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ASA aposta em manga

“Warcraft”, “Dramacon” e “Princesa Pêssego” serão lançados em Setembro; Obras direccionadas para jovens de ambos os sexos

As Edições ASA acabam de anunciar a sua aposta em títulos de manga, termo que na sua origem designava a banda desenhada japonesa e hoje em dia é utilizado para classificar obras aos quadradinhos que seguem as suas características. Geralmente são a preto e branco, prolongam-se por muitos volumes, totalizando centenas ou milhares de pranchas, são protagonizadas por personagens de olhos grandes, a acção tem predominância sobre os diálogos e as linhas indicadoras de movimento e as onomatopeias são muito utilizadas. Esta é mais uma tentativa de impor este género em Portugal, que continua a ser uma excepção no mundo ocidental, pois em países como os Estados Unidos, França, Espanha ou Alemanha as vendas de manga representam valores da ordem dos 40 %.
Os primeiros três títulos, oriundos do catálogo da norte-americana Tokyopop, com volumes que rondam as duas centenas de páginas, serão lançados a 8 de Setembro, estando prevista a edição de um novo tomo todos os meses. “Warcraft – A Trilogia do Poço do Sol”, do norte-americano Richard A. Knaak e do coreano Kim Jae-Hwan, relata as aventuras de Kalec, um dragão azul que assumiu a forma humana para investigar um poder misterioso, e de Anveena, uma bela rapariga que guarda um segredo de encantamento. “Dramacon”, da russa Svetlana Chmakova, dá uma perspectiva pitoresca e romântica dos bastidores de um festival de manga. Finalmente, “A Princesa Pêssego”, dos norte-americanos Lindsay Libos e Jared Hodges, conta a história de uma solitária menina de nove anos que recebe como animal de estimação um furão, cuja mordedura tem consequências surpreendentes.
“Warcraft”, uma BD de acção, inaugura a colecção “Shounen” (manga destinado aos leitores juvenis masculinos), enquanto que os outros dois títulos apresentam a particularidade de serem “shoujo” (BD para adolescentes femininas), um segmento de mercado tradicionalmente esquecido pela banda desenhada ocidental, mas que os manga há muito trabalham, bem como todos os outros porque no seu país de origem, o Japão, há mangas para crianças, adolescentes, jovens e adultos de ambos os sexos, com todas as temáticas possíveis e imaginárias: acção, humor, aventura, policial, fantástico, terror, romance, desporto, economia ou pornografia.


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F. Cleto e Pina

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Um álbum menor

Escolha óbvia em ano olímpico para base do terceiro filme de Astérix de imagem real – e também porque muitos títulos, satirizando outros povos, não são opção neste tempo em que impera um cada vez mais doentio politicamente correcto – “Astérix nos Jogos Olímpicos” até é um dos álbuns menores da era Goscinny.
Criado no também olímpico ano de 1968, acompanhando a actualidade, como era hábito dos autores, tem um argumento demasiado espartilhado pelo tema base, que embora arrancando bem, acaba por se perder num excesso de descrições que lhe retiram ritmo, não sendo feliz o esquema que conduz Astérix à palma olímpica e que origina o primeiro caso (múltiplo!) de doping dos jogos.
Isto não quer dizer que o álbum – reeditado pela ASA com nova capa e marcado pela estreia do ancião Decanonix – não contenha algumas cenas de antologia, como a discussão gastronómica sobre os cogumelos ou a involuntária interrupção do treino do campeão romano por Astérix e Obélix, capazes de arrancar sonoras gargalhadas ao leitor.

Astérix nos Jogos Olímpicos
Goscinny (argumento) e Uderzo (desenho)
Edições ASA


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F. Cleto e Pina

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Impressões

Rei
António Jorge Gonçalves (desenho) e Rui Zink (argumento)
Edições ASA
328 p.
16,00 €

