Categoria: Recortes

Nicholas Cage estreia-se na BD

História escrita com o filho lançada este mês nos EUA; John Woo e Guy Ritchie também envolvidos no projecto da Virgin Comics

Se o grande número de filmes inspirados na banda desenhada que nos anos mais recentes têm chegado aos cinemas, representam apenas um pico de uma relação já com muitos anos, e se já vêm de há muito as adaptações, transposições e desenvolvimentos dos grandes êxitos do cinema (e da televisão…) para os quadradinhos, a novidade mais recente desta relação entre 7ª e 9ª artes, é o facto de nomes grandes do cinema terem sido convidados a escreverem banda desenhada pela Virgin Comics, uma editora baseada na Índia, onde foi criada pelo escritor Deepak Chopra, o cineasta Shekhar Kapur e o empresário Richard Branson (o milionário fundador da Virgin Records).

Esta colecção, intitulada “Directors Cut”, ganha agora nova projecção mediática com a chegada este mês às lojas de comics norte-americanas do primeiro dos seis números previstos de “Voodoo Child”, uma mini-série aos quadradinhos escrita por Nicholas Cage e pelo seu filho Weston Cage, de 16 anos. A acção desta BD de terror decorre no Louisiana, após a passagem do furacão Katrina, onde um detective investiga o desaparecimento de diversas crianças. O título da obra refere-se a Gabriel Moore, um menino escravo morto durante a guerra de Secessão, entretanto ressuscitado por um feiticeiro vudu. Pai e filho tiveram a colaboração de Mark Carey (argumentista dos X-Men) no desenvolvimento do guião, estando o desenho entregue ao indiano Dean Ruben Hyrapiet, comprovando a aposta da Virgin Comics no mercado asiático, para não entrar em confronto directo com as grandes editoras norte-americanas Marvel e DC Comics.

Nicholas Cage, assumidamente fã de comics – o seu verdadeiro apelido é Coppola, mas, quando começou a trabalhar em cinema, mudou de apelido em homenagem ao herói da Marvel Luke Cage – tem sido várias vezes tema de notícias relacionadas com quadradinhos, seja pela venda da sua colecção de revistas de BD (avaliadas em mais de 2 milhões de dólares), em 2002, seja pelas diversas tentativas que fez de protagonizar um dos muitos filmes de super-heróis estreados nos últimos anos, o que acabou por acontecer no recente “Motoqueiro Fantasma”.

A colecção “Directors Cut” publicou já dois volumes de “Snake Woman”, uma super-heroína imaginada pelo realizador indiano Shekhar Kapur, desenvolvida em parceria com Zeb Wells e Michael Gaydos, e “Game Keeper”, do realizador Guy Ritchie, escrita por Andy Giggle e desenhada por Mukkesh Singh. Na calha estão “7 Brothers”, do também realizador John Woo, feita em parceria com Garth Ennis, e “Walk in”, de Dave Stewart, músico fundador dos Eurythmics.


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F. Cleto e Pina

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Da tumultuosa imobilidade dos adolescentes

Zits #12 – Autoimóvel
Jerry Scott (argumento) e Jim Borgman (desenhos)
Gradiva
13,00 €

Subgénero dentro do universo da banda desenhada, sem grande expressão entre nós (são escassos e inconsequentes os exemplos), as tiras diárias de imprensa são um mercado frutífero nos EUA, graças aos muitos jornais em circulação, e estão profundamente arraigadas nos hábitos dos leitores de periódicos norte-americanos. Só assim se compreende que as que têm mais sucesso – “Peanuts”, “Garfield”, “Calvin & Hobbes”, etc. – possam ser publicadas simultaneamente em centenas ou milhares de jornais, exportação incluída. Como é o caso de “Zits”, que surge diariamente nas páginas do Jornal de Notícias e de mais de 1500 outros jornais!

