Categoria: Recortes

Com D grande

Está nas livrarias o segundo álbum de Astérix em mirandês, “L Galaton” (“O Grande Fosso”), a história de uma aldeia dividida ao meio por uma querela. Se a notícia para a maior parte dos leitores de BD, vale só pela curiosidade, merecerá mais atenção se acrescentar que a edição inclui um segundo caderno que reproduz a mesma história (em francês, vá-se lá compreender porquê…), a preto e branco, no formato italiano, a meia prancha por página, 35% maior que a versão colorida, o que permite admirar pormenorizadamente o excelente trabalho de Uderzo.

Se em “Astérix, o gaulês”, estreado em Outubro de 1959 na “Pilote”, o traço era algo agreste, de contornos rígidos e, por vezes, mostrava algumas dificuldades em representar movimento, uma análise mais cuidada revelava, ainda “em bruto”, alguns dos principais méritos do desenhador que tanto contribuíram para o êxito da série: bom domínio da planificação, do ritmo e do sentido de leitura. E se ao longo do álbum era notória já uma evolução assinalável, seria preciso esperar até “Astérix e os Normandos” (1967) para que as suas potencialidades se revelassem em todo o esplendor, confirmando Uderzo como um grande desenhador, muitas vezes imitado mas nunca igualado, no seu traço suave, vivo e dinâmico, nos seus heróis de formas arredondadas e grandes narizes e pela sublimação das outras qualidades já referidas.


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F. Cleto e Pina

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Lendas urbanas

O homem desde sempre teve medo. Medo do que o rodeia. Medo do desconhecido. Medo do que o ultrapassava. Medo dos poderosos. Medo da religião – dos religiosos…

Desses (muitos) medos nasceram histórias e lendas que se perpetuaram de geração em geração e passaram a fazer parte do imaginário de cada região, de cada país. Assim nasceram (?) os vampiros, os lobisomens, as bruxas e tantas outras fontes de medo.

Esses medos, evoluem com o tempo, com o próprio homem, assumindo novas formas adaptadas às novas realidades.

“Les véritables Légends Urbaines” (Dargaud), de que acaba de ser editado o primeiro tomo, escrito por Corbeyran e Guérin, explora histórias do nosso imaginário, num registo de terror, algumas das quais, provavellmente, já ouvimos contar como tendo acontecido “a alguém conhecido de fulano” ou algo assim. Histórias, com base verídica ou não, nascidas em rumores ou na (fértil) imaginação humana (a quem o medo dá asas…), que estas BDs exploram pelo seu lado mais negro, seja o gang que circula de luzes apagadas e abalroa todos os que lhes fazem sinais de luzes, sejam várias versões de assassinos dentro de casa, ilustradas por Guérineau (que com uma planificação diversificada, com múltiplas vinhetas, consegue imprimir um ritmo e um clima de tensão em crescendo à narrativa), Damour, Henriet e Formosa (cujo traço violentamente caricatural acentua o lado negro da história).


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F. Cleto e Pina

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A Bíblia em versão manga

Edição com o Novo Testamento lançada na Inglaterra; Versão integral deverá sair em Julho

A editora inglesa Hodder and Stoughton acaba de lançar no mercado britânico uma nova adaptação da Bíblia em banda desenhada, que tem, no entanto, a particularidade de ser em estilo manga (BD japonesa).

A obra está disponível em duas versões, “The Manga Bible: New Testament – Raw” e “The Manga Bible: New Testament – Extreme”. Em ambos os casos trata-se apenas da adaptação condensada do Novo Testamento, incluindo ambas as edições uma entrevista com o autor e esboços das diversas fases preparatórias da obra. A diferença entre ambas é que “The Manga Bible: New Testament – Extreme” é mais luxuosa, tem formato maior e inclui o texto integral do Novo Testamento, na sua nova versão internacional.

O autor de “The Manga Bible” assina Siku, é natural de Leicester, Inglaterra, estudou arte conceptual, pintura e escultura na Nigéria, e desenhou BD para as editoras 2000AD e Marvel, para além de ter sido director visual de uma empresa de vídeo-jogos, tendo já anteriormente feito uma versão aos quadradinhos do drama bíblico de Caim e Abel. Cristão praticante, finalista da London School of Theology, esta é a sua primeira experiência em manga, tendo a opção por este estilo surgido naturalmente pois o público-alvo da edição “são os adolescentes e os adultos jovens”.

