Categoria: Recortes

Homem-Aranha e Quarteto Fantástico juntos contra o consumo de álcool

Edição especial, distribuída gratuitamente nas escolas, alerta adolescentes contra os perigos do álcool

Está a ser distribuída nas escolas dos Estados Unidos uma edição especial em banda desenhada que reúne o Homem-Aranha e o Quarteto Fantástico, desta vez não para combaterem contra um qualquer vilão super-poderoso que quer destruir o mundo, como é habitual, mas contra uma ameaça bem mais real e concreta: o álcool. Intitulado “Spider-Man and the Fantastic Four in Hard Choices”, o comic-book tem uma tiragem de cerca de 700.000 exemplares e é uma edição conjunta da Marvel, que detém os direitos das personagens, da Elks National Foundation, uma organização religiosa que tem como missão “inculcar os princípios da caridade, justiça, solidariedade, amor e fidelidade” e que promove programas de combate às drogas nos EUA, e da organização governamental SAMHSA – Substance Abuse and Mental Health Services Administration, e tem como objectivo “alertar os mais novos contra os perigos do álcool”.

Escrito por Mark Sumerak e desenhado por Marcio Takara, conta como um dos amigos de Franklin Richards, o filho do sr. Fantástico e da Mulher Invisível, é pressionado por um colega de escola para beber bebidas alcoólicas “para se tornar um homem”. A intervenção do Homem-Aranha e do Quarteto fantástico impede que isso aconteça, levando os dois a fazer a “escolha certa”, não faltando sequer uma sentença moral do “aracnídeo”: “os verdadeiros heróis não usam nem abusam do álcool”.

Herman Roesler, presidente da Elks, afirmou que o objectivo é “chegar às crianças e adolescentes antes que eles sejam expostos ao álcool e a mensagem terá mais impacto se lhes for levada por nomes conhecidos, como os super-heróis da Marvel”.

Por cá, o Centro Regional de Alccologia do Centro (CRAC), teve uma iniciativa similar, em 2003, ao editar um álbum de José Carlos Fernandes (autor da multi-premiada série “A pior banda do mundo”), intitulado “Francisco e o Rei de Simesmo” para “sob a orientação dos professores, poder sensibilizar crianças, entre os 6 e os 10 anos para atitudes mais saudáveis face ao consumo de bebidas alcoólicas”.


Escrito Por

F. Cleto e Pina

Publicação

Jornal de Notícias

Futura Imagem

A América Latina pintada por Lepage

A Terra sem Mal
Anne Sibran (argumento) e Emmanuel Lepage (desenhos)
Vitamina BD
13,99 €

Muchacho – Tomo 1
Emmanuel Lepage (argumento e desenhos)
Edições ASA
14,00 €

Emmanuel Lepage nasceu em 1966 e desde os 21 anos que faz banda desenhada. Viajante inveterado, trouxe para a BD a experiência recolhida na realização de elaborados esboços de viagem, podendo ser considerado um pintor de quadradinhos – sem que isso signifique a ausência de ritmo e movimento nas suas pranchas, de planificação heterogénea, onde muitas vezes se multiplicam as vinhetas para ritmar as cenas, sendo outras de (quase) imagem única o que obriga o leitor a parar e a contemplar o pormenor a que o autor chega ou a beleza explosiva do conjunto. Até porque a paleta cromática que ele utiliza, rica de tons, sejam os verdes da selva, os azuis e cinzentos das (belas) cenas nocturnas ou os amarelos e sépias quando predominam os seres humanos, fantástica na forma como recria a luz, as sombras e os volumes, é uma enorme mais valia para o seu traço elegante, a um tempo espontâneo e trabalhado, detalhado e expressivo.