“Zits” (literalmente “borbulhas”, as borbulhas de acne que infernizam a vida aos adolescentes) narra o quotidiano de Jeremy Duncan, de 15 anos, mostrando um conhecimento profundo e ao mesmo tempo divertidamente crítico sobre o “duro” dia a dia da adolescência, pejado de problemas transcendentes como o levantar cedo, os primeiros pêlos, as namoradas, a roupa, as aulas, as bandas de garagem, o controlo dos pais aos amigos e horários, como primeiros sintomas do inevitável confronto geracional, porque (aos seus olhos) a mãe insiste em tratá-lo como uma criança e o pai ficou irremediavelmente preso no tempo, há 30 ou 40 anos atrás… Aliás, “Zits” satiriza a tal ponto as diferenças entre duas gerações consecutivas que, mais do que um choque pode falar-se de um completo desencontro de gerações, como reflexo da forma acelerada como o tempo passa hoje em dia.

E se o primeiro objectivo destas tiras, às quais muitos leitores do JN possivelmente lançarão apenas um rápido olhar (ou nem isso…), é divertir de forma ligeira (no politicamente correcto mercado norte-americano, temas fracturantes raramente são focados), a verdade é que “Zits” pode bem ser considerado um retrato sociológico poderoso e incisivo de uma faixa etária importante nesta sociedade globalizada – os problemas de Jeremy nos EUA, são os mesmos dos adolescentes portugueses, brasileiros ou dinamarqueses (e a globalização contribui cada vez mais para o sucesso das tiras de imprensa) – que não consegue resolver os seus conflitos mais básicos, aqueles que nascem na estrutura familiar.

Se a escrita de Jerry Scott é fluida  e directa, atingindo mesmo o brilhantismo em alguns diálogos de antologia, a verdade é que um dos grandes trunfos de “Zits” é o traço de Jim Borgman, extremamente rico e diversificado para o género – lembremo-nos que os autores deste género de BD estão obrigados a um ritmo produtivo intenso (a publicação é diária, sem interrupções), pelo que não surpreende que a maioria das tiras de imprensa assente num traço simples, muitas vezes só esquemático. Em “Zits”, no entanto, destacam-se a grande expressividade dos rostos e corpos e a forma como Borgman hiperboliza graficamente as experiências sensitivas e emocionais dos protagonistas, por exemplo, tornando a mãe invisível ou colando-a (literalmente) no tecto, mostrando expressões incompreensíveis a jorrarem dos ouvidos de Jeremy, aumentando exageradamente os seus pés, pernas, braços, boca ou cabeça, etc. Isto é especialmente notório nas pranchas dominicais (que infelizmente o JN não publica…) onde Borgman joga magnificamente com o maior espaço disponível, podendo multiplicar as vinhetas e deixando o desfecho explodir com mais força no quadro final ou, pelo contrário, usar uma imagem única, rica em pormenores, referências ou citações.


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F. Cleto e Pina

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7

7 x 7 x 7. Esse é o conceito base desta colecção da Delcourt. 7 duplas de autores, contam 7 histórias, cada uma com 7 protagonistas. Que serão ladrões num ambiente de espada e fantasia, piratas, guerreiros do século VI, missionários (culpados dos… 7 pecados capitais), prisioneiros do futuro ou yakuzas. Ou os “Sept Psychopates” do álbum de estreia (os restante sairão até final de 2008), enviados em 1941, por um coronel britânico, em desespero de causa face ao desenrolar da II Guerra Mundial, para assassinar Hitler.

7 psicopatas, “loucos furiosos”, como são apelidados no subtítulo do álbum, ideais porque totalmente imprevisíveis, logo cujas acções seriam impossíveis de antecipar pelos nazis, retirados dos asilos em que estavam internados e lançados de pára-quedas sobre a Alemanha, para cumprirem a missão que poderia mudar o desfecho da guerra.

E se o traço sombrio de Sean Philips, algo rígido e preso de movimentos, mais à vontade no tratamento de cenários e veículos do que da figura humana, mesmo assim não deixa de ser eficaz, é o argumento de Fabien Vehlmann que faz a diferença. Ágil, credível, bem construído, foge à vulgaridade, e, embora se interesse mais pelos loucos – cada um dava uma boa história – do que pelo seu propósito, não o esquece, conseguindo um desfecho imprevisível, com um toque de humor negro, mas sem beliscar a “realidade histórica”.


