores frases para a cativar. Depois de levar uma tareia “de coelho”, a marca registada da Mônica, Alfacinha vingar-se-á de forma surpreendente! Na terceira história, a sua paixão pela “cachopinha” desperta os ciúmes do Cebolinha, começando entre ambos uma guerra culinária que termina da forma habitual, com os dois pretendentes unidos na desgraça, vencidos e (con)vencidos pelo coelho da Mônica!

[Caixa 1]

Perfil

Maurício de Sousa

Nascido em Santa Isabel, no Brasil, em 1935, Maurício de Sousa, após uma infância normal e uma adolescência dividida entre os estudos e o trabalho para ajudar os pais, mudou-se para São Paulo para tentar concretizar o sonho de ser desenhador profissional, acabando como repórter policial do “Folha da Manhã”. Continuando sempre a desenhar, em 1959 cria Bidu e Franjinha em tiras que vendeu ao seu jornal, juntando-lhes sucessivamente Cebolinha, Piteco, Chico Bento e muitos outros que, ao fim de 10 anos, eram publicados em mais de 200 jornais brasileiros. Começava assim um verdadeiro império dos quadradinhos – as suas revistas vendem hoje cerca de 2 a 3 milhões de exemplares por mês só no Brasil, e chegam a lugares tão distintos como os EUA, Espanha, Itália, Coreia ou Indonésia – que Maurício, com tanto de criador genial como de gestor atento à realidade, tem sabido estender a outros meios: televisão, cinema, parques temáticos, sendo a Internet o próximo passo. A par disto, o licenciamento de inúmeros produtos com os seus heróis e a participação gratuita em campanhas de solidariedade, nacionais e internacionais, contribui sobremaneira para a difusão da Turma da Mônica, cuja principal mensagem é “deixem as crianças ser crianças”.

[Caixa 2]

Os outros portugueses que Maurício criou

António Alfacinha não é o primeiro português criado por Maurício de Sousa nos seus “quadrinhos”, embora seja o primeiro a merecer um lugar de (relativo) destaque. Nos anos 50, ainda a Turma não existia, Maurício criou Mingão, o dono de um talho, que agora chegou a ser apontado como pai do Alfacinha, o que acabou por não se concretizar. Entretanto abandonado, voltou a aparecer de forma fugaz em “Lostinho – perdidinhos nos quadrinhos”, uma sátira da Turma da Mônica à série televisiva “Lost” (“Perdidos”).

Em tempos mais recentes. Quinzinho foi outro português a cruzar os caminhos da Turma, como namorado da comilona Magali. Filho de um padeiro, ao contrário do que se possa pensar, o seu nome não é diminutivo de Joaquim, mas antes uma tradição familiar pois os irmãos chamam-se Onzinho, Dozinho, Trezinho…


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F. Cleto e Pina

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Nas bancas (I)

Após longa ausência, esta semana voltaram às bancas portuguesas revistas da Turma da Mónica, reanimando o sector juntamente com edições brasileiras da Marvel e da DC. A par da estreia em revista própria de Ronaldinho Gaúcho, nas suas traquinices de miúdo, há ainda uma dúzia de títulos, com o nome dos principais heróis (Mónica, Cebolinha, Cascão, Magali, Chico Bento), entre revistas novas (com a numeração a recomeçar do #1) e almanaques antológicos, edições especiais e de jogos.

Lê-las, é como reencontrar velhos amigos que conhecemos bem, o que é, aliás, uma das razões do seu sucesso: crianças normais, bem caracterizadas, constantes e coerentes, que brincam num mundo como o nosso, expurgado de tudo aquilo que é prejudicial, transmitindo de forma bem divertida mensagens positivas (amizade, responsabilidade, segurança, consciência ecológica, etc.), sem cair em moralismos excessivos.

Nós sabemos como cada um vai agir: antecipamos os planos do Cebolinha, as respostas arrasadoras da Mónica, a fuga à água do Cascão ou a fome da Magali, mas não conseguimos, mesmo assim, deixar de sorrir com as peripécias e desfecho de cada história. O que não impede que não possa haver surpresas, como uma sátira ao Big Brother Brasil, em “Cebolinha #1”, ou a história inicial de “Cascão #1”, em que ele assume a identidade de diversos membros da Turma, para no final assumir o lugar do desenhador.


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F. Cleto e Pina

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Turma da Mônica parodia a série “Perdidos”

A edição “Lostinho – Perdidinhos nos quadrinhos” deve chegar a Portugal após o Verão

Acaba de ser distribuída no Brasil uma edição especial da Turma da Mônica, intitulada “Lostinho – Perdidinhos nos Quadrinhos” que é uma paródia à série televisiva norte-americana “Perdidos” (“Lost” no original) que em Portugal é transmitida pela RTP 1.
Maurício de Sousa, que fez questão de participar na sua escrita “para que a história não funcionasse apenas para os seguidores de série”, decidiu “perder” os seus heróis numa ilha deserta, onde Cebolinha, Mônica, Cascão e Magali, que encarnam, respectivamente, as personagens Jack, Kate, Charlie e Claire da série televisiva, acordam um dia, com os restos de um avião por perto, mas sem saber como lá chegaram ou como de lá podem sair. Após sucessivas e divertidas peripécias, que decalcam acontecimentos originais de “Lost”, mas adequando-os ao universo da turma, como a descoberta da escotilha, os números amaldiçoados de Hurley, os sucessivos flash-backs ou os encontros com os Outros, os componentes da Turma da Mônica acabam por descobrir que estes são antigas criações de Maurício de Sousa, entretanto abandonadas.
Esta edição, com 80 páginas a cores (que incluem esboços e desenhos preparatórios) e formato maior que o habitual, não é a primeira em que Mônica e companhia parodiam séries e filmes, destacando-se títulos como “Horacic Park”, “Batmenino eternamente”, “Romeu e Julieta” ou “Coelhada nas Estrelas”. E em preparação está já uma sátira ao “Big Brother Brasil”, na qual “a Dona Morte, um dos nossos personagens, entra na casa do BBB.”.
Graficamente, esta edição avança mais um pouco na “mangalização” da Turma da Mônica, ou seja na aproximação do seu estilo ao do manga e anime (BD e animação japoneses), sendo esta uma “mudança que já começou há algum tempo; houve uma pequena reacção, o público tradicional achou uma heresia, mas a criançada gostou”, explica Mauricio de Sousa acrescentando que “cada vez mais vamos buscar inspiração aos desenhos animados”.
No início deste ano todas as publicações da Turma da Mônica recomeçaram do número 1, devido a uma mudança de distribuidora (da Globo para a Panini Comics), devendo essas primeiras edições ser distribuídas nas bancas portuguesas durante o próximo mês, e “Lostinho – Perdidinhos nos Quadrinhos” depois do Verão.


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