Categoria: Recortes

Turma da Mônica chega à China

Mônica, Cebolinha, Cascão, Magali e todos os outros componentes da Turma da Mônica, acabam de acrescentar mais uma língua ao seu já longo currículo verbal, desta vez aquela que mais pessoas utilizam no mundo: o mandarim.
Na verdade, cinco revistas da série “Saiba Mais!” foram lançadas na China pela OEC – Online Eucation China, no seguimento de uma parceria estabelecida por aquela editora e pelo Consulado do Brasil de Xangai. O projecto estava em estudo há mais de um ano, tendo agora sido concretizado.
Os cinco títulos, protagonizados pelas principais criações de Maurício de Sousa, têm uma vocação didáctica e abordam os seguintes temas de forma leve e divertida: “Descobrimento do Brasil”, “Fenómenos da Natureza” (que chegará às bancas portuguesas em Março, uma vez que esta colecção está a ser distribuída bimestralmente entre nós desde o mês passado), “Futebol”, “Meio Ambiente” e “Imigração”. Para além das histórias aos quadradinhos as revistas incluem também passatempos educativos.
A China junta-se assim à meia centena de países que lê regularmente as histórias da Turma da Mônica, entre os quais, Espanha, Indonésia, Coreia do Sul e Estados Unidos. Em entrevista ao Jornal de Notícias, em Novembro de 2006, aquando da sua passagem pelo Festival de BD da Amadora, Maurício de Sousa, que nasceu em 1935, revelou que a “internacionalização” das suas criações implica alguns cuidados, para que não sejam feridas susceptibilidades em cada um dos mercados, confessando que os Estados Unidos são um dos mais susceptíveis.
Principal embaixadora dos quadradinhos brasileiros, com vendas mensais no Brasil na ordem dos dois a três milhões de exemplares, a Turma da Mônica viu nascer as suas primeiras personagens, Bidú e Franjinha, em 1959, então no formato de tiras de imprensa que Maurício de Sousa vendia directamente aos jornais. O mais recente menino da Turma é português, tem o nome de António Alfacinha e fez a sua estreia na revista “Cebolinha #7”, ainda nas bancas portuguesas.


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F. Cleto e Pina

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José Luís Salinas nasceu há 100 anos

Autor argentino foi o desenhador de “Cisco Kid”, o cowboy romântico; “Dick o Goleador”, outra das suas criações, foi publicado nas páginas do JN

José Luís Salinas nasceu há 100 anos, em Buenos Aires, no bairro Flores. Se o seu nome pouco dirá à maioria das pessoas, com certeza despertará outras recordações se for associado a duas das suas mais famosas criações. Aos leitores do JN, serve a informação de que o criador gráfico de “Dick, o goleador” (ver caixa). E, nas páginas da revista “Mundo de Aventuras”, cavalgou durante muitos anos a maior criação de Salinas, “Cisco Kid”, o cowboy que se distinguia por ser mexicano, um galã e por primar no bem vestir, sempre acompanhado pelo também mexicano Pancho, cujo aspecto rechonchudo e carácter implicativo constrastam com o porte atlético e os modos gentis de Cisco.
Esta obra, nascida em 1951, marcou também uma mudança profunda na carreira do desenhador, que deixara o seu país natal dois anos antes para ir para os Estados Unidos, onde se tornou o primeiro argentino a trabalhar para o poderoso Kyng Features Syndicate. Os argumentos de “Cisco Kid” eram de Rod Reed e tinham como ponto de partida um conto de O. Henry intitulado “The Caballero’s Way”, levado ao cinema, em 1929, com tal sucesso, que deu origem a um sem número de aventuras. Sucesso que se estendeu à BD, tendo a série sido publicada simultaneamente em cerca de 400 jornais de todo o mundo. Salinas, que entretanto regressara à Argentina, assinou este western até 1968, na fase final com o auxílio do seu filho Alberto Salinas, também autor de BD.
Da sua bibliografia merecem também destaque “Hernán, el corsário” (1936), a sua primeira história aos quadradinhos, ou as adaptações que fez nas décadas de 30 e 40 de clássicos de Alexandre Dumas, Ridder Hagard ou Emilio Salgari.
José Luís Salinas, distinguido em 1976 com o Yellow Kid do Festival de Lucca, Itália, pelo conjunto da sua obra, viria a falecer a 10 de Janeiro de 1985, um ano depois de ter sido declarado “Cidadão Ilustre” pela cidade de Buenos Aires.

