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Parabéns Astérix!

Há exactamente 50 anos, a 29 de Outubro de 1959, surgia nas bancas francesas a revista “Pilote”. Nela, fazia a sua estreia um certo Astérix, que viria a tornar-se um dos mais conhecidos e apreciados heróis de banda desenhada de sempre.

À partida, nada o parecia indicar. O titular da série era baixo, pouco vistoso e mais astuto que inteligente. Ao seu lado, caminhava um gigante desajeitado, sempre com um menir – um calhau! – às costas, incapaz de controlar a sua força excessiva. Na sua aldeia, habitavam um chefe com pouca autoridade, um peixeiro com horror a peixe fresco, um bardo com voz de cana rachada, um ferreiro que usava o martelo mais para bater neste último do que para trabalhar na forja e diversos outros exemplos a não seguir. A isto há que acrescentar que todos tinham nomes acabados em “ix” e que sistematicamente andavam à pancada entre si, excepto quando se entretinham a bater nos romanos entrincheirados nos campos fortificados que rodeavam a sua aldeia.
E a tiragem do primeiro álbum – Astérix o Gaulês (1961) – de apenas 6 mil exemplares, parecia confirmá-lo. No entanto, a sucessão de novas aventuras, o apuramento gráfico de Uderzo, um desenhador de eleição, com as suas personagens arredondadas e de nariz grande e um notável sentido de ritmo e de movimento, e o humor inteligente e irresistível de Goscinny, pouco a pouco foram conquistando leitores, fazendo com “Astérix e Cleópatra” (1965) já tirasse 100 mil exemplares, e dois anos depois, “Astérix e os Normandos” ultrapassasse o milhão de exemplares.
As bases do sucesso foram os vários níveis de leitura presentes na obra, cativante para os mais novos pelas sucessivas tareias que os gauleses davam nos romanos, e para os mais velhos, pela mordaz crítica social e de costumes, pelo divertido retrato estereotipado que Goscinny traçou de cada um dos povos dos países que Astérix visitou, logo a começar pelos franceses, pela abordagem de temáticas sempre (e ainda!) actuais, pelos bem conseguidos trocadilhos e pela repetição de situações, aparentemente sempre iguais mas com desfechos sempre diferentes, como os sucessivos confrontos com os piratas ou o hábito de Obélix coleccionar capacetes de legionários.
Quando Goscinny faleceu em 1977, muitos pensaram que tinha chegado o fim do pequeno guerreiro gaulês, mas após um período de reflexão, Uderzo decidiu assumir integralmente a criação de Astérix e, se a qualidade dos argumentos se ressentiu disso, o hábil gestor que ele se revelou, multiplicando os produtos de merchandising, criando um parque temático e apostando no audiovisual, onde se contam sete filmes de animação e três longas-metragens com actores como Christian Clavier, Gérard Deperdieu, Roberto Benigni, Laetitia Casta ou Mónica Bellucci, fez com que as vendas disparassem – a tiragem global de “O céu cai-lhe em cima da cabeça” (2005) foi de 8 milhões – transformando Astérix numa marca apetecida que gera mais de 12 milhões de euros anuais. E que continuará após a sua morte, como decidiu no inicio deste ano quando vendeu os direitos da série à Hachette, com o beneplácito de Anne Goscinny, filha do argumentista, mas com a oposição da sua própria filha, Sylvie, detentora de 40 % das Éditions Albert-René, que levou o caso para os tribunais.
Mas isso, são outras histórias. As que interessam hoje, são aos quadradinhos: 35 álbuns, mais de 1500 pranchas, que esta data convida a (re)ler e (re)descobrir, com a garantia de boas gargalhadas, momentos bem passados e um alegre banquete final, com javali assado e sem a voz do bardo a desafinar.

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Em Portugal

Astérix estreou-se em Portugal a 4 de Maio de 1961, a preto e branco, no nº 1 da revista Foguetão, dirigida por Adolfo Simões Muller que já tinha estreado Tintin entre nós. O herói gaulês passou também pelas páginas do “Cavaleiro Andante” e do “Zorro”, antes de se fixar na “Tintin”, em 1968. Um ano antes, a Bertrand editara o seu primeiro álbum em português.

