Categoria: Recortes

Banda desenhada: o regresso dos clássicos

Príncipe Valente, Tarzan, Peanuts, Zé do Boné e Lance estão de regresso às livrarias; Editora portuguesa lança clássicos da BD em Espanha

Príncipe Valente. Tarzan. Peanuts. Zé do Boné. Heróis dos quadradinhos que divertiram e/ou fizeram sonhar (pelo menos) todas as gerações dos que têm hoje mais de 30 anos, estão de volta às livrarias portuguesas. No espaço de poucas semanas ficaram disponíveis o sexto tomo da reedição integral do “Príncipe Valente”, de Hal Foster, o primeiro das “Pranchas Dominicais de Tarzan”, desenhadas por Russ Manning (ambos da Bonecos Rebeldes), mais dois volumes dos “Peanuts”, de Charles Schulz, abarcando o período de 1955 a 1958 (Afrontamento), e dois volumes do “Zé do Boné” (Andy Capp no original) de Reg Smythe (Fólio Edições). E em breve chegará também o “Lance”, de Warren Tufts (ver caixa).
Comum a quase todas é o extremo cuidado posto nas edições, a nível gráfico, no design cuidado e no seu complemento com textos introdutórios ou notas explicativas. E merece referência extra salientar que, nos casos das obras de Foster e Tufts, todo o trabalho editorial foi feito em Portugal e com tal qualidade que, inclusive, originaram uma edição em espanhol.
Este verdadeiro “regresso ao passado”, não é exclusivo português. Nos Estados Unidos, recuperam-se clássicos da 9ª arte, como os “Peanuts” (na edição que a Afrontamento está a seguir), “Popeye”, “Dennis the menace”, “Pogo”, “Prince Valiant” (numa edição inferior à portuguesa…), Krazy Kat” ou “Little Orphan Annie” (todas em curso no catálogo da Fantagraphics Books), “Mutt and Jeff” ou “Terry and the Pirates” (NBM).
Mas porquê este regresso aos clássicos? Aparentemente, há sempre razões afectivas associadas. Manuel Caldas, da Livros de Papel, afirma: “eu edito clássicos de que gosto, se o puder fazer com a qualidade que nenhum editor antes lhes dispensou”. Andrea Peniche, coordenadora editorial da Afrontamento, reforça a ideia: “a opção de edição dos “Peanuts” é, essencialmente, afectiva, pela memória das tiras publicadas no “Diário de Lisboa”, que eram recortadas e guardadas diariamente”. E bem próxima está a justificação de Francisco Linhares, da Fólio Edições: “O Primeiro de Janeiro, que pertence ao mesmo grupo da Fólio, publica há cerca de 50 anos o Zé do Boné, tendo os leitores criado laços afectivos muito fortes com ele”.
E os clássicos têm uma vantagem: chegam a leitores que habitualmente não lêem BD, mas que a leram em tempos idos. Apesar disso, Caldas diz que “não há mais público para os clássicos, mas HÁ público se a edição for mesmo de qualidade”, o que é corroborado pela experiência da Afrontamento, cujos “leitores, que já conheciam a edição americana, ficaram satisfeitos com a qualidade e cuidado da portuguesa”.
Edição que, quando não segue outra já existente, “fica mais cara do que publicar obras recentes, pois as agências ou não têm o material ou não o têm pronto para se publicar com a devida qualidade”, diz Caldas, que passou mais de 20 horas em cada prancha do Príncipe Valente, para restaurar o traço original a preto e branco de Hal Foster. Com tal qualidade, que “os muitos compradores espanhóis da edição portuguesa me entusiasmaram e eu lancei-me para Espanha”, onde uma ordem restritiva só lhe “permite vender por correspondência, o que não dá para grandes voos, apesar de não inviabilizar a continuidade da colecção”. Por isso, em 2008 “saírão mais três volumes em espanhol – e, quem sabe, noutra língua…”.
Quanto aos leitores, podem ficar descansados. Correndo tudo bem, os clássicos continuarão a chegar às livrarias durante 2008. E se a Afrontamento assume ficar-se “pelos “Peanuts”, um “projecto que nos ocupará nos próximos 10 anos” e a Fólio, não prevê outras edições “já que o material existente para o Zé do Boné é imenso, incluindo as pranchas dominicais coloridas”, Manuel Caldas admite “ter mais edições previstas”, mas acha cedo para “divulgar quais”.