Tudo isto, presente nas duas obras disponíveis em português – “A Terra sem Mal” (de 2003) e o recente “Muchacho – tomo 1” – é usado por Lepage para retratar uma das suas paixões: a América Latina, respectivamente o Paraguai (no final da década de 30 do século passado) e a Nicarágua (sob a ditadura de Somoza, em 1976). Mas não se pense que os seus retratos são apenas pictóricos, Lepage, em ambos os casos, ao mesmo tempo que nos transporta ao colorido de cada um dos locais, revela também, com uma invulgar intensidade, os seres humanos de carne e osso que lá vivem, tornando, uma leitura atenta, mais forte o primeiro impacto que os belos desenhos provocam.

“A Terra sem Mal”, um argumento de Anne Sibran, narra a experiência de uma jovem europeia, no interior do Paraguai, para conhecer e registar a língua, os hábitos e as tradições do povo Mbya, vencido pelo desânimo e que está a deixar-se morrer. Mas a chegada de um misterioso feiticeiro leva a aldeia em peso numa peregrinação (que se revelará insensata) à procura da sua Terra sem Mal (uma espécie de paraíso na terra), uma peregrinação selva adentro, que será mais espiritual que terrena, e que a jovem acompanhará, dividida quanto a continuar com aquele povo, que já ama e sente quase como seu, apesar de não a reconhecerem como amiga, ou abandonar tudo e regressar às origens, num relato tocante, sobre a busca dos outros e de si próprio, num ambiente natural, com tanto de belo como de hostil, que leva a repensar prioridades de vida.

Em “Muchacho”, (um romance desenhado forte e lírico, num contexto sócio-político real), o protagonista, Gabriel, seminarista, filho de um dos protegidos do ditador Somoza, empreende também uma busca de si próprio quando é enviado por algumas semanas para um lugarejo, para pintar um fresco na igreja local. Só que a convivência com o padre de lá, tão preocupado com a saúde espiritual do seu rebanho quanto com a sua qualidade de vida (o que o leva a simpatizar com a guerrilha e a ser mal-visto pelas autoridades), abre-lhe novas perspectivas de vida e na sua arte, a pintura, em que se refugia face à hostilidade da população. Isto, a par do despertar duma desconhecida sexualidade, vão levar Gabriel a repensar as suas prioridades – a sua fé, a sua arte… – e a fazer opções que só conheceremos no segundo e último tomo, que se espera chegue em breve às livrarias.


Escrito Por

F. Cleto e Pina

Publicação

Jornal de Notícias

Futura Imagem

Interlúdio

As conspirações no seio da Igreja Católica e as (muitas) dúvidas sobre a veracidade de alguns dogmas sobre os quais assenta, não sendo um tema novo, está na moda, embora a BD já o explorasse antes do fenómeno Dan Brown.
Esta é também a temática da série “O Escorpião”, ambientada no século XVIII, que narra a procura da verdadeira cruz de Pedro, para desmascarar o Cardeal Trebaldi, auto-assumido ateu, recém-eleito Papa com o objectivo de se servir da muito poderosa organização católica, refundando-a à imagem dos seus interesses.
Para além dos seus sequazes, a busca envolve um aventureiro conhecido como Escorpião, filho ilegítimo do anterior Papa e que vive na fronteira da lei, e as belas – mas perigosas – Ansea e Méjai, e está na origem de movimentadas narrativas, em que a veracidade histórica e ficção se confundem, plenas de acção e dinamismo, com muitas armadilhas, traições, surpresas, intriga e mistério, que mostram o melhor da BD de aventuras franco-belga.
O traço realista ágil, fluído e expressivo e a planificação cinematográfica de Marini servem na perfeição o guião de Desberg que demonstra toda a sua mestria em “O vale sagrado”, de ritmo intenso, com diversos volte-faces e cuja leitura prende e entusiasma, mesmo que não passe de um interlúdio, pois, no final, nada se adiantou à história base, e os protagonistas estão numa situação tão crítica como no início…


Escrito Por

F. Cleto e Pina

Publicação

Jornal de Notícias

Futura Imagem

Álbum de homenagem assinala os 80 anos de Uderzo

Mais de três dezenas de autores colaboraram no projecto; Obra vai ter edição portuguesa

O 80º aniversário de Albert Uderzo, no próximo dia 25 de Abril, será assinalado pela edição do álbum “Astérix et ses amis”, no qual mais de três dezenas de autores homenageiam o desenhador de Astérix.