Nomes em português

A entrada de Astérix no catálogo da ASA, em 2005, ficou marcada por uma nova tradução que apresentava como principal novidade o facto de as personagens, com excepção de Astérix, Obélix e Panoramix, terem passado a ter nomes “portugueses”: Idéfix passou a Ideiafix, o chefe Abraracourcix foi rebaptizado de Matasétix, a sua mulher Bonemine como Boapinta, o bardo Assurancetourix como Cacofonix e o velho Agecanonix tornou-se Decanonix.

Em mirandês

Entre as 107 línguas e dialectos em que Astérix está traduzido conta-se o mirandês, com dois álbuns: Astérix L Gaulês e L Galáton (Astérix o gaulês e O Grande Fosso).

Personalidades

Ao folhear os álbuns de Astérix é possível encontrar caricaturas de René Goscinny, os Dupont, Jacques Chirac, Sean Connery, Kirk Douglas, Arnold Schwarzenegger, os Beatles ou Eddy Merckx.

Sucessores

Em meados de Outubro Uderzo anunciou os seus sucessores, Régis Grébent e os irmãos Frédéric e Thierry Mébarki, que trabalham com ele há alguns anos no desenho de merchandising e material publicitário e que já colaboraram no mais recente álbum.

Comemorações

Se o ponto alto das comemorações dos 50 anos de Astérix e Obélix foi o lançamento do novo álbum, muitas outras manifestações assinalam a data, entre as quais um enorme Astérix desenhado no céu pela célebre esquadrilha da Patrouille de France.
No passado dia 22 foi levado à cena o espectáculo musical “Le Tour de Gaule Musical d’Astérix”, estão patentes exposições alusivas no Museu de Cluny, em Paris (até 3 de Janeiro de 2010) e no Festival Quais des Bulles (até 15 de Novembro) e hoje os irredutíveis gauleses invadirão (pacificamente) Lutécia, que é como quem diz Paris. E m Dezembro, os correios franceses emitem um bloco com selos com Astérix.
Por cá, a Embaixada de França e as Edições ASA promovem hoje, às 19h, um cocktail, durante o qual Júlio Isidro apresentará o novo álbum, e o Amadora BD 2009 tem patente até 8 de Novembro uma exposição de objectos de colecção relacionados com Astérix.

No espaço

Em 1965, o primeiro satélite espacial francês foi baptizado… Astérix.

Vendas

Astérix vendeu cerca de 400 milhões de álbuns em todo o mundo, dos quais 2 500 000 em Portugal.

Um português em Astérix

Em O Domínio dos Deuses (1971), entre os escravos dos romanos, vêem-se cinco portugueses, designados por iberos ou lusitanos, os únicos especificamente citados na série; apesar da sua situação, um deles não deixa de revelar a sua (nossa) veia poética!


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F. Cleto e Pina

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Amadora BD, 20 anos depois

A abertura oficial do Amadora BD ’09 tem lugar hoje, às 21h30, no Fórum Luís de Camões, estando o público convidado para ir festejar as histórias aos quadradinhos e os 20 anos do evento a partir de amanhã, sábado.

