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Um Astérix que não é o Astérix

Lapinot, alter-ego de Trondheim, veste a pele do pequeno guerreiro gaulês
Paródia é homenagem ao espírito e à forma das histórias de Uderzo e Goscinny

Em anos recentes, os universos das grandes séries clássicas franco-belgas que encantaram gerações de leitores das revistas “Tintin”, “Spirou” ou “Pilote”, têm sido revisitados a dois níveis: pela sua retoma em continuações que eternizam os parâmetros originais ou, então, em versões de autor, quase sempre mais estimulantes e criativas.
Curiosamente, “Por Tutatis!”, acabado de editar pela Ala dos Livros, não encaixa em nenhuma das definições mas, se não tivesse sido criado numa (consentida) revelia à editora original, teria tudo para ser um “Astérix por…”
Por Lewis Trondheim, no caso, que, por razões que os leitores descobrirão, optou por colocar Lapinot, o seu herói/anti-herói/alter-ego, num arremedo da “pequena aldeia gaulesa que bem conhecemos”, para mais na pele de Astérix. As razões e as consequências irão sendo explanadas ao longo das pranchas, enquanto vão sendo avançados os contornos de um confronto do ‘pequeno guerreiro gaulês’ com o deus que desde sempre o protegeu e aos seus compatriotas, o omnipotente Tutatis.
No livro, toda a estrutura aponta para uma verdadeira aventura de Astérix – ou quase – com os elementos expectáveis numa aventura dos gauleses: Obélix, Panoramix, o chefe e o bardo com as suas canções, a (falta de) frescura do peixe, os confrontos com os romanos, as caçadas aos javalis, os infortunados piratas e, principalmente, a poção mágica no centro dos acontecimentos. É uma obra que decorre em bom ritmo, com gags recorrentes, uma bela sucessão de trocadilhos e os piscares de olho a serem mais do que os desvios, evidentes e assumidos, à obra original.
“Por Tutatis!”, que se distingue pela novidade da abordagem dentro da novidade “Astérix que não é Astérix”, é uma homenagem que se compreende sincera a René Goscinny e a Albert Uderzo, criadores originais de Astérix, dentro do espírito da obra que eles nos legaram, com divertidos anacronismos, uma inteligente exploração das idiossincrasias originais e a repetida constatação de que “isto nunca aconteceu na BD”, o que faz dele um álbum muito divertido, pleno de referências a várias aventuras e que pede uma leitura atenta pelos apreciadores de Astérix, para o usufruirem em toda a sua plenitude.

Por Tutatis!
Lewis Trondheim
Ala dos Livros
48 p., 15,50 €


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F. Cleto e Pina

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Vidas como elas são

O regresso à BD de Ana Pessoa e Bernardo P. Carvalho
“Mar Negro” é o centésimo livro editado pela Planeta Tangerina

Inês e JP trabalham num bar de praia. A diferença de caracteres, a proximidade diária e o aparente conhecimento mútuo, transformam o seu dia a dia numa soma de choquezinhos constantes. Entre a rotina da preparação, o atendimento aos clientes e as incertezas quanto ao futuro a curto/médio prazo – o fecho do bar no final do Verão, a continuação dos estudos, o aproximar da vida adulta – os dias vão decorrendo preguiçosamente. Até que um acontecimento trágico e inesperado vai introduzir nas suas vidas uma alteração profunda e levá-los a repensar se não tudo, pelo menos muita coisa.
Depois de “Desvio” (Planeta Tangerina, 2020), sobre um confinamento voluntário para descoberta pessoal e redefinição de objectivos que ganhou novos significados em tempo pós-pandemia, Ana Pessoa e Bernardo P. Carvalho estão de volta à banda desenhada com “Mar Negro”, o centésimo livro daquela editora.
Mais uma vez, os autores agarram em vidas indefinidas num momento que acabará por ser de viragem e levam-nos, leitores, na observação quotidiana de gestos, práticas, hábitos e pequenas fugas ao normal, fazem-nos criar intimidade com as personagens, para depois as abandonarem à sua vida, deixando-nos, de alguma forma, órfãos, suspensos do que acontecerá a seguir, das decisões que Inês e JP, no caso, irão tomar.
Os dois, tal como os outros participantes com cujas vidas se cruzam ou apenas se tocam tangencialmente, são jovens, naquela fase em que alternam a irresponsabilidade e a impulsividade da adolescência, com a ponderação e a reflexão da idade adulta. Curiosamente, Ana Pessoa dá-nos a conhecer Inês e JP em “Mar Negro”, não só pela forma como se apresentam, agem e reagem, mas também quando exibe o modo como os outros os vêem, e que nem sempre coincide com aquilo que eles e nós achamos que são, segundo a forma como as suas acções são vistas e avaliadas por quem está do outro lado.
Mas, acima de tudo, o que exala de “Mar Negro”, é uma enorme naturalidade, a sensação de que o que lemos não é ficção, mas sim o registo de acontecimentos reais transpostos para o papel. De forma resumida, um retrato de vidas como elas realmente são.

