Foi inaugurada, no passado dia 10 de Janeiro, a exposição “Tinta nos Nervos – Banda Desenhada Portuguesa”, no Museu Colecção Berardo do Centro Cultural de Belém.
Estendida por diversas salas do Museu, e comissariada por Pedro Moura, a mostra irá estar patente até ao dia 27 de Março.
Uma das mais importantes montra de que há memória na Banda Desenhada portuguesa, a exposição comissariada por Pedro Moura apresenta obras de Alice Geirinhas, Ana Cortesão, André Lemos, António Jorge Gonçalves, Bruno Borges, Carlos Botelho, Carlos Pinheiro, Carlos Zíngaro, Cátia Serrão, Daniel Lima, Diniz Conefrey, Eduarda Batarda, Filipe Abranches, Isabel Baraona, Isabel Carvalho, Isabel Lobinho, Janus, João Fazenda, João Maia Pinto, José Carlos Fernandes, Jucifer (Joana Figueiredo), Luís Henriques, Marco Mendes, Marcos Farrajota, Maria João Worm, Mauro Cerqueira, Miguel Carneiro, Miguel Rocha, Nuno Saraiva, Nuno Sousa, Paulo Monteiro, Pedro Burgos, Pedro Nora, Pedro Zamith, Pepedelrey, Rafael Bordalo Pinheiro, Richard Câmara, Teresa Câmara Pestana, Tiago Manuel e Victor Mesquita.
Como bem refere Jorge Machado-Dias no seu blog Kuentro, «(…) é uma oportunidade única para aceder a tão vasta (embora não auto-conclusiva) informação sobre a actual BD portuguesa (…)».
E este crítico, editor e divulgador, diz ainda: «(…) À partida, a filosofia de que partiu esta abordagem à Banda Desenhada – tratando-se especialmente da portuguesa –, é algo com que estamos plenamente de acordo e cuja visita deveria ser obrigatória para os directores dos Festivais de banda desenhada em Portugal, para perceberem como fazer um festival de BD de larga abrangência e potencialmente cativador de maiores e mais variados públicos. Isto apesar de, diga-se de passagem, Paulo Monteiro, o director do Festival de Beja, ter vindo propositadamente de Beja para esta inauguração, sendo que é também, um dos autores expostos…
Para já, deixo ficar apenas uma nota sobre a feliz escolha por Pedro Vieira Moura, da expressão que melhor define a BD portuguesa actual: banda desenhada de autor! Nada mais apropriado, uma vez que os portugueses são especializados em algumas áreas “de autor”, sendo o cinema a mais conhecida. E tal como o cinema português é parcamente visto pelos portugueses, também a BD portuguesa sofre do mesmo mal: vende-se pouco! E isto não é uma crítica, é uma constatação. Aliás a Sara Figueiredo Costa aborda alguns pontos desta questão no texto que produziu para o Catálogo desta exposição – o porquê das fracas vendas da BD portuguesa (…).
O catálogo da exposição, com textos de Pedro Moura, Sara Figueiredo e Domingos Isabelinho contém 138 ilustrações e a biografia de todos os autores expostos, sendo distribuído pela Chili Com Carne.
A exposição tem entrada gratuita e pode ser visitada no Museu Colecção Berardo, Praça do Império, Lisboa, até 27 de Março, de domingo a sexta, das 10h00 às 19h00 e sábado das 10h às 22h.
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BD portuguesa no feminino
Nas duas últimas décadas, a banda desenhada viu despontar muitos talentos femininos. O JN apresenta-lhe algumas das portuguesas que optaram pela BD como forma de expressão e que poderão marcar os próximos anos.
Na verdade, durante décadas a 9ª arte foi considerada tarefa de homens, possivelmente devido à prevalência dos géneros cómico e aventura, destinadas a um público – masculino – juvenil e à especificidade do labor quase eremítico.
Nos anos 60 do século passado, o movimento undeground nos Estados Unidos – e depois o Maio de 68 na Europa – modificaram um pouco esta situação, tendo o surgimento de temáticas mais intimistas e de romances desenhados provocado uma (quase) revolução a partir dos anos 1990, ao nível autoral e (da adesão) das leitoras. Isto no Ocidente, pois no Japão, a profusão de temáticas e públicos-alvo já tinha dado lugar relevante às mulheres na produção de manga.
Em Portugal, em que houve algumas percursoras (ver caixa), os anos 90 também fizeram despontar diversas autoras, muitas delas com ligações ao design ou à arquitectura, visível no tratamento gráfico dado a temáticas em voga como a autobiografia ou a crónica quotidiana, que publicavam em edições independentes ou, pontualmente, em álbuns a solo, que são a memória palpável do talento de Ana Cortesão, Vera Tavares, Ângela Gouveia, Maria João Worm ou Alice Geirinhas.
Em anos recentes, muitas daquelas que se expressam (também) em BD, têm como principal referência gráfica (e temática…) os manga japoneses, como Catarina Sarmento (com o webcomic “Children of the night”), Ana Freitas (que desenhou o “primeiro manga português”…) ou Catarina Guerreiro, Sara Martins, Telma e Tânia Guita (editoras do “Luminus Box”), elegem a Internet para divulgarem a sua arte, participam (e muitas vezes ganham) concursos de BD, nacionais e estrangeiros. A exemplo da geração que as precedeu, estão confinadas à auto-edição ou à publicação em fanzines ou (mini-)álbuns independentes, geralmente colectivos, nem sempre (só) em Portugal.
