Categoria: Recortes

Faleceu Raymond Leblanc, fundador da revista Tintin

Raymond Leblanc faleceu sexta-feira, aos 92 anos. Foi o fundador da revista “Tintin”, a 26 de Setembro de 1946, e, em simultâneo, das Éditions du Lombard, uma das principais editoras francófonas de banda desenhada, responsável pela introdução no mercado de álbuns de BD, como hoje os conhecemos, no início da década de 50. Foi também o primeiro a perceber a importância do marketing e do merchandising relacionados com a 9ª arte.
Nascido a 22 de Maio de 1915, no lançamento daquela revista, que se tornaria um marco na história da BD, reuniria nomes como Hergé, criador de Tintin e seu director artístico, Paul Cuvelier (Corentin) e Edgar P. Jacobs (Blake e Mortimer), e por lá passariam também Greg, Franquin, Jijé e muitos outros . Atingindo tiragens na ordem do meio milhão de exemplares, a revista “dos jovens dos 7 aos 77 anos”, teria versões em várias línguas, nomeadamente a francesa, a partir de 1948 e também uma portuguesa, entre 1968 e 1982. Leblanc, membro da resistência durante a Segunda Guerra Mundial, foi fundamental para que Hergé pudesse continuar a trabalhar no seu Tintin, ao conseguir anular as acusações de colaboracionismo que lhe foram feitas por ter publicado no jornal “Le Soir”, sob o controlo do ocupante nazi.
Leblanc esteve também ligado à criação dos estúdios Belvision, em 1954, onde foram feitas as versões animadas de “Astérix e Cleópatra” ou de “Tintin e o Templo do Sol”. Em 2003, o Festival de BD de Angoulême distinguiu-o com o primeiro “Alph-Art” de Honra, concedido a um editor e, em 2006, criou uma Fundação com o seu noem para distinguir novos autores de BD e conservar os seus arquivos.


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F. Cleto e Pina

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Novo álbum de Blake e Mortimer tem estreia mundial em Portugal

Começada nos anos 70, é agora editada em versão aumentada no mercado francês; “Maus” valeu ao autor o único Prémio Pulitzer concedido a uma obra em quadradinhos

Foi lançado ontem, dia 19, em França o livro “Breakdowns, Portrait de l’artiste en jeune !@#S%*!” (Casterman), a autobiografia de Art Spiegelman, o autor do célebre romance aos quadradinhos “Maus” (edição portuguesa da Difel, em dois volumes), que lhe valeu o Prémio Pulitzer, em 1992, na única vez em que ele foi atribuído a uma obra em banda desenhada.
O álbum encontra-se dividido em três partes. A primeira, a mais recente, foi realizada nos últimos dois anos e é nela que Spiegelman mergulha mais profundamente no seu passado. A segunda, é a reprodução fac-similada de “Breakdowns”, o seu primeiro álbum profissional editado em 1978, nos EUA, com uma tiragem bastante reduzida, no qual, em quinze relatos curtos, lançava as bases do seu percurso inovador e experimentalista, que viria a transformar o conceito de romance gráfico. Finalmente, a terceira parte é um curto ensaio ilustrado no qual apresenta as razões que o levaram a conceber esta obra.
A edição francesa surge seis meses antes do seu lançamento nos Estados Unidos, e Spiegelman fez questão de acompanhar ao pormenor toda a produção, desde a legendagem (totalmente manual!) até à cuidada execução gráfica. O seu lançamento é um dos momentos altos do Salão do Livro de Paris.
Para além de “Maus”, que o ocupou durante 13 anos, uma biografia ficcionada da experiência vivida pelo seu pai nos campos de concentração nazis e da forma como ela afectou profundamente a relação entre os dois, Spiegelman, nascido a 15 de Fevereiro de 1948, um dos mais influentes criadores de BD da actualidade, é autor também de “In the Shadow of No Tower”, no qual narra como viveu o 11 de Setembro de 2001, a poucas centanas de metros das Torres Gémeas, em que crítica a política dos EUA e pisca o olho aos pioneiros norte-americanos de BD, para além de ter dirigido a revista experimental “Raw” e de ter sido ilustrador do “The New Yorker” entre 1993 e 2002.