Mar Negro
Ana Pessoa e Bernardo P. Carvalho
Planeta Tangerina
320 p., 22,90 €


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Banda Desenhada e Ilustração para ver no Barreiro

Quarta edição do IlustraBD arranca sábado

O Auditório Municipal Augusto Cabrita – AMAC recebe a partir do próximo sábado a 4ª Edição do IlustraBD – Mostra de Banda Desenhada e Ilustração do Barreiro. Surgido em 2018, numa parceria entre a Câmara Municipal do Barreiro e o ilustrador barreirense João Raz, tem como objectivo oferecer ao Barreiro e a todos os amantes e interessados na BD e na ilustração, um evento que proporcione um contacto privilegiado com os seus criadores.
A edição deste ano marca uma viragem na programação, com uma aposta maior em exposições individuais, em vez de colectivas, e em novos estilos, diversificando o tema fantástico, predominante nas edições anteriores.
Desta forma, o IlustraBD apresentará aos seus visitantes os originais de “Balada para Sophie”, de Filipe Melo e Juan Cavia, “Desenhar do Escuro”, de António Jorge Gonçalves, e “Juventude”, de Marco Mendes, para além de uma mostra colectiva dos autores nacionais da editora Ala dos Livros: Luís Louro, Marcos Calhorda e Daniel Maia, Diogo Campos e Hugo Teixeira, e uma secção para as lendas da BD Jorge Magalhães e Augusto Trigo.
Neste primeiro fim-de-semana, o IlustraBD propõe uma série de actividades: visitas guiadas às exposições, sessões de autógrafos e de desenho ao vivo, workshops, feira do livro, sessões de cinema e duas conversas, a primeira, dia 15, às 16 horas, com os autores expostos, e a segunda, sobre “A Divulgação da BD em Portugal”, domingo, dia 16, no mesmo horário.
Cumprindo o propósito de levar o IlustraBD para fora do seu núcleo central, no dia 22, às 16 horas, será inaugurada na Galeria da Biblioteca Municipal do Barreiro, uma exposição individual de Henrique Pirote, um jovem aluno da Faculdade de Belas Artes que se está a lançar no mundo da 9ª arte.
Esta edição ficará igualmente marcada pela homenagem póstuma a Eugénio Silva (1937-1922) desenhador barreirense e nome destacado da banda desenhada portuguesa, responsável, entre outras, por obras como “Matias Sándor”, “Eusébio, Pantera Negra”, “Inês de Castro… a que despois de morta foy Rainha” ou “O Crime de Arronches”
Do restante programa do Ilustra BD, que decorrerá até 4 de Junho, destaque para a apresentação do livro “O Mistério de Cepheus”, de Liliana Gaito e Carlos Rafael (dia 7 de Maio, às 10h30) e para a Masterclass “Desenhar do Escuro” com António Jorge Gonçalves (28 de Maio).
A imagem gráfica da 4ª edição do IlustraBD, tem a assinatura do artista barreirense Ricardo Reis.