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F. Cleto e Pina

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Banda desenhada de regresso às bancas

Edições brasileiras da Turma da Mónica, Batman, Homem-Aranha e X-Men animam segmento moribundo; Haverá também edições feitas especialmente para Portugal

Nascida nos jornais – em 1896, com “The Yellow Kid”, de Richard F. Outcault, decidiram especialistas em Luccana, com óbvias intenções mediáticas proporcionadas pelo então próximo centenário – a banda desenhada fez nas revistas grande parte do seu percurso e foi nelas que nasceram, por exemplo, Super-Homem, Batman, Homem-Aranha ou X- Men e também Spirou, Astérix ou Blueberry.

Em Portugal, este segmento de mercado, que ao longo de décadas contou títulos como “O Papagaio”, “O Mosquito”, “Cavaleiro Andante” ou “Mundo de Aventuras”, acompanhando o que acontece no resto da Europa, está em franco declínio e, no último ano e meio, devido ao aumento de títulos da chamada imprensa cor-de-rosa nas bancas e quiosques, que retiraram visibilidade às outras edições, e à crise financeira que fez com que as vendas das revistas de BD baixassem drasticamente, foram sucessivamente canceladas mais de duas dezenas de publicações de histórias aos quadradinhos da Disney, Marvel ou Bonelli, restando, praticamente, apenas os vários títulos de Tex, que a brasileira Mythos distribui em Portugal, e de Witch, as simpáticas bruxinhas da linha Disney para raparigas.

Mas esta situação pode vir a mudar pois, nos últimos dias chegaram aos quiosques portugueses cerca de uma dúzia de títulos da Turma da Mónica, bem como revistas dos heróis da Marvel e da DC Comics (ver caixa). Motivos de regozijo para os fãs do género, que têm inundado os fóruns da especialidade com perguntas, desde que a notícia começou a circular há quase um ano, e que desesperaram perante a passagem das sucessivas datas adiantadas. Para José Carlos Francisco, representante da Mythos em Portugal, esta invasão é benéfica pois “essas revistas vão injectar um novo fôlego no mercado de BD, o que será benéfico para as outras editoras e levará os proprietários dos pontos de venda a olhar para a BD com outros olhos”. Pedro Silva, da loja especializada BDMania e da editora homónima, acreditando “que a procura do material importado não sofrerá grandes alterações”, reconhece que “uma maior oferta e exposição poderão converter ou recuperar leitores”, mas não alimenta “grandes expectativas porque o desconhecimento do mercado português pode levar a que, tão rápida como a invasão, também a fuga se possa dar”.

Como principais vantagens desta “importação”, estão desde logo o preço, cerca de 50 % inferior ao que era praticado nas edições lusas, devido ao papel inferior e aos custos menores no Brasil e ao facto de se tratar de sobras da distribuição no mercado brasileiro, e também a variedade, caso o mercado português corresponda, isto porque todas as edições brasileiras da Panini deste mês (cerca de 20) – que poderão estar em Portugal daqui a 6 meses – vêm marcadas em reais e em euros. A par da questão da língua (ver caixa) o facto de se tratar de sobras aponta as principais desvantagens: estado dos exemplares e oscilação nas quantidades que chegam ao nosso mercado, dependentes que estão das vendas no Brasil.

[Caixa 1]

O que está nas bancas

Turma da Mônica

Revistas novas e almanaques de republicação dos principais heróis (Mônica, Cebolinha, Magali, Cascão, Chico Bento), bem como edições especiais e de jogos. A grande novidade é “Ronaldinho Gaúcho”, com histórias protagonizadas pelo craque do Barcelona em miúdo.

Marvel

As séries regulares de Homem-Aranha e X-Men (cuja distribuição em Portugal começa no #60 da edição brasileira) e dos Novos Vingadores (#35). “Civil War” chegará em Dezembro.

DC Comics

“Batman Ano 100”, uma história de Paul Pope em dois volumes, passada 100 anos após o nascimento do herói, e “Crise Infinita”, mini-série em 7 números, que revolucionou e transformou para sempre o universo onde actuam Batman e Super-Homem, cujas edições regulares estarão cá no final do ano.

[Caixa 2]

Português ou brasileiro?

Num tempo em que o mais importante são “as ideias” e não os erros ortográficos ou a construção frásica, o facto destas revistas virem em “brasileiro” não deverá levantar grande celeuma, mas a verdade é que não deixa de ser um retrocesso em relação ao passado recente, no que diz respeito às edições de super-heróis que a Devir publicou em português durante quase 7 anos, devendo agora “soar” estranho o Homem-Aranha, Wolverine ou Batman a falarem com sotaque de novela brasileira.

