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BD sobre a PIDE para celebrar Abril

Obra do italiano Giorgio Fratini é “uma metáfora sobre a perda da memória”; Lisboa dos anos 70 é testemunha muda da actuação da polícia política

Para assinalar o 34º aniversário da Revolução dos Cravos, a Campo das Letras acaba de editar “As paredes têm ouvidos – Sonno Elefante”, um romance gráfico cuja acção decorre a dois tempos, nos últimos anos da ditadura e em 2006, centrada no edifício da R. António Maria Cardoso que serviu de sede à PIDE, e que retrata, de forma contida mas realista, alguns métodos dos seus agentes – “que não investigam antes de prender, prendem para investigar”, lê-se a certa altura.
Esta banda desenhada nasceu de uma notícia sobre a transformação daquele edifício num condomínio de luxo, e é “uma metáfora sobre a perda da memória de um lugar, logo de um pedaço da História”, revelou ao JN o autor, aquando da edição italiana do livro, no início de 2008. Isto porque, curiosamente, esta é uma obra de um italiano, Giorgio Fratini, que conheceu Portugal em 2000, ao abrigo do programa Erasmus.
Ou talvez não, se pensarmos que os quadradinhos nacionais raramente abordaram o meio século de ditadura salazarista, embora não seja “exclusiva da BD esta cegueira criativa e libertária em relação a um período tão rico (para o melhor e para o pior)”, como refere João Paulo Cotrim, argumentista de “Salazar – Agora na hora da sua morte” (2006), um outro romance gráfico situado na mesma época, que humaniza o mito do ditador, como forma de o desmistificar. E acrescenta: “caiu sobre o período da ditadura um véu politicamente correcto que não permitiu que o olhar da criação, cujo pressuposto é a absoluta liberdade, iluminasse o período do regime para além do (que parece) bem e mal”.
Para além de “Salazar…”, algumas das excepções mais relevantes são “As pombinhas do Sr. Leitão” (1999), de Miguel Rocha, ou “Operação Óscar” (2000), de José Ruy, a par de alegorias mais datadas como “Kolanville” (1974), de Duarte, “O País dos Cágados” (1989), de Artur Correia e Gomes de Almeida ou “Wanya” (1973; reedição Gradiva, 2008), de Nelson Dias e Augusto Mota, embora, “paradoxalmente, algumas das mais interessantes produções recentes” – muitas delas “perdidas” em jornais e revistas – “se incluam nesta vertente da BD de cariz histórico”. E isto apesar de a banda desenhada “ter sido uma linguagem bastante usada pelas propagandas da ditadura”, conclui Cotrim.
“As paredes têm ouvidos”, cuja acção decorre também nas ruas inclinadas e nas tabernas típicas de Lisboa, cujas casas e prédios são testemunhas mudas dos medos e mordaças que então imperavam, traça igualmente o percurso de cinco amigos, cujas vidas são profundamente afectadas pela actuação da polícia política, “entre os quais há quem se oponha, quem traia, quem colabore, quem se anule e quem morra”.


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F. Cleto e Pina

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Lisboa: Câmara Municipal Reestrutura Bedeteca Lisboa

