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Banda Desenhada — Porquê “Nona Arte”?

Usamos a designação “nona arte” para a Banda Desenhada, mas muita gente não saberá porquê. Deve-se tudo ao Manifesto das Sete Artes, do italiano Ricciotto Canudo, publicado em 1923.

Manifesto das Sete Artes

O termo sétima arte para designar o Cinema foi dado por Ricciotto Canudo (1) no “Manifesto das Sete Artes”, em 1911 (publicado apenas em 1923). Essa referência é apenas indicativa, cada uma das artes é caracterizada pelos elementos básicos que formatam a sua linguagem e classificadas da seguinte forma:

• 1ª Arte – Música (som);
• 2ª Arte – Dança/Coreografia (movimento);
• 3ª Arte – Pintura (cor);
• 4ª Arte – Escultura (volume);
• 5ª Arte – Teatro (representação);
• 6ª Arte – Literatura (palavra);
• 7ª Arte – Cinema (integra os elementos das artes anteriores mais a 8ª [ver abaixo] e no Cinema de Animação a 9ª).

Há uma certa dúvida [sobre] se a ordem colocada estaria correcta, porém um maior número de pessoas concorda com a ordem encontrada, apenas [se] criando uma grande dúvida na posição do teatro e da literatura.
Outras formas expressivas também consideradas artes foram posteriormente adicionadas ao manifesto:

• 8ª Arte – Fotografia (imagem);
• 9ª Arte – Banda Desenhada (cor, palavra, imagem);
• 10ª Arte – Jogos de Computador e de Vídeo (alguns jogos integram elementos de todas as artes anteriores somadas à 11ª [ver a seguir], porém no mínimo integra as 1ª, 3ª, 4ª, 6ª, 9ª arte somadas à 11ª desde a Terceira Geração dos Videojogos);
• 11ª Arte – Arte Digital (integra artes gráficas computorizadas 2D, 3D e programação).
Banda Desenhada, BD, história aos quadradinhos ou história em quadradinhos, quadrinhos, gibi, HQ, comics, tebeos, historietas, fumetti, mangá, manhwa, etc… é uma forma de arte que conjuga texto e imagens com o objectivo de narrar histórias dos mais variados géneros e estilos. [Estas] são, em geral, publicadas no formato de revistas, livros, ou em tiras publicadas em revistas e jornais. Também é conhecida por arte sequencial, definição atribuida por Will Eisner (ver em “Dicionário Universal da Banda Desenhada – Pequeno Léxico Disléxico”, de Leonardo De Sá).
A Banda Desenhada é portanto, chamada “Nona Arte”, dando sequência à classificação de Ricciotto Canudo. O termo “arte sequencial” (traduzido do original sequential art), criado pelo autor norte-americano Will Eisner com o fim de definir «o arranjo de fotos ou imagens e palavras para narrar uma história ou dramatizar uma ideia», é comummente utilizado para definir a linguagem usada nesta forma de representação. Uma fotonovela e um [trabalho] infográfico jornalístico também podem ser considerados formas de arte sequencial.
A Banda Desenhada é conhecida por comics nos Estados Unidos, bande dessinée em França, fumetti na Itália, tebeos em Espanha, historietas na Argentina, muñequitos em Cuba, mangás no Japão, manhwas na Coréia do Sul, manhuas na China e por outras várias designações pelo mundo fora.