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Faleceu o cartoonista Al Jaffee

Pilar da revista norte-americana “MAD” faleceu aos 102 anos

Nasceu a 13 de Março de 1921 como Abraham Jaffee, em Savannah, Geórgia, mas o mundo da banda desenhada – e não só – conheceu-o como Al Jaffee. A morte, ontem, devido à falência de múltiplos órgãos, levou-o com 102 anos de idade.
Filho de imigrantes judeus oriundos de Zarasai, na Lituânia, viveu a infância entre aquela cidade, com a mãe, e os Estados Unidos com o pai. Estudou na Escola Superior de Música e Arte em Nova Iorque, no final da década de 1930, onde conheceu Will Elder, Harvey Kurtzman, John Severin e Al Feldstein que seriam seus companheiros na revista “MAD”.
A sua estreia oficiosa está registada em Dezembro de 1942, na revista “Joker”, mas parece certo que desde o ano transacto tinha colaborado com diversas editoras de comics , entre elas a Timely Comics e Atlas Comics, que viriam a originar a Marvel Comics. Durante a II Guerra Mundial colocou as suas capacidades gráficas ao serviço das forças armadas, embora tenha continuado a desenvolver o seu trabalho em séries humorísticas, que apontavam já o seu caminho de eleição, entre elas “Inferior Man” e “Ziggy Pig and Silly Seal”, ambas estreadas em 1942.
Em 1945, conheceu Ruth Ahlquist, num período em que trabalhava para o Pentágono, com quem viria a casar. Foi durante essa época que, aproveitando as facilidades concedidas pelo exército para a livre alteração de nome, mudou o seu, primeiro, por engano, para Alvin Jaffee, e, depois, para Allan Jaffee.
Em 1946, desmobilizado, voltou à vida civil e a colaborar com Stan Lee. Apesar de ter assinado a tira muda “Tall Tales”, no New York Herald Tribune, entre 1957 e 1963, que chegou a ser publicada em mais de 100 jornais, a grande marca do trabalho de Al Jaffe ficou na revista “MAD”, onde publicou pela primeira vez em 1955 quando a publicação assumiu o formato revista.
Criada em 1952, aquela publicação satírica foi um marco editorial incontornável que durante mais de meio século fez sorrir os norte-americanos e muitos leitores por todo o mundo. Dois anos depois, um conflito entre Harvey Kurtzman e os editores da ECC Comics, levou à saída daquele, tendo sido acompanhado por Jaffee, que colaborou com ele em dois projectos de vida curta, “Humbug” e “Trump”, antes de regressar à “MAD”, em 1958.
Tendo assinado cartoons, bandas desenhadas curtas e caricaturas nesta revista, Jaffee deixou como imagem de marca os marcantes “Mad Fold-in”. Sátira às fotos desdobráveis das páginas centrais da “Playboy”, eram desenhos humorísticos, com uma pergunta e um pequeno texto que, uma vez dobrados de acordo com as instruções publicadas na revista, originavam uma nova imagem com a resposta, mordaz e crítica, à questão inicial. Os “Mad Fold-in” ocuparam a última página da revista, de forma quase ininterrupta, a partir de 1964 e até 2018, quando a publicação foi encerrada e foram compilados em livro mais do que uma vez.
O World Guinne of Records registouAl Jaffee o como o autor de banda desenhada com a carreira mais longa, com um total de 77 anos e 158 dias.