A autarquia de Lisboa decidiu reestruturar a Bedeteca da cidade e integrá-la na Biblioteca Municipal dos Olivais, para racionalizar recursos, disse hoje à Lusa o director municipal de cultura, Francisco da Motta Veiga. O responsável garantiu à Lusa que a Bedeteca não será extinta, mas integrada, como um serviço especializado, na Biblioteca dos Olivais, passando a ser gerida pela coordenadora desta biblioteca, Teresa Capela. “É preciso racionalizar e não se pode perder espaço e recursos. É uma questão de articular funcionalidades. A equipa [da Bedeteca] mantém-se e as actividades também na medida das disponibilidades financeiras”, disse Motta Veiga. A Bedeteca Municipal de Lisboa foi inaugurada a 23 de Abril de 1996 no Palácio do Contador-Mor, nos Olivais, onde está sedeada também a Biblioteca Municipal daquela freguesia. Durante quase uma década, a estrutura funcionou como um centro cultural dedicado à banda desenhada, ilustração e cartoon, com uma valência de preservação documental e outra de divulgação e apoio a esta expressão artística, com lançamentos editoriais e exposições. À frente da Bedeteca de Lisboa estiveram João Paulo Cotrim (1996-2002) e Rosa Barreto (2002-2010) e desde a saída desta última responsável registou-se um declínio na programação da estrutura cultural, grande parte causado pela redução de verbas. “Tomámos a decisão de articular as duas valências [Bedeteca e Biblioteca Municipal] que funcionam no mesmo edifício”, reforçou o director municipal de cultura, garantindo que a medida faz parte de um plano alargado – a concretizar a longo prazo – para a rede de bibliotecas municipais da capital. Fonte da Divisão de Bibliotecas Municipais de Lisboa explicou à agência Lusa que a Bedeteca chegou a ter uma equipa de dez pessoas a trabalhar em torno da banda desenhada, reduzida actualmente a apenas três elementos. A Bedeteca, que possui cerca de oito mil volumes, apoiou a edição de novos autores de banda desenhada, realizou exposições, encontros de promoção de leitura e o Salão Lisboa de Banda Desenhada e Ilustração, tendo sido elogiada, sobretudo na viragem do século, por ter impulsionado novos valores da BD contemporânea. “A Bedeteca está reduzida a um conjunto de estantes numa sala, perdeu-se a componente de preservação da memória e o estímulo à produção”, lamentou João Paulo Cotrim à agência Lusa. Para o antigo director da Bedeteca, a integração do organismo como um serviço especializado da Biblioteca Municipal dos Olivais é “um desrespeito pelos mais de dez anos de trabalho da casa”. “Nunca se produziu tantos ensaios e reflexões sobre a banda desenhada, ilustração e cartoon como naquele período. Havia gente a pensar e a escrever sobre exposições e autores”, disse João Paulo Cotrim. João Fazenda, Isidro Ferrer e Lorenzo Mattotti foram alguns autores da banda desenhada portuguesa e estrangeira que a Bedeteca editou e ajudou a divulgar. Actualmente no país existe uma Bedeteca, com biblioteca e programação, em Beja, e até ao verão de 2010 o Centro Nacional de Banda Desenhada e Imagem, na Amadora, também tinha a valência de bedeteca. Desde então passou a ter apenas acervo ligado à BD e ilustração e a organizar exposições e o Festival Amadora BD. A componente de bedeteca foi incorporada na Biblioteca Municipal da Amadora.

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A obra de Augusto Cid: bílis em estado puro

Se mais méritos não tivesse – e tem, desde logo pela (mediática) chamada de atenção para expressões artísticas (cartoon, caricatura, ilustração) raras vezes suficientemente valorizadas para além da efémera existência nas páginas de jornais e revistas – o Prémio Stuart instituído pelo El Corte Inglés deu também origem a uma colecção de obras monográficas sobre os seus vencedores.
Por essa notável galeria do humor gráfico nacional já passaram clássicos – Stuart Carvalhais, Bordallo Pinheiro – ou contemporâneos cuja obra podemos admirar diariamente – João Fazenda, André Carrilho. Ou, ainda, clássicos contemporâneos, se assim se podem definir, como João Abel Manta ou, agora, Augusto Cid, vencedor em 2009 e tema do mais recente tomo.
Como os restantes, é da autoria de João Paulo Cotrim, cuja escrita nem sempre é fácil – e poucas vezes linear, com uma prosa de grande carga poética, que geralmente, sugere mais do que expõe – mas que, nesta colecção, tem reduzido os seus textos ao mínimo, avançando apenas pistas de interpretação e análise, destacando características ou técnicas ou inserindo o cartoon ou a ilustração no contexto – mediático, político, artístico – em que foi criado/publicado, dando assim o máximo destaque ao trabalho gráfico do homenageado, que se encontra em profusão nas cerca de duas centenas de páginas do livro.
Por isso, se Cotrim é o autor, o protagonismo pertence a Augusto Cid, de quem são mostrados cartoons, tiras e bandas desenhadas de diversas épocas e temáticas: ultramar, processos, Eanes, Soares, touradas, animais, mendigos, sexo, motas, auto-retratos… Para que o seu traço personalizado, seguro e sintético e o seu olhar mordaz, cruel, independente e provocador, cumpram o seu papel: divertir, revelar, acusar, apontar o nu. Porque Cid “mexe com o objecto, incomoda com a perspectiva e a caneta”; “o seu humor ultrapassou qualquer noção de bom ou mau: é bílis em estado puro” e “como bom cartoonista, ignora a culpa e aspira à mais absoluta liberdade”.
Como pode ser (re)descoberto nesta colectânea que, mais do que ser o culminar ou a súmula de uma carreira marcante, deve servir apenas como ponto de partida para novas viagens e explorações.