A minha intenção, com o post sobre o porquê de se chamar à Banda Desenhada a “nona arte”, era meramente elucidativo. No entanto, nos comentários que fez (…), o Álvaro, ao contestar a “classificação das artes” [no blog Kuentro], leva a coisa para outro plano. Mas ele não entende o contexto do “Manifesto das Sete Artes”, para isso bastava ler o texto de Ricciotto Canudo (que era crítico de cinema), para perceber que tudo aquilo tinha apenas a intenção de definir o cinema como a “sétima arte”, por isso nem sequer lá colocou a Fotografia (sem ela não haveria Cinema e até a própria Banda Desenhada é anterior à Fotografia) e fez desaparecer da classificação a Arquitectura. Se seguisse a lógica que começou a definir esta “classificação das artes”, em meados do século XIX, o Cinema seria a 9ª ou 10ª arte e não a detentora do “mágico” número 7. Claro que estas classificações não tinham qualquer intenção crítica, nem grande lógica. Canudo queria apenas que o Cinema fosse elevado ao estatuto de arte e não de mera indústria, como era (e ainda é) considerado.“Mas esta “fúria” classificativa das artes, no séc. XIX, tem a ver com a emergência do estatuto de artista, que sempre foi muito diluído ao longo dos tempos. Basta perceber que na Grécia antiga, as artes plásticas tinham, basicamente, duas funções: decorar a Arquitectura e pedir ou agradecer aos deuses. A Pintura e a Escultura eram executadas por artesãos, não por “artistas”. E a palavra “artesão” significava técnica, habilidade, uma espécie de conhecimento técnico e estava associado ao trabalho, à profissão. E a mesma palavra era utilizada para o trabalho na Olaria e na Joalharia. Além disso, muitas esculturas tinham finalidades meramente religiosas. Não eram vistas como obras de arte. Os relevos eram utilizados para decorar templos e altares com o objectivo de narrar mitos. O mesmo valia para as ânforas (jarras ou vasos), que poderiam trazer nas suas pinturas cenas mitológicas ou do quotidiano.
Para os gregos antigos, a Música e a Poesia eram classificados noutra categoria de actividades, com uma definição mais próxima do que consideramos hoje em dia como arte. Tratava-se de actividades que não resultavam apenas de uma habilidade aprendida, mas de talento pessoal. “Aliás, tudo isto está muito melhor explicado no “Dicionário Universal da Banda Desenhada – Pequeno Léxico Disléxico”, de Leonardo De Sá, embora eu não concorde com algumas coisas que ele escreve na entrada sobre “Nona Arte”, nomeadamente no que os gregos antigos “pensavam” sobre estas coisas…“Mas por outro lado, o Álvaro está enganado quanto à definição do Erotismo como forma de arte. É preciso explicar, para não armar confusão, que o Erotismo/Pornografia é um tema transversal a todas as formas de arte e não é, ele próprio, uma forma de arte. “Quanto ao Design, aconselho o Álvaro a dizer aos discípulos de Bruno Munari que o Design é uma forma de arte e verá a roda que leva…