Para esta adaptação trabalhou com o seu irmão Akin, responsável pelo argumento, tendo sido “muito, muito difícil seleccionar o que devia ou não ser incluído. Isto forçou-nos a sermos disciplinados, a perguntarmos o que era realmente importante. Para mim houve uma coisa em particular – mostrar a humanidade de Cristo”.

A necessidade de extrema condensação dos episódios seleccionados, obrigou a uma planificação extremamente dinâmica – “montei as cenas como se estivesse a ver um filme” – acentuada pelo uso de linhas cinéticas indicadoras de movimento e grandes planos sucessivos, explorando as muitas potencialidades do estilo manga, bem reveladas nas páginas disponíveis na Internet que ilustram a tentação de Cristo, a sua crucificação ou o Livro do Apocalipse.

Em Julho deverão sair novas edições, contendo toda a Bíblia em manga.

Esta não é a primeira vez que o livro sagrado é adaptado em manga, pois o japonês Masakazu Higuchi já tinha feito uma “Manga Bible Story-japanese: Comic Book Style Bible”, sendo esta uma das muitas versões aos quadradinhos da Bíblia, destacando-se o trabalho de Siku por ser mais um exemplo da penetração crescente do estilo manga no Ocidente.

A outro nível, a Bíblia serviu de inspiração a autores famosos de BD como Charles Schulz o criador dos “Peanuts”, um luterano convicto, que muitas vezes utilizou versículos citados por Charlie Brown ou Snoopy (o que esteve na origem do livro “The Gospel According to Peanuts” (1965) do pastor presbiteriano Robert L. Short), ou Maurício de Sousa, que ilustrou mesmo um álbum intitulado “Passagens Bíblicas com a Turma da Mônica”.


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F. Cleto e Pina

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Yvan Delporte, a morte do argumentista modesto

Foi chefe de redacção da revista Spirou e escreveu argumentos de BD para Franquin e Peyo, entre muitos outros; Foi o inventor do nome de Gaston Lagaffe

Os leitores regulares de banda desenhada franco-belga, nos anos 60, 70 e 80, encontraram muitas vezes, em notas de rodapé ou nas páginas interiores dos álbuns, a referência: “segundo uma ideia de Delporte”. Esse Delporte, cujo nome poucas vezes apareceu na capa das muitas de dezenas de álbuns que escreveu ou cujas ideias base forneceu, faleceu ontem, dia 5, devido a doença, contava 79 anos.

Nascido em Bruxelas, a 24 de Junho de 1928, Yvan Delporte deu os primeiros passos no mundo da 9ª arte em 1945, nas edições Dupuis, como “retocador” das séries norte-americanas, julgadas “muito ousadas” para a época. Quatro anos mais tarde, assinava o seu primeiro argumento, uma história de “Jean Valhardi”, para Eddy Paape, a que se seguiriam muitos mais, para Hausman, Forton, Peyo (com quem desenvolveu muitas das aventuras dos “Schtroumpfs”), Jidéhem, Roba (“Boule et Bill)”, Will (“Isabelle”), Follet, 

Bretécher e, em especial, Franquin (sendo dele muitas das ideias dos gags de Gaston Lagaffe, que comemorou 50 anos a semana passada e cujo nome se deve a Delporte que coordenou o respectivo álbum comemorativo).

Mas apesar de ter colaborado com muitos dos grandes nomes do seu tempo, Delporte ficará na história da BD principalmente como chefe de redacção da revista Spirou, entre 1955 e 1968, onde “inventou” as histórias curtas, que serviram de porta de entrada a muitos autores. Em 1977, voltaria a inovar com o irreverente suplemento “Le Trombonne Illustré”, onde deu largas ao seu humor pouco convencional, negro e cáustico, que foi uma lufada de ar fresco para a BD humorista, encaminhando-a para temas mais adultos.

Uma monografia dedicada a Delporte estava em preparação. “Agora vai ser preciso terminar o livro com a ideia que ele não o vai ler”, foi a reacção dos seus autores, Christelle e Bertrand Pissavy-Yvernault.


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F. Cleto e Pina

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Duas versões

A 28 de Abril de 1943, o actor Leslie Howard, intérprete de “Hamlet” e um dos protagonistas de “E tudo o vento levou”, chega a Lisboa, para falar da sua arte e, a coberto deste pretexto, para sensibilizar para a causa aliada. A 1 de Junho, o avião em que regressava a Inglaterra foi abatido por uma esquadrilha alemã e o actor morreu.

Este é o resumo simplista de “O 13º passageiro” (edição de O mundo em gavetas), uma investigação que explora a passagem de Howard pela Península Ibérica e acentua o mistério que envolve alguns aspectos da estadia e o seu fim trágico.