O projecto, nascido no seio das Éditions Albert-René, que destinam o produto da sua venda para auxílio da organização Défenseur des Enfants, responsável pela divulgação da Convenção dos Direitos da Criança, será lançado no próprio dia do aniversário na França, Bélgica, Suiça e Grécia, e depois na Finlândia, Noruega, Polónia, Alemanha e Áustria, não estando ainda definida a data do seu lançamento em Portugal, “embora o livro já esteja em produção”, revelaram ao JN as Edições ASA. No entanto, caberá a Espanha estrear mundialmente a obra, em castelhano e catalão, já no dia 19, no 25º Saló Internacional del Còmic de Barcelona, que decorrerá de 19 a 22 de Abril, já que uma parte dos seus originais estarão lá expostos.

“Astérix e os seus amigos” (“título provisório da edição portuguesa”), nas suas 60 páginas, inclui participações de 34 autores de diversas nacionalidades, com ilustrações, gags ou histórias curtas, entre os quais os veteranos Tibet, Dany, Jean Graton ou Walthéry, nomes de referência como Van Hamme, Rosinski, Vance, Boucq, Loustal, Baru ou Manara, ou valores confirmados da nova geração como Mourier, Arleston, Guarnido, Tarquin ou Zep. 

Clonando o traço de Uderzo ou dando aos heróis gauleses aparências mais ou menos realistas, muitos destes autores transportaram-nos para os seus universos ou introduziram na aldeia gaulesa referências deles retirados, não sendo assim surpresa que ao longo do álbum Astérix e Obélix se cruzem, por exemplo, com Thorgal, XIII, Lucky Luke, Gaston Lagaffe, Natacha, Oliver Rameau. Kid Ordin ou o Marsupilami, havendo também uma referência (de Derib) à paixão de Uderzo pelos Ferrari, consubstanciada num veículo daquela marca esculpido na rocha por Obélix.

A edição portuguesa “terá uma tiragem de 3000 exemplares”, semelhante à dos álbuns com as aventuras do pequeno guerreiro gaulês, cuja reedição completa, com as novas traduções em que os nomes das personagens secundárias, muitas vezes trocadilhos ou jogos de palavras, foram adaptados à nossa língua, “deverá estar terminada em Junho”, afirmou Maria José Pereira, responsável do Departamento de Banda Desenhada da ASA. No final do ano deverá ter início a edição de Astérix em formato “gigante”, que, para além do formato 20 % superior ao habitual, se distingue por partir do restauro digital dos originais de Uderzo, que “limpou” o traço negro de todas as imperfeições e aplicou novas cores e nova legendagem.

(caixa à parte)

Albert Uderzo, um grande desenhador
Nascido a 25 de Abril de 1927, em Fismes (França), no seio de uma família de origem italiana, Albert Aleandro Uderzo teve o seu primeiro trabalho como aprendiz de desenhador em 1940. Em 1945 publicou a sua primeira banda desenhada, tendo-se multiplicado em inúmeros projectos, na BD, ilustração e no cinema de animação durante a década e meia que se seguiu. Em 1961 a sua ligação à International-Press, levá-lo-ia a conhecer Charlier, Hubinon, Graton e, principalmente René Goscinny, com o qual estabeleceu uma relação de trabalho e de cumplicidade que deu origem a João Pistolão, Humpápá, o pele-vermelha e, entre muitos outros, Astérix, que se estreou no nº 1 da revista Pilote, a 29 de Outubro de 1959, e de que Uderzo se tornaria também argumentista em 1977, após a morte de Goscinny.

Hábil nos negócios, criou a sua própria editora, as Éditions Albert-René, em 1979 e fez de Astérix um sucesso ímpar, com mais de 300 milhões de exemplares vendidos em todo o mundo, nas 100 línguas e dialectos em que está traduzido, incluindo o mirandês.