Cid
João Paulo Cotrim
Assírio & Alvim e El Corte Inglés

Divulgador e argumentista

Primeiro director da Bedeteca de Lisboa, João Paulo Cotrim – que, enquanto argumentista, tem tido experiências episódicas nalgumas destas artes – é um dos grandes responsáveis pela divulgação e credibilização da banda desenhada, do cartoon, do desenho de imprensa e da ilustração nacionais nas últimas duas décadas.


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F. Cleto e Pina

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Portugal e Galiza (re)encontram-se na BD

Exposições do galego David Rubin e dos portugueses Miguel Rocha/João Paulo Cotrim, dão corpo ao 1º Encontro Luso-Galaico de BD, que é inaugurado amanhã, na Biblioteca Municipal de Vila Nova de Gaia.

As mostras, integradas nas manifestações de Vila Nova de Gaia – Capital da Cultura do Eixo Atlântico 2009, que decorrem até final do mês, serão inauguradas às 16h30, na presença dos autores.
Apesar da denominação escolhida, esta não é a primeira vez que a BD portuguesa e da Galiza se encontram (ver caixa) o que também não significa que os contactos já havidos tenham sido especialmente frutíferos. As explicações poderiam ser várias, desde a forma independente como trabalham a maior parte dos criadores à enorme diferença entre a realidade dos quadradinhos aqui e na Galiza, com vantagem para esta última, onde a 9ª arte atravessa há uma década um momento especialmente dinâmico e estimulante. E que é visível, por exemplo, na multiplicação de eventos dedicados à “banda deseñada”, desde as históricas Xornadas de Ourense ou o Salón de Cangas ao já incontornável Viñetas desde o Atlântico, dirigido pelo mais prestigiado autor de BD galego, Miguelanxo Prado, ou na proliferação de publicações, independentes e colectivas, como “BD Banda”, “Golfiño” (distribuída com o jornal “La Voz de Galícia”), ou “Barsowia”.
Por cá, face a um mercado em contracção (ao contrário do espanhol, que recebe anualmente mais de 2000 títulos) e com os jornais de portas fechadas, os novos quadradinhos portugueses têm passado por edições independentes, de pequena tiragem e circulação limitada, como “Mocifão”, “Gambuzine”, “Efeméride”, “Super Pig”, “A Fórmula da Felicidade”, “Noitadas, Deprês e Bubas”, “Venham +5”, “Tomorrow The Chinese Will Deliver The Pandas”, “O filme da minha vida”, “Murmúrios das Profundezas” ou “Zona Zero”.
David Rubin, nascido em Ourense em 1977, é a principal atracção do encontro de Gaia. Dividido entre o desenho e a animação, é um dos rostos mais visíveis da nova BD galega, como co-fundador do colectivo Polaqia e pela obra que tem espalhado por inúmeras publicações e dois álbuns – “El circo del desaliento” e “La tetería del Oso Malayo” (ambos da Astiberri) – em que dá largas ao seu traço realista distorcido, expressivo e muito legível, com que liberta narrativas curtas, mas fortes e bem estruturadas. Originais seus estarão igualmente na livraria/galeria Mundo Fantasma (C.C. Brasília), até 13 de Setembro, que a propósito editou um giclée numerado e assinado por Rubin.
Miguel Rocha e João Paulo Cotrim mostram em Gaia “As Lições de Salazar”, um dos capítulos do premiado romance gráfico “Salazar – Agora, na hora da sua morte” (Parceria A. M. Pereira), uma visão desassombrada que desconstrói o mito do ditador, mostrando o seu lado humano, com muitas fragilidades e limitações. Cotrim, nascido na capital, em 1965, primeiro director da Bedeteca de Lisboa, é membro do projecto Gulbenkian/Casa da Leitura e assessor do Centro Cultural de Belém, e tem uma vasta obra, aos quadradinhos e não só. Miguel Rocha, também natural de Lisboa (1968), tem desenvolvido um estilo original e personalizado em títulos como ”A vida numa colher – Beterraba” e “MALITSKA” (ambos da Polvo).
São duas das (muitas) formas diferentes de abordar a BD que podem ser descobertas até final do mês, como aperitivo para depois as desfrutar no papel.