Relativamente à Turma da Mônica, o sotaque aceita-se com naturalidade, por ser a língua original das criações de Maurício de Sousa, que chegou a essa mesma conclusão através de uma mini-sondagem que fez aos seus leitores durante a sua passagem pelo Festival de BD da Amadora, em 2006.

No entanto, a chegada da Panini a Portugal, no que à BD diz respeito, ficará também marcada por algumas edições feitas especialmente para o nosso país. Traduzida e balonada aqui e impressa em Itália, a colecção “Marvel 100%” destina-se a livrarias, terá 144 páginas e custará 12,00 €. “Quarteto Fantástico: O Fim”, já no próximo mês, “Marvel Knights Homem-Aranha: No Reino dos Mortos” e “Eternals”, serão os primeiros volumes.


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F. Cleto e Pina

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Nas bancas (IV)

Nas últimas semanas referi o regresso da BD às bancas, por “culpa” das edições brasileiras da Turma da Mônica, Marvel e DC Comics, mas a verdade é que ela nunca as deixou, porque Tex manteve (quase sozinho) a “honra” da 9ª arte, através de uma dezena de títulos da Mythos Editora com as histórias do famoso ranger de camisa amarela, para satisfação dos seus (muitos) fãs.

O que acontece também, este mês, em que há quatro revistas em banca. Em “Tex” #420, que publica as histórias ano e meio após a edição original italiana, Claudio Nizzi e Venturi guiam Tex e Carson pelas florestas do Oregon para desvendar uma conspiração contra lenhadores locais.

Já em “Tex Colecção” #212, que publica as BDs por ordem cronológica, Nicoló ilustra um guião de 1974 de G.L. Bonelli, no qual um violento bando de criminosos procura um eventual tesouro espanhol.

Mais antiga (1971), é a história sobre uma das figuras típicas do Oeste, um caçador de prémios, narrada por Bonelli e Galleppini no “Tex Edição Histórica” #68, grossos volumes com histórias completas, publicadas cronologicamente.

Esta panorâmica do mês “texiano” conclui com “Os Grandes Clássicos de Tex” #4, em que Bonelli e Galep, num estilo bem clássico, de ritmo frenético, contam a primeira parceria de Kit, com o seu pai, Tex, na qual, desmontando uma tentativa de sabotagem da linha ferroviária, quase ofusca aquele que costuma ser o herói principal.


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Vida de Michael Jackson contada aos quadradinhos

A morte de Michael Jackson também agita os meios da banda desenhada (arte de que o cantor era fã) e pelo menos duas biografias em quadradinhos estão já em preparação.
A primeira, foi anunciada pela norte-americana Bluewater, que se tem especializado em (mediáticas) biografias em BD, como a série “Female Force”, por onde já passaram Hillary Clinton, Sarah Palin, Michelle Obama, a princesa Diana ou Oprah Winfey. Quatro dias após a morte do cantor, a editora anunciou que em Outubro lançará “Tribute: Michael Jackson, King of Pop”, escrita por Wey-Yuih Loh e desenhada por Giovanni Tímpano. A BD, que terá duas capas alternativas da autoria de Vinnie Tartamella, já divulgadas, contará a vida do artista desde os Jackons 5 até à sua morte, não deixando de lado os grandes momentos da sua carreira e alguns dos segredos da sua enigmática vida pessoal.
Entretanto, do Brasil, chega a notícia de uma outra biografia, esta desenhada em estilo manga (BD japonesa), escrita por Ledo Vieira e desenhada por Fábio Shin e Rafael Kirschner. Este projecto, que terá cerca de 180 páginas e será editado pela Seoman durante o próximo ano, já estava estruturado para assinalar a volta do cantor aos palcos e às gravações, mas a sua morte inesperada forçou os autores a introduzirem algumas mudanças.
Finalmente, na Marvel (cuja compra o cantor equacionou, nos anos 90), a capa alternativa de “Marvel Zombies Four” #3, da autoria de Mike Perkins, evoca os anos 80 e os mais famosos zombies dessa época, os do teledisco de “Thriller”, de Michael Jackson.