A efeméride fica desde logo assinalada pela mudança de designação, tendo o mais pesado Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora dado lugar ao mais simples e chamativo Amadora BD, e também pela realização pelo terceiro ano consecutivo num espaço que se tem revelado amplo e polivalente e que a organização tem conseguido organizar e tornar acolhedor.
É lá que está o núcleo central do evento, subordinado ao pouco inspirado mote “O Grande Vigésimo”, onde se destaca um olhar aprofundado sobre o passado do festival, que marcou de forma incontornável a forma como a BD é vista no nosso país, através das mostras “Almanaque”, que evoca as duas décadas do evento, “Contemporaneidade Portuguesa”, sobre os autores nacionais em actividade”, “Colecção CNBDI”, uma selecção das pranchas que ao longo do ano este organismo tem recolhido junto dos autores que passaram pela Amadora, e “20 anos de Concursos”, mostrando-os como meio de descoberta de novos talentos, pois por ele passaram nomes como José Carlos Fernandes, Filipe Andrade, João Fazenda ou Rui Lacas.
Este último, criador da imagem em que assenta a linha gráfica este ano e um dos vencedores dos Prémios Nacionais de BD 2008 que o evento patrocina, é um dos autores em destaque no Amadora BD, que mais uma vez acarinha a produção nacional dedicando também exposições a José Garcês, Osvaldo Medina, António Jorge Gonçalves e José Ruy (esta na Escola Superior de Teatro e Cinema). Em termos de criadores estrangeiros, a América do Sul pintada por Emannuel Lepage e as memórias da antiga sede da PIDE exploradas pelo italiano Giorgio Fratini, são mais dois motivos de interesse para visitar o festival.
Num ano de aniversário redondo, destaque para as cinco (justas) homenagens que o festival promove (ver caixa), que ajudam a dar o tom festivo que o seu historial merece.
O manga, género preferido pelos mais jovens, marca presença através do estúdio NCreatures, sendo também colectivas as mostras dedicadas à 9ª arte da Polónia e do Canadá, os países convidados este ano, merecendo destaque, neste último caso, a obra de Cameron Stewart, que estará presente este fim-de-semana na Amadora, assim como
Emmanuel Lepage, Carlos Sampayo, Oscar Zarate e o caça-talentos da Marvel C.B. Cebulski, bem como os portugueses José Ruy, Rui Lacas, Filipe Pina, Filipe Andrade, David Soares, Osvaldo Medina, Nuno Duarte e João Mascarenhas, entre outros. Amanhã, serão lançados no festival “Mucha”, de David Soares, Osvaldo Medina e Mário Freitas, e “TX Comics”, de Cameron Stewart, Karl Kerschl e Ramon Perez (ambos da Kingpin Books).

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20 anos, 5 homenagens

Maurício de Sousa

Fórum Luís de Camões
O criador da Turma da Mônica terá duas exposições: uma de originais de cinco décadas de carreira e outra com a visão personalizada dos seus heróis feita por autores brasileiros para o livro “MPS 50”.

Astérix

Fórum Luís de Camões
Os 50 anos de Astérix são evocados através de uma mostra de coleccionismo, composta por brindes publicitários, copos, álbuns antigos e figuras em pvc, nacionais e estrangeiros.

Adolfo Simões Muller

Casa Roque Gameiro
Originais de Fernando Bento, condecorações e primeiras edições relembram o director do “Papagaio”, “Diabrete”, “Cavaleiro Andante” ou “Foguetão”, onde estreou Tintin ou Astérix.

Héctor Oesterheld

CNBDI (até Fevereuro de 2010)
Morto pela ditadura militar argentina, o argumentista de Pratt (em “Sargento Kirk”) ou Breccia (“Mort Cinder”), é revisitado através de retratos, textos, revistas e pranchas de BD.

Vasco Granja

Galeria Municipal Artur Bial
O seu papel fundamental na divulgação do cinema de animação (na RTP) e da BD (na revista “Tintin”), evocado numa exposição sobre o cidadão e as suas áreas de interesse.


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F. Cleto e Pina

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Astérix poderá ter novos autores