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Morreu Dave Stevens, o criador de Rocketeer

Dave Stevens, ilustrador e autor de banda desenhada, criador de “The Rocketeer”, faleceu aos 52 anos de idade, vítima de leucemia.
Nascido a 29 de Julho de 1955, em Lynwood, na Califórnia, teve alguma formação artística e iniciou-se nos quadradinhos em 1975, fazendo a arte-final das tiras diárias de Tarzan, desenhadas por Russ Manning.
Após diversos trabalhos, em BD e cinema de animação, em 1982 criava “The Rocketeer”, que lhe valeu a conquista do primeiro “Russ Manning Award”. Aventura em estado puro, narrada em ritmo acelerado, conta a história de Cliff Secord (a quem deu o seu rosto), um piloto de provas que, tendo encontrado, um foguete experimental roubado, previsto para utilização individual quando acoplado às costas, o utiliza para salvar o piloto de um avião descontrolado e para prender os ladrões do engenho. Ambientada nos anos 50, assente num traço hiper-realista, quase fotográfico, minuciosamente documentado – é proverbial o muito tempo que Stevens gastava em cada vinheta, o que explica os longos intervalos entre os seus poucos capítulos – a série destaca-se também pela bela e sensual co-protagonista, inspirada na pin-up Betty Page, e por algumas cenas ousadas para o “moralista” mercado norte-americano. Stevens dedicar-se-ia depois à ilustração, especialmente ao desenho de belas mulheres e de capas para revistas de BD.
Rocketeer chegou ao cinema, numa produção Disney de 1991, dirigida Joe Johnston e protagonizada por Bill Campbell, Jennifer Connelly, Alan Arkin e Timothy Dalton, e de que Stevens foi um dos argumentistas.


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Hitler desenhou personagens Disney

Aguarelas de anões da Branca de Neve e Pinóquio encontrados escondidos num quadro de sua autoria

Segundo William Halkvaag, director de um museu norueguês dedicado à Segunda Guerra Mundial, situado nas ilhas Lofoten, Hitler terá desenhado algumas personagens Disney. Segundo o semanário alemão Der Spiegel on-line, Halkvaag terá encontrado quatro desenhos escondidos dentro de um quadro, representando uma paisagem da Baviera, atribuído a Hitler, que adquiriu num leilão na Alemanha no ano passado. Ao abri-lo, encontrou quatro aguarelas, com cerca de 35 cm de altura, representando Pinóquio e três dos anões da Branca de Neve (Mestre, Dunga e Dengoso), estes últimos assinados A.H.. O especialista norueguês, de 59 anos, está convencido que os quatro desenhos, possivelmente de 1940, são da autoria do ditador alemão, que tentou fazer carreira como pintor antes de ascender ao poder, já que as iniciais assinadas assemelham-se bastante a outros exemplares da sua caligrafia.
É de há muito conhecida a admiração que Adolf Hitler nutria pelos desenhos animados Disney e, em especial, por “Branca de Neve e os Sete Anões”, baseado num conto tradicional germânico, de que possuía uma cópia. Essa admiração nasceu na sequência da oferta, por Joseph Gobbels, de diversos filmes protagonizados por Mickey Mouse, em 1937, o que levou Hitler a promover a criação de uma produtora de desenhos animados na Alemanha.
Durante a Segunda Guerra Mundial, muitos dos países envolvidos no conflito utilizaram o cinema, a animação ou a banda desenhada e os seus principais heróis para difundirem os seus ideais e apelarem à participação das populações no esforço da guerra. E são bem conhecidos “O Grande Ditador” (1940), de Chaplin, “A face do Fuhrer” (1943), protagonizada pelo Pato Donald, galardoada com um Óscar, ou a participação do Super-Homem e do Capitão América nos combates contra as tropas do eixo, chegando este último a esmurrar directamente o ditador alemão. Menos divulgado, naturalmente, é “Nimbus Libéré” (1943), uma produção alemã a preto a branco, com cerca de minuto e meio, que mostra Pateta, Mickey, Popeye, Donald ou Felix the Cat, envolvidos num bombardeamento indiscriminado na França, causador de vítimas civis, para supostamente a “libertarem”.