Dez anos depois de “A arte suprema” (oportunamente reeditada pela ASA, com nova roupagem), então a “primeira novela gráfica portuguesa” (aproveitando o momento forte que as obras assim catalogadas viviam), António Jorge Gonçalves e Rui Zink (ou vice-versa) voltaram a encontrar-se para juntarem vontades e inspirações que desaguaram em “Rei”, que pode ser considerado próximo do manga (bd japonesa, o género aos quadradinhos em ascensão nos nossos dias). Próximo no formato – livro -, no local da acção (e de inspiração) – o Japão -, na utilização de alguns dos códigos da linguagem manga.
De “Rei”, convém começar por explicar o título: tão só um nome feminino japonês, vulgar, tal como Maria, em Portugal. Porque o resto se torna difícil de explicar, podendo-se aspirar apenas a compartilhar impressões de leitura. Porque cada leitor, cada leitura – até as leituras dos autores, seus primeiros leitores – conduzirá por caminhos diferentes, levará a destinos diversificados, tão aberta é a obra – talvez demais até no final indefinido (por finalizar?), distante de muitos dos pressupostos que a narrativa foi traçando…
Simplificando o que não é simples (nem simplificável…), pode-se resumir “Rei” como a história de duas buscas. A de Nuno, 20 anos, que se busca a si mesmo na distância (a que se coloca da progenitora) do país longínquo que é o Japão, procurando a sua razão de ser no país que o seu mestre (de karaté e meditação) o fez idealizar. Nuno que encontra no Japão um amigo, Yukio, e Rei, a rapariga andróide (a explicação simplista) ou a projecção dos seus distúrbios mentais (a leitura racional)…
A segunda busca é a da mãe de Nuno, Teresa, que, um ano depois, também vai ao Japão, em busca do filho. E de uma relação inexistente. Mãe que, apesar de muito ocupada com a sua actividade política – é alguém importante em Portugal – continua a ver (e a tratar/a ignorar) o filho como se ele ainda fosse uma criança. Mãe que o filho vê como a Madrasta da Branca de Neve, altiva, distante, indisponível… Má. Mas que não passa de uma mulher, que pode ser – é – solitária, sensível, sincera no seu desejo de ser mãe. Na sua busca, Teresa leva Tano, o mestre do seu filho. Para a guiar e ajudar… Também para o castigar, como causador da partida do filho… e algo mais. Tano, que teme o que pode encontrar, no (re)encontro forçado com a origem que nunca teve, com as suas referências, ganhas na distância…
Estas duas buscas – duas histórias – são narradas em paralelo, alternadamente, graficamente de forma distinta. Para a segunda é utilizada um traço mais trabalhado, próximo do real visível, anatomicamente proporcionado, servido por correctos contrastes de luz e sombra. A busca de Nuno tem um traço mais arredondado, estilizado, livre, esboçado ao correr da imaginação, sem trabalho preparatório, longe da realidade, metafórico, onírico, alucinado.
Porque “Rei” é uma obra extremamente gráfica, que obriga o leitor a grande atenção, exigindo muito dele, impelindo-o à interpretação constante dos desenhos que vê. Que contam/narram mais do que aquilo que mostram explicitamente, quase sempre em páginas de uma vinheta só, cheias com pormenorizados planos de conjunto, vigiando de longe, no vazio, uma acção concreta, ou mergulhando(-nos) nas personagens, em close-ups alucinantes, sempre em equilíbrio perfeito com os diálogos que fluem livremente ou falando-nos alto quando são os silêncios (a ausência de texto) que imperam.


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F. Cleto e Pina

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Caminhos para a BD em Portugal

O corvo III – Laços de família
Luís Louro (desenhos) e Nuno Markl (argumento)
Edições ASA
13,00 €

Evereste
Ricardo Cabral
Edições ASA
10,00 €

Obrigada, patrão
Rui Lacas
Edições ASA
15,00 €

O lançamento, no recente Festival de BD da Amadora, de uma dezena de obras de autores portugueses, longe de ser um atestado de vitalidade dos quadradinhos nacionais, reflecte a importância do evento enquanto local privilegiado para os autores e as suas obras encontrarem – e serem encontrados – os/pelos seus leitores. Até porque parte – pela tiragem reduzida ou por opção editorial – não tem sequer distribuição nacional, o que torna mais difícil chegarem aos seus (potenciais) leitores. Três deles mostram alguns caminhos que se abrem (podem abrir…) à BD em Portugal.
Em “O Corvo III – Laços de família”, Luís Louro, criador e até agora autor completa do Corvo, o (pobre) super-herói português que percorre as ruas de Lisboa com Robin, a sua bicicleta, às costas, decidiu apelar a Nuno Markl para a escrita do argumento, e há que reconhecer que a aposta foi ganha, a dois níveis. Logo à partida, pela associação de uma “celebridade” ao livro, o que lhe dá maior visibilidade; depois, porque o humor de Markl adapta-se bem ao desastrado super-herói, tendo originado uma aventura divertida e bem-disposta (que só peca por parecer curta demais), que faz a ponte com os anteriores álbuns, continuando a revelar-nos alguns dos estranhos super-heróis (bem) nacionais e a traçar um retrato sentido de uma certa Lisboa típica. E que tem alguns achados, mostrando a familiaridade de Markl com a temática, começando logo pela abertura, no cemitério, que evoca ambientes e poses típicos dos super-heróis (a sério), em especial do Homem-Aranha, para os desmistificar com o bem conseguido desfecho. Quanto a Louro (até neste texto quase esquecido – este é o perigo destas “parcerias”) continua igual a si próprio com o seu traço solto e dinâmico e uma planificação fluida que pontua o ritmo da história.
Quanto a “Evereste”, ancora-se na realidade contemporânea portuguesa ao adaptar aos quadradinhos o livro no qual o alpinista João Garcia conta a sua trágica ascensão ao cume do Evereste. Nele, o traço de Cabral umas vezes surge algo tolhido, talvez demasiado preso à documentação fotográfica que lhe terá servido de base, e noutras explode em belas imagens panorâmicas que nos ajudam a compreender a imensidão das montanhas cobertas de neve e a dimensão da proeza de João Garcia, assim transformado em herói (nacional), fazendo relembrar hábitos de tempos em que a censura limitava (forçava…) as escolhas dos autores.
Finalmente, “Obrigada, patrão” recordou-me (em antítese) os muitos autores que, ao longo dos muitos anos que levo ligado à BD, dizem não criar por não terem onde publicar, porque Rui Lacas, numa atitude rara entre nós, com umas quantas dezenas de pranchas prontas, foi ao festival de BD de Angoulême, França, mostrá-las. Encontrou editor na Suiça (Paquet), no ano passado e, só depois, agora, em Portugal. O seu desenho tem por base uma linha clara de traço grosso, expressiva e muito dinâmica, com multiplicidade de enquadramentos e belos achados, como a utilização de palavras como onomatopeias, tudo pintado predominantemente por tons de ocre, amarelo e castanho, que evocam a região onde se passa a história, a Zambujeira e o seu clima sufocante. Como sufocante é a narrativa, um retrato amargo da relação entre os senhores das terras e os trabalhadores rurais, mostrando como as prepotências daqueles cerceiam os sonhos destes, como as ilusões da infância podem ser espezinhadas pelas (tristes) realidades da idade adulta, e que culmina com um inesperado toque de humor negro, que valoriza o todo.


