Categoria: Recortes

ASA aposta em manga

“Warcraft”, “Dramacon” e “Princesa Pêssego” serão lançados em Setembro; Obras direccionadas para jovens de ambos os sexos

As Edições ASA acabam de anunciar a sua aposta em títulos de manga, termo que na sua origem designava a banda desenhada japonesa e hoje em dia é utilizado para classificar obras aos quadradinhos que seguem as suas características. Geralmente são a preto e branco, prolongam-se por muitos volumes, totalizando centenas ou milhares de pranchas, são protagonizadas por personagens de olhos grandes, a acção tem predominância sobre os diálogos e as linhas indicadoras de movimento e as onomatopeias são muito utilizadas. Esta é mais uma tentativa de impor este género em Portugal, que continua a ser uma excepção no mundo ocidental, pois em países como os Estados Unidos, França, Espanha ou Alemanha as vendas de manga representam valores da ordem dos 40 %.
Os primeiros três títulos, oriundos do catálogo da norte-americana Tokyopop, com volumes que rondam as duas centenas de páginas, serão lançados a 8 de Setembro, estando prevista a edição de um novo tomo todos os meses. “Warcraft – A Trilogia do Poço do Sol”, do norte-americano Richard A. Knaak e do coreano Kim Jae-Hwan, relata as aventuras de Kalec, um dragão azul que assumiu a forma humana para investigar um poder misterioso, e de Anveena, uma bela rapariga que guarda um segredo de encantamento. “Dramacon”, da russa Svetlana Chmakova, dá uma perspectiva pitoresca e romântica dos bastidores de um festival de manga. Finalmente, “A Princesa Pêssego”, dos norte-americanos Lindsay Libos e Jared Hodges, conta a história de uma solitária menina de nove anos que recebe como animal de estimação um furão, cuja mordedura tem consequências surpreendentes.
“Warcraft”, uma BD de acção, inaugura a colecção “Shounen” (manga destinado aos leitores juvenis masculinos), enquanto que os outros dois títulos apresentam a particularidade de serem “shoujo” (BD para adolescentes femininas), um segmento de mercado tradicionalmente esquecido pela banda desenhada ocidental, mas que os manga há muito trabalham, bem como todos os outros porque no seu país de origem, o Japão, há mangas para crianças, adolescentes, jovens e adultos de ambos os sexos, com todas as temáticas possíveis e imaginárias: acção, humor, aventura, policial, fantástico, terror, romance, desporto, economia ou pornografia.


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F. Cleto e Pina

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Revistas Marvel invadidas por super-macacos

“Marvel Apes” estreia em Setembro nas livrarias norte-americanas; Super-heróis símios evoluem em universo alternativo

Parece fruto da “silly season” que se vive, mas é mesmo verdade. O Universo Marvel vai ser invadido por macacos com super-poderes já em Setembro. Ou melhor, no início do próximo mês chega às livrarias norte-americanos o primeiro dos cinco números da mini-série “Marvel Apes”, que tem lugar num universo alternativo onde todos, incluindo os super-heróis Marvel, são… macacos! O protagonista da história é Gibão, um herói mutante de aspecto simiesco, criado em 1972 mas que nunca passou de personagem de segunda linha da “Casa das Ideias”, que umas vezes é herói e outras vilão, que na sequência de uma experiência sobre sobre-humanos é transportado para aquele mundo alternativo, onde será o único humano de Monkhattan e encontrará Spider-Monkey, Iron Mandrill, Simian Torch, os Ape-X ou os Ape-Vengers…
Sobre o desenvolvimento da história, desenhada por Ramon Bachs – que também assina a capa – e escrita por Kart Kesel, que se baseou numa ideia de Joe Quesada, na sequência duma sugestão de um fã durante uma convenção de comics, pouco mais se sabe, mas é uma das grandes apostas da Marvel, que tem divulgado versões de algumas das capas mais famosas da editora, com os super-heróis substituídos por símios envergando os seus uniformes. E na primeira semana de Setembro, antecipando o lançamento de “Marvel Apes”, todos os títulos da editora terão capas alternativas protagonizadas por gorilas, chimpanzés ou macacos no lugar dos heróis tradicionais.
Esta não é a primeira vez que os super-seres Marvel são substituídos, pois algo de semelhante já aconteceu em “Zumbis Marvel”. E nem sequer é a primeira vez que o conceito de super-macacos é abordado, já que a rival e concorrente DC Comics tinha criado algumas histórias nessa base nas décadas de 50, 60 e 70 do século passado, agora reunidas em “DC Goes Apes” que, por coincidência ou não, vai ser lançado também em Setembro…