(1) Ricciotto Canudo, [Gioia del Colle (Itália), 1877 – Paris, 10 de novembro de 1923] foi um teórico e crítico de cinema pertencente ao futurismo italiano. Estudou no “Instituto Tecnico Superiore de Bari”, onde se licenciou em Física e depois Línguas Orientais e Estudos Bíblicos, na Universidade de Florença.

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21º AmadoraBD, um dos Balanços Possíveis

Refere Jorge Machado-Dias, no seu blog Kuentro: «O 21º AmadoraBD’2010 apresentou este ano 18 exposições no Fórum Luís de Camões e mais cinco espalhadas pela cidade (que quase ninguém terá visitado). O projecto de arquitectura foi de Traços na Paisagem, Atelier das Artes, Estudos e Projectos, Lda. de Cascais. E não resisto, desde já a apontar duas tremendas “gralhas” deste projecto: a “Praça Central” do piso superior do Fórum – pela sua enormidade e inutilidade, sem sequer ter iluminação própria – e a chamada Praça Sul, do piso inferior, que supostamente deveria ser um espaço aberto aos stands e actividade comercial, mas que, mercê de uma dupla colunata envolvente e completamente inútil, escondia os stands e especialmente, as exíguas “portas” de acesso às lojas, das vistas dos visitantes. O cliente de qualquer projecto de arquitectura deve superintender a execução do mesmo e impedir estes erros de palmatória – os arquitectos (e sei bem do que falo), muitas vezes querem “fazer o bonito” esquecendo completamente o PRÁTICO.
O design gráfico de materiais de comunicação, sítio na internet, anúncio televisivo e para multibanco (que este ano nem existiu no Fórum Luís de Camões, note-se), foi de GBNT Lda., Gabinete de Design (Chiado, Lisboa).
Devo dizer que este ano não houve nenhum “flop” expositivo, como aconteceu em 2009. As exposições apresentaram, todas elas, grande qualidade, tanto cenograficamente – evitando-se alguma sobrecarga de cenários – como dos materiais expostos. Incluo mesmo a exposição Beyond Kawaii, colectiva dos alunos do departamento de Animé da Universidade Politécnica de Tóquio, que não continha qualquer efeito cenográfico, mas apresentou materiais com interesse».
Das 18 exposições exposições patentes no 21º Festival Internacional de Banda Desenhada, Jorge Machado-Dias, editor da pedranocharco e do “BDJornal”, tem vindo a publicar no seu blog Kuentro uma extensa reportagem fotográfica.
Da sua visão de “Beyond Kawaii, – 150º Aniversário das Relações Nipo-Portuguesas”, organizada em parceria com a Universidade Politécnica de Tóquio – Departamento de Anime (aliás a exposição também estava designada no Catálogo Geral como Colectiva Anime), de que foi comissária a professora Suyama escreve Machado-Dias no seu blog Kuentro: «Os portugueses chegaram ao Japão em 1543 (…) !!! Por isso, ninguém minimamente informado, entende esta referência ao 150º Aniversário das relações nipo-portuguesas, senão referindo-se ao 150º Aniversário da Assinatura do Tratado de Paz, Amizade e Comércio entre o Japão e Portugal de 1860 – o qual não aparece na referência à data –, e que não é bem a mesma coisa de relações nipo-portuguesas (essas existem há 467 anos) e isso deveria ser explicado a quem visitasse a exposição. Falhas como esta, nas referências históricas, condenam muitas vezes as intenções com que são feitas as coisas, por falta de rigor. O Comissariado do Amadora BD, precisa de dar mais atenção a detalhes deste tipo, para tornar credíveis as afirmações que ostenta nos placards de informação. “Portanto onde está “150º aniversário das relações nipo-portuguesas”, leia-se “150º da Assinatura do Tratado de Paz, Amizade e Comércio entre o Japão e Portugal”».
E por agora deixemos o Japão e falemos doutros exemplos de cooperação internacional, como a exposição “Lusofonia – Nona Arte em Língua Portuguesa”, comissariada por Nelson Dona, com projecto e execução da cenografia de Ana Couto, e que contou com a presença de Autores presentes: Jô Oliveira (Brasil), Lindomar Sousa (Angola), Nuno Saraiva (Portugal) e Zorito Chiwanga (Moçambique). Ou do desenho de Ricardo Cabral, em parceria com Balbina Bruszewska na história “Lágrimas de Elefante” (publicado no Catálogo Geral do 21º Amadora BD 2010) e que aqui também reproduzimos, com muita pena, a preto e branco.

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Futebol e BD ao Serviço das Nações Unidas