Distinguido com o Grande Prémio do Milénio, no 26º Festival Internacional de BD de Angoulême, em 1999, Uderzo é um grande desenhador, muitas vezes imitado mas nunca igualado, conhecido pelas formas arredondadas e grandes narizes dos seus heróis, que possui um traço suave, vivo e dinâmico, a que alia um bom domínio da planificação, do ritmo e do sentido de leitura. 

[Caixa]

“Uderzo visto pelos seus amigos”

“Astérix e os seus amigos” não é caso único. Em 2002, a Vitamina BD lançou a versão em português de “Uderzo visto pelos seus amigos”, originalmente editado em França, pela Soleil e desde o início acarinhado pelo próprio Uderzo. São 20 histórias curtas assinadas, entre outros, por Achdé, Arleston, Corteggiani, Coutelis, Franz, Meynet, Mourier, Rodolphe, Rouge ou Tranchand, que decorrem na pré-história, no célebre “ano 50 antes de Cristo”, ou nos nossos dias, e que (re)contam episódios da vida de Uderzo, levam-no a uma certa “aldeia povoada por irredutíveis gauleses” ou satirizam situações recorrentes das verdadeiras histórias do pequeno guerreiro gaulês.


Escrito Por

F. Cleto e Pina

Publicação

Jornal de Notícias

Futura Imagem

Emigração

Um homem despede-se – de forma pungente. Um homem parte. Só, com uma mala de mão. Com poucos pertences e uma fotografia. Talvez o mais valioso de todos. Uma fotografia de uma família, a sua. Ele, a mulher e uma filha pequena. O homem parte para longe. Para o outro lado de um vasto oceano. Para um admirável – mas assustador – mundo novo. De linguagem incompreensível. De escrita indecifrável. Com novos animais, novas plantas, novos alimentos. Lá chegado, só, tem que arranjar alojamento, um emprego.

Esta é a história de muitos (de quase todos?) os emigrantes: abandonar os entes queridos para procurar melhores condições de vida (sonhos?). E é também a história do notável “Là où vont nos pères” (Dargaud). Notável porque é um enorme romance mudo, feito de imagens aparentemente soltas, trabalhadas a lápis, em incómodos tons de cinzento e sépia, por Shaun Tan. Notável pela forma como explode em imagens de página inteira ou as monta até 30 por página, como forma de apressar ou retardar o ritmo da narrativa, de revelar mudanças de espírito, de nos surpreender numa paisagem, de nos reter num pormenor, de nos emocionar numa descoberta ou com um revés. Notável na forma como retrata o desconhecido, como transmite emoções e sentimentos, como ilustra o passar do tempo.

Notável, ainda, porque diz, porque faz acreditar que a integração é possível, que os sonhos se concretizam.


Escrito Por

F. Cleto e Pina

Publicação

Jornal de Notícias

Futura Imagem

300: A História segundo Frank Miller

Embora (re)conte a célebre batalha das Termópilas, na qual 300 espartanos resistiram até à morte a milhares de persas, “300” (edição em português da Norma) está longe de uma abordagem histórica rigorosa, preferindo Frank Miller (um génio dos quadradinhos responsável por obras incontornáveis como “Batman: O regresso do Cavaleiro das Trevas”, “Daredevil: Born Again” ou “Sin City”), ao bom estilo americano (não é difícil ver aqui os espartanos quase como super-heróis, em defesa de valores como a honra, o orgulho e o dever), transformar este combate num confronto entre a democracia (musculada de Esparta) e a tirania (escravizadora da monarquia persa), fazendo dela, assim, um grandioso épico.
E para lhe dar também graficamente essa dimensão, Miller optou pelo formato italiano (deitado), com muitas das pranchas duplas a funcionarem como uma só, proporcionando uma visão panorâmica (com muito de cinematográfico, evocadora dos filmes em 70 mm), integrante de uma planificação arrojada e hiper-dinâmica, com utilização alternada de picados, contra-picados, grandes planos e visões de conjunto, muitas vezes parecendo ter uma câmara a voltear loucamente pelo cenário, que conferem à narrativa um rimo alucinante, que só o texto faz pausar, quando necessário, num todo acentuado pelas cores de Lynn Varley, colorista e mulher de Miller, tão importantes na obra que a levam a ser creditada na capa com o mesmo destaque que ele.