Quem sucederá a Uderzo? Esta pergunta, que há anos se vem ouvindo nos meios da BD e que ganhou maior actualidade no início deste ano, quando o desenhador de Astérix decidiu ceder ao grupo Hachette a autorização para continuar as aventuras do pequeno guerreiro gaulês após a sua morte, pode estar prestes a ter uma resposta.
Em entrevista concedida esta semana à agência de notícias francesa AFP, o autor reiterou o desejo que Astérix lhe sobreviva e referiu o bom trabalho que tem sido feito pelos irmãos Frédéric e Thierry Mébarki, contratados para fazerem ilustrações para publicidade e merchandising, que muitas vezes têm passado como feitas pelo próprio Uderzo. Os dois já o auxiliaram na passagem a tinta e na aplicação das cores no álbum “O céu cai-lhe em cima da cabeça”, pelo que a hipótese de desenharem futuras histórias de Astérix ganha força.
Para além disso, não passou despercebida a ninguém a presença do argumentista Christophe Arleston, autor de sucessos como “Trolls de Troy” e “Lanfeust de Troy” e de várias das histórias de homenagem incluídas nos álbuns “Uderzo visto pelos seus amigos” e “Astérix e os seus amigos”, na conferência de imprensa do passado dia 9, em que Uderzo falou sobre o álbum “O Aniversário de Astérix e Obélix – O Livro de Ouro”, que será posto à venda em 15 países europeus, Portugal incluído, no próximo dia 22. Dados os 72 anos de Uderzo e os problemas físicos que tem na mão direita, com que desenha, este poderá ser o último título ilustrado por ele, embora na mesma entrevista tenha revelado possuir “uma vaga ideia” para uma próxima história, havendo rumores de que as novas aventuras de Astérix poderão começar já em 2010.
Entretanto, anteontem, Uderzo e Anne Goscinny, a filha do argumentista de Astérix, falecido em 1977, descerraram uma placa evocativa na fachada do nº 3 da Rue des Rameaux, em Bobigny, onde Astérix foi criado em 1959, em apenas duas horas (!), num apartamento do terceiro andar, onde Uderzo então habitava. Depois, na Universidade de Paris 13, o desenhador foi distinguido com o diploma de honra do estabelecimento, tal como Goscinny, este a título póstumo. Neste mesmo local foi inaugurado o evento “Drôles de Gaulois”, que durará até 30 de Novembro, que inclui jornadas científicas, exposições e cinema de animação evocando o nascimento de Astérix em Bobigny e estabelecendo um paralelo entre os gauleses da BD e aqueles a arqueologia descreve.
A outro nível, os 50 anos de Astérix originaram diversos produtos de colecção e merchandising, destacando-se, em França, um Obélix em resina pintada à mão, com 1,40 m de altura, de que o atelier especializado Leblon-Delienne fez apenas 125 exemplares, pelo preço módico de 3990 €, e uma peça do estúdio Attakus, que imortaliza as célebres zaragatas entre gauleses, com 42 cm de largura e 37 de altura, que obriga a despender 1500 € para adquirir um dos 500 exemplares fabricados. Para outras bolsas, existe a colecção de oito figuras alusivas ao novo álbum oferecida pelos ovos Kinder, também disponível em Portugal. Igualmente no nosso país, a editora ASA preparou diversos brindes publicitários, entre os quais ímanes, bases para rato, placas metálicas, agendas, cadernetas de postais e posters, oferecidos na compra da novidade ou de títulos do fundo de catálogo.


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F. Cleto e Pina

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Prendas para Astérix nos seus 50 anos

Em conferência de imprensa realizada ontem, quinta-feira, em Paris, Albert Uderzo revelou o título e a capa do novo álbum de Astérix que chegará simultaneamente às livrarias de 15 países – Portugal incluído – no próximo dia 22, uma semana antes do herói completar 50 anos de vida, já que a sua estreia se deu no número inaugural da revista “Pilote”, publicada a 29 de Outubro de 1959.
O 34º álbum das aventuras do pequeno guerreiro gaulês intitula-se “O Aniversário de Astérix e Obélix – O Livro de Ouro”, tem 56 páginas e é constituído por histórias curtas inéditas, com ligação entre si. Como fio condutor está um convite endereçado pelo chefe da aldeia, Matasétix, aos cerca de 300 personagens que ao longo dos anos se cruzaram com os gauleses, entre as quais Júlio César, Cleópatra ou o capitão dos piratas, para virem à aldeia com um presente de aniversário para Astérix e Obélix. “A minha intenção foi que todos os que apareceram nos álbuns pudessem manifestar-se neste aniversário”, explicou o desenhador, que também assina os argumentos desde 1977, data da morte de René Goscinny. O álbum, que inclui ainda um texto inédito deste último, entre outras surpresas contém algumas paródias a obras-primas da pintura e escultura, cujos originais serão expostos nos jardins do Museu de Cluny, em Paris, de 22 de Outubro a 3 de Janeiro de 2010.
A tiragem mundial do álbum ronda os três milhões e meio de exemplares, dos quais 1,1 milhões em França. A tiragem da edição portuguesa, naturalmente mais modesta, é de 60 mil exemplares, mesmo assim mais dez mil dos que os inicialmente previstos, dada a procura que o título já tem tido.