Wilfried Lemke, o Conselheiro Especial do Secretário Geral das Nações Unidas (ONU) para o desporto ao serviço do desenvolvimento e da paz, apresentou esta semana uma banda desenhada que pretende sensibilizar para os Objectivos do Milénio para o Desenvolvimento (OMD), especialmente vocacionada para as crianças e adolescentes entre os 8 e os 12 anos.
A história de “Score the Goals” começa com o naufrágio de um veleiro, a bordo do qual seguiam 10 futebolistas famosos, todos eles embaixadores das Nações Unidas, que iam participar num jogo amigável a favor da ONU. Trata-se de Luís Figo, Emmanuel Adebayor, Roberto Baggio, Michael Ballack, Iker Casillas, Didier Drogba, Raúl, Ronaldo, Patrick Vieira e Zinédine Zidane que, chegados a uma ilha deserta, terão que fazer face a uma série de situações novas e desconhecidas, auxiliando os restantes náufragos.
Dessa forma, ao longo do relato, vão sendo introduzidos e explicados de forma simples e directa os oito Objectivos do Milénio para o Desenvolvimento até 2015: erradicar a pobreza extrema e a fome, alcançar o ensino primário universal, promover a igualdade de género e autonomização da mulher, reduzir a mortalidade infantil, melhorar a saúde materna, combater o VIH/SIDA, a malária e outras doenças, garantir a sustentabilidade ambiental e criar uma parceria global para o desenvolvimento.
Iker Casillas, guarda-redes do Real Madrid, durante a apresentação declarou-se “muito honrado por participar nesta banda desenhada, pois é um meio ao mesmo tempo lúdico e pedagógico que permite sensibilizar as crianças do mundo inteiro para os OMD, ensinando valores como a tolerância, o respeito e o espírito de equipa. Como diz a BD: juntos podemos conseguir!”.
Lemke realçou que “ainda há poucas pessoas no mundo que conhecem os OMD, por isso é primordial chamar a atenção para eles, em especial junto dos mais jovens”.
Embora vá ter uma primeira edição impressa com uma tiragem de 10 mil exemplares que vão ser distribuídos pela ONU junto dos seus parceiros, a banda desenhada pode ser descarregada no formato pdf em http://www.un.org/wcm/content/site/sport/resourcecenter/comicbook/, para já em inglês, francês e espanhol. Traduções noutras línguas, entre as quais o árabe, o chinês e o russo, serão disponibilizadas em breve.

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Exposição de “A Pior Banda do Mundo” de José Carlos Fernandes no Centre Belge de BD

O autor português José Carlos Fernandes “conquistou” Bruxelas, a “capital” da banda desenhada, com a sua obra “A Pior Banda do Mundo”, já publicada em França e agora exposta na capital da Bélgica, ao lado de grandes nomes da nona arte.

Numa galeria estrategicamente localizada ao lado da bilheteira do Centro Belga de Banda Desenhada (CBBD), é dado a conhecer aos visitantes o trabalho do desenhador português, que, “tal como os seus célebres compatriotas Vasco da Gama e (Fernão de) Magalhães”, partiu à conquista do mundo, “não por via marítima e com bússola, mas com lápis e papel”, como se pode ler no cartaz de apresentação à entrada da sala.

“As suas numerosas referências ao mundo do jazz vão ficar muito tempo gravadas na memória dos seus leitores”, é a promessa deixada no texto de apresentação, assinado pelo diretor adjunto do Centro, Willem De Graeve, que, em entrevista à Agência Lusa, não poupou elogios a José Carlos Fernandes, considerando que se trata de um autor com tudo para vingar no muito exigente mercado belga.

O responsável da organização explicou que lhe chegou, da embaixada portuguesa em Bruxelas e do Instituto Camões, a sugestão para uma exposição do trabalho de José Carlos Fernandes, numa galeria que o CBBD dedica a novas obras (sete por ano), sendo que neste caso a “novidade” foi a publicação em França, pelas edições Cambourakis, da saga “Le Plus Mauvais Groupe du Monde”, em três álbuns de dois volumes cada (enquanto em Portugal está publicada em seis volumes, pela Devir).

“Conhecia José Carlos Fernandes de nome, mas nunca tinha lido a sua obra. Quando a embaixada de Portugal nos fez a proposta, li o seu ciclo e desde logo fiquei encantado e convencido de que esta era a exposição certa para fazermos aqui”, disse.

A resposta do CBBD foi por isso “imediata”, disse. “Considerámos que José Carlos Fernandes é um grande autor, que trabalha de forma muito original. O seu ciclo “A Pior Banda do Mundo” é uma verdadeira pérola da nona arte”, afirmou De Graeve, categórico em estender a boa impressão ao público que tem passado pela galeria.

“Penso que a reação do público é muito semelhante à minha: a maior parte das pessoas não conhece, mas descobre aqui, e ficam maravilhados, encantados”, garantiu, acrescentando que também a imprensa belga se rendeu a esta “descoberta”.

O diretor adjunto do centro apontou que “alguns jornais escreveram sobre a exposição e, por exemplo, o jornal belga De Standaard deu cinco estrelas, a pontuação máxima para uma BD, o que mostra que todo o público mas também os órgãos de comunicação social são muito entusiásticos em relação a este autor”.