[Caixa]

Primeiro encontro foi há 19 anos, no Rivoli

O primeiro “Encontro Luso-Galaico de Banda Desenhada” teve lugar no Porto, no Teatro Rivoli, de 23 a 30 de Dezembro de 1990, e foi organizado pelo projecto Comicarte, no ano em que, após cinco anos consecutivos, não realizou o Salão Internacional de BD do Porto, devido à criação, na sede da Comissão de Jovens de Ramalde, da primeira bedeteca portuguesa, entretanto desactivada.
Como base teve as exposições: “Más Criações”, que mostrava a nova banda desenhada nacional, e “Debuxantes en Banda”, da Casa da Xuventude de Ourense, que ilustrava a realidade galega. Convívio de autores e fãs, o encontro teve também quatro painéis de debates, sobre “BD contemporânea: Sangue e sexo à discrição”, “Crítica e críticos: Função e utilidade”, “O uso da BD no ensino” e “BD infantil, de origem a parente pobre”, e um café-concerto com poesia de Mário de Sá-Carneiro e de Rosalia de Castro, dita por Isabel Aragão, e uma actuação do grupo Jig.


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Animação pioneira estreia hoje na Sic Notícias

Sócrates a afogar-se no lamaçal do Freeport, Obama a fazer equilibrismo com a Casa Branca ou Manuela Ferreira Leite a braços com “parasitas” laranja, são alguns dos motes de pequenas animações disponíveis há alguns meses em HYPERLINK “http://www.spamcartoon.com” www.spamcartoon.com e que ilustram o que será possível ver na Sic Notícias diariamente, às 19h e às 22h, a partir de hoje.
O projecto, pioneiro a nível mundial “na produção de raiz de filmes com esta finalidade”, intitula-se SPAMCARTOON e consta de micro-filmes de 30 segundos que comentam temas da actualidade à maneira de um cartoon editorial. A ideia surgiu “há uns dois anos numa conversa com André Carrilho em torno da evolução do humor gráfico e da resposta a dar aos desafios da internet e das televisões”, contou ao JN João Paulo Cotrim, o seu argumentista. E acrescenta: “trabalhamos o conceito, desenvolvemos um grafismo feito de simplicidade e formou-se uma equipa (realizadores, sonoplasta, animadora, etc.)”, que hoje inclui os dois e, entre outros, Cristina Sampaio e João Fazenda (desenho) e José Condeixa (sonoplastia), que demora “uns bons 4 a 5 dias, da ideia à montagem final, para produzir um cartoon, apesar de termos uma lógica de guerrilha”.
A estreia ficará marcada por “um filme inédito em torno de Guantanamo”, que depois ficará disponível on-line. A passagem da net para a TV “não impôs qualquer limitação temática”, para além das já existentes: “o próprio olhar da equipa, os seus pressupostos ideológicos, as raivas e os prazeres de cada um”.