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F. Cleto e Pina

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A maioridade na Amadora

Festival de Banda Desenhada começa hoje; Ziraldo, Cameron Stewart, Achdé e Gerra, autores de Lucky Luke, presentes este fim-de-semana; Previsto o lançamento de uma dezena de obras de autores portugueses

Começa hoje a 18ª edição do Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora, que abre as suas portas para o fantástico mundo dos quadradinhos até 4 de Novembro. Do programa, destaque para as exposições “Salazar, Agora na Hora da sua Morte”, sobre a obra de Miguel Rocha e João Paulo Cotrim, que venceu os Prémios Nacionais de BD para Melhor Álbum Português, Melhor Argumento e Melhor Desenho, em 2006, “As 10 BD’S do Século XX” (passeio pelos universos de “Little Nemo in Slumberland”, “Krazy Kat”, “Tintin”, “Batman”, “Spirit”, “Peanuts”, “Astérix”, “Blueberry”, “Corto Maltese” e “Maus”, “Astérix e seus Amigos”, uma homenagem de diversos autores a Uderzo, pelos seus 80 anos, e o espaço dedicado às novidades editoriais e a projectos em curso nacionais. Aliás, é de salientar o facto de estar previsto o lançamento, durante o FIBDA, de mais de uma dezena de obras de autores portugueses.
O tema desta edição, no ano em que o FIBDA comemora 18 anos, é “Maioridade” mas, como em qualquer ser humano, não é o simples atingir do patamar dos 18 anos que concede aquele estado. Esta opinião é partilhada por diversos intervenientes ligados à 9ª arte nacional, que referiram ao JN alguns aspectos em que, segundo eles, o Festival necessita de crescer. À cabeça é apontada o local de realização do festival que este ano se mantém no Fórum Luís de Camões, na Brandoa, reconhecidamente com as características logísticas necessárias para albergar um evento deste tipo, mas mal situado em termos de acessibilidade. Por isso João Miguel Lameiras, crítico e livreiro, aponta a necessidade “de arranjar uma casa fixa, em vez de mudar de dois em dois anos”, sendo secundado por Geraldes Lino, especialista em fanzines, que pede que “o núcleo principal se localize, definitivamente, num ponto central da Amadora, como era a saudosa Fábrica da Cultura”.
Puxando a brasa à sua sardinha, Marcos Farrajota e Teresa Câmara Pestana, autores e editores de fanzines, gostariam, respectivamente, de mudar “tudo” e de “ter os autores marginais como principal atracção do festival”, enquanto que Machado Dias, editor da pedranocharco e do “BDJornal” apostaria numa “equipa organizadora maior com um orçamento compatível”, a quem Lameiras pediria “uma maior profissionalização”.
Outro ponto referido, por José Freitas, editor da Devir, é a obrigatoriedade de “uma maior ligação com a realidade efectiva do público e dos seus interesses, ou seja, deixar de fazer um FIBDA para leitores de BD franco-belga com mais de 50 anos e admitir finalmente que o público de BD de hoje não é o mesmo de há dez ou quinze anos atrás”, pois prefere comics de super-heróis e manga (BD japonesa).
A mesma ideia é partilhada por Hugo Jesus, responsável pelo portal Central Comics, que pede à organização para “virar o festival para um publico mais jovem” e “para apostar definitivamente na área comercial”, desejo indirecto de José Freitas quando sugere ao FIBDA para “passar a olhar minimamente para o mercado para saber o que se editou e o que vende”. José Carlos Fernandes, o mais destacado autor português dos últimos anos, pensa que a maioridade só será atingida se (e quando) “houver um mercado saudável de BD em Portugal” pois, “se houver mercado, surgem editoras e autores nacionais”; sem isso, “o FIBDA será sempre a fachada enganadora de um edifício inexistente”. O que reitera Lameiras que, considerando “as crises de adolescência do Festival um reflexo das debilidades do próprio mercado nacional de BD” tem algumas reservas “pois o estado semi-comatoso do mercado deixa antever um prognóstico reservado quanto ao futuro do festival…”. 