A banda desenhada portuguesa continua no entanto a ter pouco espaço na “montra” de Bruxelas, e esta é a primeira exposição de um autor português no CBBD, depois de uma anterior, “mais geral, com uma retrospetiva da BD portuguesa, em colaboração com o Centro de Banda Desenhada da Amadora”, indicou Willem De Graeve, que justifica a dificuldade de os autores portugueses entrarem no mercado belga com a “muita concorrência” existente.

“Não é fácil, mas tenho a certeza que José Carlos Fernandes é uma exceção, porque tem realmente uma grande qualidade e tem todas as condições para ter sucesso também aqui na Bélgica”, vaticinou.

Até ao final de fevereiro, muitos mais amantes dos quadradinhos irão ter ainda oportunidade de “descobrir” este autor português, cujas pranchas estão expostas no primeiro andar do edifício “art nouveau” concebido por Victor Horta (1906), sede do CBBD, perto de figuras tão conhecidas como Tintin e Lucky Luke.

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Grande Prémio de Angoulême para Art Spiegelman

Concluída no passado domingo, a 38ª edição do Festival de Banda Desenhada de Angoulême, França, distinguiu o norte-americano Art Spiegelman com o Grande Prémio, pelo conjunto da sua obra, reconhecendo em especial o seu contributo para o reconhecimento da BD de autor.
Nascido na Suécia, a 15 de Fevereiro de 1948, Spiegelman começou nos quadradinhos no movimento underground norte-americano das décadas de 60 e 70, sendo fundador da revista avant-garde “Raw” em 1980. Em 1986 publicou “Maus I – A história de um sobrevivente” (que tem edição portuguesa da Difel), uma obra autobiográfica em que aborda o mau relacionamento com o pai a par da experiência deste como prisioneiro do campo de concentração de Auschewitz, durante a II Guerra Mundial, utilizando animais como personagens. Cinco anos mais tarde, “Maus II – E Assim começaram os meus problemas”, valeu-lhe uma exposição no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque e um Prémio Pulitzer especial, em 1992.
Autor interveniente e crítico, Spigelman, considerado pela “Times” um dos americanos mais influentes de 2005, trabalhou para a revista The New Yorker, de onde saiu após o 11 de Setembro, em protesto contra “o conformismo dos media americanos”. Da sua bibliografia constam também obras como “In The Shadows of no Tower”, sobre o atentado às Torres Gémeas, e “Breakdowns”, entre experimentalismo gráfico e a necessidade de não deixar apagar as memórias dos seis milhões de judeus assassinados pelos nazis.
Do restante palmarés do festival, bastante eclético, destacam-se “Cinq mille kilomètres par seconde”, de Manuele Fior (Prémio para Melhor Álbum), “Asterios Polyp”, de David Mazzucchelli (Prémio Especial do Júri); “Trop n’est pás assez”, de Ulli Lust, e “La Paranthèse”, de Élodie Durand (Revelação), “Gaza 1956, em marge de l’Histoire” (Prémio Um Olhar sobre o Mundo); “Pluto”, de Urasawa e Tezuka (Prémio Intergerações); “Bab-el-mandeb”, de Micheluzzi (Prémio do Património) e “Le Bleu est une coleur chaude”, de Maroh (Prémio do Público).

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Biografia em Banda Desenhada Antecipa Casamento do Príncipe William com Kate Middleton