É uma obra mista de texto, a cargo de José António Barreiros, autor de vários livros sobre os serviços secretos da II Guerra Mundial, e banda desenhada, assinada por Carlos Barradas, que, embora algo preso ás fotografias no tratamento da figura humana, faz uma adequada reconstituição histórica e ambiental da época, presente também no argumento (de Barreiros) que assenta na investigação do acidente, alternada com sucessivos flash-backs (que repetem o que antes já foi descrito em prosa – dúvidas sobre a capacidade narrativa dos quadradinhos ou a mesma história em suportes diferentes?) que dão ritmo e ajudam a criar o clima de suspeição e mistério.

Como (bom) caminho a seguir pela BD portuguesa, fica a ancoragem – fiel mas livre – na nossa História recente, poucas vezes aproveitada pelos nossos autores.


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F. Cleto e Pina

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50 anos de confusões

Gaston Lagaffe, o herói mais trapalhão da BD, nasceu há meio século; Parcómetros de Bruxelas desactivados hoje em sua honra: Álbum com inéditos de Franquin assinala data

Há 50 anos, nas páginas da revista “Spirou” belga, aparecia pela primeira vez uma estranha personagem, então de casaco e lacinho, sem que ninguém – nem ele próprio – soubesse muito bem porquê. Poucas semanas depois, a sua indumentária mudava para uns jeans uma camisola de gola alta e umas alpercatas, que o acompanhariam toda a vida. Após algum tempo a vaguear (literalmente) pelas páginas da publicação, Gaston Lagaffe protagonizava os seus primeiros disparates, iniciando uma longa e (justamente) celebrada carreira assente numa preguiça sem igual, numa postura física reveladora da mais entranhada moleza e numa invulgar capacidade de se ocupar com tudo e nada para deixar de lado o realmente urgente. Assim, originou um sem número de inenarráveis acidentes, invenções estrambólicas e ideias disparatadas, que fizeram a vida negra aos seus colegas da redacção da revista – com Fantásio em particular destaque – cujo edifício destruiu várias vezes e tornando-o na personagem mais calamitosa e desajeitada da histórias da banda desenhada, que fez da vida monótona num escritório uma surpresa constante. E, claro, num dos (anti)-heróis mais amados da 9ª arte, a pé ou tripulando o seu Fiat 509, inventando o ininventável ou tocando o ensurdecedor broncofone. Através dele, Franquin, por natureza introvertido e depressivo, deu largas ao seu génio, através de um humor transbordante e contagiante e de um traço personalizado, vivo, dinâmico e extremamente expressivo, muitas vezes copiado mas nunca igualado.

Várias vezes reeditado (inclusivamente em Portugal, onde começou por se chamar Jeremias…!), imortalizado numa estátua em tamanho natural no centro da Bruxelas que ele atormentou, Gaston Lagaffe vê a sua cidade natal assinalar os seus 50 anos com um mural com mais de 3 metros de altura (inaugurado ontem) e um dia sem parcómetros (hoje), em homenagem à guerra que ele sempre lhes moveu nas suas aventuras, para desespero do abnegado (e infeliz) agente da lei Longtarin.

[Caixa]

50 anos de Festa

“Festa” é uma das palavras mais adequadas para classificar o espírito de Gaston e é, por isso, o tema do álbum “Gaston 50” (Marsu Productions), coordenado por Yvan Delporte e Frédéric Jannin, que recupera histórias antigas para enumerar os diversos aspectos de uma celebração (convites, presentes, balões, flores, comida, velas, música, etc.) não sendo difícil imaginar como cada um deles se pode revelar caótico, catastrófico, inesperado ou apenas irresistivelmente divertido quando considerado sob o signo de Gaston Lagaffe.

E como cereja no topo do bolo (da festa!) o álbum inclui cerca de meia centena de tiras e ilustrações inéditas de Franquin.


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F. Cleto e Pina

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Gaston Lagaffe

“Sou um autor de BD que também faz cinema”

“O público de cinema não tem memória”

Palavras de Miguelanxo Prado que esteve no Porto para falar de “De Profundis”, a primeira longa-metragem de animação feita a partir de pintura a óleo

Chama-se Miguelanxo Prado, nasceu na Corunha em 1958 e é um dos mais aclamados e premiados autores de banda desenhada da sua geração. Esteve no Fantasporto para falar de “De Profundis”, um filme de animação, mas assume-se “como um autor de BD que faz cinema”. Até porque “continuo a pensar que a banda desenhada é o código mais potente dos que controlo. A capacidade que tem uma imagem fixa, de criar na mente do leitor a noção de movimento, de passagem do tempo, etc., é uma potencialidade que não vejo noutros meios”. Por isso, enquanto autor empenhado em transmitir uma mensagem crítica, embora reconhecendo que com o cinema chega a um público mais vasto, prefere a BD, porque “um leitor fica com o livro para toda a vida; um espectador esquece o filme. O público de cinema não tem memória”.