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Destaques

Do programa do primeiro fim-de-semana do Festival de BD da Amadora, enquanto se aguarda por Manara (a 27 e 28) e Trondheim (3 e 4 de Novembro) destaca-se a presença do brasileiro Ziraldo, autor, entre outros títulos destinados à infância, de “O Menino Maluquinho”, Achdé e Guerra, actuais responsáveis de Lucky Luke, Cameron Stewart, desenhador de “Cat Woman”, “B.P.R.D.” ou “Seaguy”, Ilan Manouach, Godi, Zidrou e Jean-Louis Marco.
No que respeita a lançamentos, destaque para o regresso do Corvo, o mais desajeitado super-herói português, em “Laços de Família” (ASA), com desenhos de Luís Louro e argumento de Nuno “Homem-que-mordeu-o-cão” Markl, a par do sexto e derradeiro volume de “A Pior Banda do Mundo” (Devir), de José Carlos Fernandes.
Terão também apresentação “Obrigado patrão” (ASA), que Rui Lacas lançou este ano nas Éditions Pacquet”, “SuperPig #3”, de Carlos Pedro e Mário Freitas, e “C.A.O.S.#3”, de Filipe Teixeira, Fernando Dordio Campos e Carlos Geraldes (ambos da Kingpin Comics), “Sexo, Mentiras e Fotocópias”, de Álvaro, “Portfólio”, de José Abrantes, bem como das revistas “BDjornal #20” e “BDVoyeur #2” (pedranocharco).


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F. Cleto e Pina

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“Queremos leitores que queiram envolver-se”

Afirma António Jorge Gonçalves, co-autor com Rui Zink de “Rei”, um romance gráfico que acaba de ser lançado

Depois do lançamento “oficial” em Lisboa, António Jorge Gonçalves e Rui Zink estiveram no Porto, para falarem de “Rei” (ASA), o seu novo “romance gráfico”, 328 páginas condensadas num vídeo, disponível no YouTube ↗.
“Rei” é a segunda colaboração entre os dois autores, depois de “A Arte Suprema” (ASA, 1997, agora reeditada), já uma obra graficamente experimental, que combinava desenho, fotografia, técnicas digitais e colagem. Este reencontro, “há muito desejado, demorou 10 anos, pois foi necessário que encontrássemos uma paixão comum, no caso o Japão”, revela Rui Zink, daí a aproximação “intencional, em jeito de homenagem, ao formato manga (bd japonesa)”.
“Rei”, continua, “pode ser considerado dois livros em um” pois é o “cruzamento de duas histórias. A primeira, a viagem de um rapaz de 20 anos ao Japão, onde se perde e mergulha numa montanha russa de experiências” e conhece a protagonista que dá nome ao livro pois “Rei, em japonês, é um nome feminino tão vulgar como Maria em Portugal”. A segunda, é “a história da sua mãe, uma mulher autocrática, inspirada em Manuela Ferreira Leite com o look de Teresa Patrício Gouveia”, brinca Rui Zink, “que vai procurar o filho e tentar ter uma relação com ele”. Os dois, como todas as personagens, “como todos nós, têm falta de algo; são destroços de si mesmos, pois todas as experiências de vida nos marcam e despojam de algo”. Estas duas histórias estão separadas no livro por “dois estilos gráficos distintos”, com o “traço simples feito à mão, trabalhado e preenchido depois no computador”, dois estilos que revelam mais uma vez um António Jorge Gonçalves em busca de inovação e experimentação, tingidos de “rosa, que é uma cor muito japonesa”.
Neste “livro de silêncios, com poucas palavras”, que “ocupou dois anos das nossas vidas, e no qual demos o nosso melhor”, afirma Zink, argumento e desenho foram sendo feitos “progressivamente”, com cada um dos autores constantemente “a tentar surpreender e deslumbrar o outro”, esperando também “que encontremos leitores que queiram envolver-se e encontrar a sua própria leitura, a sua própria história”, complementa o desenhador.
Embora avesso a definições estanques, Zink considera que se trata de um “romance (gráfico), com personagens, com texturas, cheiros…” e, acrescenta Gonçalves, uma “história que tinha de ser contada”. Um romance gráfico “que é banda desenhada, mas também literatura”, confessando o escritor que “gostava que a editora o enviasse para um concurso literário”.
Os dois autores estarão na FNAC do Colombo, amanhã, sexta-feira, às 18h30, onde “Rei” será apresentado por Miguel Vale de Almeida, e no Teatro S. Luís, a 29 de Outubro, às 22h, na Noite Wenceslau de Moraes.