(Caixa)
Lance
Na segunda semana de Dezembro ou só em Janeiro, chega às livrarias mais um clássico dos quadradinhos norte-americanos (já disponível por correio em mcaldas59@sapo.pt). É o primeiro dos quatro tomos daredição integral das pranchas dominicais de “Lance”, o western assinado por Warren Tufts (1925-1982) entre 1955 e 1960, o “Flecha” do “Cavaleiro Andante”, também publicado nos anos 70 e 80, no “Mundo de Aventuras Especial”.
Ambientado nos primeiros anos da expansão americana, “Lance” reflecte o eterno confronto bem/mal, com brancos e índios divididos pelos dois campos, com um fundo moralista e romântico, assente em personagens complexas e verdadeiramente humanas.
A edição, de grande formato (23,3 x 33 cm), que recupera as cores originais, tem o selo “Livros de Papel”, e por detrás dela está o trabalho laboriosos de Manuel Caldas, que conta “publicar apenas o segundo volume em 2008, e os dois finais em 2009”, pois passa “umas 14 horas (sem exagero), no restauro de cada prancha”, o que é necessário por não existirem “provas originais”, tendo que trabalhar a partir de “páginas de jornais da época, obtidas no Ebay”.


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F. Cleto e Pina

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Prémio Nacional del Comic para Max

Galardão instituído pelo Ministério da Cultura espanhol atribuído pela primeira vez; Autor catalão foi visita assídua do Salão de BD do Porto e esteve este ano no Festival de Beja

O desenhador catalão Francesc Capdevila, conhecido como Max, foi o vencedor do Prémio Nacional del Comic (dotado de 15 000 euros), instituído pelo Ministério da Cultura espanhol, com o objectivo de conseguir um maior reconhecimento para a banda desenhada. Atribuído este ano pela primeira vez, a uma obra publicada em 2006, numa das línguas oficiais de Espanha, distinguiu “Hechos, dichos, ocurrências y andanzas de Bardin el Superrealista”, colectânea de histórias publicadas desde 1997, em revistas e jornais. O comunicado do Ministério da Cultura justifica a escolha por se tratar de uma obra “graficamente deslumbrante, com um guião original e repleto de referências literárias, filosóficas e cinematográficas (…) que marca um antes e um depois na banda desenhada espanhola”.
Personagem de cabeça desproporcionada, sinónimo talvez dos muitos sonhos que o animam e o levam por mundos oníricos e surrealistas, Bardin, que segundo o autor disse à agência EFE, “fala da realidade de forma não realista, pois trata de temas que nos afectam a todos, transportados para ambientes inverosímeis e fantásticos”, está longe de ser uma obra fácil ou comercial, a que levou os blogues especializados a aplaudirem especialmente a sua atribuição a Max. Este, afirmou também esperar que este prémio “leve a BD a ser equiparada a outras actividades artísticas e a ter o impulso social e mediático de que necessita”.
Max, que cria BD desde 1973, quase sempre em publicações independentes (algumas auto-editadas) e marginais, teve já exposições nos salões de BD do Porto, Amadora, Lisboa e Beja (este ano). Apesar disso, a sua obra, onde se incluem as aventuras de “Peter Pank”, uma referência dos anos 80, é quase inédita em português, sendo excepção algumas histórias de Bardin, publicadas na revista Quadrado, da Bedeteca de Lisboa.


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Musicalidade

E se o autor da terceira melodia mais tocada de sempre não tivesse escrito uma única nota dela, antes a tivesse “roubado” de ouvido ao seu alcoolizado compositor?
É esta confissão, motivada pelos remorsos, do autor de “Happy Living”, tema fictício que dá título a mais uma edição da interessante colecção “Mirages” (Delcourt), que vai arrastar François Merlot, um jornalista francês que prepara o primeiro livro, sonhando com fama e sucesso, numa longa investigação pelos EUA, de Nova Iorque à Costa Oeste. Investigação que o vai levar a diversas descobertas – algumas bem surpreendentes – que ilustram o âmago do ser humano e as reais motivações por detrás de atitudes banais ou altruístas, espontâneas ou calculadas, e a questionar-se a si próprio e às suas opções de vida.
Este elegante romance gráfico, criado por Jean-Claude Gotting, é também um pequeno passeio pelo jazz de meados do século passado, traçado a negro, num estilo agreste, semi-realista, marcado pelo estatismo das personagens – fruto da dedicação do autor à pintura e à ilustração antes deste (conseguido) retorno à BD? – que faz com que cada vinheta se assemelhe a uma foto envelhecida…
O que não significa que falte ritmo à obra, sendo ele transmitido pelo texto, marcante, bem trabalhado, credível, envolvente – quase musical – e pela utilização sucessiva de diferentes planos na ilustração das muitas conversas que a pontuam.