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O Sétimo Selo em Banda Desenhada

O terceiro livro da colecção de banda desenhada “O Filme da Minha Vida”, foi apresentado no passado dia 27, em Viana do Castelo. Intitulado ”O Sétimo Selo” e inspirado pelo filme homónimo de Ingmar Bergman, de 1972, é da autoria de Jorge Nesbitt, que esteve presente para falar da obra e inaugurar uma exposição dos seus originais, que estará patente até 30 de Abril no Espaço Ao Norte, naquela cidade.
Nesbitt, artista plástico e ilustrador, com formação de Artes Plásticas pelo Ar.Co, Centro de Arte e Comunicação Visual, onde é também professor, inspirou-se na célebre cena do jogo de xadrez entre a Morte e Block, o cruzado cansado, mantendo a disputa “mas sem peças ou tabuleiro, sem acção, apenas diálogo”, escreve na introdução da obra o crítico e especialista de BD João Paulo Cotrim.
Lançada em Maio do ano passado, esta colecção, dirigida pelo artista plástico Tiago Manuel, com design gráfico de Luís Mendonça, é uma iniciativa da associação Ao Norte – Audiovisuais que desafiou dez desenhadores portugueses a inspirarem-se num filme que os tenha marcado para criarem uma obra autónoma em 32 páginas de BD, em formato A5, a preto e branco, criando assim mais laços entre duas artes já com tanto em comum. Os dois primeiros volumes foram “O Percutor Harmónico” (inspirado em “Aconteceu no Oeste, de Sérgio Leone), e “Epifanias do Inimigo Invisível” (O Deserto dos Tártaros, de Valério Zurlini), assinados respectivamente por André Lemos e Daniel Lima. No próximo volume, João Fazenda revisitará “Vertigo”, de Alfred Hitchcock.


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Retrospectiva de João Abel Manta

É inaugurada hoje, na galeria do Museu Bordalo Pinheiro, em Lisboa, a exposição “João Abel Manta – Caprichos & desastres”, comissariada por João Paulo Cotrim, que este ano editou um livro com o mesmo título, a propósito da consagração do autor com o prémio Stuart de Carvalhais.
Assim, no ano em que Manta completou 80 anos, esta selecção de quase uma centena de originais, dos muitos que o artista ofereceu à Câmara Municipal de Lisboa, em 1992, aquando da retrospectiva da sua obra gráfica, permite (re)descobrir um dos mais interessantes e estimulantes artistas plásticos que o século XX deu a Portugal.
Se os seus trabalhos mais conhecidos são as “Caricaturas Portuguesas dos anos de Salazar”, o célebre cartaz do MFA ou as capas que fez para o “JL – Jornal de Letras, Artes e Ideias”, João Abel Manta foi um artista multifacetado, que experimentou os mais diversos géneros, estilos e técnicas, para traçar retratos corrosivos, por vezes até incómodos, de Portugal.
A mostra, de entrada gratuita, estará patente de terça a domingo, até 18 de Janeiro.