Outros nomes (recorrentes) são Andreia Rechena (que se auto-edita em “Reject”) e que com Sónia Oliveira, Inês Casais, Ana Biscaia, Selma Pimentel ou Joana Lafuente, tem marcado presença no “All-Girlz” (publicação só com autoras, cujo tomo Banzai, será lançada no próximo dia 9, na Central Comics, no Porto). As duas últimas estão já noutro patamar, pois Joana Lafuente aplica as cores na versão em BD dos mediáticos “Transformers” para a editora norte-americana IDW, e Selma Pimentel tem em curso diversos projectos para o estrangeiro.
No atelier Toupeira, origem do Festival de BD de Beja e do fanzine “Venham +5”, despontaram Maria João Careto e Susa Monteiro, autora do recente “A Carga” e um dos mais promissores talentos da 9ª arte nacional. Teresa Câmara Pestana, com mais anos de militância nos quadradinhos e influências underground, divulga a sua arte – e a daqueles que com ela comungam ideais e preferências estéticas – no “Gambuzine”, tendo também editado a solo, “Postais de Viagem”.
Quantas destas criadoras conseguirão afirmar-se, num mercado limitado como o nosso ou no (grande) mercado global que as novas tecnologias aproximam, só o tempo permitirá dizer. Para já, cabe-nos desfrutar o seu talento e criatividade.
[Caixa]
As percursoras
É ponto pacífico apontar Amélia Pae da Vida (1900-1997) como a primeira desenhadora portuguesa de BD, nos anos 20 do século passado. Depois dela, sucederam-se entre diversas outras, Raquel Roque Gameiro, Guida Ottolini, Bixa (Maria Antónia Cabral) ou Maria Alice Andrade Santos, em especial em títulos como “Lusitas”, “Menina e Moça” ou “Fagulha”, lançadas a partir de 1943 pela Mocidade Portuguesa Feminina.
A abertura proporcionada pelo 25 de Abril, possibilitou novas abordagens também nos quadradinhos, destacando-se então Isabel Lobinho, hoje pintora, adaptando Mário Henrique Leiria ou em produção própria de cariz erótico, e também Catherine Labey (de origem francesa mas há muito radicada em Portugal), que criou quadradinhos de ficção e adaptou temas infantis, populares ou históricos, ainda no activo nas áreas da tradução, legendagem ou aplicação da cor.
David B., Prado, Max e Rubín encabeçam programa aliciante
III Festival de BD de Beja começa hoje; Muitos autores portugueses também no programa
Tem início hoje o III Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja que, até dia 20 de Maio, propõe dezena e meia de exposições distribuídas por vários locais do centro histórico da cidade: Casa da Cultura (que alberga a Bedeteca de Beja), Conservatório Regional do Baixo Alentejo, Galeria do Desassossego, Museu Jorge Vieira – Casa das Artes, Museu Regional de Beja, Núcleo Visigótico – Igreja de Santo Amaro e Pousada de S. Francisco.
Considerado por muitos o segundo mais importante evento dedicado à BD do nosso país (a seguir ao Festival da Amadora) pelo bom gosto e cuidado posto na apresentação das exposições, quase todas elas apresentadas pela primeira vez entre nós, pela descoberta e divulgação de propostas aos quadradinhos inovadoras, e pelo ambiente acolhedor com que recebe os seus visitantes, a terceira edição do evento promete continuar a subir a fasquia com uma programação diversificada e a presença de alguns nomes que, embora se movam em meios de alguma forma marginais, devem merecer a atenção de quem gosta de banda desenhada e não só.
Assim, entre os 40 autores com originais expostos no certame, o principal destaque vai para David B. membro fundador de L’Association e autor de obras de cariz autobiográfico e grafismo expressivo, sendo importante referir também os espanhóis David Rubín (recém-premiado no Salão de Barcelona) e Max ou o alemão Ulf. K. Os seus originais estarão expostos, bem como os de muitos autores portugueses, que continuam a ser o prato forte do salão, dos veteranos Jorge Magalhães, Augusto Trigo e Artur Correia, aos autores a despontar, como as “mangakas” (autoras de manga) Gisela Martins e Sara Ferreira, ou os integrantes do atelier Toupeira, que funciona todo o ano e serviu, de alguima forma, de génese do festival, passando por valores firmes como André Lemos, Maria João Worm, Pedro Rocha Nogueira ou Alice Geirinhas.
Das retantes propostas, a par das inevitáveis sessões de autógrafos, workshops, apresentação de projectos editoriais, feira do livro e cinema de animação, há que destacar, diariamente, os jantares de fazer crescer água na boca, com ementas típicas propostas pelos autores que o festival convidou, juntando assim, à fruição visual e intelectual que a banda desenhada proporciona, em originais ou edições impressas, os prazeres da boa mesa.
Escrito Por
F. Cleto e Pina
Publicação
Jornal de Notícias