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Corto Maltese apareceu há 40 anos

Foi há 40 anos. Na imensidão do Oceano Pacífico, amarrado a uns quantos troncos que formavam uma jangada tosca, aparecia pela primeira vez Corto Maltese. Era a vinheta final da quinta prancha de “Una Ballata del Mare Salato”, uma BD publicada no primeiro número da revista italiana “Sgt. Kirk”, estreada em Portugal na revista “Tintin” e lançada em álbum pela Bertrand (1982) e pela Meribérica/Líber (2003, na edição revista e colorida). O seu autor era Hugo Pratt que iniciava, assim, sem o saber – até a barba hirsuta de Corto dura apenas duas pranchas – uma das mais importantes e marcantes histórias aos quadradinhos, onde imperavam já o espírito de liberdade, o valor da amizade e um imenso sabor a aventura que marcariam a sua obra.

De Corto, fomos conhecendo aos poucos, ao longo de mais de duas dezenas de álbuns, o seu carácter errante, anarquista, libertário e de anti-herói romântico e pormenores de uma vida aventurosa – retrato colorido da vida e das experiências do próprio Pratt de quem se tornou alter-ego – na qual “contando a verdade como se fosse mentira, ao contrário de Borges que contava mentiras como se fossem verdades”, cruzou oceanos, visitou lugares místicos e reais e conheceu algumas das mais belas e interessantes mulheres da BD. Que sempre deixou, porque o apelo da aventura e do mar sempre foram mais fortes, possibilitando-nos assim conhecer, sem nunca ter vivido, boa parte da História do primeiro terço do século XX, e compartilhar ideias e ideais, filosofias de vida e o mais profundo da natureza humana, que Pratt foi desfiando pelos seus romances desenhados.

Estes 40 anos – ou os 120, se atentarmos na data que alguns biógrafos apontam para o seu nascimento – ficam marcados, em França, após a edição cronológica em formato de bolso, por duas reedições da Casterman: “La Ballade de la mer salée”, em edição de luxo, formato gigante (32 x 41 cm) e tiragem limitada (10 000 ex.), prefaciada por Gianni Brunoro, e “Fable de Vénise”, que inaugura a colecção “Autour de Corto Maltese” que se destaca por incluir comentários, referências, notas históricas, geopolíticas, bibliográficas, imagens e análises, ao lado de cada prancha. Isto, enquanto os muitos fãs de Corto continuam a aguardar pela nova aventura do marinheiro errante, anunciada em Janeiro deste ano em Angoulême, no cumprimento do desejo de Pratt que sempre quis que a sua criação lhe sobrevivesse. Mantida no maior segredo – nem o nome dos dois autores é conhecido – sabe-se apenas que deverá ser lançada entre meados de 2008 e início de 2009 e que a sua acção se passará entre os álbuns “A juventude de Corto Maltese 1904-1905” e “A Balada do Mar Salgado”.

[Caixa]

Corto Maltese – perfil

Nascimento

10 de Julho de 1887, em Malta

Filiação

Mãe: cigana espanhola de Sevilha

Pai: marinheiro britânico, da Cornualha

Nacionalidade

Britânica

Profissão

Marinheiro e aventureiro

Sinais particulares

Brinco em forma de argola na orelha esquerda; longa cicatriz na palma da mão direita, feita por ele próprio insatisfeito com o comprimento da sua linha da vida.

Morte

No mar, em Cantão, assassinado por uma tríade, na Austrália, numa briga ou na Guerra Civil de Espanha, como Hugo Pratt afirmou?


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F. Cleto e Pina

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Nas bancas (III)

O regresso da BD às bancas, com edições brasileiras da Turma da Mónica, Marvel e DC Comics, possibilita a reaproximação ao universo desta última, algo esquecido entre nós nos últimos anos, para já através de dois títulos, devendo as revistas “Batman” e “Superman” chegar no final do ano.

“Batman Ano 100 (1 de 2)”, escrito e desenhado por Paul Pope, com cores de José Villarrubia, situa o Homem-Morcego em 2039, 100 anos após a sua criação por Bob Kane, perturbando a ordem estabelecida (leia-se imposta), num thriller violento e dinâmico, baseado numa conspiração de contornos ainda indefinidos.