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O Oeste ao ritmo de um tique-taque

Dois séculos da conquista do Oeste evocados em histórias curtas
Dezasseis autores de referência dão corpo a um projecto de Tiburce Oger

Dos tempos dos confrontos entre franceses e britânicos até às vésperas da II Guerra Mundial, “Go West Young Man”, acabado de editar em português pela Gradiva, traça uma história do Oeste norte-americano ao ritmo do tique-taque de um relógio de ouro que vai passando de mão em mão. Na verdade, este álbum, que assenta numa estrutura não original mas poucas vezes utilizada desta forma, é uma colectânea de histórias curtas que vão saltitando no tempo ao longo dos quase dois séculos que o livro abarca, unidas pelo tal relógio cujo proprietário, protagonista de um único conto, mas muitas vezes referenciado (no)s seguinte(s), vai mudando, quase sempre por razões pontuadas pela violência que associamos facilmente aos tempos da sangrenta conquista do Oeste selvagem.
Inicialmente oferecido por uma esposa a um oficial britânico, passaria pelas mãos de homens e mulheres, adultos e crianças, brancos, negros ou pele-vermelhas, pobres e mais abonados, gente com formação ou sem ela, personalidades de alguma importância, lendas do velho oeste ou gente anónima, tendo todos eles, a determinada altura, a possibilidade de terem como seu o aparelho usado para conhecer as horas e de pertencerem assim a uma longa mas involuntária cadeia humana.
A vida como a morte, a solidariedade como o desprezo, o respeito como o insulto, situações banais do quotidiano, assaltos, vinganças, emboscadas ou tiroteios são os inevitáveis condimentos de um conjunto de histórias, que até podem ser lidas de forma isolada e primam pela diversidade e pelo inesperado, mas que, apesar disso, ostentam uma coerência e uma continuidade narrativa que deve ser realçada.
Projecto de Tiburce Oger, argumentista e desenhador francês, apresenta também como particularidade o facto de cada um dos dezasseis relatos estar entregue a um ilustrador diferente, contando-se entre eles nomes de referência na banda desenhada franco-belga bem conhecidos dos leitores portugueses como Michel Blanc-Dumont, Ralph Meyer, François Boucq, Michel e Corentin Rouge, Christian Rossi ou Marini (que assina a capa).
Se na prancha de abertura alguém refere que “só Deus sabe as histórias que [o relógio] poderia contar”, agora, nós também as podemos conhecer.

Go West young man
Tiburce Oger e vários desenhadores
Gradiva
112 p., 27,50 €


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Este mundo será sempre dele

Aos 84 anos, Hermann continua a desenhar como se não houvesse amanhã
“Duke”, um western crepuscular completo em sete álbuns disponíveis em português

“Duke”, de Yves H. e Hermann, de que a Arte de Autor acaba de editar o sétimo e último volume, “Este mundo não é o meu”, é um western crepuscular, ambientado na transição entre os grandes tempos do Oeste selvagem e a caminhada atribulada mas inexorável para a chegada da civilização aos lugares onde a lei e a ordem durante anos foram impostas à força da bala.
É também uma história de perseguição, de várias perseguições, aliás, motivadas pelo desejo de vingança ou pela busca do sempre desejado dinheiro, perseguições essas gizadas pelos acasos do destino, vincando a forma maldosa e cruel como ele joga com as vidas dos seres humanos. Seres humanos que Hermann, bem secundado pelo seu filho e argumentista Yves H., continua a encarar com pessimismo e descrença, realçando sempre o pior de cada um e de todos eles.
Entre os vários perseguidores e perseguidos, cujo número vai variando consoante os momentos da acção e os tiros certeiros que vão sendo disparados, emerge um homem, o Duke que dá título à série, atormentado pelo seu passado, martirizado pelas escolhas que fez ou foi obrigado a fazer, perseguido pela maldição do seu feitio e da sua postura e acossado por sombras que tornam a sua existência penosa e fazem dele constantemente um alvo.
Mas “Duke” é também, claramente, uma obra crepuscular na carreira de Herman que, aos 84 anos, continua a tentar resistir à passagem do tempo, criando, como se disso dependesse a sua vida, novas obras ao ritmo frenético de 2 álbuns por ano. É evidente que o seu traço já não é o mesmo – e as capas são a melhor prova disso – mas Hermann mantém-se mestre na planificação de base tradicional que utiliza e, em especial, no modo como continua a iluminar os seus desenhos com cores intensas ou os carrega de sombras opressivas, da mesma forma que se esmera em contrastes de claro/escuro únicos.
Dispensava-o deste afã o seu passado, plasmado em séries notáveis como “Comanche”, “Bernard Prince”, “Jeremiah” ou “As Torres de Bois-Maury”, que afirmam claramente que o mundo da BD será sempre dele e que todos os leitores, de sucessivas gerações, terão de se render à sua mestria e ao seu traço inigualável, que constituem uma herança que a qualquer momento permite continuar a embarcar na grande aventura.