A editora norte-americana Bluewater Productions, que se tem especializado na publicação de biografias em banda desenhada de políticos e celebridades, acaba de anunciar para Abril o lançamento de “Fame: The Royals”, uma edição sobre a vida do Príncipe Williams.
O pretexto para este lançamento é o seu próximo casamento com Kate Middleton, marcado para 29 de Abril, mostrando as 32 páginas da edição os factos mais marcantes da vida de William: o nascimento, a morte da mãe, a princesa Diana, a educação, o cumprimento do serviço militar ou o romance de oito anos com a sua futura esposa.
Escrita por C.W. Cooke, já autor das biografias de Taylor Swift e Beyoncé, esta é a história de “duas pessoas presas num aquário” expostas aos olhos de todos, disse Darren Davis, presidente da Bluewater durante a apresentação da obra, em que questionou: “Como é que alguém habituado aos holofotes consegue manter alguma privacidade?”
Desenhada por Pablo Martinez (criador gráfico das biografias de Bill Clinton e David Beckham), “The Royals” termina com um olhar sobre o futuro casamento, tentando antecipar trajes, meio de transporte e destino de lua-de-mel dos noivos.
Aproveitando a repercussão de um dos mais mediáticos acontecimento de 2011, a editora anunciou para Maio uma edição especial para coleccionadores desta BD, acrescida de diversos extras, entre os quais capa dupla, posters de William e Kate, ilustrações do casamento e a sua comparação com o de Diana e Charles, em 1981.
“Como americanos”, explicou Darren”estamos fascinados pela realeza britânica. Ela representa a pompa e a história que nós não temos”.
Depois de “Political Power” (inaugurada com as biografias de Barack Obama e John McCain, então candidatos à presidência) e de “Female Force” (por onde já passaram Sarah Palin, Michelle Obama, J.K. Rowling, Stephenie Meyer, Oprah Winfrey ou, este mês, Angelina Jolie desenhada pelo ilustrador português Nuno Nobre), “Fame” é a terceira colecção biográfica da Bluewater, dedicada a celebridades do mundo do espectáculo, da realeza ou do desporto, entre as quais Justin Bieber, Lady Gaga ou os elencos de Glee e Twilight.

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Capitão América Combate Depressão e Suicídio

A Marvel anunciou esta semana uma nova história do Capitão América que trata de um tema delicado e que, infelizmente tem estado em destaque nos Estados Unidos, o suicídio.
Trata-se de “Captain America – A Little Help”, uma banda desenhada de 11 páginas, praticamente sem qualquer texto, escrita pelo psicólogo Tim Ursiny e desenhada por Nick Dragotta.
Quando a história começa, conhecemos um jovem que, deprimido pela morte do pai, as fracas notas, as frequentes ausências da mãe e o abandono da namorada decide acabar com a vida, lançando-se do alto de um prédio.
Só que, no momento em que vai saltar, o edifício é abalado por um enorme estrondo. Ao levantar-se, ainda aturdido, vê o capitão América a defrontar um grupo de inimigos, entre os quais um robot gigante. No decurso do confronto, o super-herói apenas consegue levar de vencida os seus adversários graças à ajuda providencial do potencial suicida que, caindo em si, decide ligar para a Linha de Prevenção de Suicídios.
Quando anunciou a história, Tom Brevoort, vice-presidente da Marvel afirmou: “Os super-heróis travam muitas batalhas, mas poucas são mais importantes do que combater o suicídio”. E acrescentou, “se pelo menos uma pessoa ligar para este número, em vez de tentar algo trágico, então já teremos sido bem sucedidos.”
A banda desenhada pode ser lida gratuitamente no site da Marvel, em Digital Comics Unlimited (http://marvel.com/digitalcomics/view.htm?iid=18821), e também está disponível em aplicações para IPAD, iPhone e iPod Touch. Para além disso, foi incluída na antologia “I Am An Avenger #5”, esta semana posta à venda nos EUA.
Esta não é a primeira vez que a Marvel disponibiliza os seus heróis para combater problemas sociais. Há alguns anos, por exemplo, o Homem-Aranha e o Quarteto Fantástico protagonizaram “Hard Choices”, uma banda desenhada, de tom mais juvenil, que visava prevenir o uso de álcool por adolescentes.
Para além disso, anualmente, os mais famosos personagens da Marvel juntam-se aos “verdadeiros heróis, os homens e mulheres do exército norte-americano” nos seus locais de combate, em missões narradas em revistas que são distribuídas gratuitamente aos soldados americanos destacados noutros países.