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25 anos sem Hergé

Mais de 30 anos depois da sua última aventura, Tintin continua a marcar a actualidade; Original de “Tintin na América” vai a leilão por 300 000 euros; Abertura do Museu Hergé e filme com actores de carne e osso assinalarão os 80 anos do repórter em 2009

Na capa do jornal “Libération” de 4 de Março de 1983, inspirada na capa de “Coke en stock” (“Carvão no Porão”, na tradução portuguesa) era anunciada “A última aventura de Tintin”, e, na metade inferior, a vinheta circular, aberta no fundo negro, mostrava Tintin caído na neve do Tibete e Milu a uivar, anunciando: “Tintin morreu”. No interior, todas as notícias eram ilustradas com vinhetas da obra máxima de Hergé – aparecida pela primeira vez a 10 de Janeiro de 1929, nas páginas do “Le Petit Vingtième” -, mas era o seu falecimento, na véspera, que dominava a actualidade. A leucemia, na época apontada como sua causa, encobriu o vírus da SIDA, contraído numa das muitas transfusões sanguíneas que fez, a crer na explicação adiantada por Philippe Goddin, um dos maiores especialistas no autor, na biografia que lançou no final de 2007, ano em que se comemorou o centenário do seu nascimento.
Agora, 25 anos após a sua morte e mais de três décadas depois da última aventura do seu herói – “Tintin e os Pícaros” (1976) – Hergé e a sua obra continuam a marcar regularmente a actualidade, mostrando a importância assumida por uma das obras-primas do século XX. Uma das manchetes recentes, anunciava o leilão, a 5 de Abril, da pintura a gouache utilizada na capa original de “Tintin na América” (1931), com o incrível preço base de 300 000 euros!
Os 25 anos da morte do autor ficam indirectamente marcados pelo lançamento de “Tintin à la découverte des grandes civilisations” (edição “Fígaro” e “Beaux-Arts Magazine”), e também de “Tintin transports”, uma nova colecção de modelos à escala, na senda do êxito de “Os Carros de Tintin” (lançada em Portugal, pela Planeta DeAgostini), que reproduz momentos dos álbuns, como Tintin na lancha, rumo à “Ilha Negra” ou na jangada de “Carvão no porão”, com tiragem de apenas 10 000 exemplares, a preços (módicos…) entre os 40 e os 50 euros.
Para 2008, quando Tintin fará 80 anos, há já dois momentos marcantes: a inauguração do Museu Hergé, em Louvain-la-Neuve, e a estreia do primeiro de três filmes com actores de carne e osso sobre o herói de poupa, produzidos pela dupla Steven Spielberg/Peter Jackson. As filmagens começaram dia 27, mas pouco se sabe dele, para além de ser dirigido por James Cameron, basear-se no díptico “O Segredo do Licorne”/”O Tesouro de Rackham o terrível” e contar com Andy Serkis no papel de Capitão Haddock. Alguns sites especializados apontam o nome de Kirsten Myburgh para intérprete de Tintin.


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Disney aposta no manga

Adaptação do jogo Kingdom Hearts é a obra lançada neste estilo

A Disney Itália vai lançar este mês o primeiro volume de uma aventura protagonizada por Mickey Mouse aos quadradinhos em estilo manga (banda desenhada japonesa, caracterizada pelos olhos grandes e expressivos das personagens, predomínio da acção sobre o texto e utilização em grande escala de linhas indicadoras de movimento). É a primeira vez que um herói da Disney terá esta experiência, mas esta é uma iniciativa que está longe de ser original, o que mostra a cada vez maior importância deste género de BD no mundo ocidental. Na verdade, grandes editoras de quadradainhos já deram o mesmo passo: a DC Comics, editora de Super-Homem, Mulher Maravilha e Batman, anunciou o lançamento, em Abril próximo, de uma aventura estilo manga deste último, desenhada pelo japonês Yoshinori Natsume, e a Marvel concedeu uma licença à Del Rey Manga para o lançamento de séries autónomas dos X-Men e de Wolverine, assinadas por autores norte-americanos, no início de 2009.
A colecção Disney Manga terá periodicidade mensal e vai recontar histórias marcantes do universo Disney, pelas mãos de artistas japoneses formadas na sua própria Academia.
A primeira obra, lançada já este mês, é a adaptação do jogo “Kingdom Hearts” cuja história narra o desapareciemnto do rei Mickey e a sua busca pelo mago Donald e o capitão Pateta, acompanhados de Sora, um menino de 14 anos que encontram pelo caminho. Na origem, este é um jogo de acção, de 2002, já com diversas sequelas, que cruza personagens da série Final Fantasy, da produtora de jogos Square, com alguns dos mundos Disney e os seus protagonistas (o País das Maravilhas e Alice, a Terra do Nunca e Peter Pan, a selva de Tarzan, etc.). A actual versão manga tem a assinatura de Shiro Amano, mas nela os heróis Disney mantêm praticamente o seu aspecto tradicional.
Depois dos quatro volumes de “Kingdom Hearts”, a colecção Disney Manga acolherá nos próximos meses adaptações de “Witch”, “Procurando Nemo”, “Monstros e Companhia” e “Lilo e Stitch”.