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F. Cleto e Pina

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Astérix e Turma da Mônica festejam meio século na Amadora

O 20º Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora (FIBDA), que começa no próximo dia 23, fica marcado pela comemoração dos 50 anos de Astérix e companhia, revisitados através de uma mostra de coleccionismo, uma temática cada vez mais presente nas mostras de banda desenhada, e dos 50 anos de carreira de Maurício de Sousa.
Com o núcleo central mais uma vez localizado no Fórum Luís de Camões, na Brandoa, o festival tem como tema “O Grande Vigésimo”, numa alusão ao seu próprio aniversário, cujas comemorações, face ao programa agora divulgado, ficam aquém do expectável, já que há muitas repetições e poucas novidades. A efeméride é revisitada na exposição central intitulada “Consequências e Heranças do FIBDA”, dividida em quatro núcleos: Almanaque, Contemporaneidade Portuguesa, Colecção CNBDI e 20 anos de Concursos.
No mesmo local estarão também exposições individuais dedicadas ao italiano Giorgio Fratini, autor do livro “Sonno Elefante – As Paredes têm Ouvidos”, que explora as memórias do edifício que serviu de sede à PIDE, aos Prémios Nacionais de 2008 (Rui Lacas, António Jorge Gonçalves, Emmanuel Lepage, Madalena Matoso e Isabel Minhós Martins) e aos portugueses Osvaldo Medina e José Garcês. Em termos colectivos, a Polónia e o Canadá são os países convidados este ano, marcando o manga presença através dos Ncreatures.
Como habitualmente, o festival, que decorre até 8 de Novembro, estende-se por vários espaços da cidade destacando-se a homenagem a Vasco Granja, na Galeria Municipal Artur Bual, o centenário de Adolfo Simões Muller, na Casa Roque Gameiro, e, no CNBDI, a retrospectiva/biográfica do argumentista Héctor Germán Oesterheld, uma das vítimas da ditadura argentina.
Entre os convidados já confirmados contam-se Maurício de Sousa, Cameron Stewart, Giorgio Fratini, C. B. Cebulski, argumentista e um dos principais caça-talentos da Marvel, Javier Isusi, Johan de Moor, Emmanuel Lepage e Carlos Sampayo, o argumentista de Alack Sinner.


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Astérix como nunca o vimos

Intitula-se “Astérix e os seus amigos” e é um álbum de homenagem a Albert Uderzo, criado pelos seus colegas de profissão, para comemorarem o seu 80º aniversário. A edição portuguesa acaba de chegar às livrarias.

Isto após serem ultrapassadas diversas contrariedades, que impediram a sua publicação em simultâneo com a edição original, lançada a 25 de Abril de 2007, a data precisa em que Uderzo, nascido em 1927, em Fismes, França, comemorava 80 anos.
O projecto nasceu em segredo no seio da sua editora, as Éditions Albert-René, conta a sua filha, Sylvie Uderzo, no preâmbulo do livro, com o propósito “de lhe oferecermos algo único, que lhe agradasse mas que também o surpreendesse. E que também pudesse agradar aos leitores”.
Foram assim contactados os seus colegas de profissão, desenhadores e argumentistas, podendo as respostas deles ser encontradas, sob a forma de ilustrações, dedicatórias, gags ou bandas desenhadas ao longo das mais de 70 páginas do livro, “num fogo de artificio de vinhetas Astérix” que mostram o pequeno guerreiro gaulês “como nunca o víramos antes”, sublinha Sylvie.
Isto porque, se alguns optaram por clonar o traço ímpar de Uderzo, em situações tradicionais ou completamente inovadoras (como Manara e Beltran, conhecidos pelas suas sugestivas protagonistas e pelo carácter erótico das suas obras), outros optaram por o recriar, ou aos seus conterrâneos gauleses, nos seus próprios estilos, muitas vezes proporcionado encontros inusitados com os seus próprios heróis. Por isso, Astérix volta a cruzar-se com um vicking, desta vez Thorgall, encontra o amnésico XIII, tatuado com aquele número… romano!, o chefe da aldeia sofre com as gafes de Gaston Lagaffe, Obélix apaixona-se pela bela hospedeira Natacha, cruzando-se também com o Pato Donald, Oliver Rameau, Lucky Luke, Ric Hochet, Kid Ordin ou o Marsupilami. E nem mesmo a conhecida paixão de Uderzo pelos Ferrari foi esquecida, sendo referenciada com humor por Jean Graton (evidentemente, ou não fosse ele o criador do campeão de Fórmula 1 Michel Vaillant) e Derib.
No total, são 34 autores de várias gerações, culturas, géneros, tendências e estilos, entre os quais Cauvin, Dany, Tibet, Walthéry, Van Hamme, Rosinski, Vance, Boucq, Loustal, Baru, Mourier, Arleston, Guarnido, Tarquin ou Zep, que mostram como o talento de Uderzo de alguma forma os marcou.
A edição portuguesa, que começou esta semana a chegar às livrarias, é da responsabilidade das Edições ASA, que também edita os títulos regulares das aventuras do pequeno guerreiro gaulês, e terá uma tiragem assinalável para os temos que correm: 20 000 exemplares, dos quais três mil numerados e autenticados com selo branco, como tem sido norma na primeira edição dos títulos de Astérix que a ASA está a relançar com novas traduções.
O produto da venda da edição original foi entregue pelas Éditions Albert-René à organização Défenseur des Enfants, responsável nomeadamente pela divulgação e defesa da Convenção dos Direitos da Criança, adoptada pela Organização das Nações Unidas em 1989. associando assim um dos mais bem sucedidos heróis da BD a uma causa social meritória.