Escrito Por

F. Cleto e Pina

Publicação

Jornal de Notícias

Futura Imagem

Alentejanos

Espanhóis, africanos, louras. E alentejanos. Todos eles (e outros mais), por uma razão ou por outra, foram/são alvos do anedotário nacional, muitas vezes por simples transposição das situações alterando os protagonistas, outras criando novas histórias ou modernizando-as numa adaptação aos tempos correntes ou às novas realidades.

Sergei, em “Os compadres” (edição da Polvo), nascidos no seu site, começou por adoptar algumas das anedotas correntes, explorando também os estereótipos comummente associados aos alentejanos (com a preguiça à cabeça), para progressivamente se libertar um pouco, dando vida própria às personagens e tornando-as mais ricas e divertidas.

A crítica do quotidiano, natural numa tira publicada semanalmente num jornal, no caso o “Diário do Alentejo”, desde 2003, é a principal característica dos intervenientes em “Ribanho” (Prime Books), no qual dois alentejanos de gema, Luís Afonso (o argumentista) e Carlos Rico (desenhador e tradutor dos diálogos para o sotaque “alentejanês”) mostram como os tais alentejanos, tantas vezes satirizados e mesmo ridicularizados, são capazes de um olhar crítico, sagaz e cáustico sobre o resto do país (em especial sobre os governantes, comodamente instalados na “longínqua” capital) fazendo-nos, por uma vez (ou muitas, tantas quantas as tiras recolhidas no álbum) rir (não dos mas) com os alentejanos.


Escrito Por

F. Cleto e Pina

Publicação

Jornal de Notícias

Futura Imagem

O adeus a Marshall Rogers, desenhador de Batman

Aconteceu no domingo, mas só ontem foi tornada pública, a morte de Marshall Rogers, um dos mais proeminentes desenhadores do Batman, na década de 70.

Nascido a 21 de Janeiro de 1950 – contava apenas 57 anos – Rogers trabalhou durante algum tempo como ilustrador, até entrar para a DC Comics em meados dos anos 70, onde o seus primeiros trabalhos aos quadradinhos, baseados em fortes contrastes de branco e negro deram nas vistas, tendo-se tornado em poucos meses o desenhador regular das séries “Mr. Miracle” e “Detective Comics”, esta um dos principais títulos com as aventuras de Batman. As histórias que desenhou ali, escritas por Steve Englehart, nas quais o lado cerebral predominava sobre a acção, são consideradas uma interpretação definitiva do lado negro do Cavaleiro das Trevas, destacando-se no seu traço o aspecto proporcionado do herói, longe das versões irrealistas e hiper-musculadas, e o detalhe com que trabalhava os edifícios, fruto, talvez, da sua formação em arquitectura.

Rogers desenharia igualmente Superman e Lanterna Verde, entre outros, tendo depois trabalhado para a Eclipse Comics e para a rival Marvel, na década seguinte, onde deu vida no papel ao Homem-Aranha, Surfista Prateado e Doutor Estranho. No início dos anos 90, abandonaria os quadradinhos para se dedicar à indústria de videojogos, mas retornaria à BD em 2005, sempre em parceria com Englehart, na mini-série “Batman: Dark Detective”. estando ambos actualmente a trabalhar noutro projecto que fica, para já, inacabado.


Escrito Por

F. Cleto e Pina

Publicação

Jornal de Notícias

Futura Imagem

Exemplo

“Prédicition” (Delcourt) exemplifica bem o modelo tradicional de edição de banda desenhada franco-belga: álbum cartonado, com 48 páginas a cores, com uma história a ser desenvolvida em vários tomos.