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F. Cleto e Pina

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Os 75 anos de Brick Bradford

Criação de William Ritt e Clarence Gray foi uma das primeiras bandas desenhadas de ficção-científica; Paul Norris dedicou-se ao piloto do Pião do Tempo durante 35 anos; Em Portugal ficou conhecido também como Brigue Forte

A 21 de Agosto de 1933 surgia em alguns jornais locais norte-americanos, uma nova tira diária de ficção-científica protagonizada por Brick Bradford, criado pelo jornalista William Ritt (1902-1972) e desenhado por Clarence Gray (1911-1957), até aí cartoonista desportivo. A necessidade de formas de escape aos problemas quotidianos era então grande na sociedade dos EUA e o novo herói, na peugada do sucesso de Buck Rogers, criado em 1929, correspondia na perfeição, inicialmente como explorador de mundos perdidos no planeta Terra. Mais tarde, após a introdução nas suas aventuras, em 1935, do célebre Pião do Tempo, inventado pelo seu amigo cientista Kala Kopac, deslocar-se-ia também no tempo e no espaço, vencendo todas as fronteiras, enfrentando, juntamente com a sua noiva eterna June Salisbury, robôs gigantes e vilões intergalácticos do futuro ou dinossauros e tiranos do passado.
A popularidade imediata levou-o para os principais jornais norte-americanos e permitiu a passagem também a prancha dominical, a 24 de Novembro de 1934. Dois anos depois viriam as versões em revista, a adaptação em livros de bolso concretizou-se na década seguinte, bem como e a passagem ao cinema, num seriado de 12 episódios, de 1947, realizado por Spencer Gordon e Thomas Carr e protagonizada por Kane Richmond. O Pião do Tempo inspirou uma enorme escultura em bronze do artista canadiano Jerry Pethick (1935-2003), instalada em False Creek, em Vancouver, após ter estado mergulhada na água do mar durante dois anos para apresentar um aspecto envelhecido.
Ritt abandonou a sua criação em 1948 e Gray, que a assumira por inteiro, faria o mesmo em 1952, deixando Bradford entregue a Paul Norris (1914-2007), que o escreveu e desenhou até se aposentar em 1987, tendo a última tira do herói sido publicada a 25 de Abril desse ano.
Brick Bradford foi publicado em Portugal desde os anos 40, por vezes rebaptizado de Brigue Forte, tendo figurando no primeiro número do “Mundo de Aventuras”.


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Criadores de BD em defesa de sobrevivente de Auschwitz

Stan Lee, Neal Adams e Joe Kubert contam aos quadradinhos história de Dina Babbitt; jovem judia foi forçada por Joseph Mengele a pintar retratos de prisioneiros ciganos; Museu polaco recusa-se a restituir obras à autora