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Mutt e Jeff nasceram há 100 anos

Criados por Bud Fisher, institucionalizaram o conceito de tira diária de imprensa e foram as primeiras a ser adaptadas para desenho animado

Foi a 10 de Novembro de 1907 que Augustus Mutt, apareceu pela primeira vez, numa ilustração nas páginas de hipismo do “San Francisco Chronicle”. Era uma criação de Bud (Harry Conway) Fisher, desenhador desportivo, que, cinco dias mais tarde, publicaria a sua primeira tira -“Mr. A. Mutt – Starts in to Play the Races” – ainda nas páginas desportivas do mesmo jornal. Três semanas mais tarde, o desenhador mudava-se para o rival “San Francisc Examiner”, pertencente ao magnata Rudoplh Hearst, levando consigo a sua criação, o que não impediu o “Chronicle” de a manter, animada por Russ Westover, durante cerca de um ano.
No “Examiner”, Mutt continuaria sozinho – salvo aparições esporádicas da mulher e do filho, Cícero – inventando os mais inusitados esquemas para arranjar dinheiro para as suas apostas nas corridas de cavalos, até 27 de Março de 1908, quando encontrou Jeff, que se tornou presença recorrente e, mais tarde, seu companheiro inseparável em mil e um estratagemas, o que deu um novo rumo à série, que com ele ganhou uma dimensão humana, e se tornou a primeira tira diária cómica de sucesso.
Não porque Bud Fisher tenha sido o primeiro a publicar uma tira diária com regularidade – esse mérito coube a Charles Briggs, dois anos antes, com “A. Piker Clerk”, no “Chicago American” -, mas “Mutt and Jeff” – título adoptado apenas em 1915 – manteve-se no tempo, com utilização de uma galeria de personagens fixa, institucionalizando o sistema de publicação semanal de segunda a sábado (ou domingo), a preto e branco, das famosas “daily strips”, as “tiras diárias”, em oposição às pranchas dominicais coloridas que então imperavam. E mais, segundo o especialista norte-americano Robert C. Harvey, em “Mutt and Jeff” foram “utilizados elementos – tais como a narração continuada de um dia para outro e a sátira política – só muito mais tarde associados às tiras de imprensa”.
Este sucesso aconteceu, pode-se dizer, apesar do traço de Fisher, que não era especialmente trabalhado ou atraente, podendo as personagens surgirem desproporcionadas, com seis ou sete dedos por mão (!) porque, como afirmou, “eu tinha uma ideia e a única coisa que queria era expressá-la. Pouco me interessava se o braço do homem era mais longo que o seu corpo ou se usava um chapéu de palha em pleno Inverno”, numa atitude percursora do desenho estilizado ou pouco cuidado que muitos autores utilizaram posteriormente neste género de banda desenhada.
“Mutt and Jeff” seria também a primeira tira de imprensa a ser recolhida em livro, logo em 1911, originando os “comic books” (livros ou revistas de BD), e a ser adaptada em (muitas dezenas de) desenhos animados (mudos), em 1921.
O facto de Fisher – numa atitude até então sem precedentes – a ter registado em seu nome logo na origem, fez dele rapidamente um milionário pois, dizia-se, ganhava 150.000 dólares anuais, em 1916, que subiram para 250.000, cinco anos mais tarde, com os proventos dos desenhos animados e dos produtos derivados. Isto fez com que o autor, nascido em Chicago a 3 de Abril de 1885 e sem formação artística, trocasse progressivamente o estirador pelos prazeres mundanos, confiando “Mutt and Jeff” a um dos seus assistentes, Ed Mack, criando o mito de que os cartoonistas são ricos que vivem à sombra da glória enquanto assistentes semi-escravizados fazem o seu trabalho.
Fisher morreria sozinho e esquecido, a 7 de Setembro de 1954, já depois de ter confiado a tira a Al Smith, em 1932, que, amenizou as temáticas, reduziu os textos e dotou-a de um traço arredondado, mais simpático e atractivo. Smith autonomizou a gata do filho de Mutt, em “Cicero’s cat”, uma série humorística muda, e continuou a série original até 1980, dois anos antes do seu término, apesar de só a ter assinado a partir de 1954.
O trabalho de Smith foi publicado em Portugal, (pelo menos) na segunda metade dos anos 50, no “Mundo de Aventuras”, “Condor” e “Colecção Audácia”, tendo “Mutt and Jeff” sido rebaptizado como “Os dois inseparáveis”, “Belarmino e Elias” ou ainda “Benedito e Eneias”.