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Novo álbum em 2009?

Foi a 29 de Outubro de 1959 que a primeira prancha de Astérix foi publicada, no número de estreia da revista “Pilote”, que viria a ser conhecida como “Le journal d’Astérix et d’Obélix” e ficaria como um marco incontornável na história da BD europeia.
Por isso, não surpreenderá se 2009 se transformar no ano Astérix, para comemorar o seu meio século de existência. De concreto ainda não há nada, mas circulam rumores que Uderzo está a trabalhar num novo álbum de Astérix, que seria uma grande surpresa para os fãs dos álbuns de Goscinny (e poderia até ser lançado naquele dia). Se uma possibilidade é tratar-se de uma versão modernizada do primeiro álbum da série, “Astérix o gaulês”, – um sonho antigo de Uderzo – outra hipótese é o novo título ter um argumentista diferente do desenhador…
A verdade é que foi o blog oficial de Astérix, Le Blog de Doubleclix, a levantar a lebre, anunciando, a 9 de Outubro último, que meses antes Uderzo reunira toda a sua equipa para lhes anunciar: “tenho uma ideia!”, descrevendo de seguida uma “impressionante série de invenções” que contribuirão para deixar a marca de Astérix no ano de 2009.


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F. Cleto e Pina

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Um álbum menor

Escolha óbvia em ano olímpico para base do terceiro filme de Astérix de imagem real – e também porque muitos títulos, satirizando outros povos, não são opção neste tempo em que impera um cada vez mais doentio politicamente correcto – “Astérix nos Jogos Olímpicos” até é um dos álbuns menores da era Goscinny.
Criado no também olímpico ano de 1968, acompanhando a actualidade, como era hábito dos autores, tem um argumento demasiado espartilhado pelo tema base, que embora arrancando bem, acaba por se perder num excesso de descrições que lhe retiram ritmo, não sendo feliz o esquema que conduz Astérix à palma olímpica e que origina o primeiro caso (múltiplo!) de doping dos jogos.
Isto não quer dizer que o álbum – reeditado pela ASA com nova capa e marcado pela estreia do ancião Decanonix – não contenha algumas cenas de antologia, como a discussão gastronómica sobre os cogumelos ou a involuntária interrupção do treino do campeão romano por Astérix e Obélix, capazes de arrancar sonoras gargalhadas ao leitor.

Astérix nos Jogos Olímpicos
Goscinny (argumento) e Uderzo (desenho)
Edições ASA


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F. Cleto e Pina

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30 anos sem Goscinny

Criador de Astérix foi um dos mais notáveis argumentistas de banda desenhada; Biografia e livro de crónicas assinalam a data em França; revista “Lire” consagra-lhe um número especial