Três dos maiores nomes dos comics norte-americanos juntaram-se para contar em banda desenhada o caso de Dina Babbitt, uma sobrevivente do campo de concentração de Auschwitz. Trata-se de Stan Lee, criador, entre outros, do Homem-Aranha, Quarteto Fantástico e X-Men, Neal Adams, responsável nos anos 70 pela modernização de Lanterna Verde e Batman, e Joe Kubert, veterano autor de Sgt. Rock e de uma alaudida versão de Tarzan.
Dina, nascida Gottliebova, foi levada como prisioneira para Auschwitz em 1943, devido à sua origem judia, tendo escapado à morte por ter pintado um painel com uma cena do filme “Branca de Neve e os 7 anões”, na zona destinada às crianças. O seu talento despertou a atenção de Joseph Mengele, tristemente célebre pelas experiências com seres humanos, que forçou Dina – em troco da vida da mãe – a fazer retratos que captassem o exacto tom da pele dos ciganos, aspecto que era parte da sua teoria sobre a sua inferioridade em relação à raça ariana. As pinturas – onze no total – perderam-se aquando da libertação do campo pelas tropas soviéticas, em 1945.
Em 1963, seis dos retratos foram propostos ao Museu Memorial de Auschwitz-Birkenau, na Polónia, que compraria ainda uma sétima tela anos mais tarde, todas assinadas “Dina 1944”.
Dina viria a casar com Arthur Babbitt, um animador norte-americano, indo viver para Hollywood, onde trabalhou em animação na Warner Brothers, desenhando Daffy Duck, Wile Coyote ou Speedy Gonzalez.
Em 1973, deslocou-se ao museu a expensas próprias, para identificar as suas pinturas. Desde então, Dina Babbitt, hoje com 85 anos, tem desenvolvido esforços para recuperar as suas obras, perante a intransigência do Museu que, conjuntamente com o governo polaco, tem ignorado, inclusive, diligências do governo norte-americano nesse sentido.
A BD em seis pranchas de Lee, Adams, e Kubert, que conta a história de Dina Babbitt e é mais um contributo para a sua causa, foi oferecida para publicação à Marvel e à DC Comics , as duas maiores editoras de comics dos EUA, para já sem qualquer reacção, estando disponível gratuitamente na Internet.


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Recontar velhas histórias

Astonishing X-Men – Perigo
Joss Whedon (argumento), John Cassaday (desenho) e Laura Martin (cor)
BdMania

Os heróis são os mesmos, as temáticas – ódio aos mutantes (uma forma de xenofobia…), ameaças poderosas, tensões internas – já são conhecidas; pode-se dizer que estas histórias já foram contadas… Mas a verdade é que Whedon fez deste regresso dos X-Men, ocupados com a reconstrução do grupo e da sua escola e a braços com um invulgar inimigo, um dos arcos mais interessantes dos últimos anos.
Com a vantagem do seu argumento, ágil e extremamente legível, assente em diálogos vivos e credíveis, ter sido posto em imagens por um Cassaday soberbo no desenho humano, de um realismo impressionante, e explodindo quando impera a acção, com o todo servido por belas cores lisas em que imperam os tons quentes.


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Histórias de Garfield… sem Garfield!

Por incrível que possa parecer, em Outubro próximo vai ser editado nos Estados Unidos um álbum de tiras de Garfield… sem Garfield! Mas não se pense que se trata de uma colectânea das tiras em que não aparece o popular gato laranja, gordo, anafado e prepotente, que adora lasanha, criado por Jim Davis. Este livro recolhe, sim, algumas dezenas das tiras originais de Davis, das quais Garfield foi pura e simplesmente apagado!
A ideia – no mínimo original – pertence ao (também cartoonista) irlandês Dan Walsh, de 33 anos, que em Fevereiro deste ano criou um site dedicado “a remover Garfield das tiras de Garfield com o propósito de revelar a angústia existencial de um certo Mr. Jon Arbuckle” (o dono de Garfield). E prossegue: “É uma viagem profunda ao interior da mente de um jovem isolado do mundo, enquanto luta uma batalha perdida contra a solidão e a depressão num tranquilo subúrbio norte-americano”.
Sem Garfield, o seu sobrinho Nermal ou o cão Odie, as tiras “ganham uma nova atmosfera, aumentando ainda mais a solidão de Jon Arbuckle… As suas observações soam algures entre a crise existencial e o mais profundo desespero”, escreveu a propósito o New York Times.
A ideia agradou aos fãs do gato, que multiplicaram as visitas ao site de Walsh, acabando este por chegar ao conhecimento de Jim Davis que, surpreendentemente, também se tornou admirador das tiras sem o seu gato, afirmando mesmo: “foi uma boa inspiração; quero agradecer ao Dan por me ter permitido ver outro lado do Garfield. Algumas das tiras que ele escolheu ficaram muito divertidas. Quando as leio penso: ‘Oh, eu devia tê-lo deixado de fora’. Teriam muito mais piada”.
Por isso, com o seu apoio, “Garfield Minus Garfield” vai ser lançado pela Ballantine Books, uma divisão da Random House Publishing Group, que já publica as recolhas das tiras originais de Davis desde 1980, sendo já um dos livros mais aguardados do último trimestre nos Estados Unidos. A obra, com 128 páginas a cores, ficará disponível a 28 de Outubro e incluirá, lado a lado, as tiras originais com Garfield e a versão “apagada” para “que os leitores as possam comparar”.
O livro sairá em simultâneo com “Garfield 30th Anniversary Book”, no qual Davis revê as primeiras três décadas deste gato trintão que se estreou nos jornais a 15 de Junho de 1978. Gordo, preguiçoso, cínico e sarcástico, Garfield – adaptado a desenho animado e, mais recentemente, ao cinema, combinando animação computorizada e imagem real – ocupa o tempo em que não dorme a ver televisão, devorar lasanha, maltratar Odie, esmagar aranhas ou exasperar Jon, para deleite dos leitores de todo o mundo que acompanham as suas deambulações diariamente em mais de 2500 periódicos e compram as muitas centenas de produtos licenciados, que fazem deste gato um dos maiores sucessos de merchandising da história da banda desenhada.