[Caixa]

Dick, o goleador

“Dick, o goleador” (“Gunner”, no original), desenhado por José Luís Salinas em 1971, a partir de guiões do também argentino Alfredo Grassi, foi presença diária nas páginas do JN, durante alguns anos, no final da década de 70. Apesar de só o ter assinado durante pouco mais de um ano – Dick foi depois entregue a Lucho Oliveira, Tobias e Andrew Klacik – Salinas deixou como marcas o seu traço auto-didacta, pormenorizado, expressivo e dinâmico, que serviu às mil maravilhas esta tira diária sobre um craque de futebol sul-americano que, com os seus dois amigos Jeff e Poli, também jogadores, experimentou grandes sucessos dentro das quatro linhas e viveu movimentadas aventuras de cariz policial fora delas.
Em Portugal, ainda, a revista “Mundo de Aventuras”, rebaptizou-o “Dick, o avançado-centro” e publicou várias das suas histórias na sua 5ª série, na mesma altura em mais tarde, em 1986, a Editorial Futura lançaria, uma recolha, desta vez intitulando-o “Dick, o campeão”, na sua colecção “Aventuras”.


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F. Cleto e Pina

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Casamento de Sarkozy satirizado em cartoon

“Conte de fées à l’élysée”, do cartoonista Jul, tem tiragem de 40 mil exemplares e foi fabricado em apenas três semanas

Num país como a França, em que a banda desenhada tem uma importância indiscutível, do ponto de vista artístico e económico, a relação entre Nicolas Sarkozy, actual presidente da república francesa, e a ex-modelo e cantora Carla Bruni, não podia passar ao lado dos quadradinhos. Agora, o “par romântico”, para lá da presença constante nas revistas satíricas, é também protagonista (involuntário) de “Conte de fées à l’Élysée” (edição da Glénat), uma recolha de cartoons de Jul, lançada ontem, com uma tiragem de 40 mil exemplares, quase em simultâneo com a realização do enlace e com um tempo de fabrico recorde: apenas três semanas.
Mesmo sem ter sido convidado para o casamento em segredo que teve lugar na semana passada, Jul, ao longo das 64 páginas do livro, mostra estar por dentro de tudo o que diz respeito à tão badalada união, da lista de convidados (e dos interditos) à roupa dos nubentes, da decoração do local ao bolo do casamento (incluindo a adição à última da hora de uns tacões extra em nougat aos sapatos do noivo, para que a diferença de alturas não fosse tão evidente!), não se poupando sequer a retratá-los como Branca de Neve e um dos sete anões. Situações recriadas com o seu traço característico – próximo do de Wolinsky – simples, directo, expressivo, completamente despido de pormenores acessórios para que o humor tenha todo o destaque. Humor que assenta numa sátira feroz e determinada à sociedade e ao mundo, sem tabus nem concessões.
Nascido em Paris, em 1974, Jul, depois de uma experiência como professor de História da China na universidade, tornou-se cartoonista, publicando nas revistas humorísticas “Charlie Hebdo” e “Le canard Enchainé” (onde nasceram alguns dos actuais desenhos), entre outras publicações. A globalização foi o tema do seu primeiro grande sucesso, “Il faut tuer José Bové”, tendo igualmente utilizado a sua veia satírica para retratar o choque de civilizações através do diário íntimo do “casal” Bin Laden/Georges Bush. “Le Guide du motard pour survivre à 9 mois de grossesse” valeu-lhe o Prémio Goscinny em Dezembro último.
Esta não é a primeira vez que Nicolas Sarkozy é alvo do traço (e da troça) dos seus concidadãos, longe disso, já que antes da sua eleição foi herói de títulos como “La Face kärchée de Sarkozy”, que vendeu 200 000 exemplares, “Tout sur Sarko” ou “Le petit Nicolas à l’Elysée”.