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F. Cleto e Pina

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Crónicas do quotidiano rural

Armazém Central
1. Marie
2. Serge
Régis Loisel e Jean-Louis Tripp (argumento e desenho)
Edições ASA
14,00 €

Autores completos, normalmente responsáveis por argumento, planificação, desenho a lápis, desenho a tinta e aplicação da cor nas suas obras, embora na BD franco-belga a diversificação de funções seja cada vez mais frequente, Régis Loisel – conhecido em Portugal por “Em Busca do Pássaro do Tempo” (Meribérica/Líber) e por uma versão extremamente pessoal do Peter Pan, de Barrie, (na Bertrand e na Booktree) – e Jean-Louis Tripp, até há pouco inédito entre nós, franceses, a viver em Montreal, no Canadá, partilhando um atelier, descobriram gostos complementares: enquanto Loisel vibra com a a planificação e o traço a lápis, Tripp prefere a passagem a tinta, nascendo, assim, uma improvável colaboração, consubstanciada em dois volumes (o terceiro sai em França no próximo mês) genericamente intitulados “Armazém Central”.
Ambientada no Canadá, num Canadá profundo, que os acolheu, é uma crónica do quotidiano rural de uma pequena aldeia, entre as duas Guerras Mundiais, que tem um estranho começo: a morte de Félix, dono da única loja – o tal armazém central – do lugar, que vai ficar como testemunha (quase) silenciosa, do que se vai passando em Notre-Dame-des-Lacs.
Esta crónica quotidiana onde (aparentemente) nada acontece, mas cheia de vida, de vidas, vai-se fazendo de pequenos nadas desligados, que no seu todo retratam a vivência naquele lugar, naquela época, e que nós, leitores, vamos apanhando aqui e ali enquanto acompanhamos as deambulações dos diversos habitantes pela povoação. Isto porque, se Marie, a viúva de Félix, a eterna estrangeira, tímida mas prestável, de uma enorme coragem, surge com algum destaque – é ela que se emancipa e se torna gerente do armazém, que conduz o seu camião, que acolhe e sonha acordada com Serge – a verdade é que é a comunidade no seu todo que protagoniza a obra. Comunidade inquieta pela morte do único comerciante – indispensável mas pouco estimado -, pela chegada de um novo pároco (um pouco) progressista (demais para o gosto local), pelo pateta do sítio, pelas beatas coscuvilheiras, pelo cego que viu o mundo, pelo herético e utópico Noel e por uns quantos mais, caracterizados e retratados pelos pequenos gestos habituais, que o isolamento transfigura: a troca de receitas, os mexericos e desconfianças, a cooperação para o bem comum, as traquinices das crianças, os ritos iniciáticos que marcam o crescimento – os primeiros amores, o acompanhamento dos homens no trabalho – a matança do porco, as festas tradicionais comunitárias… E, no segundo tomo, pela chegada de um estranho – serge – culto e viajado, para mais cozinheiro, que acrescenta à narrativa uma aura poética, fruto de sonhos vividos, de utopias concretizadas, e que leva pela primeira vez o brilho aos olhos de Marie…
Uma comunidade retratada com ternura mas autenticidade, de forma viva e intensa, pelo traço semi-realista de Loisel e Tripp, generoso nos volumes, expressivo e dinâmico, rico de pormenores, servido pelas cores quentes e afáveis de François Lapierre, traço que se revela no seu todo especialmente nas sequências mudas – mas extremamente eloquentes – onde o mais ínfimo pormenor ganha vida, mostrando-nos o passar do tempo – das estações – a morte de um recém-nascido, a solidão de Marie, as desconfianças, as músicas e danças, de uma forma notável.