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O regresso de Flash Gordon

Clássico da BD regressa adaptado ao século XXI; Filme com o herói está em preparação; Antologia com pranchas de Alex Raymond começará a ser editada este ano em Portugal

Flash Gordon, um dos maiores clássicos da banda desenhada, está de volta numa nova série em formato comic-book, que está a chegar às lojas especializadas norte-americanas.
O argumento foi escrito por J. M. DeMatteis, um veterano dos quadradinhos, agora editor-chefe da Ardden Entertainement, responsável pela edição, e por Brendan Deneen, co-fundador da empresa, tendo o desenho sido entregue a Paul Green, que assina o seu primeiro trabalho de fôlego em BD, após anos a trabalhar no mercado de videojogos.
O projecto foi apresentado em Junho na New York Comicon, onde o número #0 foi um sucesso de vendas, apesar das grandes diferenças entre ele e a versão original, criada por Alex Raymond, em 1934. Ou talvez devido a elas, uma vez que o traço clássico, realista e elegante original deu lugar a uma versão moderna e estilizada, enquanto que o argumento, segundo Deneen, “combina elementos clássicos da personagem com novas abordagens típicas do século XXI”, citando como exemplo “a guerra civil em Mongo que não deixará de parecer familiar a quem tenha estado atento ao nosso mundo nos últimos anos”, embora se mantenha “fiel ao espírito da incrível criação de Raymonds”.
Na versão original, Flash Gordon deslocava-se ao planeta Mongo, na companhia do cientista Hans Zarkov e da bela Dale Ardden, para evitar a sua colisão com a Terra, aproveitando para derrotar o tirano Ming. Raymond fez da BD uma referência, devido ao tratamento realista dado às personagens, com destaque para as belíssimas mulheres, aos estranhos seres com que a povoou e aos muitos elementos exóticos de que dotou o novo mundo, que combinava a arquitectura dos anos 30, com castelos medievais e surpreendentes avanços tecnológicos. Lançado directamente como prancha dominical, Flash Gordon passaria também a tira diária em 1940, assinada por Austion Briggs. Mac Raboy, Dan Barry, Paul Norris ou Al Williamson foram alguns dos autores responsáveis por Flash Gordon, que terminou a sua carreira nos jornais em 2003. A última versão original em revista, foi uma mini-série da Marvel Comics, em 1995.
Em Portugal, onde Flash Gordon – por vezes rebaptizado como “Capitão Raio”, “Roldan” ou “Capitão Relâmpago” – fez a sua estreia nos anos 40, a editora Bonecos Rebeldes tem previsto para Setembro/Outubro o lançamento do primeiro dos nove volumes da edição integral das pranchas dominicais de Alex Raymond, que prevê concluir dentro de dois anos. Por outro lado, a próxima edição do Festival de BD da Amadora, em Outubro, cujo tema é a ficção-cienífica, dedicará uma exposição a este aventureiro espacial.