[Caixa]
Os heróis
Primeira parelha célebre da BD, Mutt e Jeff, exímios representantes do povo, podem ser considerados antecessores e fonte de inspiração de muitos duos opostos – o alto e o baixo, o gordo e o magro, etc. – que a 9ª arte (e não só) conheceu. Nos Estados Unidos, o termo “mutt and jeff” designa mesmo esse tipo de contrastes.
Mutt (diminutivo de “mutton head” = idiota), o pouco recomendável protagonista original da série, é alto e magro, frequenta com assiduidade os hipódromos, é um apostador inveterado e um autêntico fala-barato.
Jeff, em oposição, é baixo e gordo e foi inicialmente apresentado como um fugitivo do hospício em que estava internado, facto sobejamente justificado pelos seus estranhos comportamentos e reacções, entre a perfeita inocência e a mais gritante ignorância.
Ambos assumem facilmente qualquer actividade, de polícia a empregado de mesa, de apostador a (várias vezes) candidato à presidência, de acordo com as necessidades das histórias a contar.


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Paul Norris: morreu um clássico

Criou Aquaman e foi desenhador de Brick Bradford, Flash Gordon, Jungle Jim e Agente Secreto X-9

Paul Norris morreu ontem, aos 93 anos, em Nova Iorque. Para a posteridade, lega décadas de trabalho com que alimentou o imaginário juvenil de muitos leitores, já que periódicos (como o Jornal de Notícias) e revistas portugueses (com destaque para o “Mundo de Aventuras”) publicaram profusamente nas décadas de 50, 60 e 70 do século passado, as tiras dos heróis clássicos que desenhou.
Nascido em Greenville, no Ohio, a 26 de Abril de 1914, Norris estudou jornalismo, dicção e arte no Midland College Of Fremon, trabalhando depois como ilustrador. A mudança para Nova Iorque coincidiu com a entrada no mundo dos comics, sendo o seu primeiro trabalho de relevo, a criação gráfica de Aquaman, um ser submarino, oriundo da mítica Atlântida e um dos fundadores da Liga da Justiça da América, na revista “More Fun Comics”, da DC Comics, em 1941, a partir de argumentos de Mort W.eisinger.
Em 1942 teve a sua primeira experiência numa tira diária, Vic Jordan, para o New York Daily, entrando no ano seguinte para o King Features Syndicate, o maior distribuidor deste tipo de banda desenhada, onde se distinguiu pelo seu traço realista, fino e detalhado, bastante agradável e eficiente, tendo assegurado, durante alguns períodos, o desenho das aventuras de Flash Gordon e Jungle Jim, duas criações de Alex Raymond, e do Agente Secreto X-9.
A partir de 1952, assumiu o argumento e o desenho da página dominical de Brick Bradford (entre nós por vezes “aportuguesado” para Brigue Forte), uma série de ficção-científica criada em 1933 por William Ritt (argumento) e Clarence Gray (desenhos), famosa pelo célebre pião do tempo que o herói utiliza para se deslocar no tempo e no espaço, que assegurou durante mais de três décadas, tendo no currículo ainda passagens por Tarzan e Magnus, the Robot Fighter, nos anos 70.