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Tex Avery nasceu há 100 anos

Génio da animação realizou quase centena e meia de filmes; deu vida a Bugs Bunny, Daffy Duck, Droopy e muitas outras personagens

A 26 de Fevereiro de 1908, a pequena cidade de Taylor, no centro do Texas, nos Estados Unidos, assistia ao nascimento de Fredrick Bean “Tex” Avery, um dos maiores génios que o cinema de animação teve. Depois de uma infância e adolescência sem história, formou-se na North Dallas High School, que tinha como um dos lemas a frase “What’s up, doc”, que Bugs Bunny celebrizaria anos mais tarde. Goradas diversas tentativas de vender bandas desenhadas da sua autoria, decidiu virar-se para a animação, tendo passado um Verão a estudar essa arte no Chicago Art Institute, começando depois a sua carreira de animador, como pintor de cenários, no início da década de 1930, no estúdio de Walter Lantz, o criador de Woody Woodpecker.
A meio dessa década, mudou-se para a Warner Bros, onde trabalhou com Bob Clampett e Chuck Jones, e nesse mesmo ano dirigiu o seu primeiro desenho animado, “Gold Diggers of ’49”, segunda aventura do gago Porky Pig. Dois anos depois apresentava ao mundo o pato mais emotivo e exasperante do cinema, Daffy Duck. Quando deixou a Warner, em 1941, após uma discussão com Leon Schlesinger, levava também no seu currículo a realização de mais de seis dezenas de filmes e o desenvolvimento da personalidade do temperamental Bugs Bunny e de muitos outros Looney Tunes.
De imediato entrou para a MGM, de Fred Quimby, que então acolhia também William Hanna e Joseph Barbera, onde teve total liberdade criativa que utilizou para criar algumas das melhores animações de sempre, marcadas por uma violência (inócua) irresistivelmente divertida, pelo humor assente na combinação da loucura absoluta com uma certa dose de realidade, na repetição de gag e situações e pela subversão das regras do meio em que trabalhava, numa época em que cada filme era uma (pequena) obra(-prima) única. E em que as produções animadas, se bem que divertidas para os mais novos, só podiam ser fruídas plenamente por adultos. Foi nessa época que imaginou o pacato Droopy ou o histérico Screwy Squirrell e as suas (pre)versões dos contos clássicos infantis. Destas, a mais famosa é, possivelmente, “Red Hot Riding Hood” (1943), protagonizada por uma capuchinho vermelho adulta, ruiva e com todas as curvas no sítio, um lobo playboy e uma avozinha ninfomaníaca.
Quase 20 anos depois, em 1954, deixou a MGM, voltando a trabalhar com Walter Lantz o tempo de dirigir quatro filmes e tornar popular o simpático Chilly Willy.
Depois disso, apesar dos muitos convites, Avery, manteve-se afastado do mundo da animação, tendo trabalhado em publicidade, destacando-se a criação do insecto do Raid e de The Frito Bandito, desenvolvido para promover uma marca de milho frito. Em 1979, aceitou um convite para ser argumentista e escritor de gags da Hanna-Barbera, mas esta ligação foi de curta duração, pois viria a falecer a 26 de Agosto de 1980, vítima de cancro.


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F. Cleto e Pina

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Banda Desenhada portuguesa editada em França

Pedro Brito e João Fazenda são os autores de “Tu és a mulher da minha vida, ela a mulher dos meus sonhos”; Obra foi escolhida como o Melhor Álbum Português de 2001, no Festival de BD da Amadora