Foi há 30 anos, a 5 de Novembro de 1977, que a banda desenhada – e a literatura – perderam René Goscinny, um dos seus mais notáveis escritores, vítima de um ataque cardíaco enquanto fazia um teste de esforço numa clínica… Para a posteridade – e gáudio de milhões de leitores de várias gerações, deixou personagens inolvidáveis, entre as quaisAstérix, João Pistolão e Humpá-pá (com Uderzo), Lucky Luke (Morris), Iznogoud (Tabary) ou o menino Nicolau (Sempé).
Nascido a 14 de Agosto de 1926, em Paris, para além de ser um notável humorista e um dos escritores de língua francesa mais traduzidos e lidos no mundo inteiro, Goscinny foi também percursor na defesa dos direitos dos autores de BD e um grande descobridor de talentos, nomeadamente enquanto chefe de redacção da revista “Pilote”, um dos mais importantes títulos periódicos da história da BD europeia, que contribuiu para a revolucionar e a levar a atingir também um público adulto, em cujo número inicial Astérix nasceu (a 29 de Outubro de 1959), e onde revelou autores como Bretécher, Cabu, Christin, Druillet, Fred, Meziéres, Mandryka, Reiser ou Solé. Porque Goscinny foi sempre capaz de reconhecer uma boa BD e de incentivar e lançar os seus autores, mesmo quando as temáticas ou estilos apresentados não eram os que mais lhe agradavam.
No ano em que Angoulême, França, deu, em Janeiro, o seu nome a uma das suas artérias, os 30 anos sobre a sua morte são assinalados por três publicações. A primeira, “Du Panthéon à Buenos Aires – Chroniques illustrées” (Imav Éditions), recolhe dezasseis crónicas escritas por Goscinny, os “bilhetes de humor”, como ele gostava de lhes chamar, abordando os pequenos defeitos do género humano, agora ilustradas, em jeito de homenagem, entre outros, por Gotlib, Mézières, Giraud e Tibet.
Já “Goscinny – La liberté d’en rire” (Ed. Perrin), é, segundo o seu autor, o historiador Pascal Ory, “a aventura do mais famoso argumentista cómico de toda a história da banda desenhada francófona, ao lado do mais notável patrão de toda a história das publicações para os jovens”.
Finalmente, a conceituada revista literária “Lire”, consagra-lhe um dos seus raros números especiais, intitulado “La vie secrète de Goscinny”, que inclui inéditos de Goscinny, entre os quais uma história do menino Nicolau, homenagens de escritores e desenhadores como Uderzo, Didier van Cauwelaert, Daniel Pennac, Serge Tisseron, Umberto Eco, Moebius ou Bilal, e em cujo editorial se lê: “René Goscinny é um dos génios do século XX. Digo alto e bom som: reduzir Goscinny a um autor de BD é um erro; ele foi um dos gigantes da literatura popular. Alegrem-se: o escritor continua vivo, pois o seu universo é imperecível”.

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O corsário Pistolão
Para além de Astérix e Lucky Luke, Goscinny escreveu argumentos para inúmeras personagens (ou, mais exactamente, mais de 1400, compiladas em “Le dictionnaire Goscinny” (2003), que, nas suas 1248 páginas, analisa exaustivamente as 19 séries, 150 álbuns, 387 romanos e gauleses, 654 cowboys e índios, 309 génios e princesas, 91 javalis…), entre as quais “Luc Junior” (1953) e “Humpá-pá o pele-vermelha” (1958). Ou também “Jehan Pistolet” (1952) ou João Pistolão, na versão portuguesa da ASA, que acaba de lançar o segundo tomo, “Corsário do rei”.
História bem disposta de piratas e corsários, apesar de alguma ingenuidade, revela já os seus talentos de humorista, capaz de em meia dúzia de diálogos levar os leitores a um sorriso (ou às lágrimas), utilizando humor directo, a repetição de situações, indescritíveis trocadilhos ou uma equilibrada crítica social ou de costumes. E no qual Uderzo, partindo de um estilo semi-realista e terminando mais próximo do traço que o celebrizou, demonstra já um bom domínio da planificação, do ritmo e do sentido de leitura.


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F. Cleto e Pina

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Infantil

Fundamental como (praticamente único) meio de criação de leitores habituados desde infância à leitura de banda desenhada (algo que não é tão linear quanto pode parecer….), a BD infantil tem sido descurada no nosso país, talvez porque muitos, mesmo com responsabilidades na área, acreditem que os leitores se criam só com (os excelentes) Tintin ou Astérix.
Por isso se saúda a aposta da Gailivro no sector, ainda para mais com dois autores portugueses, de traço limpo e agradável. Do veterano José Abrantes, já há 30 anos a produzir quadradinhos, é “A Tia Névoa”, nova aventura do pré-histórico Homodonte que, para além dos muitos e gigantescos perigos da época, narrados com bom humor e ritmo, tem de suportar a tirania de uma tia vegetariana, numa sátira leve aos exageros que provoca a obsessão pelo politicamente correcto nos nossos dias.
De “A Praia da Rocha Amarela”, terceira aventura de Zé Leitão e Maria Cavalinho, da autoria de Pedro Leitão, destaca-se à cabeça a forma encadeada como os heróis passam de cena para cena, como só nos sonhos (e na BD…) é possível, num animado e fantástico passeio em registo familiar.
Sendo os “belos livros” a mais pesada herança da BD franco-belga, ainda com peso significativo no nosso mercado, acredito que ambas as edições (pela redução do desenho, aperfeiçoando-o) e os leitores (no preço final) beneficiariam de um formato menor.