Duke #1 a #7
Yves H. e Hermann
Arte de Autor
56 p., 18,00 € (cada)


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XVIII Festival de BD de Beja já tem programa

Garantida a presença de Ricardo Leite, Zanzim e Ruben Pellejero

A organização do Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja, cuja 18.ª edição terá lugar de 2 a 18 de Junho deste ano, acaba de anunciar o respectivo programa.
Dirigido por Paulo Monteiro e da responsabilidade da edilidade local, tem de novo sede na Casa da Cultura de Beja e vai propor 17 exposições. Entre elas, destaca-se a dedicada a Maurício de Sousa e à sua Turma da Mônica, no ano em que a “baixinha, gorducha e dentucinha” completa 60 anos de publicação. Infelizmente, o desenhador brasileiro não estará em Beja, tal como Hermann, a quem o evento dedica uma mostra sobre a série “Duke”, de que a Arte de Autor acaba de publicar no nosso país o sétimo e derradeiro volume.
Merece igualmente destaque a exposição “Lendas Japonesas” de José Ruy, o veterano criador português que faleceu no ano passado, após mais de 70 anos dedicados à BD, bem como os espaços dedicados aos originais do brasileiro Ricardo Leite, autor de “Em Busca do Tintin Perdido”, que terá edição portuguesa de A Seita durante o festival, e ao francês Zanzim, desenhador de “Pele de Homem”, da mesma editora.
Para além destes, vão expor em Beja também os espanhóis Anabel Colazo e Ruben Pellejero (actual desenhador das aventuras de Corto Maltese) e o brasileiro Paulo Borges. Como habitualmente, o festival dedica grande atenção aos criadores nacionais, com exposições de André Pereira, Carlos Páscoa, Joana Estrela, João Sequeira, Patrícia Costa, Pedro Massano, Ricardo Baptista e os colectivos Tentáculo e Toupeira, num programa multinacional, saudável e desafiador, que combina nomes consagrados com autores a despontar.
Todos estes, bem como Ricardo Leite e Zanzim estarão presentes no primeiro fim-se-semana do festival, em que terão lugar as sessões de apresentação e de autógrafos, revisão de portefólios, o Mercado da BD, conversas, oficinas e concertos desenhados.
O cartaz do XVIII Festival Internacio0nal de Banda Desenhada de Beja é, mais uma vez, da autoria de Susa Monteiro.


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Tex despede-se de García Seijas