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Mônica escolhida pela UNICEF como a sua nova embaixadora no Brasil

Estúdios de Maurício de Sousa em negociações com a Marvel para criarem aventuras brasileiras do Homem-Aranha

O Fundo das Nações Unidas para a Infância anunciou a escolha da Mônica como sua nova embaixadora no Brasil. O título, concedido há dias, vem reforçar a importância das criações de Maurício de Sousa e justificar a forma como ele as tem usada nas mais diversas campanhas (alfabetização, vacinação, etc.) em prol da sociedade e dos mais necessitados.
Criada em 1963, depois de Franjinha, Bidu, Cebolinha ou Cascão, Mónica em breve se tornou a personagem central da Turma a que acabou por dar o nome, sendo facilmente reconhecível pelo seu vestido vermelho curto, pelos dentes grandes e por andar sempre acompanhada pelo seu coelho azul de peluche, que lhe serve de arma de arremesso quando os outros meninos da Turma a aborrecem.
Entretanto, mostrando um invulgar dinamismo, entre outros projectos, como uma versão em estilo manga (BD japonesa) da Turma ou a sua transposição para mais desenhos animados, Maurício de Sousa acaba de anunciar que está em negociações com a Marvel Comics para criar uma versão brasileira das aventuras do Homem-Aranha. Segundo o autor, a ideia é recuperar o espírito original do herói, mas “com o nosso estilo, traço, cuidado, jeito e grafismo. Não uma história infantil” como a Mônica, mas algo que combine a dinâmica daquele super-herói com a alegria das suas criações, direccionada para um segmento juvenil. E com as aventuras, “logicamente, se passando no Brasil”.
A concretizar-se este projecto, será a terceira versão não-americana do famoso aracnídeo, depois das produzidas no Japão e na Índia, com o intuito de conquistar novos leitores, ao aproximar o conceito original da realidade local bem específica de cada um daqueles países. Neste último, por exemplo, o protagonista é um jovem indiano chamado Pavitr Prabhakar, que sobrevoa ruas congestionadas com carrinhos puxados por homens e lambretas ou trepa a monumentos como o Taj Mahal, tendo como maior inimigo, nesta versão, não o Duende Verde, mas sim Rakshasa, um demónio indiano mitológico.


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30 anos sem Goscinny

Criador de Astérix foi um dos mais notáveis argumentistas de banda desenhada; Biografia e livro de crónicas assinalam a data em França; revista “Lire” consagra-lhe um número especial

Foi há 30 anos, a 5 de Novembro de 1977, que a banda desenhada – e a literatura – perderam René Goscinny, um dos seus mais notáveis escritores, vítima de um ataque cardíaco enquanto fazia um teste de esforço numa clínica… Para a posteridade – e gáudio de milhões de leitores de várias gerações, deixou personagens inolvidáveis, entre as quaisAstérix, João Pistolão e Humpá-pá (com Uderzo), Lucky Luke (Morris), Iznogoud (Tabary) ou o menino Nicolau (Sempé).
Nascido a 14 de Agosto de 1926, em Paris, para além de ser um notável humorista e um dos escritores de língua francesa mais traduzidos e lidos no mundo inteiro, Goscinny foi também percursor na defesa dos direitos dos autores de BD e um grande descobridor de talentos, nomeadamente enquanto chefe de redacção da revista “Pilote”, um dos mais importantes títulos periódicos da história da BD europeia, que contribuiu para a revolucionar e a levar a atingir também um público adulto, em cujo número inicial Astérix nasceu (a 29 de Outubro de 1959), e onde revelou autores como Bretécher, Cabu, Christin, Druillet, Fred, Meziéres, Mandryka, Reiser ou Solé. Porque Goscinny foi sempre capaz de reconhecer uma boa BD e de incentivar e lançar os seus autores, mesmo quando as temáticas ou estilos apresentados não eram os que mais lhe agradavam.
No ano em que Angoulême, França, deu, em Janeiro, o seu nome a uma das suas artérias, os 30 anos sobre a sua morte são assinalados por três publicações. A primeira, “Du Panthéon à Buenos Aires – Chroniques illustrées” (Imav Éditions), recolhe dezasseis crónicas escritas por Goscinny, os “bilhetes de humor”, como ele gostava de lhes chamar, abordando os pequenos defeitos do género humano, agora ilustradas, em jeito de homenagem, entre outros, por Gotlib, Mézières, Giraud e Tibet.
Já “Goscinny – La liberté d’en rire” (Ed. Perrin), é, segundo o seu autor, o historiador Pascal Ory, “a aventura do mais famoso argumentista cómico de toda a história da banda desenhada francófona, ao lado do mais notável patrão de toda a história das publicações para os jovens”.
Finalmente, a conceituada revista literária “Lire”, consagra-lhe um dos seus raros números especiais, intitulado “La vie secrète de Goscinny”, que inclui inéditos de Goscinny, entre os quais uma história do menino Nicolau, homenagens de escritores e desenhadores como Uderzo, Didier van Cauwelaert, Daniel Pennac, Serge Tisseron, Umberto Eco, Moebius ou Bilal, e em cujo editorial se lê: “René Goscinny é um dos génios do século XX. Digo alto e bom som: reduzir Goscinny a um autor de BD é um erro; ele foi um dos gigantes da literatura popular. Alegrem-se: o escritor continua vivo, pois o seu universo é imperecível”.