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E Agora, o Terceto Fantástico

O Quarteto Fantástico, o mais conhecido super-grupo da banda desenhada, acaba de perder um dos seus membros, mais exactamente Johnny Storm, o Tocha Humana.
A morte, há muito anunciada pela Marvel que fez dela um acontecimento mediático, aconteceu na revista Fantastic Four #587, ontem posta à venda nos EUA. A edição, que chegará no final do mês às lojas especializadas nacionais, onde as encomendas têm sido superiores ao habitual, foi posta à venda um dia mais cedo do que o previsto, dentro de um saco plástico preto, para que ninguém pudesse antecipar qual dos elementos do Quarteto iria falecer.
Criado em 1961 – completará 50 anos em Novembro próximo – por Stan Lee e Jack Kirby, o Quarteto Fantástico, formado por Reed Richards (o sr. Fantástico), a sua esposa Sue Storm (Mulher Invisível), o seu irmão Johnny Storm (Tocha Humana) e Bem Grimm (Coisa), tinha como aspecto distintivo, apesar dos seus poderes, ser uma família com problemas comuns: desentendimentos internos, contas para pagar, etc. Ao longo da sua existência, alguns dos seus elementos foram pontualmente substituídos por outros super-heróis, mas a equipa original voltou sempre a unir-se.
Agora, o futuro está em aberto. Após a conclusão da actual saga “Three”, escrita por Jonathan Hickman e desenhada por Steve Epting, a revista Fantastic Four terá ainda mais um número em Fevereiro, dando lugar a “FF #1”, a lançar em Março. Hickman, que também escreverá “FF”, disse que “agora, vamos elevar os outros três e a família em geral e continuar com a história que queremos contar”.
Quanto a Joe Quesada, editor chefe da Marvel, abriu já a porta a um eventual regresso do herói: “Se o Tocha Humana vai regressar ou não, é algo que só o tempo poderá dizer. Não sei se ele vai voltar ou quando vai voltar mas posso garantir que vai ser muito interessante e diferente do que todos esperam”.

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‘O que é que lhes dá gás?’

O Museu Berardo inaugurou a exposição Tinta nos Nervos que pretende fazer um retrato do panorama da banda desenhada nacional. São mais de 40 artistas representados, incluindo, o ‘pai’ desta técnica em Portugal, Rafael Bordalo Pinheiro

A exposição inclui o primeiro álbum de banda desenhada portuguesa, da autoria de Rafael Bordalo Pinheiro
Não procuram fama nem dinheiro, «os autores de banda desenhada apenas querem dar azo à sua carolice!», brinca Pedro Vieira de Moura, comissário de Tinta nos Nervos uma exposição que inaugurou no passado dia 10 de Janeiro, no Museu Colecção Berardo, em Lisboa.

Num panorama nacional em que as publicações de banda desenhada são poucas e os artistas se desdobram mais por pequenas «edições de autor» do que pela edição constante de livros, «faz sentido mostrar a banda desenhada na sua perspectiva artística», afirma o comissário. «Em Portugal, se um autor vender dois mil livros já se considera que tem um público muito alargado», ironiza Pedro Moura que lamenta que esta expressão artística não tenha a mesma dimensão de outras, como a fotografia, a pintura ou o cinema.

Mas «o que é que lhes dá gás?». Na obra O Peregrino Blindado, Eduardo Batarda – conhecido pela sua carreira como pintor – apresenta algumas explicações humorísticas para responder à pergunta: «O pensamento sagaz; (…) a literatura, aliás…».

Com mais ou menos humor, de uma forma mais linear ou mais simbólica, os 41 artistas expostos no Museu Berardo mostram que a banda desenhada vai para além das ‘histórias aos quadradinhos’:«Em termos históricos, esta forma artística encontra raízes disseminadas numa série de técnicas e de linguagens. E estes artistas exploram esta arte de um modo particularmente pessoal, expressivo e atento a questões estéticas contemporâneas».