Desenhador argentino faleceu aos 81 anos

Ernesto Rudesindo García Seijas, desenhador argentino, faleceu ontem, contava 81 anos.
O mundo da BD, bastante fustigado pela partida de alguns dos seus expoentes em tempos recentes, fica mais pobre.
Se para muitos García Seijas era sinónimo de desenhador de Tex, o western há mais tempo em publicação ininterrupta, a verdade é que teve de trilhar um longo caminho antes de se consagrar como um dos elementos do staff do ranger.
Natural da cidade de Ramos Mejía, na província de Buenos Aires, onde nasceu a 1 de Junho de 1941, desde cedo começou a desenhar com tudo o que lhe aparecia à mão, tendo ganho a alcunha de “pincellito”.
Depois de passagens mais ou menos curtas pela escola secundária de belas artes local e pela academia Pitman, pois apenas se interessava pelas disciplinas de desenho, García Seijas começou a trabalhar para a Editorial Fascinación, onde completava vinhetas de narrativas ilustradas provenientes de Itália, devido a alterações de planificação.
Depois de uma passagem pela “Totem”, com “Bill y Boss”, onde passou a assinar com o nome que o tornou conhecido, em 1958, com apenas 17 anos, juntou-se à equipa da revista “Bucaneros, el gigante de la historieta”, onde desenhava a narrativa de piratas que davam nome à publicação.
A década de 1960 vai ser fundamental para o seu crescimento gráfico, com o seu traço a tornar-se cada vez mais preciso, personalizado e plasticamente agradável, na linha do mestre norte-ameriucano Alex Raymond. Nessa época trabalhou em quase todas as revistas argentinas, entre as quais “Frontera”, “Hora Cero”, “Misterix” (onde fez parceria com Héctor Gérman Oesterheld em “Léon Loco”) ou “Rayo Rojo”. Ao mesmo multiplicou a sua actividade, em capas para a colecção “Robin Hood” e na adaptação de clássicos do cinema e de narrativas românticas, para a revista feminina “Intervalo”.
A década seguinte vai encontrá-lo a trabalhar para as Ediciones Record, onde assina trabalhos como “Skorpio”, “Many Riley”, “El Hombre de Richmond”, “El estirpe de Josh” ou “Los Aventureros”, revelando igual à-vontade no western, no terror ou na aventura.
“El Negro Blanco” (1987), uma BD erótica com argumento de Carlos Trillo, e “Espécies em Peligro” (2000) são exemplos da sua passagem pelas tiras de imprensa do seu país natal, antes de começar a sua grande aventura italiana, na Eura Editoriale, primeiro, e depois na Sergio Bonelli Editore. Nesta última, a sua estreia aconteceu em “Julia 80”, antes de se tornar um desenhador regular de Tex, a série charneira da editora, cujo primeiro título ilustrado por si a chegar às bancas foi “Polícia Apache” (2007).
A sua consagração chegaria com a publicação de um “Tex Gigante”, “As Hienas de Lamont” (com argumento de Claudio Nizzi), que veria a luz em 2011. Curiosamente, este foi o primeiro trabalho do desenhador com o ranger; com publicação originalmente agendada para 2003, seria adiado devido à lentidão do desenhador e à necessidade de introduzir correcções, pois o editor Sergio Bonelli tinha reservas quanto à presença de diversas personagens femininas, o que obrigou Seijas a redesenhar onze pranchas.
Na volumosa obra “Tex, mais que um herói” (A Seita, 2022), Mário João Marques, especialista nas aventuras do cowboy, afirma que o desenhador argentino “domina todas as técnicas de uma boa narração visual (…) O seu traço é claro e muito expressivo, oferecendo força e consistência às suas personagens e ambientes, assim como um contínuo movimento em todas as cenas”.
Apesar de não ter obra publicada em Portugal, García Seijas chegou até aos fãs portugueses de Tex através das edições brasileiras da Mythos Editora, tendo conquistado um bom número de apreciadores no nosso país.


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Segredos à distância de uma trincadela

O detective cibopata Tony Chu, está de regresso com a irmã Safron
Relato policial com humor, exige gosto requintado e estômago forte