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F. Cleto e Pina

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O bom, velho Astérix

Astérix Legionário
Astérix na Córsega
Obélix e Companhia
René Goscinny (argumento) e Albert Uderzo (desenho)
Edições ASA
12,00€

Continuando a reedição dos álbuns de Astérix, integrada na comemoração dos seus 45 anos (em Outubro de 2004), com novas traduções, a ASA acaba de lançar meia dúzia de títulos entre os quais três dos melhores álbuns da série – “Astérix Legionário” (1967), “Astérix na Córsega” (1973) e “Obélix e Companhia” (1976) -, se tal distinção é permitida, sendo os restantes “O Domínio dos Deuses” (1971), “Os Louros de César” (1972) e “O Presente de César” (1974). A nova tradução, com defeitos e qualidades em relação à anterior, e a que se pode apontar como aspectos mais negativos o uso de expressões anacrónicas (“vira o disco e toca o mesmo”) ou de nomes associados a regionalismos… lisboetas (Transtejix), destaca-se pelo facto de todos, com excepção de Astérix, Obélix e Panoramix, terem novos nomes, aportuguesados.
Quanto à reedição em si, tem a vantagem de poder levar muitos a reencontrar o bom, velho Astérix, que tão maltratado tem sido nos álbuns que Uderzo assinou a solo, e outros a redescobri-lo em toda a sua pujança.
Isto porque basta uma leitura superficial pode fazer sorrir (pelo menos…) com as situações recorrentes – a pancada que os gauleses distribuem aos romanos, o hábito de Obélix coleccionar capacetes de legionários, a razia (anti-ecológica…!) que os gauleses provocam nos javalis, os constantes desaires dos piratas ou as desavenças entre o peixeiro Ordemalfabétix e o ferreiro Éautomatix – resolvidas sempre de forma diferente mas sempre hilariante.
Mas é uma leitura mais atenta (e também mais culta…) que permite desfrutar em pleno de uma das melhores séries humorísticas de todos os tempos e não me refiro apenas à banda desenhada. Isto porque René Goscinny, numa demonstração de um sentido de humor ímpar e de uma bagagem cultural invejável, aproveitou-a para fazer crítica social e de costumes, satirizar pessoas, regiões, países e povos, de uma forma que resiste perfeitamente ao passar dos anos, abordando aspectos como a ecologia, a imobiliária, a organização política e militar, o relacionamento inter-pessoal, a própria realidade histórica ou brincando até com as convenções da própria linguagem da BD.
Assim, “Astérix Legionário” é uma sátira brilhante e arrasadora à instituição militar, desmontando e ridicularizando os seus formalismos, burocracias, métodos de treino e tácticas de combate, quando Astérix e Obélix se alistam para libertar um amigo feito voluntário à força em tempo de guerra civil.
Já “Obélix e Companhia” é uma incursão pelo intrigante mundo dos negócios, quase um tratado de economia em menos de meia centena de páginas que exemplificam magistralmente conceitos como oferta e procura, desvalorização da moeda ou falência.
Finalmente, “Astérix na Córsega”, traça um retrato irresistível de um povo (muito) “susceptível”, incapaz de esquecer e perdoar, ciente dos seus valores e tradições e dos seus queijos de cheiro nauseabundo. E este álbum, mais do que qualquer um deste lote, destaca-se por mostrar um Uderzo em plena posse das suas (muitas e inexcedíveis) faculdades gráficas, combinando o tom caricatural da série com o tratamento semi-realista aplicado aos corsos e à pujante representação da sua ilha, e combinando o seu traço suave, vivo e dinâmico com o bom domínio da planificação, do ritmo e do sentido de leitura


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F. Cleto e Pina

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Clássicos da Literatura renascem aos quadradinhos

Obra integral de Agatha Christie começa a ser editada em BD no próximo mês; Editoras francesas apostam em adaptações feitas por autores conhecidos; Shakespera em manga é aposta para o leitores mais jovens; Clássicos portugueses revisitados em BD no Brasil

A obra integral de Agatha Christie vai ser integralmente editada em banda desenhada pela editora britânica Harper Collins. A “Agatha Christie Comic Strip Edition” terá um total de 83 livros que ficarão disponíveis até ao final de 2008, chegando os 12 primeiros, entre os quais os conhecidos “Crime no Expresso do Oriente” ou “Morte no Nilo”, às livrarias no próximo mês. As adaptações estão a cargo do romancista francês François Riviére que, em BD, assinou nomeadamente “O encontro em Seven Oaks”, “O Dossier Harding” e “À Procura de Sir Malcolm” (edição portuguesa da Meribérica/Líber), surgindo no desenho, entre outros, Frank Leclerq, Marc Piskic, Solidor e Laurence Suhner.