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Batman em manga

Japonês Yoshinori Natsume é o autor de “Death mask”; Nova aventura do Homem-Morego disponível em Abril

A DC Comics anunciou que vai lançar no início de Abril o primeiro tomo de uma mini-série intitulada “Batman: Death mask”, que tem a particularidade de ser desenhada no estilo manga (BD japonesa). E ao contrário do que é quase norma nos últimos tempos, não serão autores ocidentais a “clonar” aquele estilo asiático, mas será o autor nipónico Yoshinori Natsume que assinará argumento e desenho da nova aventura do Homem-Morcego.
Na nova aventura Batman terá que defrontar um serial killer que assola Gotham e que parece ser um mestre de artes marciais que treinou Bruce Wayne na sua juventude, podendo assim conhecer a sua identidade secreta.
Natsume, nascido a 23 de Agosto de 1975 e autor profissional há uma dúzia de anos, é o criador de “Toguri”, um manga de sucesso em oito volumes, direccionado para leitores adolescentes, que narra a saga de Tobe, um assassino a quem, após 300 anos no inferno, é dada uma nova oportunidade: voltar ao mundo dos vivos para capturar os demónios que possuem os humanos e os levam a praticar o mal. Natsume não é o primeiro japonês responsável por uma aventura do Homem-Morcego, pois já em 2000, Kia Asamiya assinou “Batman: Child of dreams”.
“Batman: Death mask”, que terá quatro tomos de 48 páginas, a preto e branco, é mais um sinal da importância crescente dos manga (também) nos Estados Unidos, onde há poucas semanas a Marvel anunciou ter concedido uma licença à editora Del Rey Manga, para esta lançar novas colecções dos X-Men e de Wolverine, naquele estilo.
Entretanto, em Junho ficará disponível em DVD, nos EUA, “Batman – Gotham Knight”, um conjunto de seis curtas-metragens animadas em estilo japonês, escritas por nomes consagrados dos quadradinhos americanos, como Brian Azzarello ou Greg Rucka. A sua adaptação em BD, que está a ser feita pela veterana Louise Simonson, chegará às livrarias poucas semanas antes. Os acontecimenos desta série animada, situam-se cronologicamente entre os eventos narrados nos filmes “Batman Begins” (2005) e “The Dark Night”, que estreará a 18 de Julho próximo.


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Um álbum menor

Escolha óbvia em ano olímpico para base do terceiro filme de Astérix de imagem real – e também porque muitos títulos, satirizando outros povos, não são opção neste tempo em que impera um cada vez mais doentio politicamente correcto – “Astérix nos Jogos Olímpicos” até é um dos álbuns menores da era Goscinny.
Criado no também olímpico ano de 1968, acompanhando a actualidade, como era hábito dos autores, tem um argumento demasiado espartilhado pelo tema base, que embora arrancando bem, acaba por se perder num excesso de descrições que lhe retiram ritmo, não sendo feliz o esquema que conduz Astérix à palma olímpica e que origina o primeiro caso (múltiplo!) de doping dos jogos.
Isto não quer dizer que o álbum – reeditado pela ASA com nova capa e marcado pela estreia do ancião Decanonix – não contenha algumas cenas de antologia, como a discussão gastronómica sobre os cogumelos ou a involuntária interrupção do treino do campeão romano por Astérix e Obélix, capazes de arrancar sonoras gargalhadas ao leitor.