E como quase sempre acontece, este volume inicial – “Fatale Mélodie”- desperta e capta a atenção do leitor, enredando-o numa série de premissas, todas deixadas em aberto no seu final, como forma de o fazer ansiar pela continuação da série. Para lá da questão base da narrativa – “O que fazer quando se tem 39 dias de vida?” – outras são abordadas: a rejeição da religião (e também da arte do equilibrismo) pelo protagonista, devido a um acidente na adolescência que matou parte da sua família; a utilização da arte – escultura, no caso – como forma de libertação interior; a sua complicada relação com a esposa, Carole, internada num asilo psiquiátrico, e, de certa forma, com as mulheres em geral; as estranhas capacidades de Mélodie, igualmente internada e a autora da previsão (só ou algo mais?) da data da morte do protagonista, entre outros …

Para que “Prédiction”, que assenta no traço realista, expressivo e competente de Rotundo, não seja mais uma série de início prometedor que depois rapidamente se esvazia, Pierre Makyo, veterano com provas dadas, terá que ligar capazmente todas estas pontas soltas, como já fez, por exemplo na excelente “Balade au bout du monde”.


Escrito Por

F. Cleto e Pina

Publicação

Jornal de Notícias

Futura Imagem

“A liberdade de expressão está posta em causa em França”

Afirma Joann Sfar, devido ao processo contra a revista “Charlie Hebdo” por ter publicado as caricaturas dinamarquesas de Maomé, cuja sentença é conhecida hoje; Autor transcreveu em BD tudo o que se passou em tribunal; Livro chegou ontem às livrarias francesas

A 7 de Fevereiro de 2006, a revista satírica “Charlie-Hebdo” publicava três das polémicas caricaturas dinamarquesas de Maomé, tendo, na capa, um desenho de Cabu, no qual o profeta, com as mãos na cabeça, afirmava “Só sou amado por idiotas”. A revista seria processada pela Grande Mesquita de Paris e pela União das Organizações Islâmicas de França, cujos autos decorreram a 7 e 8 de Fevereiro. A eles assistiu Joann Sfar, autor de BD com 35 anos e quase uma centena de álbuns, que anotou tudo o que se passou no tribunal, saindo de lá “com a mão desfeita”, para o relatar num álbum de BD, intitulado “Greffier” (que tanto pode significar “escrivão” como “gato”), editado pela Delcourt.

Isto porque “este não é um processo qualquer; é um processo feito a desenhadores que admiro e com os quais trabalhei”, justificou Sfar em declarações ao Jornal de Notícias. “Defendo-os com os meus meios: o desenho. Mas, mais do que fazer desenhos militantes, prefiro contar os debates do tribunal, para que o livro tenha um efeito pedagógico. Não pretendo afrontar ninguém, só explicar o que está em jogo”.

A leitura da sentença está marcada para hoje, mas a obra, o sexto caderno autobiográfico de Sfar, com 240 páginas, criadas ao correr da pena, com um traço espontâneo, muitas vezes próximo do simples esboço, outras mais trabalhado, numa diversidade de estilos que, não retiram ritmo, vivacidade nem legibilidade ao conjunto, que revela uma excepcional capacidade comunicativa, chegou ontem às livrarias francesas porque “queria fazer compreender que, quando assistimos a este género de processos, não conhecemos a sentença de imediato. Por outro lado, o livro é eminentemente político e eu quero que ele alimente o debate público que neste momento tem lugar em França”.

Assumindo que, ao contrário de um escrivão, tem “uma visão obviamente subjectiva”, Sfar declara-se “abertamente um defensor da liberdade de expressão e um inimigo irredutível dos que gritam: blasfémia!”. No entanto, “esforcei-me por contar integralmente os debates”.

Não conseguindo sequer imaginar “que a Charlie-Hebdo perca, porque isso colocaria em causa os ideais de liberdade que a França sempre defendeu”, conclui: “actualmente pede-se aos jornalistas e à imprensa para serem comedidos, para se controlarem; é terrível. É a liberdade de expressão que é posta em causa. É preciso batermo-nos contra isso”.


Escrito Por

F. Cleto e Pina

Publicação

Jornal de Notícias