[Caixa]

Flash Gordon no ecrã

A Columbia Pictures acaba de anunciar que contratou Matt Sazama e Burk Sharpless para escreverem o argumento de um novo filme de Flash Gordon, que será dirigido por Breck Eisner (“Sahara”), que o produzirá juntamente com Neal Moritz. O herói tinha já regressado à TV, em 2007, sem grande sucesso, numa temporada de 22 episódios com Eric Johnson, Gina Holden, Jody Racicot e John Ralston, no Sci Fi Channel.
O êxito dos quadradinhos levou Flash Gordon aos ecrãs logo em 1936, numa série de 13 episódios da Universal, realizada por Frederick Stephani e protagonizada por Buster Crabbe, que também interpretaria a primeira longa-metragem do herói, “Mars attacks the World”, em 1938. As séries televisivas sucederam-se, incluindo versões animadas. A última aventura de Flash Gordon no cinema foi em 1980, numa película com Sam Jones, assinada por Mike Hodges, que ficou famosa… pela banda sonora dos Queen.
E há rumores que afirmam que a saga “Star Wars” só existiu porque George Lucas não conseguiu os direitos da criação de Raymond…


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F. Cleto e Pina

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Retalhos de Manta

Convite à descoberta da obra gráfica de João Abel Manta

Em “João Abel Manta – Caprichos e Desastres”, com o pretexto (desnecessário) dos 80 anos do artista, João Paulo Cotrim leva-nos num longo e detalhado passeio pela obra gráfica de Manta, um dos mais interessantes e estimulantes artistas plásticos que o século XX deu a Portugal, “uma obra múltipla que respira, que não se consegue prender no fio de uma metáfora apenas”.
Nas mais de duas centenas de páginas deste álbum, Cotrim apresenta alguns (dos muitos) momentos significativos da sua arte, propondo-os ao leitor da forma como os vê, à luz do tempo em que foram executados – mas também à luz do tempo em que são (re)interpretados – enquanto nos desafia a (re)vê-los à nossa maneira, à luz da nossa formação/da nossa intuição, nas suas múltiplas leituras.
Contido nas palavras, dando espaço às imagens, Cotrim ajuda-nos a descobrir uma imensa manta de retalhos. Retalhos (de Manta) multiformes nas técnicas utilizadas (desenho livre ou trabalhado, colagens, fotocomposições e técnicas mistas várias) ou nas temáticas abordadas (dos trabalhos mais conhecidos à ilustrações de obras literárias, das célebres capas do “JL – Jornal de Letras, Artes e Ideias” aos retratos de personalidades da vida cultural portuguesa, passando até por obras que a censura forçou à gaveta), com os quais o artista construiu um retrato lúcido e mordaz, marcante, por vezes incomodativo, deste país que é Portugal, afinal mote (quase) único de toda a sua criação, nas suas grandezas e misérias. Ou, talvez, na grandeza das suas misérias.

O cartoonista da Revolução

João Abel Manta – Caprichos e Desastres
João Paulo Cotrim
Assírio & Alvim, El Corte Inglés e C.M.L. – Museu Bordallo Pinheiro

Com uma diversificada obra como arquitecto, pintor, caricaturista, designer e cenógrafo, João Abel Manta, nascido a 29 de Janeiro de 1928, assinou as primeiras obras nos anos 40 do século passado e diplomou-se em Arquitectura pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, em 1951.
E foi/é também cartoonista, especialmente após o 25 de Abril – sendo por muitos considerado “o cartoonista da revolução” por excelência – sendo de sua autoria as marcantes “Caricaturas Portuguesas dos anos de Salazar” ou um dos mais conhecidos cartazes do MFA.


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F. Cleto e Pina

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Alley Oop, um homem pré-histórico com 75 anos