Quanto a “Crise Infinita”, de Geoff Johns (argumento), Phil Jimenez e Andy Lanning (desenhos) é uma mini-série em 7 volumes, surgida na sequência de “Crise nas Infinitas Terras” que, em 1985, tentou reorganizar o Universo DC, então dividido por diversas Terras alternativas ou paralelas, nas quais um mesmo herói podia ter diferentes idades e origens, com a agravante de poder circular entre elas. No final ficou uma única Terra, mescla de todas as outras, à custa de um bom número de heróis, vilões e eventos. As pontas então deixadas soltas são agora unidas, numa obra de leitura complexa, mas fundamental para perceber o universo onde evoluem Batman, Superman, Mulher Maravilha e muitos outros, e que congrega o pior (uma certa confusão) e o melhor (a capacidade inventiva) das BDs de super-heróis.


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F. Cleto e Pina

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Nas bancas (II)

O regresso da BD às bancas, com edições brasileiras da Turma da Mónica, Marvel e DC Comics, possibilita a reaproximação ao universo desta última, algo esquecido entre nós nos últimos anos, para já através de dois títulos, devendo as revistas “Batman” e “Superman” chegar no final do ano.

“Batman Ano 100 (1 de 2)”, escrito e desenhado por Paul Pope, com cores de José Villarrubia, situa o Homem-Morcego em 2039, 100 anos após a sua criação por Bob Kane, perturbando a ordem estabelecida (leia-se imposta), num thriller violento e dinâmico, baseado numa conspiração de contornos ainda indefinidos.

Quanto a “Crise Infinita”, de Geoff Johns (argumento), Phil Jimenez e Andy Lanning (desenhos) é uma mini-série em 7 volumes, surgida na sequência de “Crise nas Infinitas Terras” que, em 1985, tentou reorganizar o Universo DC, então dividido por diversas Terras alternativas ou paralelas, nas quais um mesmo herói podia ter diferentes idades e origens, com a agravante de poder circular entre elas. No final ficou uma única Terra, mescla de todas as outras, à custa de um bom número de heróis, vilões e eventos. As pontas então deixadas soltas são agora unidas, numa obra de leitura complexa, mas fundamental para perceber o universo onde evoluem Batman, Superman, Mulher Maravilha e muitos outros, e que congrega o pior (uma certa confusão) e o melhor (a capacidade inventiva) das BDs de super-heróis.


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António Alfacinha, um português na Turma da Mônica

Novo herói de Maurício de Sousa estreia-se em Julho no Brasil; Revistas com as primeiras histórias deverão chegar a Portugal em Dezembro; diferenças de linguagem em Portugal e no Brasil são a base das suas histórias

A notícia avançada por Maurício de Sousa em Novembro do ano passado, tem agora data e local oficiais: António Alfacinha, lisboeta de gema, o “miúdo luso” da Turma da Mônica vai fazer a sua estreia no nº 7 da revista “Cebolinha”, que será lançada no Brasil na próxima semana. E como após longos meses de ausência, as revistas da Mônica, Cebolinha, Cascão e companhia voltaram às bancas portuguesas a semana passada, com seis meses de atraso em relação à distribuição no Brasil, Portugal terá de esperar até Dezembro para o conhecer.

Esta nova personagem não é caso único na história recente da Turma da Mônica. “Para que ela espelhe a realidade brasileira”, declarou Maurício de Sousa ao Jornal de Notícias, em Novembro último, no Festival de BD da Amadora, “criámos Dorinha, a menina cega, Luca, o paraplégico em cadeira de rodas… vem aí uma menininha com Síndroma de Down e uma família negra porque nós temos poucas personagens negros e estamos a sentir falta deles” ou Bloguinho, um maníaco da informática. António Alfacinha é “uma ideia antiga” de Maurício que agora se concretiza.

O seu processo de criação, como habitualmente, “envolveu muita pesquisa, conversámos com pessoas, vimos a parte positiva, a parte negativa, até me sentir pronto para fazer a personagem”. E passa por coisas (aparentemente) tão simples como definir o seu aspecto – Alfacinha nos primeiros esboços tinha um cabelo verde-alface assemelhado mesmo a uma alface e acabou com cabelo preto e risca ao meio, a lembrar um bigode aristocrático – ou as suas roupas, – cuja combinação de cores andou sempre em torno das da bandeira portuguesa, e que acabaram por se fixar em calções verdes, t-shirt vermelha, colete preto e sapatos castanhos. E os olhos e as bochechas salientes típicas das personagens de Maurício, que lhes conferem um ar simpático e divertido e condizem com o carácter desinibido e mesmo provocador do Alfacinha. O passo seguinte foi “testá-lo, com as mulheres do estúdio: são mais sensíveis, dão ideias e respostas mais honestas”.