“Tu és a mulher da minha vida, ela a mulher dos meus sonhos”, Melhor Álbum Português de 2001, no Festival de BD da Amadora, foi esta semana editada em França, sob o título “Celle de ma vie, celle de mes rêves”, pela 6 Pieds Sur Terre, uma pequena “editora que lança uma vintena de livros por ano”, explica o seu responsável, Jean-Philippe Garçon.
Um dos best-sellers da Polvo, com 3000 exemplares vendidos – “um caso raríssimo para uma BD independente”, acentua Rui Brito, o editor, que revela que actualmente há “interesse de uma editora polaca neste título” – tem assinatura de Pedro Brito (argumento) e João Fazenda (desenho).
Minúscula gota de água “num universo editorial com excesso de produção”, diz Garçon, que registou em 2007 mais de 4000 títulos de BD, o livro, com “uma tiragem de 1400 exemplares”, foi escolhido “pelo notável trabalho gráfico de Fazenda e pelo humor frio com que Brito aborda as relações muitas vezes duvidosas entre o meio artístico e o seu lado comercial”.
Brito, nascido em 1975, licenciado em Design de comunicação pelo I.A.D.E., “há 12 anos a fazer cinema de animação, com quatro filmes realizados”, recorda a génese da obra: “foi a conjugação de várias ideias soltas que, se desenvolveram e formaram uma história só. Contei-a ao João Fazenda, ele gostou e convidei-o para a desenhar. Ainda bem que o fiz, a história ganhou imenso com isso”. Esse é, aliás, o ponto forte que todas as críticas apontam: o original grafismo, bicromático, “com a cor vermelha que se ajusta ao preto e branco, como um complemento indissociável (…) nalgumas vinhetas decompondo o movimento de uma forma muito original (…) O resultado é genial!”, pode ler-se num site especializado francês.
Brito, também desenhador, relembra que “o conceito e a planificação do livro foram feitos em conjunto; o João vinha sempre com ideias novas, a discussão e partilha de tudo foi bastante importante. Trabalhar com o João foi extremamente gratificante, adorava que voltasse a acontecer”.
Desse trabalho conjunto nasceu “um livro que sabíamos que era arrojado, mas era O Livro que realmente queríamos fazer, sem barreiras nem limitações de qualquer espécie”. Receosos da reacção do público – “pensámos que haveria bastante gente que não gostasse, ou porque o traço era quase esboço ou porque o argumento era quase banal, de situações quotidianas” – ficaram surpresos como “tanta gente se identificou com a história e o trabalho do João”.
Agora, oito anos depois, sente “um certo distanciamento em relação ao livro” que, apesar de tudo, “não mudou nada na minha vida”. Mas, vendo a edição francesa como “um acontecimento um tanto ou quanto distante”, não deixa de referir que ela “foi bem recebida em Angoulême”, e confessa que “pode dar um empurrãozinho, porque o bichinho da BD ainda anda por cá e pode ser que haja uma surpresa a médio prazo”.

[Caixa]

O livro

“Tu és a mulher da minha vida, ela a mulher dos meus sonhos” para além de ter um belo título, é um relato com uma expressividade e um realismo poucas vezes vistos entre nós. Como pretexto, a história de um casal de artistas: ela, pintora em busca de mecenas; ele, (candidato a) escritor, em busca de editor para o seu romance, e de inspiração para uma banda desenhada. Inspiração que acaba por encontrar na sua própria vivência. O motivo real desta intensa história de Pedro Brito, simultaneamente sensível e violenta, é uma reflexão sobre a convivência dos casais e a falibilidade das relações, quando a felicidade existente é superada pelos conflitos, criados pela incapacidade de aceitação das diferenças, e trocada pelo desejo de incertas carreiras e pela perseguição de sonhos que, normalmente, não passam disso, embora o autor sugira (sonhando?) o contrário.
Fazenda, complementa o todo, com um traço fino, quase só esboço, com elegantes pinceladas de vermelho que dão cor, volume e substância ao desenho.. O seu traço “inacabado” retrata na perfeição a busca, a insegurança e a incerteza dos protagonistas que perpassa por toda a narrativa, bem como o lado onírico de algumas sequências.


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F. Cleto e Pina

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Leonardo DiCaprio vai produzir Akira

Manga de Katsuhiro Otomo abriu portas do Ocidente à BD japonesa; Primeiro de dois filmes deverá estrear já em 2009