Astérix nos Jogos Olímpicos
Goscinny (argumento) e Uderzo (desenho)
Edições ASA


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Grande prémio de Angoulême 2008 partilhado por Dupuy e Berberian

Autores de Monsieur Jean fizeram caderno de desenhos sobre Lisboa; “Là oú vont nos pères”, do australiano Shaun Tan, escolhido como Melhor Álbum do Ano

O Grande Prémio de Angoulême, divulgado ontem, pela primeira vez foi atribuído ex-acqueo, a Dupuy e Berberian. Ou talvez não, porque na sua obra é impossível distinguir onde termina a contribuição de um e começa a do outro.
Philippe Dupuy nasceu em 1960, em França, e frequentou a Escola de Belas-Artes de Paris, onde conheceu Charles Berberian, nascido um ano antes no Iraque. Em 1983 elaboraram a sua primeira BD conjunta, uma homenagem a Hergé, e um ano depois nascia “Le journal d’Henriette” (primeiro volume editado em português pela Booktree), o divertido diário secreto de uma adolescente gorda que deseja ser escritora. A sua obra de referência é a série “Monsieur Jean” (1991), a crónica quotidiana de um trintão – também escritor – indeciso perante as encruzilhadas da vida, feita em tom intimista e autobiográfico, que lhes valeu o Alph’Art para o Melhor Álbum de 1999. O traço da dupla assenta numa linha clara de desenho simples e eficaz e cores suaves. O primeiro volume, editado pela Meribérica com o título “Monsieur Jean, o amor, a porteira…”, trouxe o protagonista a Portugal, em busca de inspiração para as suas obras. Por Portugal passaram também os autores, primeiro como convidados do IX Salão de BD do Porto (1999), depois, a convite da Bedeteca, pela capital, resultando dessa estadia o livro “Lisboa – cadernos”.
O júri do Festival escolheu “Là oú vont nos pères”, do australiano Shaun Tan, como Melhor Álbum do Ano, um livro notável, totalmente mudo, feito de imagens aparentemente soltas, trabalhadas a lápis, em incómodos tons de cinzento e sépia, sobre os dramas dos emigrantes.
O palmarés de Angoulême fica completo com os álbuns “essenciais”: “Exit Wounds”, de Rutu Modan; “La Marie en plastique”, de Rabaté e Prudhomme; “Ma Maman est en Amérique, elle à rencontré Buffalo Bill”, de Regnaud e Bravo ; “R.G.”, de Peeters e Dragon ; “Trois Ombres”, de Pedrosa; “L’Elephant”, de Isabelle Pralong (Revelação); “Moomin”, de Tove Jansson (Património); “Kiki de Montparnasse”, de Catel e Bocquet (Público); “Sillage #10”, de Morvan e Buchet (Juventude).


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Luc Besson leva Adèle Blanc-Sec ao cinema

Descoberto o filão, que tantos sucessos tem garantido, o cinema não larga a banda desenhada. Agora, foi Luc Besson que comprou os direitos para adaptação cinematográfica das “Aventuras Extraordinárias de Adèle Blanc-Sec”, uma série criada em 1976 por Jacques Tardi, nas páginas do jornal Sud-Ouest.
O acordo foi assinado entre a EuropaCorp (a produtora de Besson) e a Casterman (que edita os álbuns de Adéle) e prevê a realização de três longas-metragens, a primeira das quais já em 2009, tendo por base o extravagante ambiente da série. Misto de policial, terror e fantástico, em Adèle Blanc-Sec, uma das primeiras heroínas modernas da BD franco-belga – inteligente, independente e convicta -, Tardi diverte-se, com uma ironia muito própria, criando uma obra operática caótica, em que contracenam sábios loucos, dinossauros ressuscitados, seitas adoradoras de deuses exóticos sedentos de sangue, conspiradores e polícias dotados de grande inépcia, que se vão cruzando com a protagonista. A acção passa-se no pós-Primeira Guerra Mundial, na Paris que Tardi adora e retratou como ninguém nos quadradinhos. Com nove álbuns publicados no mercado francófono (e um décimo a caminho), com vendas globais superiores a dois milhões de livros, os quatro primeiros tomos das aventuras de Adèle Blanc-Sec chegaram a Portugal no final da década de 70 do século passado, pela mão da Bertrand, sendo depois reeditados pela Witloof, em 2003.
Esta não é a primeira vez que Luc Besson faz a ponte entre a BD e o cinema. Em “O quinto elemento”, chamou Jean-Claude Mezières, desenhador da série de ficção-científica “Valérian”, para criar os cenários e adereços e, recentemente, associou-se ao desenhador Dikeuss para dar uma nova vida à Septième Choc, uma pequena editora de BD que acaba de apresentar os seus primeiros álbuns no festival de BD de Angoulême.