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Retalhos de Manta

Convite à descoberta da obra gráfica de João Abel Manta

Em “João Abel Manta – Caprichos e Desastres”, com o pretexto (desnecessário) dos 80 anos do artista, João Paulo Cotrim leva-nos num longo e detalhado passeio pela obra gráfica de Manta, um dos mais interessantes e estimulantes artistas plásticos que o século XX deu a Portugal, “uma obra múltipla que respira, que não se consegue prender no fio de uma metáfora apenas”.
Nas mais de duas centenas de páginas deste álbum, Cotrim apresenta alguns (dos muitos) momentos significativos da sua arte, propondo-os ao leitor da forma como os vê, à luz do tempo em que foram executados – mas também à luz do tempo em que são (re)interpretados – enquanto nos desafia a (re)vê-los à nossa maneira, à luz da nossa formação/da nossa intuição, nas suas múltiplas leituras.
Contido nas palavras, dando espaço às imagens, Cotrim ajuda-nos a descobrir uma imensa manta de retalhos. Retalhos (de Manta) multiformes nas técnicas utilizadas (desenho livre ou trabalhado, colagens, fotocomposições e técnicas mistas várias) ou nas temáticas abordadas (dos trabalhos mais conhecidos à ilustrações de obras literárias, das célebres capas do “JL – Jornal de Letras, Artes e Ideias” aos retratos de personalidades da vida cultural portuguesa, passando até por obras que a censura forçou à gaveta), com os quais o artista construiu um retrato lúcido e mordaz, marcante, por vezes incomodativo, deste país que é Portugal, afinal mote (quase) único de toda a sua criação, nas suas grandezas e misérias. Ou, talvez, na grandeza das suas misérias.

O cartoonista da Revolução

João Abel Manta – Caprichos e Desastres
João Paulo Cotrim
Assírio & Alvim, El Corte Inglés e C.M.L. – Museu Bordallo Pinheiro

Com uma diversificada obra como arquitecto, pintor, caricaturista, designer e cenógrafo, João Abel Manta, nascido a 29 de Janeiro de 1928, assinou as primeiras obras nos anos 40 do século passado e diplomou-se em Arquitectura pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, em 1951.
E foi/é também cartoonista, especialmente após o 25 de Abril – sendo por muitos considerado “o cartoonista da revolução” por excelência – sendo de sua autoria as marcantes “Caricaturas Portuguesas dos anos de Salazar” ou um dos mais conhecidos cartazes do MFA.


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A maioridade na Amadora

Festival de Banda Desenhada começa hoje; Ziraldo, Cameron Stewart, Achdé e Gerra, autores de Lucky Luke, presentes este fim-de-semana; Previsto o lançamento de uma dezena de obras de autores portugueses