[Caixa]
O corsário Pistolão
Para além de Astérix e Lucky Luke, Goscinny escreveu argumentos para inúmeras personagens (ou, mais exactamente, mais de 1400, compiladas em “Le dictionnaire Goscinny” (2003), que, nas suas 1248 páginas, analisa exaustivamente as 19 séries, 150 álbuns, 387 romanos e gauleses, 654 cowboys e índios, 309 génios e princesas, 91 javalis…), entre as quais “Luc Junior” (1953) e “Humpá-pá o pele-vermelha” (1958). Ou também “Jehan Pistolet” (1952) ou João Pistolão, na versão portuguesa da ASA, que acaba de lançar o segundo tomo, “Corsário do rei”.
História bem disposta de piratas e corsários, apesar de alguma ingenuidade, revela já os seus talentos de humorista, capaz de em meia dúzia de diálogos levar os leitores a um sorriso (ou às lágrimas), utilizando humor directo, a repetição de situações, indescritíveis trocadilhos ou uma equilibrada crítica social ou de costumes. E no qual Uderzo, partindo de um estilo semi-realista e terminando mais próximo do traço que o celebrizou, demonstra já um bom domínio da planificação, do ritmo e do sentido de leitura.


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Festival de BD da Amadora volta à Brandoa em 2008

Lewis Trondheim, fundador de L’Association é a grande figura do fim-de-semana; Festival da Amadora termina domingo; Mais lançamentos portugueses hoje

Termina domingo, dia 4, o 18º Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora, cujo tema central é “Maioridade”, já “atingida pelo festival em termos de idade”, nas palavras de Nélson Dona, o seu responsável, mas entendida pelos organizadores “como o questionar constante do nosso papel, do que fazemos e de como podemos dar resposta ao mundo editorial e ao público leitor, sempre em mudança”. Maioridade demonstrada pela “afirmação do festival como uma referência cultural a nível nacional” e pela sua “presença ino calendário internacional”, mas questionada por alguns pela pouca atenção dedicada aos comics (BD americana) e aos manga (BD japonesa), opção justificada por Nélson Dona, “pela pouca expressão editorial que esses géneros têm em Portugal”. No entanto, reconhece que ” são nichos de mercado muito importantes, preferidos pelo público mais jovem, por isso é nossa intenção inclui-los em programações futuras, sempre que a sua temática ou qualidade artística o justifiquem”. E confidencia que “está em estudo, em cooperação com o Festival de Angoulême (França) uma exposição sobre BD chinesa”, que, no entanto, não “deverá ser já para 2008”.
Aliás, certos no programa do próximo ano, “se aceitarem os convites, apenas os premiados deste ano: Luís Henriques e Jean-C. Denis”, decorrendo contactos com “autores importantes nos seus países, mas pouco conhecidos entre nós por estarem fora dos circuitos comerciais europeu e norte-americano”.
Para os últimos dias, que contarão com a presença de Lewis Trondheim, fundador da editora L’Association, que mudou a forma de ver e editar BD em França, Zidrou, Sapin e de membros do colectivo Les Requins Marteaux, Nélson Dona destaca, “em primeiro lugar, a exposição monográfica de Alain Corbel e “Salazar, Agora na Hora da sua Morte”, de Miguel Rocha e João Paulo Cotrim, dois autores portugueses determinantes e com um trabalho extraordinário; em segundo lugar, o trabalho de renovação e de ocupação do espaço do Fórum Luís de Camões”, na Brandoa, onde o núcleo central do evento tem lugar pelo segundo ano consecutivo, realçando “o destaque dado ao livro, quer pela criação de zonas de leitura, quer pelo melhoramento da zona comercial, mais confortável para expositores e visitantes”. A melhor ocupação do espaço tem sido consensual entre os visitantes, sendo assim boa notícia a confirmação que o FIBDA de 2008 também lá terá lugar, como já “anunciou o Presidente da Câmara na abertura do festival”.