Criação de Vincent T. Hamlin viajou no tempo e foi à Lua

Nascido há apenas 75 anos, Alley Oop é, apesar da sua juventude, um dos mais famosos homens pré-históricos da banda desenhada.
Criado por Vincente T. Hamlin, nascido no Iowa, a 10 de Maio de 1900, que se inspirou na frase dos acrobatas franceses (“Allez Oup”) e na sua paixão pela temática pré-histórica, este cro-Magnon, dotado de grande força, cujo rosto evoca um chimpanzé, vive no reino de Moo, governado pelo inconstante rei Guzzle, acompanhado do seu dinossauro Dinny e da sua namorada Ooola. Com uma ligeira crítica social, as suas divertidas andanças, trabalhadas com um traço limpo e legível, começaram a ser publicadas como tira diária a 7 de Agosto de 1933, passando também a prancha dominical, em Setembro do ano seguinte. A 6 de Abril de 1939, Hamlin imprimiu uma mudança radical na série, introduzindo Elbert Wonmug, um feiticeiro-cientista, inventor de uma máquina do tempo que haveria de levar o herói a passear por toda a História, combatendo piratas e mouros, e a visitar o século XX e até a Lua (em 1947).
Apesar do grande sucesso que alcançou no formato jornal, tendo sido publicado simultaneamente em quase um milhar de títulos, as diversas tentativas de transpor Alley Oop para revista não tiveram grande êxito, o que não impediu a sua adaptação em desenho animado, já nos anos 70, ou que, na década anterior, tivesse inspirado um grande êxito dos Hollywood Argyles, de que Roberto Carlos fez uma inspirada versão, transformando o seu nome brasileiro – Brucutu – em sinónimo corrente de homem primitivo ou bruto.
Hamlin, falecido a 14 de Junho de 1933, manteve Alley Oop até 1971, entregando-o depois a Dave Graue, que colaborava na série desde 1950. Este, falecido num acidente de viação em 2001, seria substituído por Jack Bender, que o assistia há 10 anos e que ainda assina a série hoje em dia, com a colaboração da esposa, Carole.
Em Portugal, Alley Oop ficou conhecido como Trucutu e foi uma das séries escolhidas para o primeiro número de “O Mundo de Aventuras”, publicado a 18 de Agosto de 1949.


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Saído dos infernos

Hellboy surpreende pela arte e pelas múltiplas referências

O que primeiro atrai em Hellboy é a arte de Mike Mignola, que quase se poderia classificar como uma “linha clara” escura, já que o seu desenho plano, estilizado, desprovido de pormenores desnecessários, extremamente legível, invulgar no universo dos comics norte-americanos, é servido por tons soturnos, sombrios, mesmo quando a acção decorre em montanhas verdejantes…
Isso contribui sobremaneira para o ambiente opressivo e tenso das narrativas, onde o inesperado espreita a cada página e onde cada construção – quase sempre velhos castelos decadentes – esconde perigos inimaginados.
Mas são as narrativas, bem construídas, envolventes, alternando suspense com cenas de acção, com as pontas soltas necessárias para serem retomadas mais tarde, fazendo a ligação entre as histórias e criando uma interessante cumplicidade com o leitor, que mais surpreendem, pela conjugação de aspectos que aparentemente nada têm em comum: investigações de tom detectivesco e demónios saídos do inferno – o primeiro dos quais o próprio Hellboy -, o paranormal par a par com a ciência, a retoma da temática nazi como personalização do mal absoluto como um dos lados do eterno confronto entre este e o bem…
“Verme Conquistador”, que tem introdução de Guillermo del Toro, reúne todos aqueles aspectos, cruzando-os com diversas referências literárias, cinematográficas e televisivas agradavelmente retros, numa história que traz Hellboy de novo à velha Europa, a mais um castelo em ruínas, para evitar a concretização de um plano iniciado pelos nazis 60 anos antes, quando enviaram o primeiro ser humano para o espaço.

Mignola, o expressionista

Hellboy – Verme conquistador
Mike Mignola (argumento e desenho)
G. Floy Studio

Mike Joseph Mignola nasceu a 16 de Setembro de 1960, em Berkeley, na Califórnia. Publicou os primeiros trabalhos aos 19 anos, destacando-se pelo invulgar grafismo que alguém classificou como “uma combinação de expressionismo alemão com a arte de Jack Kirby”.
Contratado pela Marvel em 1983, desenhou Daredevil, X-Men, Hulk, Conan ou Homem-Aranha e, a partir de 1987, também histórias de Batman para a DC Comics.
Em 1993, na Dark Horse, criou Hellboy, assinando argumento e desenhos, que já lhe valeu diversos prémios Harvey e Eisner.


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F. Cleto e Pina

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