Começa hoje a 18ª edição do Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora, que abre as suas portas para o fantástico mundo dos quadradinhos até 4 de Novembro. Do programa, destaque para as exposições “Salazar, Agora na Hora da sua Morte”, sobre a obra de Miguel Rocha e João Paulo Cotrim, que venceu os Prémios Nacionais de BD para Melhor Álbum Português, Melhor Argumento e Melhor Desenho, em 2006, “As 10 BD’S do Século XX” (passeio pelos universos de “Little Nemo in Slumberland”, “Krazy Kat”, “Tintin”, “Batman”, “Spirit”, “Peanuts”, “Astérix”, “Blueberry”, “Corto Maltese” e “Maus”, “Astérix e seus Amigos”, uma homenagem de diversos autores a Uderzo, pelos seus 80 anos, e o espaço dedicado às novidades editoriais e a projectos em curso nacionais. Aliás, é de salientar o facto de estar previsto o lançamento, durante o FIBDA, de mais de uma dezena de obras de autores portugueses.
O tema desta edição, no ano em que o FIBDA comemora 18 anos, é “Maioridade” mas, como em qualquer ser humano, não é o simples atingir do patamar dos 18 anos que concede aquele estado. Esta opinião é partilhada por diversos intervenientes ligados à 9ª arte nacional, que referiram ao JN alguns aspectos em que, segundo eles, o Festival necessita de crescer. À cabeça é apontada o local de realização do festival que este ano se mantém no Fórum Luís de Camões, na Brandoa, reconhecidamente com as características logísticas necessárias para albergar um evento deste tipo, mas mal situado em termos de acessibilidade. Por isso João Miguel Lameiras, crítico e livreiro, aponta a necessidade “de arranjar uma casa fixa, em vez de mudar de dois em dois anos”, sendo secundado por Geraldes Lino, especialista em fanzines, que pede que “o núcleo principal se localize, definitivamente, num ponto central da Amadora, como era a saudosa Fábrica da Cultura”.
Puxando a brasa à sua sardinha, Marcos Farrajota e Teresa Câmara Pestana, autores e editores de fanzines, gostariam, respectivamente, de mudar “tudo” e de “ter os autores marginais como principal atracção do festival”, enquanto que Machado Dias, editor da pedranocharco e do “BDJornal” apostaria numa “equipa organizadora maior com um orçamento compatível”, a quem Lameiras pediria “uma maior profissionalização”.
Outro ponto referido, por José Freitas, editor da Devir, é a obrigatoriedade de “uma maior ligação com a realidade efectiva do público e dos seus interesses, ou seja, deixar de fazer um FIBDA para leitores de BD franco-belga com mais de 50 anos e admitir finalmente que o público de BD de hoje não é o mesmo de há dez ou quinze anos atrás”, pois prefere comics de super-heróis e manga (BD japonesa).
A mesma ideia é partilhada por Hugo Jesus, responsável pelo portal Central Comics, que pede à organização para “virar o festival para um publico mais jovem” e “para apostar definitivamente na área comercial”, desejo indirecto de José Freitas quando sugere ao FIBDA para “passar a olhar minimamente para o mercado para saber o que se editou e o que vende”. José Carlos Fernandes, o mais destacado autor português dos últimos anos, pensa que a maioridade só será atingida se (e quando) “houver um mercado saudável de BD em Portugal” pois, “se houver mercado, surgem editoras e autores nacionais”; sem isso, “o FIBDA será sempre a fachada enganadora de um edifício inexistente”. O que reitera Lameiras que, considerando “as crises de adolescência do Festival um reflexo das debilidades do próprio mercado nacional de BD” tem algumas reservas “pois o estado semi-comatoso do mercado deixa antever um prognóstico reservado quanto ao futuro do festival…”. 

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Destaques

Do programa do primeiro fim-de-semana do Festival de BD da Amadora, enquanto se aguarda por Manara (a 27 e 28) e Trondheim (3 e 4 de Novembro) destaca-se a presença do brasileiro Ziraldo, autor, entre outros títulos destinados à infância, de “O Menino Maluquinho”, Achdé e Guerra, actuais responsáveis de Lucky Luke, Cameron Stewart, desenhador de “Cat Woman”, “B.P.R.D.” ou “Seaguy”, Ilan Manouach, Godi, Zidrou e Jean-Louis Marco.
No que respeita a lançamentos, destaque para o regresso do Corvo, o mais desajeitado super-herói português, em “Laços de Família” (ASA), com desenhos de Luís Louro e argumento de Nuno “Homem-que-mordeu-o-cão” Markl, a par do sexto e derradeiro volume de “A Pior Banda do Mundo” (Devir), de José Carlos Fernandes.
Terão também apresentação “Obrigado patrão” (ASA), que Rui Lacas lançou este ano nas Éditions Pacquet”, “SuperPig #3”, de Carlos Pedro e Mário Freitas, e “C.A.O.S.#3”, de Filipe Teixeira, Fernando Dordio Campos e Carlos Geraldes (ambos da Kingpin Comics), “Sexo, Mentiras e Fotocópias”, de Álvaro, “Portfólio”, de José Abrantes, bem como das revistas “BDjornal #20” e “BDVoyeur #2” (pedranocharco).