[Caixa]
Lançamentos em português
1 de Novembro
“Evereste” (ASA); de Ricardo Cabral
“Bang Bang” (PedranoCharco), de Hugo Teixeira
“Formas de Pensar a BD – Entrevistas do BDesenhada.com” (PedranoCharco), de Nuno Pereira de Sousa
3 de Novembro
“ABZ do Sexo” (Arte Plural Edições), António Pedro Nobre e Manuel Sousa Fernandes


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“Tratado de Umbrografia” multipremiado na Amadora

José Carlos Fernandes e Luís Henriques distinguidos pela crítica e pelo público

“Tratado de Umbrografia”, primeiro volume das “Black Box Stories”, editado pela Devir, foi o grande vencedor dos Prémios Nacionais de Banda Desenhada, anunciados ontem durante o Festival Internacional de BD da Amadora, que está a decorrer no Fórum Luís de Camões, na Brandoa, até 4 de Novembro. Para além de ter sido considerado o Melhor Álbum Português editado entre a anterior edição do Festival e a actual, viu os seus autores, José Carlos Fernandes e Luís Henrique, distinguidos, respectivamente, como Melhor Argumentista e Melhor Desenhador. O álbum foi ainda premiado com o Prémio Juventude, atribuído pelo público. “Tratado de Umbrografia” é uma colectânea de histórias curtas, nas quais Fernandes, com a ironia que o caracteriza, explana alguns dos seus temas recorrentes como os sonhos, o mundo da arte moderna, a sociedade de consumo ou a massificação, que Luís Henrique ilustra, adequando a cada uma o traço, a paleta cromática e a planificação.
Instituído este ano, o troféu para o Melhor Álbum de Autor Português em Língua Estrangeira, coube a “Merci Patron” (Éditions Paquet”, de Rui Lacas, há dias lançado no FIBDA, em português, pela ASA, sob o título de “Obrigada, patrão”. Da mesma editora é “Alguns meses em Amélie”, de Jean-C. Denis, escolhido como o Melhor Álbum Estrangeiro editado em português, enquanto que o troféu Clássicos da 9ª Arte foi atribuído a “A Trágica Comédia ou Cómica Tragédia de Mr. Punch” (Vitamina BD), de Neil Gaiman e Dave McKean.
Nuno Markl conquistou o Troféu para Melhor Álbum de Tiras Humorísticas com “Há vida em Markl – Opus 2” (Gradiva) e Carla Pott o prémio para Melhor Ilustração para Literatura Infantil, por “O bicharoco que era oco” (Pena Azul). “Venham +5”, da Bedeteca de Beja o de Melhor Fanzine e o Troféu de Honra foi entregue ao autor brasileiro Ziraldo, um dos convidados do festival deste ano, onde hoje ainda está Milo Manara, o mestre da banda desenhada erótica.


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Fartura

“Não há fome que não dê fartura”, diz a sabedoria popular – tão sábia que muitas vezes tem um dito oposto, para ter sempre razão. No caso, aquele aplica-se às revistas Bonelli, que chegam a Portugal, via Brasil, nas edições da Mythos que, depois de alguns meses limitadas aos títulos de Tex, vêem este mês a oferta aumentada com o regresso de “Mágico Vento” e “J. Kendall, aventuras de uma criminóloga” (e em breve “Zagor”), graças à mudança de distribuidora. Neste último, Júlia, a criminóloga de Garden City, criada por Berardi à imagem de Audrey Hepburn, a braços com um potencial assassino que procura a sua atenção, continua incapaz de estabelecer relações a nível pessoal, numa história rica e bem estruturada, de ritmo propositadamente lento, que cruza o mistério da situação policial com as questões quotidianas dos protagonistas. Já Mágico Vento, o feiticeiro branco dos Sioux, desenvolvido por Manfredi, atravessa uma das suas fases mais interessantes, combinando o ritmo arrebatador do western com o misticismo das crenças indígenas e o realismo histórico com um toque de fantástico.
E como a anterior distribuidora se atrasou – ainda vai fazer mais um lançamento, para não haver falhas na continuidade – e a nova se adiantou, há neste momento oito títulos Bonelli nas bancas, entre os quais os “Tex” #422 e #424 e o “Tex Gigante” #17, em que se destaca o soberbo preto e branco de José Ortiz.


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