A Warner Bros. vai produzir uma versão em imagem real de “Akira” (1986), de Katsuhiro Otomo, numa parceria com a Appian Way, do actor Leonardo DiCaprio. A obra – uma combinação entre “Blade Runner” e “Cidade de Deus”, lê-se no anúncio oficial – será dividida em dois filmes, devendo o primeiro estrear já em 2009.
A realização foi entregue a Ruairi Robinson, um irlandês, de 29 anos, indicado para o Óscar para Melhor Curta-Metragem por “The Silent City” e o argumento adaptado será da autoria de Gary Whitta, restando saber se o filme vai estar mais próximo do manga ou da versão animé (cinema de animação japonesa), também da autoria de Otomo, pois entre as duas há diferenças significativas. De qualquer forma, uma e outra são consideradas obras-primas.
“Akira”, o manga, demorou 11 anos a ser concluído e, ao longo de quase 2000 pranchas (integralmente editadas em português, em 19 volumes, entre 1988 e 2004, pela Meribérica/Líber), é uma fantástica saga, narrada a um ritmo vertiginoso de cortar a respiração, ambientada num futuro próximo, numa Tóquio devastada por uma explosão nuclear, onde o exército, a resistência, um bando de marginais de rua e uma seita semi-espiritual lutam pelo controlo de Akira, uma criança com imensos poderes mentais provocados por experiências não autorizadas. Este foi o primeiro manga a ter sucesso no Ocidente, tendo aberto a porta à invasão que hoje se verifica, traduzida em quotas na ordem dos 40 % em mercados fortes como o norte-americano ou o francófono.
A versão animé, também disponível em português, foi feita dois anos depois – ainda a BD estava longe de ser concluída – e revolucionou o mundo da animação, graças aos progressos técnicos apresentados, destacando-se a sincronização do movimento dos lábios, a altíssima definição das imagens e a naturalidade dos movimentos.


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BD sobre a PIDE editada em Itália

Sonno elefante é “uma metáfora sobre a perda da memória de um lugar”, disse ao JN o autor, Giorgio Fratini

Acaba de ser editada em Itália, pela editora BeccoGiallo, uma banda desenhada cuja história “roda à volta de um lugar tristemente famoso de Lisboa, a ex-sede da PIDE, na Rua António Maria Cardoso”, revelou ao JN o seu autor, o italiano Giorgio Fratini.
Nascido a 23 de Novembro de 1976, é “arquitecto, licenciado pela Faculdade de Arquitectura de Florença” e esteve em Portugal “pela primeira vez em 2000, para estudar arquitectura ao abrigo do programa Erasmus”.
A Lisboa, voltou “várias vezes” e dessas estadias nasceu “Sonno Elefante – I muri hano orecchie”, cujo título, diz, “é uma metáfora sobre a perda da memória de um lugar, de um pedaço da história”. Algo como “o sono da memória”, acrescenta Fratini, cujo traço a preto e branco, matizado de cinzentos, em que se destaca o tratamento realista dado aos edifícios, que contrasta com o tom semi-caricatural das personagens, e a agradável e multifacetada composição das páginas, não deixam adivinhar tratar-se da sua primeira obra.
O ponto de partida para a história foi a descoberta de que a antiga sede da PIDE, iria ser “remodelada, dando lugar a um conjunto de apartamentos de luxo e lojas”. Nada de especial, a acreditar nas palavras de uma personagem, logo nas primeiras páginas do livro: “E então? Um dia há uma coisa, depois outra; é normal, não é?”.
A história, resume o autor, está “ambientada poucos anos antes da Revolução dos Cravos e segue os destinos de Zé, Marisa, Leon, Maria e Afonso”, ligados àquele “palácio nefasto, como aconteceu a milhares de cidadãos portugueses comuns”. Entre eles “há quem se oponha, quem traia, quem colabore, quem se anule e quem morra. E um deles, muitos anos depois, volta àquele lugar trazendo consigo o que considera impossível cancelar: a própria história”. E recorda “o terrível passado do edifício, as crueldades que tiveram lugar dentro daquelas paredes, os gritos e lágrimas sufocados naqueles quartos, lutando, à sua maneira, contra a destruição da memória de todas as vidas ali perdidas na luta pela liberdade”, conclui o editor, Federico Zaghis.
Uma história narrada ao longo de pouco mais de uma centena de pranchas, “inspirada parcialmente em factos reais, trabalhados pela minha imaginação”, para a qual Giorgio Fratini, “para além da Internet”, teve que “fazer pesquisas no Arquivo da PIDE, na Torre do Tombo, e no Centro de Documentação 25 Abril da Universidade de Coimbra, bem como no arquivo fotográfico em linha da Câmara Municipal de Lisboa, fundamental para a iconografia dos anos 70” em que decorre boa parte de “Sonno Elefante”, para já sem edição prevista no nosso país, embora “haja alguns contactos com editoras portuguesas”, revela o autor.


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