Organizada por afinidades artísticas, a exposição tanto exibe obras que se afirmam pela sua vertente escrita, explorando temas como autobiografias, problemas de género ou questões políticas, como mostra a sua vertente mais estética, explorando novas linguagens. E neste universo tão vasto é possível encontrar autores modernos e contemporâneos no activo, mas também nomes incontornáveis como Rafael Bordalo Pinheiro ou Carlos Botelho, autor de Ecos da Semana, publicado no semanário Sempre-Fixe, criado a 13 de Maio de 1926. O objectivo é «dar a conhecer um panorama alargado e diversificado e estimular os visitantes a procurar as ‘suas’ bandas desenhadas».

Bonecos gigantes, carros de brincar, garrafas com mensagens ilustradas e instalações complementam a exposição que é mais do que uma mostra de pranchas coloridas. Ao longo do espaço, o público é ainda surpreendido por murais de grandes dimensões da autoria de Luís Henriques, André Lemos, José Feitor, Joana Figueiredo e Miguel Carneiro, mas também por vídeos e esculturas que fazem a ligação entre a banda desenhada e outras formas de expressão artística, desafiando o público a acompanhar o processo de criação das personagens e histórias expostas.

Não faltam ainda livros, fanzines e publicações inéditas e até o primeiro álbum de banda desenhada nacional, da autoria de Rafael Bordalo Pinheiro. Intitulado Inusitada Viagem do Imperador do Brasil, o humorista «retrata D. Pedro IV como um provinciano, em viagem pela Europa, num texto cheio de recados à realeza…». Assim se prova que a banda desenhada é muito mais do que histórias dedicadas ao público infanto-juvenil e vai para além das suas personagens mais emblemáticas. Ao fugir às publicações mainstream, descobre-se em Portugal uma série de autores que fazem cada vez mais da banda desenhada uma «disciplina aberta a experimentações».

TINTA NOS NERVOS;
MUSEU COLECÇÃO BERARDO – PRAÇA DO IMPÉRIO. LISBOA TEL. 213 612 878

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Os Irmãos Mais Novos de Tintin

Joana, João e o Macaco Simão foram criados por Hergé há 75 anos

Corria o ano de 1936. O sucesso de Tintin – então a viver a sua sexta aventura, “O Ídolo Roubado” – era crescente, mas não fazia a unanimidade. A prová-lo, chegava a Hergé uma carta da revista católica francesa “Coeurs Vaillants”, onde se lia que o herói “não ganha a sua vida, não vai à escola, não tem pais, não come, não dorme… Isso não é lógico”. E, em jeito de encomenda, desafiava Hergé a criar alguém “cujo pai trabalhe, que tenha uma mãe, uma irmã mais nova, um animal de estimação”, contou o desenhador numa entrevista a Numa Sadoul.
Recuperando personagens de um trabalho publicitário Hergé criou assim Jo, Zette e Jocko (rebaptizados em Portugal como Joana, João e o Macaco Simão), estreados há 75 anos, a 19 de Janeiro de 1936, e que viveriam três aventuras a preto e branco, (remontadas e) divididas por cinco álbuns quando foram coloridas, nos anos 1950. Os seus protagonistas eram os irmãos Joana e João, o pai, o engenheiro Legrand, a mãe, doméstica, e Simão, um macaco, o tal animal de estimação da “encomenda”.
O traço e a estrutura narrativa estavam próximos dos utilizados em Tintin, com bastante humor e uma boa dose de ficção-científica, fruto da ocupação do pai. Em cada aventura, a célula familiar desfazia-se rapidamente porque, enquanto os miúdos se metiam em alguma enrascada, o pai e a mãe ficavam em casa, aflitos e expectantes, aguardando o seu regresso do destino distante e exótico para onde os tinham conduzido as aventuras ingénuas e rocambolescas.
Em Portugal, estes “irmãos mais novos” de Tintin estrearam-se em 1964 na revista Zorro, passando pelo suplemento “Quadradinhos” de “A Capital”, antes da edição em álbum, pela Editorial Verbo, em 1982. A ASA, que actualmente está a reeditar As Aventuras de Tintin, ainda não agendou a reedição desta série, recuperada pela Casterman num único volume em 2008.

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