Mas este não é caso único no que toca à apetência da BD pela literatura. Em França, por exemplo, a Delcourt criou há poucos meses a colecção “Ex-libris”, dirigida por Jean David Morvan, argumentista de Spirou e Sillage, onde já foram editados em BD “Oliver Twist”, de Dickens, “Frankenstein”, de Mary Shelley, “Os três Mosqueteiros”, de Dumas ou “Robinson Crusoé”, de Daniel Defoe. Como premissas, a colecção apresenta “um profundo respeito pelas obras”, a sua recriação “por autores que pretendam revisitar um dos seus livros de cabeceira” e “adaptações fiéis mas personalizadas”. Longe vão as versões maçudas e maçadoras de tempos idos que, mais do que adaptações em BD eram obras (mal) ilustradas, o que permite, num segundo passo obras como “Cidade de vidro” (Edições ASA), em que Paul Karasik e David Mazzucchelli recriaram graficamente de forma magistral um texto quase hermético de Paul Auster, “Fagin, o judeu” (Gradiva), em que Will Eisner desmonta a visão estereotipada dada dos judeus na versão original de “Oliver Twist”, recontando-o sob o ponto de vista de Fagin, o vilão, ou “Long John Silver” (Glénat/Futuropolis), de Dorison e Lauffray, que, numa variação curiosa, exploram as (prováveis) aventuras do pirata de “A Ilha do Tesouro”, de Stevenson.

Ainda em França, onde a Casterman e a Soleil avançam também neste campo, é incontornável o exemplo de Jacques Tardi, com uma ligação de longa data a ligação aos policiais de Léo Mallet, que lhe permitem desenhar a sua Paris natal por quem nutre uma verdadeira paixão.

Entretanto, do outro lado do oceano, a 9ª arte é igualmente utilizada para fazer a (re)descoberta da literatura. E uma das editoras que nisso aposta é a Marvel, conhecida pelos seus super-heróis, para quem Roy Thomas, um veterano dos comics, adaptou “O último dos moicanos”, de Fenimore Cooper, “A Ilha do tesouro”, de Stevenson e “O Homem da Máscara de Ferro”, entregando os desenhos a Hugo Petrus, Mario Gully e Steve Kurth.

Neste país, e também em Inglaterra, em finais do ano passado, duas editoras, respectivamente a John Wiley and Sons, especializada em livros técnicos, e a Self Made Hero, divulgaram, quase em simultâneo, a aposta em obras de Shakespeare (“Hamlet”, “Romeu e Julieta”, “Macbeth”, etc.) aos quadradinhos, mas em estilo… manga (bd japonesa), tentando ir ao encontro das preferências actuais das camadas jovens e do público feminino.

Em Portugal, esta prática foi corrente entre os anos 30 e 60 do século passado, quando a censura a isso obrigava os autores, podendo-se citar as adaptações que Fernando Bento fez de romances de Júlio Verne, a “Peregrinação de Fernão Mendes Pinto”, revisitada por José Ruy ou “O Caminho do Oriente”, em que Raúl Correia e E. T. Coelho recontam a viagem de Vasco da Gama vista pelos olhos de um miúdo. Em tempos mais recentes Filipe Abranches e Diniz Conefrey, beberam nas obras de Raúl Brandão e Herberto Hélder (ver caixa). E no ano passado, no Brasil, os clássicos da literatura lusa – Camões e Eça – inspiraram os “quadrinhos” de Lailson Cavalcanti de Holanda (ver caixa) e a Marcatti (ver texto à parte).

[Caixa]

Saber Mais

Arquipélagos
Diniz Conefrey
ÍmanEdições, 2001

A partir de dois textos de Herberto Hélder, (“Os Passos em Volta”, de 1963, e “Photomaton &icom”, de 1979), Diniz Conefrey constrói uma obra cromaticamente diversificada e forte, dando visibilidade à intensa carga poética do original.

O diário de K.
Filipe Abranches
Polvo, 2001

Partindo de “A morte do palhaço”, de Raúl Brandão”, Abranches, numa das suas obras mais conseguidas, brilhante no seu preto e branco esquemático, pejado de imagens invulgarmente fortes, recria graficamente a angústia, o medo e a solidão do protagonista perante a morte.

Lusíadas 2500
Lailson Cavalcanti de Holanda
Companhia Editora Nacional/IBEP (Brasil), 2006

Utilização do texto integral de “Os Lusíadas,” de Luís de Camões, “numa encenação futurista, transposta para um outro meio – a Arte Sequencial – onde a narrativa gráfica complementa a narrativa literária”.

“A Relíquia” de Marcatti

Lançada em Julho no Brasil, “A Relíquia” (Conrad) é exemplo de uma adaptação bem conseguida. O que à partida podia ser posto em causa, dado o tom escatológico das obras anteriores de Marcatti, autor underground brasileiro, nascido em 1962, que fez o que deve ser feito numa adaptação: interiorizou o espírito do romance de Eça e o seu peculiar sentido de humor, na sua crítica exacerbada à Igreja Católica e aos seus fiéis fanáticos, transpondo-os depois para a nova linguagem. A opção de manter “a estrutura da história original” contribui para a consistência do livro, bem como a utilização, nos textos, de “uma mistura de coloquialidade e erudição para facilitar a leitura sem perder o tom clássico da obra”.