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Encontro de cultura japonesa no Porto

Casa da Animação acolhe hoje e amanhã o II Yukimeet; Manga, animé e cosplay em destaque

Tem lugar amanhã e domingo, na Casa da Animação, no Porto, o II Yukimeet, evento dedicado aos manga, animé e à cultura japonesa em geral. O evento celebra o Inverno (Yuki significa neve em japonês) e pretende dar as boas-vindas ao novo ano à moda do Japão.
O programa tem actividades relacionadas com várias vertentes da cultura nipónica, desde o manga (BD) e animé (cinema de animação) até ao origami (técnica de dobragem), videojogos, artes marciais e mesmo um workshop de iniciação à língua japonesa.
Mas o II Yukimeet, cuja entrada é gratuita (com excepção das sessões de cinema), inclui também outras actividades como a projecção de filmes de animação, um concurso de Cosplay (actividade que consiste em vestir e representar a pele de uma personagem de ficção, geralmente de manga ou anime), uma troca de presentes, um concurso de banda desenhada, cujos participantes terão que executar uma história completa em 12, e um outro de desenho e ilustração.
Na Casa da Animação, que acolhe o evento a partir das 10h e durante todo o dia, funcionará um bar com comida japonesa e uma mini-feira do livro japonês e será possível ver os originais de “Bang Bang”, de Hugo Teixeira, o primeiro manga criado por um autor português editado em livro (pela Pedranocharco), que é um western futurista, do projecto “All girl-zine”, uma publicação de Daniel Maia totalmente preenchido com bandas desenhadas de autoras nacionais, muitas delas próximas do estilo manga, e dos participantes nos dois concursos, cujos vencedores serão divulgados no domingo, às 17h45. Informação mais detalhada sobre o programa do II Yukimeet ↗.


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Clássico da BD portuguesa dos anos 70 reeditado

Wanya – Escala em Orongo” foi lufada de ar fresco no panorama nacional; Obra chegou a estar no index dos livros que não convinham ao regime

Corria o ano de 1973. Às livrarias portuguesas, com a surpreendente tiragem de 5000 exemplares, chegava “Wanya – Escala em Orongo”, uma banda desenhada com “uma mensagem pacifista de carácter universal”, escrevia então Vasco Granja. Com um traço realista, assente numa cuidada técnica de pontilhado e numa planificação dinâmica e diversificada, “Wanya…” abria novos caminhos para a BD portuguesa que, no entanto, nunca foram trilhados.
Agora, 35 anos depois, a reedição, pela Gradiva, cumpre o desejo da pintora Maria João Franco de “dar a conhecer a obra de Nelson Dias”, seu marido e desenhador da obra, já falecido, e “revelar a importância de “Wanya” a uma nova geração”.
Que, conta Augusto Mota, o argumentista, então professor em Leiria, “nasceu por acaso, na onda da nova BD francesa dos anos 60. O Nelson” – também professor – “elaborou seis pranchas, para experimentar a “gramática” da narração figurativa e desafiou-me para criar um texto que o levasse a conseguir uma história com princípio, meio e fim; ao longo de três anos fomos discutindo a estrutura gráfica da obra, para que texto e desenho se complementassem”. Acrescenta Mª João que o marido “trabalhou exaustivamente na obra, desenhando preciosa e apaixonadamente cada centímetro da página, como se de uma teia imensa se tratasse”.
Para modelo da heroína, Dias usou a esposa que gostou “de se ver no papel, como Vânia, a jovem mulher símbolo de um sonho para um mundo melhor; aquele deveria ser o “papel” de todos nós: resgatar o Mundo para os vindouros, para o Homem como ser total, pondo as suas capacidades ainda por descobrir ao serviço da paz e da justiça”.
A reacção “dos leitores e da crítica ultrapassou as expectativas”, relembra Mota: “ficaram seduzidos pelo rigor e beleza do desenho; o texto era quase só pretexto para que o leitor-espectador não se perdesse naquele universo de imagens”. Para o qual são unânimes ao indicar uma influência: “A Saga de Xam”, de Nicolas Devil”.
Apesar da temática abordada em “Wanya” – a libertação de um povo oprimido – aludindo a “um clima de opressão, que todos sentiam, embora sem qualquer intenção panfletária da nossa parte”, garante o argumentista, “não houve problemas com a censura”. Mas podia ter havido, “se não se tivesse dado o 25 de Abril, porque foi incluída no “índex” dos livros que não convinham ao regime”.
Curiosamente, foi a revolução que tornou Vânia, heroína de uma só BD, porque “o Nelson foi destacado para a reestruturação da Escola do Magistério Primário de Leiria, e deixou de ter tempo e disponibilidade de espírito”, recorda a esposa, pelo que “a segunda aventura, “O Povo dos Espelhos”, passada noutra dimensão, atrás da realidade que os espelhos reflectem”, revela Augusto Mota, se ficaria “apenas por seis pranchas, a cores”.