Como principal característica, o Alfacinha “fala o português original de Portugal, com diferenças fonéticas, palavras diferentes, para que as crianças no Brasil também as conheçam e até comecem a utilizá-las. Assim haverá uma aproximação de crianças do Brasil e de Portugal que acho extremamente positiva”.

E é nessas diferenças da língua (visível logo no nome: António, com “o” aberto, e não “Antônio” à brasileiro) que se baseiam as três primeiras histórias que Alfacinha co-protagoniza. Nelas, sucedem-se os trocadilhos e as confusões verbais, com bem conseguidos efeitos cómicos, possivelmente mais acessíveis a nós portugueses, mais habituados à língua brasileira, pela influência das telenovelas e da música, do que o inverso. Depois de travar conhecimento com o Cebolinha logo na primeira história – “Alfacinha, o miúdo luso” – António – que usa e abusa do “oh pá!” e do “ora pois!” – conhece outros membros da Turma, como o Cascão e o Xaveco, com quem joga futebol. O encontro com a Mônica, resulta em paixão à primeira vista para o pobre portuguezinho, que é enganado pelos outros miúdos, quanto às melhores frases para a cativar. Depois de levar uma tareia “de coelho”, a marca registada da Mônica, Alfacinha vingar-se-á de forma surpreendente! Na terceira história, a sua paixão pela “cachopinha” desperta os ciúmes do Cebolinha, começando entre ambos uma guerra culinária que termina da forma habitual, com os dois pretendentes unidos na desgraça, vencidos e (con)vencidos pelo coelho da Mônica!

[Caixa 1]

Perfil

Maurício de Sousa

Nascido em Santa Isabel, no Brasil, em 1935, Maurício de Sousa, após uma infância normal e uma adolescência dividida entre os estudos e o trabalho para ajudar os pais, mudou-se para São Paulo para tentar concretizar o sonho de ser desenhador profissional, acabando como repórter policial do “Folha da Manhã”. Continuando sempre a desenhar, em 1959 cria Bidu e Franjinha em tiras que vendeu ao seu jornal, juntando-lhes sucessivamente Cebolinha, Piteco, Chico Bento e muitos outros que, ao fim de 10 anos, eram publicados em mais de 200 jornais brasileiros. Começava assim um verdadeiro império dos quadradinhos – as suas revistas vendem hoje cerca de 2 a 3 milhões de exemplares por mês só no Brasil, e chegam a lugares tão distintos como os EUA, Espanha, Itália, Coreia ou Indonésia – que Maurício, com tanto de criador genial como de gestor atento à realidade, tem sabido estender a outros meios: televisão, cinema, parques temáticos, sendo a Internet o próximo passo. A par disto, o licenciamento de inúmeros produtos com os seus heróis e a participação gratuita em campanhas de solidariedade, nacionais e internacionais, contribui sobremaneira para a difusão da Turma da Mônica, cuja principal mensagem é “deixem as crianças ser crianças”.

[Caixa 2]

Os outros portugueses que Maurício criou

António Alfacinha não é o primeiro português criado por Maurício de Sousa nos seus “quadrinhos”, embora seja o primeiro a merecer um lugar de (relativo) destaque. Nos anos 50, ainda a Turma não existia, Maurício criou Mingão, o dono de um talho, que agora chegou a ser apontado como pai do Alfacinha, o que acabou por não se concretizar. Entretanto abandonado, voltou a aparecer de forma fugaz em “Lostinho – perdidinhos nos quadrinhos”, uma sátira da Turma da Mônica à série televisiva “Lost” (“Perdidos”).

Em tempos mais recentes. Quinzinho foi outro português a cruzar os caminhos da Turma, como namorado da comilona Magali. Filho de um padeiro, ao contrário do que se possa pensar, o seu nome não é diminutivo de Joaquim, mas antes uma tradição familiar pois os irmãos chamam-se Onzinho, Dozinho, Trezinho…


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