Com eles, e apesar do seu traço caricatural, recria em “quadrinhos” o clima tenso e opressivo que Eça deu à sua narrativa, e transmite o estado de prostração e impotência que Raposão, o boémio sobrinho da beata Titi, sente face à rédea curtíssima com que ela o mantém. Paradoxalmente, é o seu traço caricatural, caracterizado por personagens de olhos vivos e grandes narizes e corpos de inusitada mobilidade, o outro trunfo do livro, pois a sua vivacidade e dinamismo contrabalançam o tom mais pausado do texto, marcando o ritmo da obra e expressando à saciedade os diversos estados de espírito, mostrando sentir-se como peixe na água na representação das cenas mais ousadas, divertidas caricaturas que surgem como oásis na vida de Raposão e como aliviadoras da tensão na leitura do livro, bem recebida pela crítica brasileira, e que Marcatti faz questão de apresentar como “a sua Relíquia”.


Escrito Por

F. Cleto e Pina

Publicação

Jornal de Notícias

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A América Latina pintada por Lepage

A Terra sem Mal
Anne Sibran (argumento) e Emmanuel Lepage (desenhos)
Vitamina BD
13,99 €

Muchacho – Tomo 1
Emmanuel Lepage (argumento e desenhos)
Edições ASA
14,00 €

Emmanuel Lepage nasceu em 1966 e desde os 21 anos que faz banda desenhada. Viajante inveterado, trouxe para a BD a experiência recolhida na realização de elaborados esboços de viagem, podendo ser considerado um pintor de quadradinhos – sem que isso signifique a ausência de ritmo e movimento nas suas pranchas, de planificação heterogénea, onde muitas vezes se multiplicam as vinhetas para ritmar as cenas, sendo outras de (quase) imagem única o que obriga o leitor a parar e a contemplar o pormenor a que o autor chega ou a beleza explosiva do conjunto. Até porque a paleta cromática que ele utiliza, rica de tons, sejam os verdes da selva, os azuis e cinzentos das (belas) cenas nocturnas ou os amarelos e sépias quando predominam os seres humanos, fantástica na forma como recria a luz, as sombras e os volumes, é uma enorme mais valia para o seu traço elegante, a um tempo espontâneo e trabalhado, detalhado e expressivo.

Tudo isto, presente nas duas obras disponíveis em português – “A Terra sem Mal” (de 2003) e o recente “Muchacho – tomo 1” – é usado por Lepage para retratar uma das suas paixões: a América Latina, respectivamente o Paraguai (no final da década de 30 do século passado) e a Nicarágua (sob a ditadura de Somoza, em 1976). Mas não se pense que os seus retratos são apenas pictóricos, Lepage, em ambos os casos, ao mesmo tempo que nos transporta ao colorido de cada um dos locais, revela também, com uma invulgar intensidade, os seres humanos de carne e osso que lá vivem, tornando, uma leitura atenta, mais forte o primeiro impacto que os belos desenhos provocam.

“A Terra sem Mal”, um argumento de Anne Sibran, narra a experiência de uma jovem europeia, no interior do Paraguai, para conhecer e registar a língua, os hábitos e as tradições do povo Mbya, vencido pelo desânimo e que está a deixar-se morrer. Mas a chegada de um misterioso feiticeiro leva a aldeia em peso numa peregrinação (que se revelará insensata) à procura da sua Terra sem Mal (uma espécie de paraíso na terra), uma peregrinação selva adentro, que será mais espiritual que terrena, e que a jovem acompanhará, dividida quanto a continuar com aquele povo, que já ama e sente quase como seu, apesar de não a reconhecerem como amiga, ou abandonar tudo e regressar às origens, num relato tocante, sobre a busca dos outros e de si próprio, num ambiente natural, com tanto de belo como de hostil, que leva a repensar prioridades de vida.

Em “Muchacho”, (um romance desenhado forte e lírico, num contexto sócio-político real), o protagonista, Gabriel, seminarista, filho de um dos protegidos do ditador Somoza, empreende também uma busca de si próprio quando é enviado por algumas semanas para um lugarejo, para pintar um fresco na igreja local. Só que a convivência com o padre de lá, tão preocupado com a saúde espiritual do seu rebanho quanto com a sua qualidade de vida (o que o leva a simpatizar com a guerrilha e a ser mal-visto pelas autoridades), abre-lhe novas perspectivas de vida e na sua arte, a pintura, em que se refugia face à hostilidade da população. Isto, a par do despertar duma desconhecida sexualidade, vão levar Gabriel a repensar as suas prioridades – a sua fé, a sua arte… – e a fazer opções que só conheceremos no segundo e último tomo, que se espera chegue em breve às livrarias.


Escrito Por

F. Cleto e Pina

Publicação

Jornal de Notícias

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