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F. Cleto e Pina

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O bom, velho Astérix

Astérix Legionário
Astérix na Córsega
Obélix e Companhia
René Goscinny (argumento) e Albert Uderzo (desenho)
Edições ASA
12,00€

Continuando a reedição dos álbuns de Astérix, integrada na comemoração dos seus 45 anos (em Outubro de 2004), com novas traduções, a ASA acaba de lançar meia dúzia de títulos entre os quais três dos melhores álbuns da série – “Astérix Legionário” (1967), “Astérix na Córsega” (1973) e “Obélix e Companhia” (1976) -, se tal distinção é permitida, sendo os restantes “O Domínio dos Deuses” (1971), “Os Louros de César” (1972) e “O Presente de César” (1974). A nova tradução, com defeitos e qualidades em relação à anterior, e a que se pode apontar como aspectos mais negativos o uso de expressões anacrónicas (“vira o disco e toca o mesmo”) ou de nomes associados a regionalismos… lisboetas (Transtejix), destaca-se pelo facto de todos, com excepção de Astérix, Obélix e Panoramix, terem novos nomes, aportuguesados.
Quanto à reedição em si, tem a vantagem de poder levar muitos a reencontrar o bom, velho Astérix, que tão maltratado tem sido nos álbuns que Uderzo assinou a solo, e outros a redescobri-lo em toda a sua pujança.
Isto porque basta uma leitura superficial pode fazer sorrir (pelo menos…) com as situações recorrentes – a pancada que os gauleses distribuem aos romanos, o hábito de Obélix coleccionar capacetes de legionários, a razia (anti-ecológica…!) que os gauleses provocam nos javalis, os constantes desaires dos piratas ou as desavenças entre o peixeiro Ordemalfabétix e o ferreiro Éautomatix – resolvidas sempre de forma diferente mas sempre hilariante.
Mas é uma leitura mais atenta (e também mais culta…) que permite desfrutar em pleno de uma das melhores séries humorísticas de todos os tempos e não me refiro apenas à banda desenhada. Isto porque René Goscinny, numa demonstração de um sentido de humor ímpar e de uma bagagem cultural invejável, aproveitou-a para fazer crítica social e de costumes, satirizar pessoas, regiões, países e povos, de uma forma que resiste perfeitamente ao passar dos anos, abordando aspectos como a ecologia, a imobiliária, a organização política e militar, o relacionamento inter-pessoal, a própria realidade histórica ou brincando até com as convenções da própria linguagem da BD.
Assim, “Astérix Legionário” é uma sátira brilhante e arrasadora à instituição militar, desmontando e ridicularizando os seus formalismos, burocracias, métodos de treino e tácticas de combate, quando Astérix e Obélix se alistam para libertar um amigo feito voluntário à força em tempo de guerra civil.
Já “Obélix e Companhia” é uma incursão pelo intrigante mundo dos negócios, quase um tratado de economia em menos de meia centena de páginas que exemplificam magistralmente conceitos como oferta e procura, desvalorização da moeda ou falência.
Finalmente, “Astérix na Córsega”, traça um retrato irresistível de um povo (muito) “susceptível”, incapaz de esquecer e perdoar, ciente dos seus valores e tradições e dos seus queijos de cheiro nauseabundo. E este álbum, mais do que qualquer um deste lote, destaca-se por mostrar um Uderzo em plena posse das suas (muitas e inexcedíveis) faculdades gráficas, combinando o tom caricatural da série com o tratamento semi-realista aplicado aos corsos e à pujante representação da sua ilha, e combinando o seu traço suave, vivo e dinâmico com o bom domínio da planificação, do ritmo e do sentido de leitura


Escrito Por

F. Cleto e Pina

Publicação

Jornal de Notícias

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