Quanto a “De Profundis”, apresentado como “uma proposta de pesquisa artística para relacionar a pintura, a música e as novas tecnologias da imagem”, é antes de tudo “um projecto extremamente pessoal, nascido no final dos anos 90” e no qual se empenhou “durante quatro anos: os dois primeiros na pré-produção, e os dois seguintes de dedicação total e exclusiva “. Isto porque Prado fez “todos os desenhos – em pintura a óleo – necessários para obter a animação”. Por isso, classifica “De Profundis” como “uma animação de autor; melhor, de autores, porque é um projecto meu e do Nani Garcia, um amigo, músico de Jazz, com larga experiência de escrita de música para cinema e televisão” e cujas composições são os únicos sons audíveis nos 75 minutos de filme.

“Um projecto assim só podia ser desenvolvido com alguém que eu respeitasse muito ou com quem tivesse uma relação pessoal muito forte para poder suportar quatro anos de processo criativo conjunto”.

“De Profundis”, que só deve ser visto por quem é capaz “de estar 15 minutos sentado a ver um pôr-do-sol no mar”, conta a história de uma violoncelista que vive numa casa no meio do oceano, onde aguarda o seu amado, um pintor que sempre quis ser marinheiro, e que, após um naufrágio, efectua uma viagem maravilhosa ao fundo do mar, fonte inesgotável de beleza e mistérios. Por isso Prado acredita que “os habitantes dos países que têm uma cultura marítima e uma relação próxima com o mar, terão uma sensibilidade especial para apreciarem a obra”. Como “os portuenses, que vivem com o mesmo Atlântico que me inspirou, o que poderá criar uma cumplicidade maior, para entender a história, o seu lado onírico, as mitologias relacionadas com o mar, as sereias, os monstros marinhos, os sonhos e terrores que o mar inspira”.

E embora a gestação de “De Profundis” tenha coincidido no tempo com a catástrofe do petroleiro “Prestige”, Prado nega “a ideia de denúncia. O filme tem sim uma clara vocação de redenção, uma espécie de ritual propiciatório, um pedido de perdão. Pretende recuperar o oceano na sua concepção mais limpa, mais brilhante, mais tradicional. É um conto, com muita poesia. Estou consciente que a metáfora pode ser vista como uma denúncia; eu vejo-o mais como uma oferenda”.


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F. Cleto e Pina

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Manga europeu

A par do combate aos mangas, há cada vez mais exemplos do cultivo deste género por autores ocidentais, sendo a revista “Shonen mag”, dos Humanoides Associés, o melhor exemplo. Dirigida por Guillaume Dorison, que define “manga” não como “BD japonesa” mas “como um género que pode ser criado por qualquer autor, em qualquer país”, tem cerca de 300 páginas de BD por número, custa (apenas!) 4,95 € e tem como principais características, à imagem das revistas japonesas, histórias em continuação com 30 ou 40 páginas por número, géneros variados (ficção-científica, heroic-fantasy, música, histórias românticas de adolescentes, etc.), e a possibilidade de os leitores votarem as suas séries preferidas e também aquelas que querem ver publicadas.

A intenção é que todas as séries sejam posteriormente editadas em livro (com extras como pranchas coloridas, making-off, entrevistas, etc.), o que já aconteceu com “Sanctuaire Reminded”, de Stéphane Betbeder e Ricardo Crosa, que tem a particularidade de ser um remake de uma BD franco-belga  – “Sanctuaire”, de Xavier Dorison e Christophe Bec -, que, na nova versão poderá ter algumas dezenas de tomos em torno deste thriller de suspense, que combina delírios, pesadelos e fantástico, e cuja acção decorre num submarino, embora com constantes flash-backs que dão a conhecer os protagonistas e ajudam a diversificar e a imprimir o ritmo mais adequado.