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F. Cleto e Pina

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BD argentina e asiática em destaque em Angoulême

Principal festival europeu de banda desenhada começa amanhã em França

Começa amanhã, quinta-feira, o 35º Festival Internacional de Banda Desenhada de Angoulême, França, o mais importante certame europeu do género.
Do ponto de vista formal, há dois aspectos a realçar: por um lado, o regresso das enormes feiras de BD ao centro da cidade, após a infeliz experiência do ano transacto que nos arredores; depois, a substituição do anterior patrocinador, os hipermercados Leclerc, por uma parceria entre a FNAC e a SNCF (caminhos de ferro franceses) que triplicarem o investimento (500 mil euros) e instituíram um prémio.
Quanto à programação, o principal destaque vai para a retrospectiva da banda desenhada argentina, na perspectiva do virtuoso do preto e branco José Muñoz, presidente do festival este ano por ter sido distinguido com o Grande Prémio da Cidade em 2007, que é uma homenagem sentida à 9ª arte do seu país natal. Também apetecíveis são “Cidades do futuro”, que ilustra como têm sido (ante)vistas nos quadradinhos as metróploles do futuro, a exposição consagrada ao filme de animação Persépolis, de Marjane Satrapi, e a retrospectiva dos 35 autores já contemplados com o Grande Prémio do festival.
Os manga, (bd japonesa), com importância crescente no mercado francófono, estão representados numa grande exposição do colectivo Clamp. No que respeita à BD asiática, haverá igualmente uma forte presença chinesa, no seguimento do protocolo estabelecido há dois anos com o Festival de BD de Xangai, concentrada num enorme pavilhão e numa delegação de mais de 50 pessoas, encabeçada pela vice-primeira ministra chinesa da Cultura, e com autores como Jidi e Yao Feila.
A reter ainda, entre muitas outras mostras, como habitualmente com as mais diversas temáticas e espalhadas por toda a cidade, as monográficas de Sérgio Toppi, Luciano Bottaro, Ben Katchor, Moebius e Hermann, bem como a realização das 24 horas de BD, que reunirá 24 autores durante um dia completo frente ao desafio de criarem uma BD de 24 páginas, e os encontros internacionais, nos quais o público tem oportunidade de dialogar com grandes nomes da 9ª arte.
No que respeita ao palmarés de festival, se a crítica especializada aponta na lista dos títulos pré-seleccionados a ausência das obras mais populares de qualidade, como “XIII”, nas quais assenta muito do mediatismo e do sucesso financeiro do género no mercado franco-belga, destaque para o novo prémio que contemplará uma BD criada em blog.


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