Há quase uma década, Tony Chu (‘Chew’, no original, como ‘mastigar’) era apresentado aos leitores portugueses. Detective da FDA, a agência que controla os alimentos nos Estados Unidos, apresenta uma particularidade: é um cibopata; que é como quem diz, consegue adquirir impressões psíquicas do que come, seja um vegetal ou um humano. Por isso, resolveu muitos roubos e assassinatos à dentada – literalmente.
Agora, a G. Floy introduz Chu, Safron Chu. Que, por sua vez, é uma cibocomparte; o que significa que descobre os segredos das pessoas com quem come os mesmos alimentos ao mesmo tempo. Safron é irmã de Tony, mas está do outro lado da lei. Por isso, o díptico “Entrada/Mau vinho”, recém-chegado a bancas e livrarias, traz-nos um inevitável confronto entre os dois.
O argumento de John Layman é divertido, dinâmico, aqui e ali explicitamente violento e apresenta diversas surpresas, entre elas o facto de continuar a grassar nos Estados Unidos onde a acção decorre, bem como por todo o mundo, uma mortífera epidemia de aves, com consequências desastrosas para alguns. Para além disso, vamos conhecer outras personagens com curiosas capacidades degustativas, que fazem de “Chu”, tanto um manjar quanto um repulsivo alimento, conforme a sensibilidade de cada um.
Ultrapassada a “Entrada”, a prova de “Mau Vinho”, segundo relato deste suculento volume, transporta Safron à França de há 200 anos, para levar a cabo um ousado e inimaginável roubo, num enredo bem conseguido, com vários saltos temporais e de desfecho inesperado.
Se Layman continua responsável por elaborar a ementa, que é como quem diz, por escrever as histórias, Dan Boultwood substituiu Rob Guillory na sua apresentação… gráfica, tarefa que desempenha com distinção, com um traço agradável, detalhado quanto baste e muito dinâmico e expressivo, que complementa de forma muito feliz a vivacidade do argumento, tornando-o apetitoso para os olhos.
Entre comezainas, trincadelas e refeições partilhadas, os leitores de estômago forte vão poder passar umas horas bem divertidas num relato em que o tom policial anda lado a lado com um humor delicioso – ou enjoativo. Depende do paladar de cada um.

Chu
John Layman e Dan Boultwood
G. Floy
256 p., 32,00 €


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Novo álbum de Astérix já tem título

Novo álbum das aventuras dos gauleses chega em Outubro

“O Íris branco” será o título do 40.º álbum das aventuras de Astérix e Obélix, que terá lançamento mundial, a 26 de Outubro do corrente ano.
Neste quinto álbum sem Goscinny nem Uderzo, cuja capa provisória também foi dada a conhecer hoje, a grande novidade é o argumento estar entregue, pela primeira vez, a Fabrice Caro, que substitui na tarefa Jean-Yves Ferry. O desenho, continua entregue a Didier Conrad.
Como esperado, será uma aventura caseira, passada na aldeia gaulesa, depois da ida às estepes russas em “Astérix e o Grifo”. Matasétix, o chefe da aldeia, terá um papel central, pois irá “atravessar uma crise”, como explicou o argumentista. Na base da história estará “O Íris Branco, que é o nome de uma nova escola de pensamento positivo, vinda de Roma, que começa a propagar-se pelas grandes cidades.” E prossegue: “Os preceitos desta escola influenciam igualmente os habitantes da aldeia (…) e nem todos ficam satisfeitos. É o que acontece ao nosso chefe…”
A escolha desta temática vem da preferência de Caro pelos álbuns “de Astérix em que um elemento externo se introduz na aldeia e vem perturbar o seu equilíbrio, e adoro observar a reacção dos habitantes, com a sua lendária capacidade de dissimulação”. E é também a “oportunidade de abordar implicitamente um fenómeno social contemporâneo…”
Para título, o escritor que afirma ter perdido três litros de suor durante a escrita do álbum, queria algo “que se enquadrasse no espírito de Goscinny e Uderzo, em que o tema é muitas vezes encarnado num objecto físico ou numa pessoa (“O Caldeirão”, “O Adivinho”, “O Escudo de Arverne”, “A Foice de Ouro”…). Aqui, o íris é um símbolo de bondade e de plenitude, ou pelo menos assim se espera…”
O protagonismo de Matasétix não é novidade, já que também teve um papel preponderante em álbuns como “O Combate dos Chefes”, “O Escudo de Arverne” ou “Os Louros de César”.
Como habitualmente, a edição portuguesa, da responsabilidade das Edições ASA, chegará às livrarias nacionais no mesmo dia em que a francófona será posta à venda, contribuindo para a sua tiragem global de 5 milhões de exemplares.


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