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O mundo dos quadradinhos regressa à Amadora

Maioridade é o tema central da 18ª edição do Festival de BD que começa a 19 de Outubro; “As 10 BDs do século” e “Salazar”, visto por João Paulo Cotrim e Miguel Rocha, são os principais destaques; Milo Manara e Lewis Trondheim são cabeças de cartaz; mão cheia de lançamentos em português

O mundo maravilhoso dos quadradinhos, através de algumas das suas muitas facetas, vai regressar à Amadora de 19 de Outubro a 4 de Novembro, de novo no Fórum Luís de Camões, na Brandoa, que reúne sem dúvida boas condições logísticas para acolher o evento, embora deixe a desejar quanto à acessibilidade através de transportes públicos. Aquela que é a 18º edição do Festival Internacional de BD, terá como tema central a Maioridade e pretende dar uma visão global de uma arte centenária. Reflexo disso, é a principal exposição, “As 10 BD’s do Século”, que evocará as obras mais votadas pelos especialistas de todo o mundo no inquérito que o Festival promoveu em 2004, ou seja “Little Nemo in Slumberland”, “Krazy Kat”, “Tintin”, “Batman”, “The Spirit”, “The Peanuts”, “Astérix”, “Blueberry”, “Corto Maltese” e “Maus”.
No mesmo local estarão também os originais de “Salazar – Agora, na hora da sua morte”, o livro de João Paulo Cotrim e Miguel Rocha que recolheu no ano passado a unanimidade da crítica (Prémios Nacionais de BD para Melhor Argumento, Desenho e Álbum) e do público.
Astérix marca presença em dose dupla já que os 80 anos de Uderzo, cujo álbum comemorativo que reúne diversas homenagens feitas ao desenhador do pequeno gaulês pelos seus colegas de profissão, será lançado pela ASA durante o evento, dará o mote a outra das exposições.
O Fórum Luís de Camões, onde funcionará a Feira do Livro de Banda Desenhada, bem como sessões de autógrafos (para as quais está prevista a presença de nomes como Milo Manara, Lewis Trondheim, Ziraldo, Achdé e Guerra, estes dois os actuais responsáveis por Lucky Luke), conferências, etc., acolherá igualmente mostras de Alain Corbel (autor da linha gráfica do festival deste ano), Roberto Goiriz, Danijel Zezelj, Sixto Valência, Mathieu Sapin, Fábio Zimbres, Ilan Manouach, Warren Craghead, Frédéric Coché e Amy Lee, bem como a do Centenário de Cardoso Lopes, um dos grandes nomes do jornalismo infanto-juvenil em Portugal da primeira metade do século XX, o Espaço Infantil, preenchido com originais de “Menino Boavida”, de Godi e Zidrou, “Rosco Le Rouge”, de Jean-Louis Marco, “Uma Mesa é uma Mesa”, de Madalena Matoso e Isabel Martins e “Pê de Pai”, de Bernardo Carvalho e Isabel Martins, e o “espaço adulto”, onde os maiores de 18 anos poderão admirar a arte de Mattioli, Liberatore, Milo Manara e Leone Frollo.
Como é habitual, o Festival espraia-se pela cidade: a Galeria Municipal Artur Bual, mostra a obra de Ziraldo, a Casa Roque Gameiro acolhe ilustrações de Teresa Lima, Prémio Nacional de Ilustração Infantil do IPLB, os Recreios da Amadora, têm diversas mostras de Cartoon, e no CNBDI está patente “007, Ordem para Humorar”, um conjunto de divertidas abordagens ao mítico agente secreto que o cinema imortalizou.

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Lançamentos em português
Afirmando-se mais uma vez como o local por excelência para a divulgação da 9ª arte nacional, o Festival deverá assistir este ano ao lançamento dos seguintes títulos:
“O Corvo III” (ASA), de Luís Louro e Nuno Markl
“Obrigado Patrão” (ASA), de Rui Lacas
“Evereste” (ASA), de Ricardo Cabral
“Sexo, Mentiras e Fotocópias” (pedranocharco), de Álvaro
“Super Pig” (Kingpin Comics), de Carlos Pedro e Mário Freitas
“C.A.O.S.” (Kingpin Comics), de Filipe Teixeira, Fernando Dordio Campos e Carlos Geraldes


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