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F. Cleto e Pina

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Vêm aí The Simpsons em formato manga

Maurício de Sousa anunciou que a Turma da Mónica também terá versão manga ainda este ano

Se de repente começar a ouvir falar da família Simpsonzu e achar nela estranhas semelhanças com uma família que conhece bem, não estranhe. Serão os protagonistas de uma nova banda desenhada em estilo manga (bd japonesa), baseada em “The Simpsons”, a célebre família amarela do pequeno ecrã, a lançar possivelmente ainda durante este ano.

E, curiosamente, tudo começou com uma brincadeira, quando Space Coyote, uma artista obscura, decidiu afixar no seu site, “só por brincadeira, para os amigos”, uma “foto de família” com duas dúzias dos mais conhecidos intérpretes de “The Simpsons”, com a particularidade de estarem desenhados com características manga: seja olhos grandes, bocas escancaradas e um aspecto assumidamente asiático. Incentivada pelas reacções recebidas, Space Coyote fez o mesmo exercício com os heróis de “Futurama”, outra série de Matt Groening, actualmente em exibição na 2:. As imagens começaram a circular na net, chegaram até à Bongo Comics, responsável pela versão em BD dos Simpsons, que, em lugar de processar a artista, decidiu convidá-la para desenhar uma banda desenhada, com a estética própria dos quadradinhos japoneses. Mas este autêntico conto de fadas não se fica por aqui, pois a ilustradora também foi contactada pela 20th Century Fox, que exibe os desenhos animados originais, para colaborar na nova temporada de “Futurama”.

Entretanto, no Brasil, em entrevista recente, Maurício de Sousa, o criador de Mônica, Cebolinha, Cascão e companhia – cujas novas revistas deverão ser distribuídas em Portugal nas próximas semanas – entre outros projectos anunciou “que também vamos ter a Turma da Mônica desenhada no estilo dos quadradinhos japoneses; vamos brincar um pouquinho com o estilo “semi-manga”, ainda este ano”.

Estes são mais dois exemplos da importância crescente deste género de BD no Ocidente, onde já representa 40 % ou mais dos mercados alemão, espanhol e franco-belga. Isto tem levado muitos autores europeus e norte-americanos, nomeadamente das novas gerações, a optarem por este género narrativo, preferido pelos leitores mais jovens, sendo exemplos recentes adaptações de Shakespeare na Inglaterra e nos EUA, ou edições aos quadradinhos apadrinhadas e protagonizadas por Courtney Love ou Avril Lavigne, como o JN oportunamente noticiou.

Em Portugal, se as anteriores tentativas de editar manga têm sido um fracasso, há alguma expectativa em relação à entrada das Edições ASA neste segmento, nos finais de 2007, e quem costuma acompanhar concursos e fanzines, nota o número cada vez maior de obras influenciadas pelo estilo narrativo nipónico. A um outro nível, o bimestral “BDJornal”, que acompanha a actualidade dos quadradinhos, tem publicado “Os Monótonos Monólogos de um Vagabundo”, de Hugo Teixeira, e as Produções Fictícias procuram uma parceria para lançarem aquela que classificam como “o primeiro manga português”, “Meia-Noite e Três”, de Nuno Duarte e Ana Freitas.


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F. Cleto e Pina

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De pequenino

A implantação crescente do género manga no mercado francófono (cerca de 45 % das edições de 2006) e, em especial junto das novas gerações, tem obrigado as editoras a desdobrarem-se em novas estratégias para combaterem uma realidade que há muito deixou de ser apenas um fenómeno de moda.

Neste espírito, a Dupuis acaba de lançar duas novas colecções: a Puceron, para crianças a partir dos 3 (três!) anos, e a Punaise, a partir dos 6 anos. O princípio comum às duas é que o seu público-alvo seja capaz de ler sozinho as BDs propostas.

Por isso, “Méchant Benjamim #1 – Ah non!”, de Carine De Brab, BD praticamente não tem textos, mas não é muda, porque o seu protagonista, de 3 ou 4 anos, para que os leitores se possam com ele identificar, se farta de berrar, sempre que é contrariado.

Tudo começa quando a sua mãe tem que se ausentar por alguns dias, deixando-o com a baby-siter, com quem ele desenvolve uma relação de quase amor-ódio (passe o peso exagerado desta expressão) extensível também ao seu gato o que, a par do facto de Benjamim ser um especialista em guerrilha caseira, e ter uma imaginação grande como o (seu) mundo, gera situações francamente divertidas.

De todo o modo recomenda-se que a leitura do livro seja acompanhada por um adulto, não vão os nossos filhos seguir os maus exemplos do “malvado” Benjamim, cujo maior defeito é não ser capaz de passar sem a mãe e/ou a baby-sitter!


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F. Cleto e Pina

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